VIII. PRIMEIRA PISTA

— Jesus, Maria, José… — resmungou Peter com os dentes cerrados enquanto caminhava freneticamente pelo seu escritório — Abraão, Isaque, Jacó…

Samantha e Daniel assistiam seu ataque de raiva com atenção, apesar de possuir expressões completamente opostas. Enquanto Roth tinha o rosto preocupado com o que Bane poderia fazer, Stifler ria da tentativa falha do detetive de manter-se calmo.

— Não acha engraçado isso de não falar palavrão? Luteranos são estranhos  — disse o perito para Sam.

Bane puxou os cabelos lisos para trás quase os arrancando da cabeça.

— De todos os filhos da…

— Olha a língua! — repreendeu Daniel, o qual recebeu um olhar de morte de seu amigo.

— Bane, não é tão ruim assim. — constatou Samantha tentando se aproximar de seu amigo.

— Sammy, eu gosto de todo mundo aqui. Gostar não, tolero sem precedências. Mas aquele filho da…

— Olha a língua! — repreendeu mais uma vez Stifler.

Em ebulição, Peter deu um passo em direção de seu amigo com o punho levantado, pronto para não dar-lhe um soco. Por instinto, Daniel levantou-se de súbito e correu para fora do escritório como uma lebre ao avistar seu predador. Era uma cena engraçada: suas pernas finas e longas, desajeitadas, mais atrapalhavam do que ajudavam e Peter pode ouvir algo caindo lá fora e a voz apologética de Daniel pedindo perdão. Ia gritar uma ameaça ao perito quando sentiu duas mãos segurarem seus ombros.

Apesar de ter a aparência delicada e macia, as mãos de Sammy pesavam sobre Peter. Era quase uma ordem implícita para que ele ficasse ali onde ela o segurava.

— Você não é de perder a paciência, Peter.

Ele levantou as sobrancelhas escuras, cético, e Samantha revirou os olhos.

— OK, talvez você seja um pouco estressadinho, mas não o suficiente para esse show todo. — ela manteve o contato visual vibrante, os olhos cor de caramelo analisando, lendo sua mente — O que está acontecendo?

Eles estavam muito perto. Peter só precisaria inclinar-se um pouco para sentir o sabor dos lábios já conhecidos por ele. Bane sabia — claro que sabia — que ela não iria o repelir.

Porém, o detetive se deteve. Embora seu instinto primitivo e seu Eu antigo lhe sussurrassem como a serpente no Jardim Éden para que cedesse apenas aquela vez, repetindo que celibato, igreja e cristianismo não eram para ele, a última coisa que desejava era brincar com os sentimentos de Sammy e usá-la apenas para satisfazer os desejos de seu corpo. Os dois queriam coisas diferentes e fazer o jogo do viva o presente, quando sabia que em determinado momento iriam se machucar, não parecia certo.

— Este dia está sendo jeito de surpresas, Sammy. — Comentou Peter respirando fundo e deixando os ombros relaxarem — Lawrence foi a cereja do bolo.

— O que o Capitão disse sobre isso?

Peter franziu o cenho ao lembrar da resposta mal humorada e suja de seu chefe.

— Não se repete esse tipo de coisa em frente a damas.

Sammy riu debochada e lhe deu um soco no mesmo lugar que antes segurava. Não o machucou, mas era estranhamente forte para uma mulher aparentemente delicada como ela.

— Lawrence não é tão ruim, Peter. Ele é até bonito.

O detetive fez uma careta.

— Meu Deus, juro que se você sair com ele nunca mais falo contigo.

Sammy riu, apesar da exasperação do seu amigo. Todos os dois sabiam que a ameaça era poeira jogada ao vento.

— Mas ele é um bom profissional. — constatou Samantha — Ele irá ajudá-lo com o caso enquanto eu lido com os adolescentes de Lee’s Summit West.

Peter fez uma careta.

— Boa sorte.

E com isso os dois se despediram com um rápido abraço. Bane demorou-se alguns segundos fitando a porta até voltasse para o quadro vazio. Aos poucos, o detetive listou as poucas informações que possuía, sentindo os ânimos se acalmarem e indiferença lhe dominar mais uma vez. Após escrever o nome dos familiares, Peter começou a complementar a pasta do caso através das suas pesquisas online. Nesse momento, ele sempre se tornava muito introspectivo. O murmúrio contínuo da delegacia acontecia longe de sua linha de pensamento. Era como adentra em um mundo secreto, desconhecido até mesmo por ele próprio.

— Deus do céu, Bane! Você anda assistindo TV demais.

Peter mordeu os lábios com força segurando um palavrão. Devagar, o detetive virou seu rosto para trás apenas para fitar Richard olhando-o com um sorriso pretensioso, zombando de seu quadro bem organizado.

— Como você organiza todos os seus casos? Quer dizer, se você é capaz de pensar em mais de uma coisa ao mesmo tempo.

O detetive respirou fundo e tentou não socar o seu parceiro de trabalho por lhe interromper.

— O que deseja, Lawrence?

Peter pode ver Richard arrumar seus ombros e o olhar como se fosse o homem mais inteligente da sala. Mais uma vez a ideia de socá-lo cruzou sua mente.

— Estive com a médica legista enquanto você desenhava no seu quadrozinho. — começou a andar pelo cômodo — Não há nenhuma evidência de tortura, a não ser os braços e as pernas igualmente presos por cordas. Os Stuarts estavam vivos e conscientes quando perderam suas cabeças.

— Bom saber — disse Peter voltando-se para seu quadro e escrevendo as informações.

Richard ficou observando-o e esperando ele fazer mais algum comentário, porém Bane manteve-se calado. Incomodado com sua presença no escritório, Peter indagou:

— Mais alguma coisa?

— Você não acha que isso possa ser sinal de psicopatia? Um serial killer talvez?

Peter virou-se para ele com a testa franzida.

— É muito cedo para dizer algo assim, não acha?

— Eles foram mortos de forma cruel e premeditada, Peter. — justificou Richard — Se você tivesse procurado saber sobre o caso, ao invés de reclamar ao capitão nossa parceria, você ia saber que todas as quatro vítimas estão com uma marca de um jogo da velha na mão direita.

Bane franziu o cenho.

— Todos? Até mesmo a Isabelle?

Lawrence balançou a cabeça concordando e sentou-se em uma das cadeiras do escritório despreocupado.

— Todos eles tiveram suas carnes dilaceradas com um facão — afirmou Richard. — O que você acha que isso significa? Para mim, é um caso clássico de psicopatia.

Peter manteve-se em silêncio com a sensação que estava deixando algo passar. Pensou nas redes sociais dos Stuarts

— Irei procurar se há casos antigos com o símbolo de cerquilha no sistema. — decidiu Richard já caminhando para saída.

— Cerquilha? — perguntou Bane, alarmado.

— Cerquilha, tic-tac-toe, jogo da velha, tudo a mesma coisa!

Peter retirou seu celular do bolso em segundos e abriu o navegador da internet. Pesquisou as palavras chaves “Stuart” e “Cerquilha”, encontrando as diversas notícias sobre o assassinato brutal da família e a imagem de um dos prédios pertencentes a eles. Contudo, o que realmente lhe intrigou foi o símbolo do jogo da velha que estampava a logo da empresa.

— Richard, acho que temos nossa primeira pista.

....

N/a: Olá, como vocês estão? Eu estou triste com o fim da Copa. :\ Mas vamos que vamos que 4 anos passam rápido.

Com essa primeira pista acho que já podemos criar teorias. E aí? O que acham? Comentem! Sua opinião é muito importante.

Até mais!

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