Eles me disseram que eu estava viajando
tentaram me derrubar
Peguei aqueles paus e pedras
mostrei que eu poderia construir uma casa
Eles me dizem que sou louca
mas nunca vou deixar que eles me mudem
Até que eles me cubram em margaridas
Eles disseram que eu não ia a lugar nenhum
tentaram me deixar de fora

Quando é que todos paramos de acreditar em magia?
Por que colocamos todas as nossas esperanças
em uma caixa no sótão?

Eu sou o tiro no escuro
Por que a primeira não pode ser eu?
— Daisies - Katy Perry

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Algumas semanas depois.

Abro a porta do quarto e sigo em direção a sala, ajeitando a borda do vestido vermelho curto e justo, com alças finas.

O primeiro que vem me cumprimentar é Pizza. Ele corre até mim e fica dando pulinhos enquanto late, me fazendo rir da cena tão fofa. Tenho que me abaixar pra dar carinho nas orelhas dele.

— Eve, você está... incrivelmente perfeita. Se importa de ficar aqui até amanhã ouvindo meus elogios? — Matthew caminha e para na minha frente, tocando no meu rosto. Fico na ponta dos pés e dou um beijo nos lábios dele.

— Infelizmente, nós temos que ir. — Digo, feliz em saber que o deixei tão abalado.

Meu namorado pega um buquê de margaridas brancas e me entrega, sorrindo timidamente.

— Pra você. Espero que goste. — Ele morde a boca, me olhando ansioso.

Oh, meu Deus. Matthew é tão fofo. Eu fico me perguntando como alguém pode conseguir ser assim depois de tudo que passou, mas ele sempre se supera.

— Eu amei, Matt. São lindas, muito obrigada mesmo. — Abraço as flores, sentindo o cheiro fresco. — Não precisava, só em está aqui comigo já é um presente.

— Você merece, Every. Se esforçou e estou orgulhoso. Meus parabéns! — Matthew me abraça e quase esqueço das flores sendo amassadas entre nós.

Fico emocionada facilmente com essas palavras. Ele é incrível e me faz sentir incrível também. Eu amo esse cara.

Me afasto antes que não consiga sair da sala de casa. Vou até a cozinha e pego um vaso, encho de água e coloco o buquê dentro. Durante todo o caminho Pizza está me seguindo.

— Deu comida pra ele antes de vir? — Perguntei a Matt. Ele afirma.

— Pizza só falta comer as paredes. — Responde, me fazendo rir e concordar. O cachorrinho está em fase de crescimento então não para de comer o tempo todo.

Estamos tomando cuidado pra ele não passar mal ou se entalar enquanto come. Até agora, tudo deu certo e nada aconteceu. Somos pais responsáveis, eu diria.

— Você está nervosa. — Não foi uma pergunta. Ele sabe que estou surtando de ansiedade e quero sair pulando. Estou quase roendo as unhas.

— Sim, estou. Se pudesse, só iria aparecer quando chamassem meu nome. Pra evitar surtos antes da hora. — Digo. Matt dá risada e chama Pizza pra entrar na casinha. Já são oito horas da noite.

Da cozinha, eu observo meu namorado colocando o cachorrinho pra dormir. Vamos sair daqui a pouco, então Matthew usa uma camisa social vermelha, pra combinar comigo. A calça social, o tênis branco e o cabelo arrumado com gel. Chique demais.

Hoje é minha formatura do curso de cosmetologia. Diferentes das aulas a distância que eu escolhi, essa entrega do certificado será ao vivo. Pra todos poderem ver. Meus amigos estarão lá junto com meu pai, pra mostrar o quanto estão orgulhosos.

Alguns dias atrás foi a minha última prova, e depois o resultado. Eu havia passado com uma nota média muito boa. Matt foi novamente o meu modelo, e acho que a professora deu um ponto positivo por isso. Afinal, que ele é lindo, isso é inegável.

