21
Por conta própria
Sonhando em um mundo que
nós dois conhecemos
Está tudo fora do nosso controle
Mas se a merda bater no ventilador
não estaremos sozinhos
Porque você tem a mim e você sabe
Que eu tenho você e eu sei
Se a maré subir na Califórnia
Estou tão feliz por ter te abraçado
E se o céu cair
Eu sei que me diverti muito
me apaixonando
Temos vivido em uma falha geológica
E por um tempo você foi todo meu
Eu passaria a vida inteira
te dando meu coração
Eu juro que serei seu para sempre
Até que o nosso para sempre
se desfaça
— Till Forever Falls Apart - Ashe
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10 anos atrás.
Cheguei na escola e percebi todos me olhando. Eles conversavam entre si e tinham expressões ruins. Não sei o que estava acontecendo, mas não era bom.
Continuei caminhando até chegar no fim do corredor, e notei que alguns dos meus colegas estavam se afastando de mim. Normalmente, eles me derrubavam e riam quando eu caía no chão.
Fui até Hope, que estava perto.
— Oi, Hope. Bom dia. — Acenei, sorrindo pra ela. A garota me olhou esquisito e se afastou também, fazendo uma cara com nojo. Será que não lavei meu rosto direito?
— Se afasta de mim. Minha mãe disse que se você me tocar, vou ficar suja. — Ela falou. Olhei pra minhas mãos limpas, sem entender como poderia fazer isso.
Minha mãe sempre dava uma conferida se eu tinha tomado banho certinho, mas como ela tinha ido embora em uma viagem e não voltava fazia seis meses, eu fiquei preocupado que estivesse sujo.
— Você sabe o motivo de todos estarem me olhando assim? — Perguntei-lhe. As crianças que passavam, olhavam pra nós curiosos e com medo.
— Claro que sei, tive que contar pra eles o que aconteceu. Você é perigoso. Além de ter essa cor, bateu no seu pai e desobedeceu. Não quero amigos assim, se afaste de mim. — Hope declarou.
Senti um gosto amargo na boca, e ainda estava um pouco confuso. Eu tinha contado a ela o que meu pai fez comigo, o motivo de ter saído correndo, achei que tivesse entendido bem.
— Mas eu não bati no meu pai, só o empurrei. Ele queria jogar a garrafa de vidro em mim. Se obedecesse ele e ficasse em casa, ia bater em mim de novo. Eu te contei isso, Hope. — Rebati, explicando de novo.
Notei que havia falado alto demais.
Alguns estudantes saíram correndo e me olhavam como se eu fosse um monstro.
— Viu só, você é perigoso! Por isso contei a história pra toda a escola, ninguém mais vai querer chegar perto de você. — Ela diz, apontando um dedo pra mim. Hope dá as costas e sai andando, mas antes de virar o corredor, ela volta novamente. — E sabe de uma coisa? Se seu pai bate em você, é porque merece. Você é horrível. — Terminou de me falar.
Fiquei ali, olhando-a se afastar. Minhas garganta estava doendo e meus olhos ardiam pra chorar. A vista começou a ficar borrada, por isso corri pra fora daquele lugar e daqueles olhares.
Parei no meio do caminho, perto de uma oficina da cidade. Me encolhi num canto e chorei baixinho, pra ninguém escutar.
Me arrependi muito de ter contado o que acontecia na minha vida pra Hope. Ela espalhou pra todos e agora era assim que iria ser lembrado. O garoto horrível, assustador e perigoso.
Pensei que tinha um coração gentil, agora acho que não.
Passei a manhã inteira na rua, apenas andando e esperando a hora de voltar pra casa. Meu coração estava doendo e sabia o que ia acontecer.
E então, quando voltei pra casa aquele dia, deixei que meu pai me batesse e quebrasse uma garrafa de vidro nas minhas costas, deixando as piores cicatrizes em minha pele.
Era isso que eu merecia, não é?
10 anos depois.
Acordei na manhã seguinte da festa, sentindo uma dor de cabeça absurda. Não era por causa da bebida, mas sim por todo o meu passado aparecer.
A dúvida ainda é constante, de como foi que Hope apareceu naquela festa e soube que eu estaria lá. E no hospital, não teria como ela saber tão facilmente.
Peguei meu celular e coloquei no bolso da calça, fui vestindo minha camisa cinza enquanto descia as escadas com pressa.
— Onde você vai a essa hora? — Connor perguntou, segurando um copo de chá.
— Tenho que resolver uma coisa, volto daqui a pouco. Avisa a Stacey. — Respondi. Peguei a chave do carro e sai da casa. Precisava resolver aquilo.
Meu celular vibrou com o alarme, avisando que ela já deveria estar na cafeteria me esperando, como combinamos ontem. Depois de tudo, era ridículo que eu estivesse indo falando com ela, mas era necessário por um fim.
Dez minutos depois, entrei na cafeteria e me sentei bem na frente. Só vim perceber durante o caminho que estava prendendo o fôlego de tanto nervoso e irritação.
— É tão bom falar com você de novo. — Hope sorriu, esticando a mão pra pegar a minha. Me distanciei, cruzando os braços.
— Vamos direto ao ponto. Como você sabia que eu estava no hospital e na festa depois? — Perguntei. A garota inclinou a cabeça, sem parar de sorrir feliz.
