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Na primeira vez que te beijei
pude me olhar no espelho
E gostar de quem eu era.

Eu nunca poderia esperar
pelos fins de semana
quando você viria
Por que é quando eu te veria de novo
Você é toda a minha força
— James Arthur - September.

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Eu poderia subir no palco e começar a cantar. Só que não sei cantar.

Minha voz é num tom de agudo parecido com o de uma garota de doze anos. E nem estou falando do meu corpo que é pequeno e ainda tenho curvas.

Tenho um quadril mais largo do que o da maioria das meninas, e por isso é difícil encontrar a calça perfeita. Se não é isso, tem a minha boca grossa demais ou o rosto redondo. Estou longe do corpo perfeito das modelos, mas nem por isso deixo de me vestir bem.

Não me importei em usar a calça jeans nova e nem a blusa justa com a jaqueta por cima. Minha boca grossa não me impediu de colocar meu batom vermelho da sorte e o rosto redondo me fez ter ainda mais vontade de fazer a maquiagem impecável que aprendi. E meu tênis preto favorito que uso sempre, a peça chave.

Estava tão ansiosa pra vim que esqueci que era um bar da esquina.

Um casal está cantando algo parecido com country das antigas e os clientes estão fugindo do som alto e angustiante. É triste ver que algumas pessoas ainda tem um gosto tão ruim pra música. A letra também é horrível e alguém precisa tirá-los do palco urgente.

No momento que penso nisso, um homem sobe e tira eles dali, informando que outra pessoa pode cantar. Sinto vontade de fazer isso, mas perco a coragem.

Existem vozes bem melhores do que a minha e que tem mais disposição.

Me viro no banquinho do bar e olho para o meu amigo atrás do balcão.

― Alex, ainda tem aquela limonada? ― Perguntei, entediada.

― Acabou, Evy. Tem só cerveja e água. ― Ele resmunga, também entediado.

― Um copo de água então, por favor. ― Pedi. Alex confirma e caminha até o freezer do bar, tirando uma garrafa e pegando o copo debaixo do balcão.

Me entrega e eu abro a garrafa servindo minha própria água gelada. Não está muito calor e acredito que a pouca quantidade de pessoas aqui presentes deixe o ar circular bem fácil.

Gosto de vim aqui dia de quarta, é vazio e posso ignorar a música ruim que me acostumei.

― Olá. ― Alguém chega. Eu ignoro, ainda concentrada em beber minha água e olhar para a pequena formiga caminhando pela bancada. Muito interessante, claro.

― Só temos cerveja e água. A limonada acabou. ― Alex repete, tentando ser convidativo. Não funciona, já que ele deve ficar mal humorado até dormindo.

― Eu quero água. Um copo, por favor. ― O cara desconhecido pede. Continuo observando a formiguinha caminhando pelo balcão de madeira que estou inclinada.

Meu amigo vai novamente até o freezer e tenta esconder a cara irritada. Ele só trabalha aqui pra pagar a faculdade e ajudar o padrasto, está aguardando seu momento vazar desse lugar.

Diferente dele, Los Angeles é o meu lugar e não me vejo fora daqui nunca. Peças diferentes que se encaixam.

― Obrigado, cara. ― O estranho agradece, mas fica parado.

Minha água acabou e desvio o olhar da formiga, olhando pra meu amigo de novo.

― Quem era aquele casal cantando? Você conhece? ― Perguntei, devolvendo o copo.

Ele franze seu rosto, balançando negativamente a cabeça.

― Nunca vi eles por aqui, devem ser seus parentes já que cantam tão ruim. ― Alex provocou, tentando encontrar em mim uma forma de se divertir. Eu reviro meus olhos e dou um sorriso pra ele.

― Minha voz pode ser ruim, mas eu tenho uma noção de música boa. ― Dou de ombros e não deixo o sorriso sair.

― Tipo o quê? ― Questiona enquanto cerrou os olhos.

― Ok not to be ok, do Marshmello e da Demi Lovato. ― Respondi rapidamente, orgulhosa.

― Isso é música boa? Credo! ― Ele repreendeu, fingindo vomitar.

― Então me diga uma música boa. ― Desafiei. Alex endireitou as costas.

― Livin' on a Prayer, do Bon Jovi. ― Falou comigo, como se tivesse revelado o segredo da minha vida. Eu continuei com minha cara entediada e até fingi bocejar.

― Nunca ouvi falar disso. ― Fui sincera.

― São poucos os que têm acesso a um conteúdo de verdade. ― Ele se gabou.

― Você já escutou Lonely, do Justin? Eu chorei ouvindo aquela música. Isso é música boa de verdade. Aquela que te emociona, te leva para o mundo do compositor e te faz viajar na voz do cantor. ― Começo meu debate, apontando um dedo pra Alex.

― Guns N' Roses faz isso comigo. Justin Bieber me faz chorar de rir, apenas. ― Ele me irrita, cutucando minha bochecha grande. Eu quase explodo de raiva.

― E What Makes You Beautiful é um hino! Se você não gosta, o problema está em você e não na música, lamento te informar. ― Declarei, decidida a não entrar mais em uma discussão com meu amigo.

Ele estava perdido em alguma parte dos anos 80 e não voltaria tão cedo.

― Ficou zangada, foi? ― Alex fez um biquinho.

― Não quero mais falar com você! ― Cruzei os braços.

Meu amigo gargalhou e saiu, indo servir algum cliente na outra ponta do balcão.

Tive novamente uma vontade de subir no palco e cantar I Like Me Better do Lauv, dedicando a música pra Alex. Fico imaginando a reação dele e abro um sorriso com isso.

