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Se eu pudesse voar
eu estaria voltando direto para casa
Eu acho que eu poderia
desistir de tudo, é só me pedir
Preste atenção, eu espero que você escute
porque eu abaixei minha guarda
Agora eu estou completamente indefeso

Somente para seus olhos
eu vou mostrar meu coração
Para quando você estiver sozinha e esquecer quem você é
Eu estou fico sem a minha metade
quando nós estamos separados

Eu tenho cicatrizes, mesmo que nem sempre elas possam ser vistas
E a dor fica difícil, mas agora você está aqui e eu não sinto nada

Espero que você não fuja de mim
— If I Could Fly - One Direction

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10 anos atrás.

Ouvi um barulho de algo quebrando, parecia vidro. Me encolhi um pouco mais no sofá cheio de medo, tremendo de frio.

Meu pai continuou gritando xingamentos, e ouvi minha mãe gritando pra que ele calasse a boca. Estavam no andar de cima, mas parecia que era aqui na minha frente. Meu corpo estava paralisado.

Hoje é Natal. Um dia antes do meu aniversário de quartoze anos. Ou deveria ser.

Estava nevando, conseguia ver as outras crianças brincando na neve, enquanto eu escutava meus pais brigando e quebrando as coisas dentro de casa.

Só queria que isso acabasse, que pudéssemos ser normais.

Foi quando veio o silêncio estranhamente bom, esperei cerca de um minuto que algo fosse acontecer. Queria uma televisão pra me distrair, mas nem tinha uma.

Escutei passos descendo as escadas apressados, levantei minha cabeça e suspirei aliviado por ser minha mãe. Ela chorava e tinha sangue na sua mão, estava tentando tirar os pedaços de vidro.

Temi que algo muito ruim tivesse acontecido lá em cima.

Aprendi na escola que se a gente se machucava e sangrava, precisava lavar o ferimento com cuidado. Minha mãe não estava lavando sua ferida, só tirando os cacos a força.

Então, ela me viu no sofá.

— Me perdoe, Matthew. — Falou, me olhando fixamente. As lágrimas escorrendo sem parar.

Não entendi motivo de me pedir perdão, sendo que não havia feito nada de errado. Mas minha professora disse que se alguém pede desculpas, temos que perdoar de todo coração.

— Eu te perdoo, mãe. — Respondi confiante. Queria mostrar a ela que aprendi coisas boas na escola.

Scarlett McDavis apenas me observou por alguns segundos, com a sua mão menos machucada ela pegou a bolsa em cima da mesa e abriu a porta, tirou o casaco do cabide e foi embora.

Depois daquele dia, eu nunca mais vi minha mãe.

Ela havia me abandonado. Apenas um ano depois, eu entendi o motivo de ter pedido perdão.

10 anos depois. 

Entrei no quarto de Benjamin e olhei pra sua bagunça. Havia roupas jogadas no chão, em cima da cama e penduradas na porta. Folhas de caderno, fone de ouvido, lençóis desforrados, jaquetas espalhadas pela cama. Um chiqueiro, como ele mesmo costuma dizer.

― Você deu uma festa aqui dentro?! ― Perguntei. Tropecei no tênis jogado pelo quarto, caindo na cama e dando de cara com todos aqueles papéis.

― Não sabe bater na porta? ― Ben questiona, me olhando chateado. Dou de ombros, empurrando o caderno dele pra o lado e me acomodando.

― Tenho algo sério pra falar com você. Não tem mais tempo de adiar. ― Informei. O baterista me olhou confuso, deixando seu celular na mesa pequena.

― Você vai ser pai?! ― Perguntou o mais alto possível. Eu encarei o idiota sem acreditar no que tinha acabado de deduzir.

― Benjamin Magalhães, o que te faz pensar que eu vou ser pai? ― Perguntei de volta, cruzando meus braços e tentando não ficar irritado.

― Veio me ver individualmente, disse que tem algo sério pra falar comigo e não pode adiar. É o que me veio na cabeça, lamento. ― Colocou a mão no coração.

― Enfim, o que tenho pra te falar é sobre você mesmo. ― Aponto pra ele.

― Eu? Esse anjinho? Tão santo e puro? ― O babaca ajeitou o cabelo ondulado castanho escuro, piscando os olhos sem parar.

― Quem está querendo enganar? ― Continuei insistindo.

Benjamin respirou fundo, parecendo que ia finalmente ceder.

― Eu beijei a Stacey. ― Declarou.

Se não tivesse sentado na cama, já teria tropeçado e caído no chão. Fiquei ali olhando pra ele, esperando que explicasse que não passava de uma brincadeira. Meu amigo mordia o lábio, nervoso com minha reação.

― Seu babaca de merda! ― Não fui eu que disse isso.

Dominik colocou a cabeça pra dentro do quarto e sorriu. Apesar da sua manifestação, não parecia chateado nem nada disso. Entre todos nós, é claro que ele tinha que ouvir. Dom é o conselheiro do grupo.

― Estava escutando a conversa atrás da porta? ― Perguntei, mas sabia que sim.

― E de que outro jeito eu saberia do que vocês ficam falando por aqui? ― Deu de ombros e se sentou ao meu lado na cama de Benjamin. Agora era nós três.

― Pode continuar de onde parou. O que aconteceu depois do beijo, Benjamin? Conte tudo pra mim. ― Dominik cruzou os dedos e colocou óculos na ponta do nariz como um terapeuta.

