Yoongi e Trine estavam ao beijos entre as prateleiras da loja de conveniência, enquanto Hoseok e eu escolhíamos qual sabor de lámen comprar. Aquela era pelo menos a terceira vez que eu falava sobre o quão idiota Jungkook podia ser, tudo que, de fato, havia descoberto sobre ele nos ridículos doze minutos cronômetrados que passamos juntos, e que aquela ideia provavelmente era a pior que eu poderia ter tido em todos esses anos, mesmo que envolvesse Taehyung, sua boca bonita e as inúmeras qualidades que provavelmente preencheriam meu dias nos meses seguintes. Mas naquele momento, o meu único pensamento era toda a grana que eu teria que gastar com um curso furreca e toda a arrogância sem limites de Jeon Jungkook

— eu te avisei que ele era meio problemático, é por isso que ele não tem colegas de quarto, ninguém aguenta ficar por perto tanto tempo, talvez aqueles boatos sobre ele sejam verdadeiros. — Hobi comenta, vasculhando entre todos os sabores de lámen e me mostrando as embalagens, uma a uma. — Eu sei, eu sei de tudo isso, mas o que eu vou fazer? O cara falou até de contrato, o que ele pensa que vou fazer? Sugar os conhecimentos dele e sair correndo?! — Hoseok lança aquele olhar de "eu-te-avisei", mas ele bem sabia que tinha aquele velho costume de ser exagerado em tudo e sobre tudo, até mesmo nos atributos alheios, salvando exceções.

Queria ele que estivesse errado ao menos sobre o mala do Jungkook.

Preparamos os nossos laméns e sentamos nas mesas externas da conveniência para comer, Trine e Yoongi nos acompanham, mas sempre trocando aqueles olhares como se estivessem se provocando (o maldito tempo todo) de maneira não-verbal, nem quero saber porque a mão do Yoongi tá embaixo da mesa e penso na possibilidade de vomitar quando ambos começam a cochichar um para o outro. Façam o favor de procurar um quarto!

Hoseok estava concentrado demais no seu macarrão apimentado para dizer qualquer coisa, então permanecemos aquele pequeno período de tempo em um silêncio constrangedor, olhando para nossas próprias refeições, lembrando do saldo bancário negativo e todos os sacrifícios feitos em função de uma única pessoa, o que pra falar verdade não era motivo de orgulho. Quão pior isso poderia ser? Provavelmente fiz a causa feminista regredir trinta anos com essa ideia idiota.

Mas é segunda-feira à noite e nunca há nada realmente interessante pra se fazer no Campus além de flertar com o tédio, já que a maioria dos alunos estão ocupados com suas atividades ou leituras para a semana, assim como eu e Hoseok, que estávamos atolados com trabalhos acadêmicos. Aquele é, definitivamente, o pior horário para usar a biblioteca ou até mesmo as salas de estudo disponíveis no terceiro andar do prédio, e de todos os lugares, optamos pela sala de convivência como a melhor opção disponível naquele momento considerando que Trine e Yoongi — de qualquer maneira — precisavam de privacidade àquela altura.

Hobi relê o primeiro parágrafo da apostila de Estudos Culturais pelo menos três vezes em voz alta antes de iniciarmos aquele maldito relatório, porém estou prestando atenção na conversa de dois calouros no sofá ao lado, comentando sobre os horários dos jogos de baseball, já que o campeonato estadual começará em duas semanas.

Eu havia convencido Hoseok a me acompanhar a todo custo, inclusive pagando pelas entradas de todos os jogos que o time da universidade participasse, incluindo camisetas e bonés com a logo dos leões da Kyung-Hee, mascote oficial do time. Claro, tudo isso havia custado caro, ou melhor — o número de telefone de Kang Seulgi — a paixão eternamente adolescente de Hoseok, desde a sexta série ao que parece.

— Eleanor, você poderia prestar atenção em... — interrompo Hobi antes que ele conclua a frase porque ouço o nome de Taehyung vindo da boca de um dos calouros.

