CAP.03 - Tons de rosa

☆ ☆ ☆

Me despertei com o canto do galo como toda manhã, ouvindo também Jung-ha xingando o animal. Certamente era cinco horas da manhã e eu logo tratei de me levantar e ir seguindo o corredor até o banheiro como de costume, enquanto Jung-ha dormia feito pedra na cama novamente.

Depois de alguns minutos estava na mesa da cozinha comendo meu café da manhã em que na maioria das vezes eu fazia, no entanto minha vó insistiu em fazer. Na minha frente estava meu avô que lia o jornal do dia tomando seu café preto, o que estranhei, pois o mesmo tomava sopa de manhã e não café. Muito menos lia jornal, já que a fazenda apesar de ser no vilarejo, era afastada das outras casas, o que dificultava alguém chegar até ali oferecendo o jornal do dia.

— Cadê a Jung-ha, querida? – Minha vó me questionou enquanto colocava as panquecas na mesa.

Panquecas? Nunca comemos panquecas no café da manhã.

Pensei.

— Está dormindo e eu acho que ela não vai acordar tão cedo. – Respondi minha vó enquanto passava a geleia em uma das torradas.

— Mas que pena! – ela sentou na mesa ao lado do meu avô, passando a mão no seu avental antes de sentar. — eu fiz esse café especialmente para ela...

— Pensei que era para meus pais, afinal, cadê eles? – vasculhei o lugar com os olhos e nada dos meus pais materializados em algum lugar da casa.

— Seu tio deu carona para eles até a cidade. Ele disse que daria um carro para seu pai quando eles chegassem lá. – minha vó falou enquanto passava geleia no pão assim como eu.

Com certeza meu avô pediu - exigiu - ao tio Choi que ele desse um dos carros dele. Era típico do meu avô. Meu tio não tinha um coração generoso a ponto de dar um de seus carros esportivos ao meu pai, afinal, os dois eram intrigados.

— Ah, certo... – respondi, frustada.

Pensei que ficaria mais tempo com meus pais nessas férias, mas parece que seria como todos os anos: Eles iriam continuar a trabalhar nas cidades com as mercadorias enquanto eu ficava na fazenda com meus avós. O que não era um incômodo algum. Eu amava meus avós, contudo eu sentia a saudade do carinho vindo maternal e paternal dos meus pais sempre que me viam quando voltava da vida agitada na cidade.

Me arrependi um pouco por não ter aceitado a proposta deles em ficar com eles em na cidade. Já que eles venderiam as mercadorias apenas no lugar fixo, que era em Seul. Entretanto, o que me fez recusar da oferta um tanto formidável era o fato da cidade ser agitada, o que nunca gostei. Sempre vivi na calmaria, e preferia continuar assim. Mas se isso fosse plausível para a falta que os meus pais faziam... Algo era mais forte para me deixar na fazenda, e se chamava Kim Taehyung. TaeTae não estaria mais tão presente nos meus dias nos próximos meses, e eu já repeti isso tantas vezes pois não me vejo longe dele.

Às vezes penso se será como a saudade que tenho dos meus pais durante a semana quando Tae for para Seul; Do sentimento que sinto quando um aperto atingi meu coração quando penso nos meus pais, me causando ansiedade de sentir o calor e cheiro familiar deles quando me abraçavam; Se sentiria aquele aperto quando fosse sozinha para o campo de tulipas e sentisse o cheiro de grama molhada, me lembrando logo depois do sorriso quadrado de Tae.

Aproveitar os dias com Kim Taehyung estava em primeiro na minha lista de afazeres quando o sol voltasse a aquecer mais um dia.

— E filha, – Meu avô baixou o jornal que lia para me encarar. — Por que não pede para que seu tio lhe ajude a pagar uma boa faculdade no próximo ano? Seu tio tem dinheiro, você sabe. – Meu vô me olhou esperançoso enquanto sua voz permanecia serena a cada palavra que dizia, mesmo sabendo do que eu diria em seguida. No entanto, eu não sei o que passou na cabeça dele ao dizer isso, pois sabia muito bem que acharia absurdo.

— É vô, ele tem dinheiro, mas eu não quero nada dele que não seja espontâneo... – mordi um pedaço da fatia do pão que havia nas minhas mãos. — Não me diga que já o pediu isso? – Perguntei-lhe com a boca cheia enquanto tampava ela com a mão, esperançosa que a resposta fosse não.

— Sim e não. Eu só propus que ele fizesse isso. Seu tio nem parece que é seu tio, deve fazer pelo menos isso.

Levantei da mesa, agora sem apetite algum.