Sem contar que a MBCD está no seu maior sucesso atualmente. O álbum de Adrenaline foi lançado faz uma semana e os meninos não param de trabalhar até hoje. Batom Vermelho ainda não saiu do top de músicas mais tocadas do país. Hoje a comemoração também é deles.

Quando finalmente Pizza cai no sono, deixamos água e ração pra ele, a luz do corredor fica acesa e os brinquedos estão perto. Tudo que pode quebrar está guardado em segurança. Viu só? Pais responsáveis.

— Agora podemos ir. — Eu falei. Suspirei aliviada assim que coloquei o pé pra fora.

Matthew pegou na minha mão e seguimos pra cerimônia de formatura.



— Every Arrow.

Meu nome foi chamado e me levantei da cadeira. Minhas mãos estavam tremendo de nervoso, acho que nunca fiquei tão agitada antes. A mulher está sorrindo pra mim e esperando que eu me apresse.

— Arrasou, princesa! — Escuto Connor gritando. Todos os outros começam a gritar também.

— Vai que é tua, Every! — Benjamin acompanhou, e desistir de entender o que aquilo significava.

— Você é incrível, amiga! — Stacey declarou, levantando dois pompons cor de rosa que havia comprado. Sim, ela comprou pompons cor de rosa. Impressionante.

Meu pai, que está no meio de toda essa loucura, fica perdido. Ele acena pra mim e mostra seu sorriso, só isso já basta. 

— Congratulazioni! — Até mesmo Dominik acaba entrando na bagunça e acena sorridente pra mim. Eles são maravilhosos. Os melhores amigos possíveis.

Vejo Matthew ao lado deles, sorrindo de forma encantadora. Os meninos começaram a comemorar ainda mais alto e Matt acaba cedendo a participar também.

Chego no palco quando ele grita.

— Eu te amo, Every! — Anuncia a todos ali presentes. Me coração quase para de bater de tão surpresa que fico. Não posso chorar bem aqui.

Os meninos ficam perturbando-o e rindo dele se declarar dessa maneira, mas o que importa é que eu amei.

— Parabéns, Every. Foi uma das nossas melhores alunas e desejamos um futuro impressionante pra você. Não tenha medo de mostrar seu talento pra o mundo. — A mulher me diz, entregando o certificado.

— Muito obrigada, de verdade. E desculpe pelo barulho, minha família é bem exagerada às vezes. — Dou risada e ela também.

— Não se preocupe. Contanto que eles cantem no final, está perdoada. — Ela aproveita a chance. Me oferece uma piscadinha e acabamos dando risada.

Agradeço aos outros professores que pude conhecer pessoalmente e começo a descer do palco. Volto a me sentar ao lado de Matthew e Connor.

— Como se sente agora que está formada, sentada ao lado da homem mais lindo do mundo? — Connor me pergunta. Eu dou risada de seu convencimento.

— Me sinto ótima. Foram três anos estudando e agora posso dizer a todos que consegui. — Começo a dizer, quase chorando de alegria. — E sobre estar sentada ao lado do homem mais lindo do mundo, é muito bom, porque ele é meu amigo.

Connor coloca a mão no peito, fingindo que foi atingido. Matthew fica resmungando sem parar disfarçando seu ciúme por ter que dividir atenção. Chega a ser hilário.

— Meu Deus, princesa. Assim você me mata. É demais pra meu coração. — Connor sorri e seus olhos ficam franzidos, quase sumindo. Acho tão fofo.

Ele me abraça apertado, e retribuo. Sendo três anos mais velho que eu, posso dizer hoje que tenho um irmão e melhor amigo ao meu lado. Já o amo de todo coração.

Matthew segura minha mão durante todo o fim da cerimônia e a entrega de outros certificados. Já perto de acabar, a mesma mulher volta a pegar o microfone.

