15'
Tão frio, sozinha
Você poderia ser meu cobertor?
Envolva meus ossos
Quando meu coração se sentir nu
Sem força ou muito fraca
Eu poderia usar um pouco da sua proteção
E o do seu amor, tão forte
Quando meu mundo fica barulhento
você pode fazer com que ele se acalme?
Quando a minha cabeça doer
você poderia abaixar o som?
Se eu deitasse com dor
ao meu lado você ficaria?
Se eu precisar de você agora
você poderia gentilmente me acalmar?
Você é exatamente o que eu preciso
Quando eu me sentir perdida
Você viria e me encontraria?
— Kindly Calm Me Down - Meghan Trainor
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— O que veio fazer aqui?! — Minha mãe me para bem na entrada do salão.
Olho confusa pra ela, sem saber do que está se referindo. Mas Mariah continua sem me dar passagem, olhando feio.
— Mãe... — Tento começar a falar.
— Me poupe dos seus discursos, Arrow. Vá embora e não volte mais aqui. — Declarou, como se eu fosse um monstro.
Fico parada no lugar, segurando minha maleta bem forte e esperando que ela pare com essa brincadeira boba. Meus ombros estão tensos e tenho uma sensação de aflição muito terrível.
— Eu trabalho aqui, mãe. O que está acontecendo? — Insisto, tentando acalmar a situação.
— Está demitida. — Rebateu, imediatamente.
Palavras somem da minha boca e fico encarando essa mulher desconhecida que eu chamo de mãe. Tão cruel e que gosta de ver machucada por suas ações.
— Cansei de doar o meu salão pra esse seu sonho estúpido. Pensei que fosse mais esperta, Every. Por anos, eu tentei criar uma filha inteligente que me desse orgulho, mas devo ter falhado. Você deve ser o meu castigo por tudo que fiz. — Mariah continua, sem desviar os olhos.
Não consigo manter, abaixo minha cabeça e encaro meus pés, o tênis vermelho neles. Vermelho. A cor que representa paixão, amor, força.
Pense nisso, Every. Você é forte.
— Sabe o motivo de abrir esse salão? — Minha mãe pergunta, a voz mais baixa. — Não consegui entrar em uma faculdade. Esse salão é a maldição na minha vida, assim como você. Só me casei com o idiota do seu pai por sua causa, se não, eu jamais estaria aqui olhando pra sua cara. — Ela se aproxima, levantando meu queixo com a ponta do dedo.
Nossos olhos se encontram e não tem nada de bom nisso. Todas as vezes que as palavras dela me feriram como faca. Todas as coisas que eu nunca falei como me sentia. Ela não me deu uma chance, apenas pisou em meus sonhos e me declarou sua maldição.
— Suma da minha vida, Every. Cansei de esperar que tenha alguma coisa boa a me oferecer. Não apareça mais aqui. Nem me ligue. Estou desistindo de você, esqueça que fui sua mãe um dia. — Ela diz. — Ou desiste desse sonho e entre numa faculdade, ou vá embora. — Se afasta e fecha a porta pra mim, o seu xeque mate.
É necessário cinco segundos pra entender tudo que acabou de acontecer. Levanto meu rosto e ainda consigo vê-la ajeitando os produtos na prateleira. Pisco várias vezes pra evitar as lágrimas.
Não posso desistir do meu sonho.
Viro as costas e começo a caminhar de volta pra casa. Meu pequeno apartamento. Durante o caminho, vou desviando de todos e sentindo que minha alma saiu do corpo. Uma maldição.
Quinze minutos depois, estou abrindo a porta e me jogando no sofá. Meu corpo começa a tremer enquanto escuto as palavras dela ainda rodeando minha mente. Patética, estúpida, burra.
Sem esperar, sinto o gosto salgado na boca, as lágrimas saindo sem eu notar. Não vou mais impedir que as minhas emoções fiquem presas em uma caixa.
Choro alto, gritando e sentindo a dor profunda da rejeição. Se nem minha própria mãe gosta de mim, porque os outros gostariam? Eu destruí o sonho dela e ela está tentando destruir o meu.
Alcanço meu celular na bolsa e vejo o primeiro número que aparece, a conversa mais recente que tive com Matthew ontem a noite. Aperto em ligar e espero.
Ele não atende, então ligo de novo. E de novo. De novo. De novo.
Finalmente escuto sua voz. Ele gosta de mim, não é? Se importa, nem que seja um pouco. Peço que venha me buscar e Matt não demora mais um segundo antes de desligar e me chamar de meu amor.
Amor. Nesse momento, não faço ideia do que significa de verdade.
Os braços fortes de Matthew me rodearam em um abraço apertado.
Apertei sua cintura, deixando o choro sair. Eu odiava chorar na frente de alguém, mas a dor era tanta que não conseguia mais suportar.
Cada coisa que fui guardando por tanto tempo, tentando esquecer e superar, tudo desmoronou.
― Desculpa... ― Resmunguei, mas um soluço escapa.
― Está tudo bem, Eve. Estou aqui. ― Matt diz. Sua voz está calma e isso me conforta. Alguma coisa ainda está em paz na minha vida.