— Onde vai, querida? – minha avó me questionou se levantando da mesa.

— Vou para casa do Taehyung.

— Mas à pé, querida? – minha vó diz agora ao meu lado, com olhar preocupado.

— A senhora não disse que fazer caminhada de manhã faz bem? pois bem, farei isso! – elevei um pouco a voz e fechei a porta com pouco de força.

☆ ☆ ☆

— Você canta tão bem. – soltei distraída enquanto via borboletas voarem e depois sumirem de vista.

Estávamos sentados na caçamba da caminhonete do pai de Tae fazia algumas horas. Ali costumava ficar as mercadorias da fazenda da família Kim mas naquela manhã quem estava ali era apenas Tae e eu.

Confesso que quando sentei na caminhonete as lembranças de ontem onde eu quase morri na caminhonete dos meus pais vieram na minha cabeça. Um dos momentos mais inusitados da minha vida, onde me vi na beirada da morte até Kim Taehyung me salvar, como um grande herói. E quando vi Taehyung correndo atrás de uma galinha quando cheguei aqui, ao invés de o cumprimentar, o agradeci. Sem ele não estaria viva hoje, isso era fato.

Enquanto eu me perdia nos meus pensamentos, Taehyung como eu antes de chegar naqueles pensamentos estava distraído com as três borboletas que passaram por nós, até ele ouvir minha frase.

— Como assim? – Ele pigarreeou.

— Eu vi um vídeo seu em uma rede social, o twi...rur – tentei lembrar-me o nome da rede social, mas inglês não era meu forte.

— Twitter. – Tae corrigiu.

— Isso... Eu vi um vídeo seu lá.

Ele olhou para mim, e eu que encarava a grande plantação à nossa frente olhei para os olhos castanhos escuros dele.

— Desde quando, Choi Eunji mexe no celular, muito menos no Twitter?

— Até parece que eu não tenho uma conta no Orkut*. – retruquei num tom óbvio.

— Responda minha pergunta, por favor.

O olhei por um momento, não entendo o porquê dessa curiosidade em como vi o vídeo. Ele nunca diria para mim que cantava se não tivesse visto no twitter?

— Quando estávamos no campo de tulipas amarelas, Jung-ha disse que iria postar no Twitter as fotos, e eu pesquisei o que era e abaixo das fotos vi seu comentário.

— E viu meu perfil... – completou a frase por mim — Viu suas fotos zoadas também? – tinha um sorriso brincalhão no rosto.

— Taehyung! – tentei bater no seu ombro mas não foi possível pois ele pegou meu pulso antes disso, o soltando devagar depois.

Droga de reflexo bom.

— Por que postou sem minha autorização?!

— Desculpa, vou apagar-las depois. – Disse ainda com um sorriso travesso no rosto.

— Não precisa, já postou... – Voltei a olhar para a plantação, mas o olhei de novo ao perceber que mudara de assunto sobre sua voz.

— Tae! – O chamei e ele deixou de olhar a vegetação para ver meus olhos. — Por que não me disse que cantava? – disse transparecendo chateação, como sempre eu simplesmente não conseguia maquiar minhas emoções, sempre transparentes feito água.

— Por que não achei tão revelante. – voltou a olhar a plantação. — É só uma voz, e nem sou bom nisso. – completou.

— Sua voz é muito linda, Tae! – falei entusiasmada e ele me olhou confuso. — Não é como os ídolos que conheço, sua voz é docemente grave, difícil de ouvir hoje em dia. – refleti enquanto falava, e Taehyung pareceu fazer o mesmo.

Em seguida ele sorriu com seu sorriso quadrangular, e me despedaçei toda. Aquele sorriso era peculiarmente bonito, amava e sempre desde pequena fazia de tudo para vê-lo sorrir assim.

— Obrigado. – Vi um rubor em suas bochechas e nas pontas das suas orelhas.

Ouvi o pai de Tae rir alto, e por um segundo estranhei, então lembrei que hoje era domingo ainda e por isso os pais de Tae estava ali, havia esquecido que estávamos sentados na caçamba da caminhonete dos pais de Tae. E então, de repente, lembrei que Taehyung fez uma promessa à mim que iria tocar o saxofone quando os pais dele voltasse ao vilarejo.

Questionei ele se poderia tocar pra mim com o sorriso nos lábios.

— Desculpa Ji, mas não vai dar. Meu pai deixou o saxofone na casa dele em Seul.

Suspiramos em coro.

— Por que seu pai sempre leva o saxofone quando vai para Seul? – Perguntei curiosa, com a cabeça tombada para o lado.