— Você ficou sabendo que o Taehyung-sunbae não está mais ficando com a Sooyoung-ah, os dois brigaram feio ontem depois do treino, na frente do time todo. — O garoto de cabelos coloridos está estirado no sofá ao lado, conversando o colega, enquanto eu estou praticamente debruçada sobre o colo de Hoseok para tentar ouvir o que os dois tanto falam.

— Poxa, sério? Taehyung-sunbae é um idiota, qualquer garoto daria tudo para sair com a Sooyoung-ah, ela é garota mais gostosa dessa faculdade! — O outro rapaz diz, enquanto bate o lápis por cima da superfície do livro fazendo um batuque ritmado.

Taehyung e Sooyoung não estavam mais juntos. Taehyung e Sooyoung não estavam mais juntos. Taehyung e Sooyoung não estavam mais juntos. Minha mente se repete, presa em um loop infinito, tentando a todo custo absorver a informação e o que ela significava.

— Qualquer dia você será suspensa por exibicionismo, sabia disso? — Hoseok resmunga, enquanto soco seu braço de leve, mas por dentro talvez, só talvez, eu esteja feliz por saber que SooYoung e Taehyung não estão mais ficando, os rolos dele nunca duravam muito, isso era um fato, mas esse havia sido o mais longo desde que me lembro, além da Sooyoung ser a garota mais bonita que já vi em toda a minha vida, o que significava que eu precisava agir o mais rápido possível: Taehyung estava completamente disponível agora, provavelmente em poucas horas a universidade inteira saberia disso também (se não já soubesse).

Saltei para fora do sofá, buscando meu celular na mesa cheia de livros em nossa frente, busquei o contato de Jungkook na agenda e rapidamente digitei um sms.

[21:19] eu: ei, desculpe te incomodar essa hora da noite,

mas poderíamos adiantar a nossa aula para a quarta-feira, 

estou muito ansiosa pra começar a aprender. :D

[21:20] Jungkook: quem é?

Eu havia falado com Jungkook há apenas algumas horas e não era possível que ele sequer lembrasse de mim, ou melhor, vindo dele não sabia mesmo o que esperar.

[21:22] eu: Eleanor, a garota das aulas particulares!

lembra?

[21:25] Jungkook: oh, você. claro que lembro!

Podemos sim, mas saiba que se não estiver lá às 19h, não vou repor a aula, ok?

 Você repetiu isso tantas vezes que é impossível não lembrar.

♆

Na quarta-feira, logo após o jantar, deixo Hoseok na cafeteria e corro para a biblioteca para encontrar Jungkook alguns minutos antes do horário marcado, procuro a mesma mesa do último encontro e o espero por mais alguns minutos até o avistar pelas portas de vidro, pela sua cara de poucos amigos, sei que ele não está nos seus melhores dias, ou talvez aquela seja a carinha mais simpática que Jungkook tinha para mostrar, o vislumbre de bom humor que tínhamos acesso — Podemos começar? — ele pergunta, largando a mochila por cima da mesa

 — Boa noite para você também. — Rebato, recebendo um olhar desaprovador, e em seguida também um "boa noite".

— Atrapalhei seus planos mudando os horários? — Pergunto, enquanto ele liga o notebook e retira da mochila algumas apostilas. — Não. — Uma resposta seca e monossilábica é tudo que recebo, mas permaneço prestando atenção em cada movimento de Jungkook, e tenho a sensação de que aquilo vai ser mais difícil do que imagino, como tirar informações sigilosas de alguém, no caso dele, morreria tentando.

— Então, o que você sabe sobre o pacote Adobe, você utiliza algum programa? — ele pergunta, enquanto faz algumas anotações em um bloco de papel.