― Se isso melhora sua noite, What Makes You Beautiful é realmente uma música boa. ― De repente o estranho fala. Eu havia esquecido da existência dele.

Seu copo de água está vazio e ele olha para mim, esperando minha resposta.

Quase meu queixo cai no chão quando o observo melhor. Sua pele negra, o cabelo bagunçado e aqueles olhos cor de mel. Ele é alto e tem um maxilar forte, assim como seu corpo. Sua camisa preta não consegue esconder. Sinto um aperto no coração, ficando nervosa com sua presença.

Sou um pouco estragada pra fazer amizades com homens, com exceção de Alex, que é meu amigo sempre atrás desse balcão. Estou melhorando nisso.

― Estava ouvindo a conversa, intrometido? ― Rebati, erguendo a sobrancelha. Talvez eu seja um pouco indelicada na intenção de me proteger.

Em vez de se magoar, ele ri e se vira na minha direção. Continuo tensa e parada feito a Estátua da Liberdade. Se me mexer, vou ficar desajeitada e passar ainda mais vergonha.

― Tenho uma opinião muito forte quando se trata de música. É impossível controlar meu coração acelerado. ― Dizendo a última parte, ele observa meu rosto mais fixamente. Acho que estou suando de nervoso, sem saber o que fazer.

― Deveria ir ao médico se acelerar demais, pode ser grave. ― Respondi. Assim que as palavras saltam da minha boca, quero me enterrar no chão.

Novamente o estranho dá risada, me achando muito engraçada enquanto eu só quero sair daqui o mais rápido possível, ao mesmo tempo que quero saber mais dele. Estranho... muito estranho.

― Não se preocupe comigo, eu consigo aguentar bastante coisa. ― Ele diz, sorrindo um pouco mais, revelando seus dentes perfeitos e a covinha na ponta do queixo.

― Você diz isso porque nunca sentiu a dor de uma cólica. ― Digo a ele.

Acho que preciso pesquisar "como flertar" no Google.

― Tem razão, esqueça o que disse. ― O estranho inclina a cabeça discretamente, mas sei que está olhando pra meu corpo. Sinto ainda mais nervoso.

― Palavras são difíceis de serem esquecidas, intrometido. ―Declarei, me remexendo no banco. ― E pare de olhar pra mim como se eu fosse uma fatia de pizza, está me incomodando. ― Rebati de imediato.

Ele pareceu surpreso por um segundo, e constrangido depois.

― Desculpe. ― Pediu a mim, coçando a nuca. ― É que... você é linda. ― Ele falou como se tivesse perdido toda confiança de antes.

― Obrigada. ― Falei, desviando o olhar e procurando a formiga de novo.

― Qual seu nome? ― Perguntou, certamente desistindo de flertar comigo.

― Não vamos nos ver de novo, por que quer saber meu nome? ― Perguntei de volta.

Ele abriu um sorriso, se recompondo e deixando a covinha no queixo aparecer.

― Não beijei nenhuma garota sem saber o nome. ― Falou de repente, quase me fazendo cair pra trás no banco.

― Quem garante que quero beijar um desconhecido? Você pode ter alguma doença na boca. ― Eu preciso aprender urgente a calar a minha boca.

O estranho mordeu o lábio tentando engolir a risada que ia sair.

― Você quer me beijar e eu não tenho doença na boca. Bem simples de resolver. ― Se aproxima de mim, colocando o cotovelo no balcão e descendo o olhar para meus lábios vermelhos pelo batom.

― Eu quero te beijar?! ― Franzi a testa, tentando esconder o que estou sentindo.

― Você já olhou três vezes pra minha boca enquanto eu estou falando. ― O desconhecido diz. Seu sorriso aumenta. ― Agora foram quatro. ― Conta, se aproximando mais.

Essa covinha em seu queixo é muito interessante e ele tem lábios grossos iguais aos meus. Talvez eu deva pegar minha bolsa e fugir daqui, ou então ficar e beijá-lo.

― Estou esperando sua decisão, linda. ― O estranho informa, olhando nos meus olhos. ― Diga seu nome, só isso. Deixe o resto comigo. ― Ele explica, tocando na palma da minha mão sem desviar o olhar.

Com uma confiança que nunca senti, seguro em sua nuca e o puxo pra mim, começando o beijo. Ele não corresponde imediatamente, mas como prometeu, é rápido em tomar o controle e me aproximar mais. Acho que estou tendo uma combustão. Algo perto disso.

Sinto a mão dele subindo pelo meu braço coberto pela jaqueta de couro e chegando até minha nuca também, aprofundando nosso beijo em uma mistura de suspiros e loucura.

Sem ar suficiente, eu me afasto. Olho pra ele e o encontro ainda de olhos fechados, lábios entreabertos e a respiração agitada. Meu coração vai explodir pela adrenalina de fazer algo novo e pela vontade de beijar esse desconhecido novamente.

Ele abre os olhos claros e vejo suas pupilas dilatadas, ainda me observando como se eu fosse uma pedra de diamante. Salto da cadeira e abaixo o olhar pra procurar o dinheiro restante em minha bolsa.

Algo caiu, mas estou tão atordoada que tiro a nota de dois dólares e entrego ao primeiro atendente que aparece, me virando pra sair do bar.

― Ei, volta aqui! ― Escuto o desconhecido me chamar quando já estou longe.

Meus passos são rápidos e viro a esquina, desaparecendo de vista. É isso que chamam de beijo avassalador?

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