— Faz três semanas que meu pai está numa pequena banda em Seul, dizendo ele que é uma forma de tirar dinheiro para pagar minha faculdade esse ano.

— Entendi. – brinquei com meus dedos, chateada quando ouvi a palavra faculdade.

— Tudo bem, Ji? – Tae me questionou com uma feição preocupada.

Assenti com a cabeça, e me concentrava para fazer algo que era a única coisa que eu sabia ser discreta, dizer que estava tudo bem. Era algo que eu constantemente dizia mesmo quando não estava, automaticamente quando escutava "está tudo bem?", eu dizia que sim ou assentia com a cabeça. Entretanto, eu previa o que Tae iria dizer em seguida:

— Não, você não está. – me olhou preocupado.

Tae era o único que enxergava a tristeza maquiada em um sorriso ou em um "tá tudo bem". Ele me conhecia de cor e sabia meus sentimentos não só porque transparecia facilmente, mas até no jeito de andar. Era impossível mentir para esse menino, apesar de que mentir para ele seja a última coisa que eu queria. Mas dizer sobre a causa da minha mudança de humor repentina era também a última coisa que eu queria fazer. Não queria magoá-lo pelo meu egoísmo.

Mas usarei isso para não contar o que houve antes de está ali, com ele. Queria esquecer do absurdo que o meu avô disse.

— Você está triste porquê eu vou para Seul, é isto? Olha, eu já te disse para nã-

— Tae, eu estou triste que você irá morar longe de mim mas eu entendi que pensei muito em mim. Você irá estudar numa escola boa. Eu devia está feliz por você e não com raiva. Me desculpe novamente. – abaixei a cabeça o interrompendo.

Sim, fui egoísta. Depois de pensar tanto cheguei a conclusão de que estava errada. Infelizmente o destino queria que fosse assim e eu não iria culpar Tae. Percebi que estava sendo tóxica ao pensar apenas em mim e não nele. Tae não era rico, e uma boa oportunidade bater na porta era sempre bem-vinda.

Recordo-me de quando eu estudava com ele no campo. Ele para ganhar uma bolsa nas universidades e eu para uma nova escola - já que Tae sairia da escola e ele era o único que me protegia do bullying que passava naquela escola, criei coragem e confessei para meus avós. Eu sabia que Tae poderia ir para a universidade de Seul, mas eu jurava a mim mesma que ele entraria na de Daegu, pois a de Seul era muito difícil de se entrar pela grande concorrência, afinal, era em Seul.

E sim, subestimei a nota do meu melhor amigo. Tae nunca gostou de estudar afinal...

Mas Tae conseguiu, e eu esperava que conseguisse também no próximo ano, apesar de que o plano que era estudar na mesma cidade não foi como planejávamos, pelo menos eu tentaria entrar para de Seul. Eu esperava.

— Não precisa se desculpar. Não foi como deveria. Você vai tentar entrar lá no próximo ano, certo? – ele me abraça, esfregando meu cabelo, o deixando-o bagunçado, e meu coração tolamente bate rápido demais.

Assenti com um sorriso fechado, enquanto ele me observava como se estivesse orgulhoso de mim, e repentinamente me olhou preocupado de novo.

— Espera aí, tem certeza que é só isso? – Tae me questionou

Aish!

Sai da caçamba da caminhonete e caminhei até uma grande cerca, que havia um homem treinando com um cavalo.

— Eunji! – ele me chamou, e ouvi seus passos vindo atrás de mim.

— Bom dia, senhorita Eunji. – Kim Jongin disse enquanto eu me aproximava da cerca cada vez mais.

Ele estava com vestimenta de montaria, que lhe caiu muito bem por sinal, parecia ter sido feito para ele, e possivelmente era.

— Jongin! Você por aqui?! – o perguntei surpresa pois o mesmo morava na cidade de Seul.

Ele puxou as rédeas do cavalo, fazendo o animal parar de andar aos poucos e andar até a mim. Ele desceu do cavalo e segurou as rédeas, para o cavalo não fugir de si.

— Vim tirar umas férias por aqui novamente, e eu já disse que você pode me chamar de Kai, se lembra. – Disse ele sorridente e eu assenti devolvendo o sorriso.

O clima estava ameno e eu não pude deixar de notar em como os raios de sol daquele fim de tarde deu um contraste perfeito com sua pele bronzeada.

— E quando chegou? Hoje? – O questionei e Kai abriu a boca para falar até Tae o cortar.

— Ele chegou ontem, quando minha tia me buscou no campo de flores. Ela o trouxe. – Tae disse, colocando seu braço no meu ombro e Kai olhou para mão de Tae que acariciava meu ombro direito.