Fico mais algum tempo ali, sentada no sofá e encolhida nos braços dele, molhando sua blusa com minhas lágrimas e tentando manter minha dignidade depois de tudo. Ainda sou forte, sei que sou.
Ser forte não é nunca chorar, mas quando mesmo chorando você continua lutando.
É isso que vou fazer. Me levantar e enfrentar o problema. Enxugo minhas lágrimas e me afasto de Matthew, respirando fundo. Ele fica perto, ajeitando meu cabelo atrás da orelha que deve parecer uma bagunça.
― Obrigada por ter vindo. Vou ficar bem. ― Digo, me encolhendo no sofá.
― O que aconteceu, Every? ― Perguntou diretamente. Seus olhos cor de mel parecem aflitos e confusos.
Prendo o fôlego antes de falar tudo de uma vez.
― Minha mãe brigou comigo. Ela não quer mais me ver. ― Abaixo a cabeça, não muito orgulhosa de contar meus problemas assim.
― Dê um tempo, depois vocês conversam e resolvem. Fique calma. ― Ele aconselha, como se isso fosse a coisa mais simples. Solto uma risada amarga.
― Conversar? Se resolver? Não é assim que as coisas funcionam pra mim, Matthew. Nunca foi desse jeito. Eu e minha mãe não conversamos e nos resolvemos depois, vamos simplesmente seguir em frente. ― Expliquei, sorrindo falsamente. Lembrando de tudo que ela me disse.
Matthew ficou calado, parecendo ainda mais perdido do que já estava. Sem saber o que estava fazendo, apenas me consolando com um abraço.
— Você não briga com sua mãe? — Perguntei, cruzando os braços. O vocalista me olha por um instante, depois balança a cabeça em negação.
— Nunca briguei com a minha mãe. — Diz.
— Sorte a sua. Queria que as coisas fossem fáceis assim pra mim. Estou cansada de ouvir que sou a maldição da vida dela. — Falei, tão machucada.
— Eu nunca briguei com a minha mãe porque ela me abandonou quando eu tinha treze anos. Ela estava ocupada demais apanhando do meu pai pra brigar comigo ou se interessar no que eu seria da vida. Um cantor famoso ou mendigo, tanto faz. — Matthew continua, mexendo no meu cabelo enquanto fala.
Meu coração se parte de novo, tão perdida e sem saber o que dizer em uma situação assim. Respiro fundo, me controlando.
— Lamento muito, Matt. Desculpa, eu não quis...
— Você não sabia, Eve. É impossível você saber de algo assim. Além disso, vim aqui te ajudar. Vamos, vou te levar pra fora daqui, dar um passeio ao ar livre. — Ele informa, cortando o assunto.
Pego meu casaco e saímos de casa, entrando no carro dele e seguindo a algum lugar longe da minha rua.
Cerca de alguns minutos se passaram enquanto estou sentada no banco da praça tranquila que encontramos.
Estou segurando a mão de Matthew e com a cabeça encostada no ombro dele. Esse cara incrível está cantando pra mim, mostrando a nova música que escreveu sobre nós, mais uma vez.
— Por acaso, todos os nossos momentos juntos vão se transformar em uma música? Em vez de Adrenaline, o nome do álbum deveria ser "Every e Matthew, um encontro inusitado". — Provoquei, dando um pequeno sorriso.
— Caramba, estou escrevendo músicas sobre nós e nem perguntei se isso te incomoda. Me desculpa, Every. — Matt pediu, apertando minha mão.
— Estou brincando, McDavis. Seja mais divertido. — Levanto meu rosto e dou uma cotovelada nele de leve. O cantor sorri também, me observando.
— Você fica feia quando chora. — Me falou de repente. Abro minha boca, chocada.
— O que disse?! — Perguntei-lhe.
— Eu disse que você fica feia quando chora. Por favor, contribua com a humanidade e não chore em público. — Deu um peteleco na minha testa.
— Isso é cruel! Eu preciso me distrair e de carinho, não provocações. — Solto a mão dele, fingindo ficar muito chateada.
Matthew ri um tanto, me pegando pela cintura. Sem prever nada, o idiota me joga em seu ombro como se eu fosse um saco de batatas. Começo a bater em suas costas, rindo da sua tentativa.
— Tenho um bom plano. Você não pode negar. — Ele começa, seguindo na direção do carro e me colocando no banco da frente. Matthew bate a porta e dá a volta, sentando no banco do motorista.
— O que é? — Perguntei, curiosa.
— Vamos passar na sua casa pra pegar suas coisas, assim você vai passar o resto do dia comigo e com os meninos, e vai dormir lá também. Uma festa do pijama, do jeito que quiser. — Matthew vai falando o plano perfeito.
Eu devo está mesmo muito apaixonada por ele pra concordar com uma coisa assim...
Oh meu Deus, o que estou pensando? Não posso me apaixonar por ele assim tão fácil, tenho que resistir um pouco mais.
Depois do pegar minhas coisas e colocar tudo na minha bolsa bem grande, Matthew ajeita tudo no porta-mala e seguimos pra sua casa.
Pela primeira vez, não estou me importando em quebrar minhas regras. Ainda dói muito, mas tudo tem um lado bom. Ainda não descobri qual é o desse.
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