— Na verdade, não, mas antes de começar a aula, por que você não me fala um pouco sobre você?! — Sua expressão muda, franzindo as sobrancelhas, o que me deixa mais constrangida do que antes, como se a minha pergunta tivesse soado como um convite para que tirássemos nossas roupas. — Digo, como nunca nos conhecemos antes? Com certeza temos amigos em comum. — Continuo, fingindo buscar na memória nomes aleatórios de pessoas que nunca vi na vida, deixando a expressão confusa de Jungkook ainda mais evidente. — Oh, você gosta de esportes? Provavelmente conhece alguém do time de baseball, não é? — Os olhos de Jungkook não se movem, sua expressão sequer muda e ele não parece pronto para dizer nada. — Park Jimin? Talvez o Dong-Yul, ele é um ótimo lançador, oh provavelmente conhece o Kim Taehyung, certo? — Jungkook fecha os olhos por um segundo e respira fundo.

— É, eu conheço o Kim. — Estou me segurando para não gritar ou para não estragar tudo o enchendo de perguntas aleatórias e patéticas demais, mas permaneço de braços cruzados prestando atenção nos seus movimentos

— Oh, vocês são amigos então? — pergunto outra vez, tentando parecer pouco interessada, quando na verdade quero memorizar cada palavra que escapar de sua boca naquele momento. — Não, não sou amigo de traidores. — Ok, vamos por partes.

— O que quer dizer? — O maxilar de Jungkook está travado enquanto ele rabisca coisas sem sentido no seu bloquinho de papel. — Taehyung e eu éramos amigos, até ele simplesmente decidir ser o cara mais escroto que conheço e... — Jungkook para subitamente o que está dizendo, e olha para mim, que estou hiperventilando de ansiedade para saber o que Taehyung havia feito.

— Eu sabia! — Ele diz, balançando a cabeça em negação e recolhendo todas as suas coisas para colocar na mochila.

MERDA, MERDA, MERDA.

— O quê? O que foi? — questiono outra vez, enquanto o observo se preparando para levantar e ir embora.

— Eu devia ter suspeitado antes, tava na cara... Há. "Aulas particulares.".

— O que você quer dizer com isso, Jungkook? É claro que estou interessada nas aulas, eu só queria saber um pouco mais sobre você. — Ele caminha para fora da biblioteca e eu o acompanhando cruzando o pátio, tentando alcançá-lo naquele ritmo.

— Ei, você poderia apenas me dizer o que está acontecendo? — digo mais alto do que pretendo, e ele subitamente para, virando-se para mim.

— Você acha que é a primeira?! Você acha que outras garotas também não tentaram se aproximar de mim por conta do imbecil do Kim? Eu não sou tão ingênuo quanto pareço, Leanor. — é ELEANOR. E.L.E.A.N.O.R

— E eu preciso dessa grana, deveria cobrar por perder meu tempo aqui, mas só... esquece! — Antes de que ele diga qualquer outra coisa, o interrompo.

— Eu pago pelas informações!— As palavras ecoaram por nós no meio do pátio da KYU como se fossemos um casal de namorados, naquele tom comedido e quase polido para não chamar tanta atenção, mas visivelmente se tratava de uma discussão, impossível de esconder — Eu pago, ok? Eu pago o que você pedir. Apenas me dê o seu preço. — O olhar de Jungkook permanece fixo em mim, talvez avaliando o que eu estava prestes a fazer ou me julgando por ser uma idiota pagando por informações sobre seu ex-melhor amigo, quem no mundo faz isso?

— Ok, eu vou jogar o seu jogo. Eu quero o valor do curso completo e faço um dossiê sobre o Kim. — Estávamos falando sobre informações sobre o Taehyung, não estava pedindo as chaves da casa do Shawn Mendes, aquele garoto tava bêbado?

— Jungkook, calma, são 130.000 wons e não estou te pedindo a droga de um certificado. — Quando digo isso, sua boca forma um "O" silencioso, como se aquilo tivesse realmente o ofendido de alguma forma, pelo menos eu sabia que ele era sensível quando o assunto era esse, um ponto fraco.

— É pegar ou largar, ok? — Caminho de um lado para o outro, enquanto ele permanece de braços cruzados checando cada movimento. — Ok, ok. Mas eu quero todas as informações que você tiver, entendeu? TODAS. — Jungkook assente e dá as costas, caminhando em direção ao dormitório masculino, me deixando sozinha e provavelmente, falida.