UM
A chuva caía calma do lado de fora quando Alexsandra se levantou, faltava pouco para às seis da manhã. Há menos de um mês havia enterrado seu pai e assumira a presidência da empresa. As malas esparramadas pelo chão do quarto, era um sinal claro de que ainda não teve tempo para desfazê-las e deixar o apartamento de três cômodos com cara de lar.
A mansão dos Lexiver estava desocupada desde que seu pai foi assassinado e seu meio-irmão estava viajando pelo mundo, se afogando na própria dor para se preocupar com a família que lhe restou. A mansão era muito grande para ela ficar ali sozinha, rodeada de lembranças, então arrendou um apartamento que ficava a meia hora da sede da empresa e se mudou sem pensar duas vezes, se era o certo ou não a se fazer, queria apenas sufocar aquele choro que surgia toda vez que via uma foto ou alguém tocava no nome de seu pai.
Henrique Lexiver, não era o exemplo de pai do ano, mas estava lá sempre que a filha precisava, – mesmo que sua esposa não aceitasse bem a situação – nunca lhe deu as costas, fazendo assim com que seu casamento viesse ao fracasso, já que Joana não conseguia lidar com o fato de que, toda vez que seus olhos pousavam sobre Alex era o reflexo da amante de seu marido que via ali. Aquela por quem Henrique ameaçou lhe deixar várias vezes, mas que nunca de fato chegou a cumprir a ameaça.
Arrastando-se pelo apartamento, Alex parecia mais um zumbi do que uma executiva. O cabelo desgrenhado e as olheiras roxas abaixo dos olhos eram sinais claros de uma noite agitada e mal dormida. Todo o estresse de ser CEO de uma empresa estava lhe sugando as forças, não era aquilo que tinha em mente quando resolveu cursar Administração.
Não queria cuidar dos negócios da família, queria criar seu próprio negócio sem ter as unhas de Henrique Lexiver cravadas em suas decisões. Queria mostrar a todos que ela não era a menininha do papai. Amava o pai, mas o senso de proteção e as intromissões dele em decisões de sua vida, não eram coisas que lhe agradavam e isso era sempre o que causava muitas brigas entre os dois.
Após fazer um coque frouxo no cabelo começou a preparar seu café, única coisa que conseguia ingerir antes das dez da manhã. Com a xícara de café na mão, andou pelo apartamento, ligou a televisão e aumentou o volume quando passou pela sala, deixando em um canal de notícias e caminhou para o quarto bebericando a bebida quente e amarga enquanto ouvia as primeiras notícias da manhã.
Após terminar o café, largou a xícara sobre a penteadeira e caminhou para o banheiro, se despindo do pijama listrado e tomando um banho quente. Enrolada na toalha fez suas higienes e em seguida voltou para o quarto, se vestindo com um conjunto social verde musgo, a calça de cintura alta era presa por um cinto branco que marcava a cintura fina e combinava com a blusa de decote quadrado que usava por baixo do blazer, nos pés sandálias de salto, que criavam um look feminino e menos carregado. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto e se maquiou disfarçando as olheiras da noite mal dormida, cobriu seus lábios com um batom cor cereja e pegou a bolsa pendurando-a no ombro.
Analisando sua imagem no espelho Alex aprovou o que via e se sentia poderosa em cima dos saltos, como se o mundo estivesse a seus pés. Saindo do quarto levou a xícara suja para a cozinha, assistiu uma última notícia sobre o mercado de ações e desligou a televisão, pegando as chaves e saindo do apartamento.
— Bom dia, Lucy! – cumprimentou e sorriu para a senhora que morava no apartamento em frente ao seu e que sempre saia no mesmo horário que ela para comprar pão.
— Bom dia, menina Alex! – a senhora cumprimentou-a sorrindo enquanto girava a chave uma última vez na maçaneta da porta. — Parece que hoje não vai parar de chover. – comentou a senhora.
— Só quero que esse mês acabe logo, não aguento mais frio e chuva. – sorriu enquanto chamava o elevador impacientemente. A senhora apenas concordou com um sorriso amigável enquanto se posicionava ao lado de Alex. — Até que enfim! – exclamou revirando sua bolsa em busca da chave do carro, os últimos dias estavam sendo cansativos e ela estava mais estressada que o normal.
Às oito da manhã, Alex colocou os pés no hall da presidência e logo estava acompanhada, por sua eficiente secretária e assistente que estava sempre lhe salvando, quando acabava por se enrolar em seus afazeres. Amélia passava a Alex a sua agenda do dia, mas a cabeça da loira se encontrava em qualquer lugar menos em sua empresa e nos compromissos que tinha com ela.
Amava a área em que decidiu atuar, mas ter tanta responsabilidade em suas mãos estava deixando-a temerosa sobre o que fazer perante os problemas que surgiam. A diretoria estava caindo matando em cima dela. Alex por mais que tentasse manter a máscara de ferro perante eles, quando sozinha se deixava cair, não sabendo como resolver a situação. Erguendo os olhos e encarando a baixinha a sua frente, Alex suspirou frustrada sentindo uma leve enxaqueca começar a se formar.