— Já tomou café? Deve está com fome. — Insistiu, querendo mudar o assunto.
Permaneci calado, encarando ela com meu rosto totalmente sério.
— Eu não sabia que estaria no hospital, apenas trabalho como enfermeira lá. E na festa... — Abriu um sorriso maior. — Sou enfermeira particular do Jaaziel. Ouvi ele ligando pra Stacey e convocando a banda. Já tinha escutado que você era vocalista da MBCD. Pensei que seria bom te ver. — Explicou, orgulhosa daquilo.
— Pensou errado. — Retruquei.
— Se está aqui, é porque me perdoa e ainda se importa. — Ela deu um gole do café com leite. Franzi meu rosto.
— Se estou aqui, é pra mandar que desapareça da minha vida e cuide da sua. Como você mesma disse, era só uma criança boba, cometeu erros e está arrependida. Bem, eu te perdoo. Agora siga em frente e esqueça de mim. — Falei pra ela, encarando sua expressão.
Hope parecia a mesma. O cabelo preto amarrado em um rabo de cavalo, os olhos azuis brilhantes e... um batom vermelho.
Não. Era impossível que ela soubesse sobre a Every, menos ainda sobre o batom. Deve ser apenas coincidência.
— Faz dez anos, Matt. Eu era sua única melhor amiga. Só tinha treze anos, não acredito que guardou ressentimentos até hoje. Que horror. — Declarou a mim.
— Exatamente, Hope. Eu só tinha treze anos e confiava em você com a minha vida. Você era realmente a minha esperança. Por sua causa, deixei que meu pai descontasse toda a raiva dele em mim e me ferisse. Me deixei pensar que merecia aquilo porque eu era perigoso e horrível. — Desandei de falar, sem parar. Colocando toda a raiva pra fora.
Ela está ficando irritada. Seu rosto fica vermelho e aperta o copo de café bem forte. Achou mesmo que eu fosse aceitar tudo tão tranquilo.
— Será que pode esquecer isso e focar no presente? Já passou, Matthew. Tudo acabou. Seu pai morreu, não é? Você agora é rico e faz sucesso, estou aqui me humilhando pra ser sua amiga de novo. Você não era assim antes. — Hope falou, deixando o copo na mesa e respirando fundo.
Ela só podia ter ficado louca.
— Acabou?! Você pensa que acabou tudo assim que meu pai morreu no chão da sala? Tenho pesadelos até hoje, Hope. Acordo assustado ouvindo o barulho da garrafa de vidro batendo na parede, ou a sensação dela quebrando nas minhas costas. Pra você, pode ter acabado, mas pra mim não. — Confessei tudo, sentindo falta de ar.
Odiava falar daquilo, e infelizmente ela era a única pessoa que sabia de exatamente tudo que eu passei na época.
— Você está sendo infantil. — Foi o que ela disse. Não sei porque ainda tentava fazê-la entender o que passei.
Fiquei de pé, empurrando a cadeira pra trás. Hope deu um salto assustada, ficando de pé também enquanto eu ia embora. Fui idiota por achar que poderia convencê-la assim.
Saindo da cafeteria, fui caminhando em direção ao carro.
Sem esperar, sinto Hope segurando minha mão. Ela me para e fico estático quando seus lábios grudam aos meus. O gosto de morango invadindo minha boca imediatamente. Hope aperta meu rosto em suas mãos, me machucando enquanto me beija forçado.
Com mais força que ela, eu a afasto o mais rápido que posso, empurrando seus ombros pra o mais longe possível. O dia não pode ficar pior que isso.
— Você é horrível, Hope. Você que é a mais perigosa aqui. Achar que pode voltar, dez anos depois, pensando que eu esqueci de tudo. — Dei um passo pra trás, longe dela. — Repetindo suas palavras, sou rico e faço sucesso, então saiba que se fizer contato comigo, falar do meu nome por aí, ou se aproximar de um dos meus amigos, vou te processar e garantir que ninguém acredite em você. — Ameacei, furioso.
Cuspi no chão, querendo tirar o gosto dela. Hope estava pálida de medo, e algo em mim ficou aliviado por ela levar a sério minhas palavras.
Entrei no carro e acelerei pra mais longe, contente de ter deixado aquela mulher pra trás. Parei no sinal vermelho e peguei o celular, pensando em mandar uma mensagem pra Every o mais rápido possível.
Ele começou a tocar, com o nome de Dominik na tela.
— Oi, o que foi? — Perguntei.
— Sei ridicolo, pazzo e stronzo! — Dominik começou a xingar em italiano, falando outras coisas mais.
— O que foi?!
— Que merda essa foto significa, Matthew? Quem é essa garota? É melhor ter uma explicação ou saiba que vou quebrar seu pescoço! — Ele continuou gritando.
Meu coração parou de bater por alguns segundos. Percebendo do que ele estava falando. Não, não, não, não. Desliguei a chamada e ignorei os carros buzinando, entrei no site de fofocas e lá estava a minha pior maldição.
"Matthew McDavis e garota misteriosa se beijando na cafeteria. O amor está no ar! Foto tirada a dez minutos, venha conferir."
Pensei mesmo que tudo ia se resolver.
Estava muito enganado. Era só o começo.
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Não me matem, por favor. Amo vocês!
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