— E agora, uma participação surpresa. Com vocês, Matthew McDavis! — Ela diz, e quase tenho um colapso quando Matt levanta sozinho e caminha até o palco.

— Vocês não vão com ele? — Perguntei ao guitarrista. O babaca apenas sorriu e cruzou os braços.

Matthew sobe no palco e em menos de dois minutos faz todas as pessoas chorarem com sua música. Inclusive eu. É mais do que uma música, conta a história de superação.

Durante o caminho, eu me perdi
Achei que nunca fosse ser encontrado
Sua luz ultrapassou toda escuridão
E alcançou meu coração

Sou um homem novo
Tenho a luz ao meu lado
O sorriso dela destrói todos os meus os meus piores medos.
Não tenho mais o que temer
Aprendi a me defender

Não mereço sofrer
Fui feito pra amar
Ela me ensinou que posso confiar
Mesmo que tudo dê errado
Vamos lutar lado a lado

Minha maquiagem deve está terrível, assim como da maioria presente. Estou chorando e Connor fica rindo de mim. Benjamin começa as palmas e todo o salão acompanha, emocionado com a música.

Quando meu namorado senta ao lado de novo, abraço ele o mais forte que consigo, sem me importar com a blusa manchada, apenas querendo mostrar que o amo impecavelmente. Encho seu rosto de beijos e não me importo com a marca do batom vermelho.

— Eu te amo. Você é o melhor namorado do mundo e sempre vou acreditar no quanto ainda é capaz de ir longe. Obrigada, Matt. — Dou um beijo nele, bem rapidinho.

— Eu também te amo muito, Eve. — Deixa um beijo em minha bochecha. Tenta limpar toda maquiagem borrada. 

Fazem o encerramento e logo meu celular já está tocando. O nome de Alex aparece. Ele não pode vim, infelizmente por causa da faculdade, mas sei que também está orgulhoso e animado. Assim que acordei, recebi seu texto por mensagem e mandou entregar um pote de sorvete.

— Oi, velho. — Atendo a chamada.

— Oi, formada. Já saí da faculdade e estou terminando de arrumar o bar, traga todos os seus amigos idiotas pra cá. — Me diz. Mais surpresas?

— Você está arrumando o bar? Vai fazer uma festa pra mim? Onnnww. — Provoco meu melhor amigo. Escuto sua reclamação.

— Cale a boca e venha logo, Arrow. — Declara, já se irritando facilmente.

— Pode deixar, Hoover. — Ele odeia seu sobrenome, e odeia que alguém o chame assim. Nunca vou entender o motivo. Talvez descubra logo.

Desligo a chamada e aviso a todos pra irmos ao bar. Depois de ganhar um abraço de todos os meus amigos novamente, caminho até meu pai e paramos um em frente ao outro.

— Meus parabéns, filha. Estou tão orgulhoso. Você lutou por seu sonho e conseguiu chegar mais longe. Vai ter um futuro lindo. — Jacob diz pra mim. Eu estou prestes a chorar de novo.

Muita emoção em um único dia.

— Obrigada por estar aqui, pai. Muito obrigada de todo coração. — Estou abraçando meu pai. Ele foi o primeiro a me apoiar quando não tinha ninguém.

— Eu te amo, minha menina. — Me dá um beijo no rosto.

— Eu te amo, pai. — Abraço mais forte, antes de me afastar. — Não vai querer ir pra o bar com a gente? Pra terminar a comemoração. — Pergunto.

— Não, isso é coisa de jovens, vá e aproveite com seus amigos. Estarei em casa cuidado do Pizza. — Me explica. Eu filmei meu pai dormindo com o Pizza no sofá ontem.

Eu concordo e lhe dou um abraço de despedida antes de seguir minha nova família. Eles estão me esperando no carro do Matthew, e Stacey dirige o outro.

Durante todo o caminho até lá, vamos cantando e rindo sem parar.



— É a minha vez! — Alex grita, puxando o celular da mão de Connor.

