Você diz meu nome
como se eu nunca
tivesse ouvido antes
Sou indecisa, mas
dessa vez, tenho certeza
Espero não ser a única que
sente tudo isso
Você está se apaixonando?

Eu teria ficado em casa
Porque eu estava melhor sozinha
Mas quando você disse: Olá
Eu sabia que era o fim de tudo
Eu deveria ter ficado em casa
Porque agora não há
como deixar você ir
Estou me apaixonando
por alguém que poderia
partir meu coração?
— Dua Lipa - Break My Heart

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O meu dia de segunda começou agitado. Tive que acordar cedo pra pegar minha encomenda de maquiagem, já que o entregador apareceu aqui as seis da manhã.

Depois de abrir a embalagem e conferir tudo, me aprontei e fui ao salão da minha mãe pra passar mais um dia sem fazer nada. Eu estava aguardando o momento que ela não ia mais me pagar e me forçar a entrar numa faculdade.

Minha família tem um grande histórico de médicos, enfermeiros, advogados, bombeiros e policiais. E tem eu, uma maquiadora qualquer de Los Angeles.

Não somos milionários e nem nada disso, já que se fosse o caso, eu estaria estudando em Harvard e morando num bairro cheios de estrelas famosas.

Pertencemos a classe média que tenta alcançar o topo. Pessoas que só se importam com o próprio nariz, pisando em todos pra alcançar seus objetivos.

Felizmente, eu não me importo com nada disso. Comeria arroz com frango por um mês sem reclamar, contanto que tenha bombom de chocolate na geladeira. Mas, estou condenada junto com eles, são a minha família.

— Não cansa de chegar atrasada? — Mariah pergunta, enfurecida.

— Foi apenas cinco minutos, mãe. — Informei enquanto entrava no salão vazio. Eu sabia que ela só fazia aquilo pra me irritar e tentar me fazer desistir.

Meu pai costumava dizer que eu tenho um coração muito bom, bom até demais algumas vezes. Deixo as pessoas me tratarem assim, mas nunca mexo um dedo contra elas.

— Eu poderia ter um ataque cardíaco, ou uma falta de ar. Tenho certeza que se fosse médica, poderia me ajudar se acontecesse algo assim. — Ela já começa o dia.

Eu ignoro, tirando as coisas da minha maleta e escondendo o sorriso ao observar minhas maquiagens novas.

Escuto o barulho de alguém abrindo a porta e vejo uma garota. Ela tem longos cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor e um corpo mais curvilíneo que o meu. É tão linda e jovem, que fico feliz por ter alguém com uma idade próxima.

— Ainda não estamos abertos! — Minha mãe fala de maneira grosseira. Quando ela vê uma chance de me fazer feliz, tem o prazer de destruir.

Eu dou um passo à frente dela, olhando sorrindo pra menina. Ela ainda parece espantada pela atitude da minha mãe.

— É... desculpe por isso. Seja bem vinda. Sinta-se à vontade. — Eu declarei, indicando a cadeira vazia.

— Obrigada. Meu nome é Zoe, preciso dar um jeito no meu cabelo e de uma maquiagem incrível pra uma festa de aniversário. É daqui a duas horas. — Zoe informou, me fazendo ficar surpresa.

Duas horas pra fazer cabelo e maquiagem? Vou ter que dar um jeito.

— Está se precipitando, eu já avisei que não estamos abertos ainda. — Mariah volta a fala, olhando Zoe de cima a baixo com o rosto franzido.

— Mãe... — Eu repreendo. Ela passa dos limites e ainda é sete horas da manhã.

— Eu pago o dobro! Preciso mesmo disso urgente, é o único salão vazio nesse horário. Por favor. — Zoe parece mesmo muito desesperada, pois resolve não dar bola pra Mariah.

— Vamos te ajudar. E meu nome é Every. — Eu tomo a decisão. Minha mãe me olha mortalmente, mas a ignoro. Abro um sorriso e levo Zoe até a cadeira.

— Muito obrigada por isso, de verdade. Preciso chegar a tempo, é na divisa do estado. — Explica, tirando a fita do cabelo castanho.

Ela escolhe a cor da maquiagem que quer e depois vai lavar o cabelo. Minha mãe está com uma cara fechada, quase explodindo de raiva. Zoe está um pouco constrangida no começo, mas quando vamos conversando ela fica à vontade.