― Falei a ela que foi um erro e nunca mais faria isso de novo. ― O brasileiro continuou. Eu e Dominik fizemos a vaia, colocando os polegares pra baixo.

― Se gosta dela, porque disse isso? ― Franzi meu rosto.

― Exatamente por isso. Eu gosto dela, fiquei sem saber como reagir. Quando Stacey não falou nada depois do beijo, a única coisa que pensei era que ela tinha odiado. Duvido que fossem pensar diferente. ― Explicou, andando pela bagunça de seu quarto.

― O Matt pensou diferente. Every saiu correndo e ele insistiu mesmo assim. ― Dominik aconselhou, apontando pra mim. Eu afirmei, orgulhoso.

― Exatamente, cara. O único erro aqui é sua falta de sinceridade. ― Falei a ele.

Ben parecia que estava pensando, mas ele fez uma careta.

― Não. É um erro. Ela é nossa assessora, só isso, nada mais. ― Ele fala, mostrando certeza. Mas conheço esse idiota, sei que está mentindo.

É nesse exato segundo que novamente a porta é aberta lentamente. Meu corpo fica gelado quando Stacey apareceu.

O quarto ficou em silêncio, esperando o que ia acontecer.

― Jackson está chamando vocês no estúdio. ― Informou. Seus olhos estavam focados em Benjamin, mas desviaram pra mim rapidamente. ― Ele quer ouvir a música nova que você escreveu, prepare tudo. ― Disse, com o pior olhar.

Senti raiva de Benjamin por machucá-la dessa forma.

A loira saiu do quarto e quando o barulho de seus saltos estava distante, eu e Dominik pegamos os travesseiros e jogamos na cara de Ben. O prêmio de babaca do ano com certeza é dele.

Fomos até o estúdio em uma discussão silenciosa. Troquei olhares irritados com meu melhor amigo, querendo jogar esse doido da escada a baixo.

― Estavam em um encontro e não me convidaram? ― Connor diz assim que chegamos. Sento ao lado dele no sofá, sorrindo agradável.

Esses dias estão sendo tão tranquilos pra mim. Estou escrevendo músicas novas sem parar, tenho uma garota incrível afim de mim e eu totalmente interessado nela, a banda não para de fazer sucesso. Nada pode atrapalhar.

― Matthew, pode começar cantando a música nova pra nós? ― Jackson perguntou. Eu adorava quando ele me deixava começar.

Levantei em um pulo e entrei na sala acústica, sentando no banquinho alto e pegando meu violão. Quando faço isso, lembranças ruim me atingem. Me lembro da sensação de estar sozinho naquela estação de trem, sabendo que não encontraria ninguém em casa quando voltasse. A emoção me atingindo.

Os meus dedos tocam as notas no violão, exatamente como andei ensaiando esses dias. Solto minha voz, cantando a letra lenta e romântica, fechando meus olhos e me concentrando na música que resume meus sentimentos.

Só que dessa vez, apenas lembranças boas vem. O sorriso de Every, sua gargalhada, seus olhos e o gosto do seu beijo em minha boca. Meu coração acelerou de saudade, querendo muito que ela estivesse aqui ouvindo isso.

Era apenas eu e você.
Nossos movimentos no ritmo da música
Pois quando você está em meus braços
Quero esquecer das coisas a minha volta
E guardar nossos momentos em uma caixa de lembranças

Quero te manter aqui, no meu coração...

Quando acabo, depois de quase dois minutos, escuto barulhos de palmas dos meus amigos e do meu produtor. Até Stacey veio ver e ela sorri pra mim.

― Está romântica, melosa e dramática? ― Perguntei, animado.

― Sim, com certeza. ― Connor respondeu, dando um sorriso malicioso.

― Então, já temos a penúltima música do álbum. ― Declarei. Minhas bochechas iam ficar doloridas do tanto que eu sorriria hoje.

Passamos uma hora ali dentro, os meninos também mostram as músicas que haviam escrito também e terminando os rascunhos das outras músicas com a ajuda de William, nosso sonoplasta, e o Erick, o DJ particular da banda, pra fazer o ajustes. O lançamento tinha uma data agora, finalmente.

Voltando pra meu quarto, notei que meu celular estava tocando, pela quinta vez seguida. O nome de Every estava na tela e eu sorri ainda mais, querendo que pudesse contar essa notícia pra ela. Atendi, ansioso pra ouvir sua voz.

Em vez disso, escutei um barulho de choro baixinho.

― Matthew... oi. ― Every diz, sua voz falhando.

― O que aconteceu? Você está ferida? Onde está? ― Fiz todas as perguntas. Peguei a minha jaqueta de couro preta no guarda-roupa e sai correndo do quarto.

Seja lá onde ela estivesse, eu iria buscá-la.

― Estou em casa, Matt. Não quero ficar aqui sozinha, pode vim me buscar? ― Ela pergunta, fungando o nariz. Oh céus, meu coração parece que vai partir.

― Sempre, meu amor. Estou indo. ― Respondi. Desliguei o celular e não disse a ninguém onde estava indo. Eles podiam esperar, ela não.

Peguei o carro na garagem assim como ontem e fui me encontrar com Every. Acho que são esses momentos que me fazem notar como gosto dela, esse instinto de querer protegê-la a todo custo, disposto a ir no inferno. 

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