Quinto capítulo

Sem revisão

Aquela noite estava longe de acabar, Camilla sequer conseguiu dormir, ao invés disso foi até o quarto da bagunça da casa, onde tinha coisas da sua mãe e também coisas da sua avó.

Após a morte das duas e quando finalmente as irmãs voltaram a morar naquela casa, foi muito mais simples apenas empurrar todas as coisas em um canto escuro, onde o olhar não chegaria tão fácil e as lembranças não machucariam tanto.

Aquela noite a uma da manhã a morena estava naquele quarto, sentada no chão com a luz da laterna do celular iluminando o local. Entre caixas abertas risadas escapavam entre lágrimas, coisas tão divertidas que com o passar do tempo acabou se esquecendo.

Existia uma caixa aberta no meio das coxas de Camilla e um álbum de fotos aberto em suas mãos, ela sorria a cada foto que passava pelos seus olhos. Havia uma foto de Bella e Milla vestidas de coelhinhos rosas ainda bebês. Outra das duas com a sua mãe na praia e de maneira distraída Isabella enfiava a mão suja de areia na boca.

No fim daquele álbum tinha uma foto de Marian Del Rosa, com os cheios cabelos negros soltos e um sorriso estonteante nos lábios, olhos escuros e brilhantes.

Tão vivos.

Aquela foto deveria ser no auge da sua adolescência, a morena suspirou pesadamente, acariciando a foto com carinho, quantos anos e quantos momentos aquela doença haviam roubado daquela mulher. Havia passado apenas seis anos com a sua mãe, era tempo de menos e a maioria de suas lembranças ja tinham sido apagadas pelo tempo, a sensação dos beijos e dos abraços foram esquecidas.

— Sinto sua falta — sussurrou para foto — Muito —

Milla tirou aquela foto do álbum e a beijou, colocando junto ao peito logo em seguida.

— Se você tivesse aqui, ela não teria ido embora, ela não teria...ela estaria aqui agora, nos três, nessa casa assistindo desenhos de princesas juntas — uma risada escapou dos lábios, no mesmo momento em que podia sentir o gosto salgado das lágrimas.

Delicadamente se deitou no chão, pondo a foto da mulher sorridente em sua frente. O sono foi chegando, os olhos pesando e Milla desejou sonhar com sua mãe e sua irmã.

                            ¤

Um barulho alto de porta batendo fez o corpo levantar sobresaltado, suado e o coração acelerado. A morena nem mesmo sabia onde estava e se assustou ao perceber que estava no seu quarto, na sua cama, pelo que se lembrava nem cogitou a possibilidade de entrar ali desde que chegou.

Ela passou a mão na testa e colocou os pés para fora da cama,  suas mãos esbarram em algo e ao acender a luz viu que era uma caixa com as coisas da sua avó.

Era estranho e nem seque tinha lembranças e nem motivos para ir até ali com aquelas coisas, passando a língua pelos labios secos Milla decidiu que aquilo não era importante o suficiente para perder seu tempo tentando entender, devia ser estresse e as últimas noites mal dormidas.

Já era estranho o suficiente ter conseguido dormir e não ter nenhum pesadelo ou acordar gritando. Milla procurou seu celular ao redor, mas ele não estava ali, começou a recolocar as coisas na caixa, voltaria aquele quartinho e seria melhor já levar aquela caixa.

Porém a medida que ia guardando foi se dando conta que aqueles objetos eram diferentes, não parecia ser nada que já houvesse visto mas coisas de sua avó. Eram livros, diários, pequenas estátuas, folhas e flores secas. A curiosidade falou mais alto e ao invés de guardar começou a abrir diário por diário.

A princípio não havia nada demais ali, eram diários de infância, ja perto do começo da adolescência, relatos de paixonites e amizades. Coisas triviais mas que a morena nunca soube sobre sua avó.

Apesar de divertido, Camilla se sentou mal por ler algo que outra pessoa escreveu em segredo, estava prestes a fechar e guardar de vez quando uma página a chamou atenção, a caligrafia impecável estava borrada, como se tivesse escrito as pressas e a página estava enrugada em alguns pontos, como se estivesse molhada.

A primeira frase causou arrepios em seu corpo.

18/09/64

Eu entrei em contato com os homens sombras.

Eu tive um pesadelo, não sei ao certo se é dessa forma que posso me referir a minha experiência, mas qualquer outra forma seria errônea. O fato aconteceu a poucos minutos e ainda sinto minha alma inquieta e trêmula, a minha intuição me diz que foi uma experiência quase morte, mas a lógica me diz que isto é algo impossível.

Não poderei falar sobre isso com a minha mãe, sei o que ela dirá, porém sinto que acredito nela pouco a pouco, o mal esta nessa casa, nos vigiando e cercando.

Tenho enrolado até agora para encontrar as palavras certas, contudo irei direito ao assunto, eu estava em meu quarto, dormindo a muitas horas, amanhã tenho muito trabalho e preciso esta descansada, algo que agora sei que será impossível. A porta do meu quarto estava trancada, disto tenho certeza! Mamãe sempre fala como sou uma moça é importante manter a porta fechada.

Meus olhos abriram durante a madrugada, munca desperto durante a madrugada, mas hoje isto aconteceu e a porta do meu quarto estava aberta...

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