— Você já colocou suas músicas horríveis, agora é a minha vez! — Con rebate.

— Músicas horríveis? Disse o cantor de música pop que só tem música sofrida. — Meu amigo provocou. Eu só consigo rir deles dois juntos.

— Vou jogar meu salto na cabeça de vocês se continuarem nessa briga ridícula. — Stacey declara, colocando as mãos na cintura.

— E você continua se intrometendo. — Alex declara, cerrando os olhos pra loira.

— Só cale a boca, Alex. — Ela diz, indo até eles e puxando o celular da mão dele.

Eles se encaram por longos segundos intermináveis.

Alex solta o celular e ela entrega pra Matthew, encerrando a discussão. Estou ao lado de Dominik, que também se controla pra não rir tão alto. 

— Sentiu o clima? — Dom me pergunta, sorrindo de canto. Encaro o italiano e sorrimos maliciosamente, pensando a mesma coisa.

— Faremos um plano pra isso depois. — Dou uma piscada.

— Vem, vamos dançar. — Benjamin me puxa pela mão, me levando pra o centro do bar, onde não tem mais nenhuma cadeira e o espaço é livre.

Ele me ensina uma dança chamada forró e pela sua risada estou errando todos os passos. Depois fala do samba, e dessa eu já tinha ouvido falar. Seguindo o ritmo da música agitada tocando, consigo acertar e dançar melhor. 

Fico rindo de algo que Stacey me conta, enquanto Dominik e Benjamin estão no karaoke empolgados e Matthew conversa com Connor e Alex no balcão. Todos estão aqui. Meus melhores amigos. Quem diria que poderia encontrar realmente um lugar pra ser aceita.

Não sei a hora que fomos embora, mas já era madrugada. Matt me levou pra casa e me deitou na cama, dando um beijo na testa antes que eu caísse no sono.

— Boa noite, Eve. Eu te amo. — Sussurrou, depois foi embora. Fui dormir sorrindo.



Acordei no outro dia – ou no mesmo dia ainda – e fui direto lavar meu rosto e escovar os dentes. Fiz um rabo de cavalo bem folgado e fui na sala, ver se Pizza e meu pai já haviam acordado.

Encontrei um bilhete do meu pai, informando que foi comprar o café da manhã. Vi Pizza dormindo na casinha dele, todo enrolado. A coisa mais linda.

Quando fui abrir a geladeira, pra pegar o leite, encontrei mais um bilhete. Parecia com uma carta. Ao lado tinha uma foto minha e de Matthew na festa da Harrison, dançando juntos, envolvida em um porta retrato vermelho na borda.

Pego a foto e olho como mesmo naquele tempo já estávamos apaixonados. As cores refletidas na foto, deixa como se fosse um sonho desfocado e colorido.

Pego a carta e abro pra ler, esquecendo totalmente do café da manhã.

– Minha fantástica Every.
Já escrevi muitas canções de amor, mas nunca escrevi uma carta pra alguém que eu realmente amo de todo coração.
Você invadiu minha vida com o seu sorriso e tornou o que sempre sonhei. Hoje, quando tentei te imaginar longe de mim, percebi que poderia até viver sem você, mas seria apenas isso.
Faz onze anos que nos vimos pela primeira vez, e sei que lembra disso. Mas notei uma coisa importante.
Um minuto depois que nos separamos, eu sinto sua falta. Um minuto depois que encerramos o beijo, quero te beijar de novo. Um minuto depois de te fazer rir, quero contar outra história engraçada.
Sabe o que isso significa, Eve?
Que vamos ficar juntos por mais tempo do que podemos contar. Somos a força e a fraqueza um do outro, podemos destruir e construir o que quisermos se estivemos lado a lado.
Espero que nunca esqueça de mim.
Eu te amo.
Daqui até o Sol.

– Com amor, Matthew.

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Fim do primeiro livro.

Ainda tem o epílogo.