Cerca de uma hora e meia depois, minha mãe termina o cabelo dela. Está linda, e eu não entendo o motivo de Mariah odiar ter esse salão e trabalhar nisso, já que é tão boa.

Zoe senta na cadeira inclinada e começo a fazer a maquiagem dela, colocando leves tons de rosa e um pouco de dourado nas pálpebras. Passei tanto tempo sem maquiar ninguém, que acabo me empolgando.

Uso rímel, batom, base, pó compacto, iluminador, corretivo e algo mais. Se o aniversário não for da Zoe, eu lamento muito pra aniversariante. Essa garota está linda. Mais do que já é.

— Uau... — Ela suspira, desacreditada.

— Ficou bom? — Perguntei, ajeitando o cabelo dela que ficou em frente ao rosto e deixando espaço pra se admirar no espelho.

— Bom!? Isso aqui está incrível! — Zoe declara, falando mais alto. Dou risada de sua animação.

— Bem, obrigada. Fico feliz que gostou. — Digo sinceramente. Ela alegrou meu dia um pouco mais só em poder maquiar alguém de novo.

Zoe realmente paga a quantia em dobro, mas entrego me nego a aceitar. Estamos no nosso horário de trabalho normal, não tem a menor necessidade.

Quando ela sai do salão, eu fico esperando as reclamações da minha mãe. De maneira muito suspeita, ela está quieta e varrendo o chão.

Resolvi não mexer e fui dar uma olhada nas redes sociais, já que nenhuma cliente tinha chegado ainda.

Vi uma notificação surpreende.

"Matthew McDavis MBCD começou uma live, assista agora."

Eu quase deixei meu celular cair de novo, de tão chocada que fiquei. Em tanto tempo acompanhando a banda, Matthew nunca fez uma live se quer.

― Pelo divino rímel, o que está acontecendo? ― Murmurei, esperando carregar. Não sei o motivo, mas meu coração estava tão acelerado.

"Cala a boca, Connor!" Foi a primeira coisa que escutei, e esqueci o volume muito alto. Ecoou pelo salão e minha mãe me olhou curiosa.

― Esses anúncios barulhentos. ― Disse, esperando que ela não viesse até aqui conferir. Quando Mariah voltou a terminar de varrer, coloquei em um volume mais baixo.

Era suficiente pra ouvir e assistir, então me ajeitei na cadeira, tentando entender do que estavam falando além do Dominik gritando pra o Connor calar a boca.

"Já temos cinquenta mil pessoas, conta logo a novidade. Esses daí são os privilegiados." Benjamin falou com Matthew, cutucando-o na bochecha de forma irritante.

Comecei a observá-lo. Seu rosto forte, bem masculino. Os olhos claros na cor de mel. O cabelo preto encaracolado. Sua boca... grossa e macia. Eu não sei se conseguiria evitar beijar ele outra vez se o visse de novo.

"Como assim apareceram mais quinze mil pessoas em dois minutos?!" Connor perguntou, espantado.

Era de se esperar, já que Matthew nunca havia feito uma única live durante todo esse tempo na banda.

A primeira vez que escutei a MBCD foi a três anos atrás, enquanto esperava o dentista me chamar na clínica. Todos me olharam preocupados quando chorei ao ouvir a música. A banda já estava com dois anos e me senti péssima por nunca ter escutado falar deles.

Assim como me sinto péssima agora, por não ter reconhecido Matthew naquele bar. Não entendo, ele estava do mesmo jeito, mas tinha algo de diferente. Não era mais o vocalista da banda famosa, era apenas um cara estranho e bonito do bar.

"Setenta mil pessoas?! Nós nem divulgamos essa live! Isso é incrível." Ben falou, chamando minha atenção de volta pra o celular em minha mão.

"Acho que já posso contar." Matthew finalmente falou, dando um sorriso de canto. Senti uma vontade repentina de fazê-lo rir de novo, pra aquela covinha no queixo aparecer. Era tão fofa.

"Prestem bastante atenção, anjos." Connor sorriu largamente, parecia muito ansioso.

Então, Matthew pegou fôlego deixando todos quietos e ansiando pela notícia.