— Podemos continuar mais tarde? – perguntou. — Não estou me sentindo muito bem, depois do almoço continuamos com a agenda.
— Claro. – foi a única coisa que saiu da boca de Amélia antes de se afastar e deixar Alex sozinha em sua sala. Pressionando os dedos indicador e médio sobre as têmporas, massageou-as em busca de alívio. Sentou em sua cadeira atrás da mesa e deixou os cotovelos caírem sobre o tampo, sentia-se cansada, esgotada seria a palavra certa.
Assumir a empresa do pai talvez não tivesse sido a melhor decisão que havia tomado, afinal, como seu falecido pai vivia dizendo, ela não era a pessoa mais sensata quando se tratava de tomar decisões no calor do momento.
Observando a si mesma agora, concordou com o pai: ela realmente não era boa em tomar decisões, apesar de ser bem inteligente.
— Chegaram para a senhorita. – Amélia disse entrando na sala carregando um jarro com lírios cor de rosa. Os favoritos de Alex. Erguendo os olhos da mesa observou as flores antes de se levantar e caminhar até a mulher pegando o jarro de suas mãos e levando-o até nariz, absorvendo o cheiro.
— São lindas! Algum cartão? – Amélia levou a mão até o buquê e puxou um pequeno cartão que estava preso entre os ramos. Estendeu-o para a loira que colocou o jarro sobre a mesa e se escorou nela, abrindo o envelope e puxando o cartão de dentro.
— Pode ir. – dispensou a mulher, que assentindo se pôs para fora da sala.
Observando o cartão, uma ruga se formou entre seus olhos. Não havia nada escrito ali além de um C em letra cursiva. Era uma assinatura, sabia disso, mas o que a intrigava era não saber a quem ela pertencia. Quem quer que fosse a pessoa, havia acabado de ganhar sua total atenção.
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Acomodando melhor o corpo grande na cadeira giratória, observou com atenção o monitor de tamanho médio que mostrava a visão da ampla sala da presidência na Farmadic Collor, as flores que havia enviado se encontravam em cima da mesa e não havia nenhum sinal de que iriam ser tiradas dali, ele observou atentamente quando, minutos atrás, Alex tomou o jarro da mão de sua assistente e o levou rumo ao nariz sentindo o perfume dos lírios, pressionou os lábios quando notou a ruga se formando entre os olhos da loira.
Ela o intrigava.
Alex era doce, mas ao mesmo tempo forte, algo que ele nunca havia visto em nenhuma mulher que conheceu. Ele havia encontrado mulheres doces e mulheres fortes, mas nunca a mistura das duas em uma só pessoa, isso o deixava curioso e ainda mais empolgado em manter o jogo que estava começando com ela.
A mulher apenas não sabia que tudo aquilo, era o início de seu fim. E notando o sorriso se repuxar nos lábios da loira, ele sabia que seria um delicioso jogo a se jogar.
— Porque simplesmente não a mata de uma vez? – perguntou o ruivo se jogando na cadeira ao seu lado e entregando a ele uma xicara de café.
— Ela me intriga. – respondeu. — Quero jogar um pouco, há tempos não tenho uma boa diversão. – O grandão tatuado riu.
— Aproveite meu irmão, logo terá que se desfazer dela. – Um sorriso se puxou no canto dos lábios do homem.
— Será divertido! – Dando as costas para o irmão, caminhou para fora do quarto. Apesar de ter um apartamento na cidade, ele nunca o usava quando estava em missão, por isso, havia arrendado um apartamento a poucos prédios de distância do de Alex – era um meio que ele usava para que situações não programadas não o colocassem em uma situação complicada – e enquanto ela estava na empresa, o ruivo tatuado fez o trabalho sujo de invadir seu apartamento e colocar câmeras em pontos estratégicos que dariam a eles uma visão clara de todo o ambiente.
Ele não trabalhava em dupla, mas quando seu irmão ligou há dois dias precisando de um lugar para ficar até a reforma do apartamento que ele havia adquirido na cidade terminar, ele ignorou todos os seus instintos e abriu as portas de sua nova casa, mesmo querendo muito, não lhe daria as costas.
O ruivo barbudo que havia acabado de voltar de um trabalho de seis meses no Brasil, era tão profissional quanto ele e não colocaria sua missão em risco, mesmo torcendo o nariz sempre que ele se enfiava no quarto de vigilância em frente aos monitores e ficava horas, apenas observando a moça. Prestando atenção em cada reação dela, em seus gostos e nas coisas que ela fazia quando estava sozinha.
— Vamos tomar uma cerveja com os caras. – chamou o grandalhão saindo do quarto.
— Claro! – pressionou os lábios um contra o outro. — É sempre divertido tomar uma cerveja com um monte de assassinos. – debochou antes de acompanhar o irmão para fora do apartamento.
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