Minhas bochechas tomaram a tonalidade vermelha, tão quentes que pensei que pegariam fogo.

— Como vai, Eunji, bem? – Kai disse saindo do cercado com o cavalo.

— Vou indo. – Disse saindo do aperto de Tae contragosto para acariciar o cavalo marrom, disfarçando meu rubor com o ato de Tae.

— Então, eu preciso conversar com a Ji, se puder nos dar licença. – Tae disse, e eu o olhei sem entender

— Claro, vou colocar o brigadeiro no celeiro. Tchau Ji, tchau Winter Bear. – Diz se afastando do cavalo, o brigadeiro. Eu e Tae dissemos tchau em uníssono.

Winter Bear?

— Eu não gosto quando ele fala com você. – Tae ditou enquanto olhavámos a quem Tae se referia se distanciar de nós, o Kai.

— Por que? – o perguntei confusa.

— Por que eu não gosto dele perto de você.

Kim Jongin era filho de uma amigo da família Kim, que trabalhava na fazenda. Kai sempre gostou daqui, principalmente de cavalgar, então em todas as férias ele vinha pra cá. Tae e Kai sempre se deram muito bem, mas parece que algo aconteceu entre eles para Tae agir desse jeito, e quando eu vou questionar-lo, a harabeoni me chamou.

— Eunji!, o seu avô e a sua prima chegaram para lhe buscar.

A harabeoni disse na porta da casa dos Kim, com avental a frente do corpo, me lembrando dela antigamente quando chamava eu e Tae para parar de brincar com as galinhas quando éramos crianças.

Aish. – Murmurei triste, não queria voltar, queria ficar com Taehyung.

Não estava nada a fim de ouvir Jung-Ha reclamar da casa e ter que ouvir a palestra do meu avô para tirar proveito do dinheiro do meu tio.

Tae colocou as mãos no meu ombro de novo, andando comigo até a casa.

— Você ainda vai me dizer o que aconteceu. – Tae disse no caminho e eu engoli a seco.

☆ ☆ ☆

— Kim Jongin... – Jung disse pensativa com um sorriso presunçoso no rosto - ele é bonitinho.

— Ah meu Deus. – Disse ao escutar tal frase, revirando meus olhos.

Eu não achava Kai feio, muito pelo contrário, mas eu não queria que Jung-ha se jogasse para o lado dele, porque até um tempo atrás achei que gostasse do tal Mark que vi no perfil dela no Twitter e agora parecia caidinha pelo Kai. O que ela sente? Amor temporário?

Vou ao meu quarto e ao abrir a porta não acredito no que vejo.

— Vó, cadê meu quarto?!!

— Tá aí bobinha. Eu só reformei ele. – Disse Jung cinicamente.

— Sem a minha permissão?! – elevei a voz a olhando com fúria.

— Querida, deixa de ser mal agradecida. – minha vó me diz ao meu lado e eu a olho com uma sombrancelha arqueada. — Eu sei que ela deveria ter pedido permissão mas olha, está tão bonito. Sempre me culpei de não ter dinheiro para reformar-lo. - completa minha vó, sorrindo.

Adentrei no quarto e me senti num pesadelo. Estava tudo em tons de rosa. Literalmente. Os móveis, o teto, tudo!

— Argh! – Grunhi com raiva, sentando na cama de casal. — Reformou com quê, com dinheiro do seu pai? E como fez isso tão rápido?

Olhei o relógio no criado-mudo no quarto e me surpreendi, já havia passado mais da metade do dia. Eu realmente perdia a noção do tempo quando estava com Tae.

— Não precisei comprar muita coisa na cidade.

Jung-ha sentou na outra cama.

— Eu achei que seu quarto não caberia outra cama de casal mas me enganei, ele é tão enorme que coube.

Deitei na nova cama, ainda absorvendo as cores rosas.

Eu não vou aguentar mais um segundo com essa garota. O que ela vai mudar agora sem minha permissão, minhas roupas?

Pensei.

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Orkut*: foi uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada em 30 de setembro de 2014. Seu nome é originado no projetista chefe, Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google.

✯ ✯ ✯

Essa Jung-ha ainda vai aprontar muito 👺

Revisei mil vezes, se ainda tiver erro ortográfico, não hesitem em me avisar!

Como vocês viram, reescrevi o capítulo. Tirei o ponto de vista da Jung-ha porque achei que ficava confuso mudar o ponto de visão dos personagens no mesmo capítulo. Também adicionei coisas que quero que prestem muita atenção nelas.

Talvez amanhã o capítulo seja da Jung-ha, ainda tô decidindo...

CET está de volta!!!!

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