"Daqui a dois dias, vamos lançar uma das músicas do nosso álbum. É como um presente de agradecimento, antes do lançamento oficial." Ele informou. Eu abri um sorriso enorme, ficando muito alegre.

"O nome da música é Batom Vermelho." Benjamin falou, sendo repreendido.

"Não era pra contar agora!" Esse foi Dom reclamando.

"Escapuliu, desculpa." Ele falou, mas não parecia nem um pouco arrependido.

"A música não é uma analogia, ela é real. Fala de algo que aconteceu comigo e eu queria que vocês soubessem também. Espero muito que gostem." Matthew explica. Ele encara a câmera fixamente, como se soubesse que eu estou assistindo.

Fico nervosa de novo, com aquele sentimento de querer sair correndo. Só que é impossível ele saber que estou assistindo se tem outras setenta mil e oitocentas pessoas por aqui.

É quando a informação entra na minha cabeça. Como um soco no estômago.

Batom Vermelho. Não é uma analogia. É algo real que aconteceu com ele. Vai lançar uma música antes do lançamento do álbum. Será que...

"Não se esqueçam, daqui a dois dias é o lançamento e quero todo mundo ouvindo e compartilhando!" Connor afirmou. Ele faz uma dancinha animada, até mais do que o próprio Matthew.

"Sim, essa música é para..." Matthew começa a falar, mas não escuto.

— Every! — Minha mãe gritou.

Dou um salto da cadeira, olhando pra ela assustada. Percebi que tem mais três garotas no salão, sorrindo pra mim como bonecas da Barbie.

— Você que é a Every? — Uma delas pergunta.

Eu afirmo, um pouco perdida.

— A Zoe Monroe postou um storie e marcou o salão, ela estava agradecendo a você pela maquiagem incrível que fez. Nós estávamos indo pra uma entrevista de emprego e concordamos em passar por aqui. — A outra explica, se aproximando.

— Zoe quem? — Perguntei-lhes, chocada. Isso não pode ser.

— Zoe Monroe, a irmã da Evelyn Monroe, a atriz famosa que ganhou o Oscar esse ano. — Mais uma me explica, também se aproximando.

Zoe Monroe... irmã de uma atriz famosa e uma das blogueiras mais seguidas do nosso estado. Eu não a sigo, mas nem faria diferença. Se o Matthew eu não consegui reconhecer e sigo ele em todas as redes sociais, imagina a Zoe.

— Acha que consegue fazer nossa maquiagem em vinte minutos? — A primeira volta a perguntar, me dando um olhar emocionado.

Olho pra minha mãe, que está ainda com a vassoura na mão e tentando entender o que acabou de acontecer.

— Com certeza, pode deixar. Vamos, sentem-se! — Exclamei animada.

Primeiro Zoe Monroe aparece nesse salão e eu faço a minha melhor maquiagem nela. Depois o Matthew anuncia que vai lançar uma música chamada Batom Vermelho, esse mesmo objeto que ele está tentando usar pra me encontrar. E agora, talvez vá passar o dia todo maquiando as fãs da Zoe, chegando aqui desesperadas.

— Hoje é aniversário da Evelyn. Zoe acabou de chegar de viagem e não deve ter dito tempo de se aprontar. Ainda bem que suas mãos de anjo ajudaram ela. — A garota continua me explicando. Lhe dou um sorriso.

— Não imagina como fico feliz por falar que tenho mãos de anjo. É o melhor elogio que uma maquiadora pode receber. — Eu digo, muito encantada.

— Você é maquiadora profissional? — Uma das amigas dela me pergunta.

— Ainda não. Falta dois meses pra terminar o curso, estou bastante ansiosa. — Acabo contando.

É difícil não ter ninguém interessado no que você gosta a sua volta. Enquanto conversava com essas meninas, minha mãe estava sentada na cadeira do outro lado do salão observando tudo.

Demorei só mais dois minutos do que o previsto pra terminar todas as três maquiagens, mas ficou perfeito.

As meninas saíram do salão dizendo que iam falar pra todos do meu talento e das minhas mãos de anjo. Eu agradeço e aceno enquanto elas estão se afastando. Não olho pra minha mãe quando me sento na cadeira.

Um sorriso toma meus lábios.

Quem sabe, a minha vida esteja entrando nos trilhos de novo. Mesmo sem meu batom da sorte comigo.

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