Capítulo 11

Meus batimentos cardíacos ainda se encontravam acelerados devido a tamanha adrenalina da situação. A luz que emanava do poste em certos momentos ofuscava os meus olhos, porém, eu tinha certeza do que realmente havia visto.
Lentamente o senhor Carter se aproxima de mim e observou-me; provavelmente estava averiguando se eu estava bem e se não estava ferida.

— Aqueles cafajestes fizeram alguma coisa com você? — ele diz enfurecido.

E eu nego.

Arrumo a minha postura e minhas roupas que estavam amarrotadas e noto que ele estava com seu terno e pasta de trabalho. Ele ainda estava na empresa?

— O senhor ainda não me respondeu.

E como se estivesse em um transe, coça sua garganta e pisca rapidamente os seus olhos voltando a si.

— Eu vi você saindo da empresa com um homem; eu nunca o havia visto antes e é perigoso uma mulher andar sozinha de noite; há pessoas muito ruins na cidade. — respira. — Então tomei a liberdade de segui-la, apenas para garantir que nada aconteceria; e realmente nada havia acontecido até então. Eu estava saindo e me afastando quando vi aqueles homens correndo atrás de você, então eu tive que intervir.

Minhas bochechas ardem com suas palavras e meus olhos são fixos nos seus. O vento soava sobre os grandes prédios da cidade nos envolvendo em um silêncio mútuo. Ainda boquiaberta tento dizer-lhe algo.

— Obrigada por ter me ajudado. — digo envergonhada.

Já estava tão tarde que decido me afastar para que eu pudesse retornar para casa, pois Anna já pudera estar preocupada, mas sou interrompida com um toque de mãos gélidas que segura o meu braço.

— Eu vou lhe acompanhar até a sua casa! Depois de tudo que aconteceu... Não acredito que seja prudente deixá-la ir sozinha.

Com expressões espantadas e até mesmo rígidas aceito sua proposta. Caminhamos até o seu carro e eu o guiei até o endereço da residência.
Durante o percurso, o silêncio constrangedor reinava sobre o recinto e por um longo período de tempo nenhuma palavra foi pronunciada.

— Você está gostando de trabalhar na empresa? — diz concentrando a sua atenção na estrada em nossa frente.

— No começo não estava me enturmando até pelo fato de que não tenho tanta experiência, então não estava gostando muito. — sorrio. — Mas agora já me acostumei.

— Entendo. — não desvia os olhos da rua.

Perdida em meus devaneios fiquei por um momento e a minha mente fugiu e perambulou sobre as minhas lembranças recentes... Mas nem tanto.
Sem notar eu estava o encarando e  sorrindo sozinha em um ritmo constante ao lembrar-me do modo que nos conhecemos e do desastre que havia sido.

— Senhorita Back, você está bem? Está rindo sozinha.

— Estou sim! — tento segurar a risada, uma tentativa quase falha.

Já mais calma volto o meu olhar para a rua e observo que estávamos chegando, porém, antes que o fizesse pude ver um sorriso que fora refletido em seus lábios.
Logo o carro é parado perto da calçada e eu saío.
Erik também saí do carro seguindo-me.

— Bom, obrigada de novo. — digo colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha.

Erik aparenta estar estupefato; ele olhava para o jardim que havia por perto e em seguida encarava a janela do meu apartamento boquiaberto.

— Aconteceu algo? — pergunto sem entender.

— Você mora ali? — aponta para o apartamento.

E eu confirmo.

Em um ato rápido e preciso ele cobre sua boca com uma das mãos; estava incrédulo com algo que eu não entendia e nem sabia o que era.

— Eu vou indo! — despeço-me.

E a última coisa que vi foi a sua silhueta masculina adentrando o carro novamente.

Erik On

Estava a caminho da minha casa, mas não pude afastar meus pensamentos constantes. Seria ela a mulher da carta?
Eu não tinha certeza, mas não posso negar estar curioso para saber o que a dama misteriosa irá escrever da próxima vez.
Ao chegar em casa, os empregados me cumprimentam e eu sigo o meu caminho até a sala, mas antes que o fizesse paro na porta ao escutar uma discussão entre minha mãe e meu irmão.

— Você sempre passou a mão na cabeça dele! — Thomas dizia. — Ele é seu preferido e não eu.

— Você sabe que isso não é verdade, filho.

— Não é verdade? Então me diga! — grita. — Por que é o meu irmão mais novo que está no comando da empresa e não eu que sou o mais velho? Isso deveria me tornar o sucessor.

— Você não é responsável, Thomas. — diz friamente. — E é por isso que Erik está no comando e não você.

— Como a senhora tem coragem de me dizer isso? — grita.

Consigo ver e até mesmo sentir os olhos fulminantes de Thomas sobre a minha mãe. Bruscamente ele se aproxima e a ameaça.

— Isso não vai ficar assim! Você e ele vão me pagar.

Acho um absurdo o que acabei de presenciar e saío em defesa da minha mãe.

— Não diga isso a ela que já está idosa; se diz ser homem, diga isso a mim. — fito os seus olhos.

Thomas que já estava se retirando retorna à sala e sem permitir que eu reaja de quaisquer forma empurra-me; e em sequência faço o mesmo.

— Por favor! Não briguem. — minha mãe implorava entrando no meio da confusão.

— Você não merece a empresa que foi do nosso pai. — digo cerrando os punhos, me contendo para não brigar com o meu irmão.

— Não mereço? — debocha. — Tome cuidado irmãozinho para não encontrar veneno novamente, porém, desta vez em sua comida. — diz e sai gargalhando.

Eu estava assustado com tudo que estava acontecendo; quero acreditar que ele nunca faria isso, pois o mesmo é o meu irmão.  Afasto estes pensamentos quando percebo que minha mãe passava mal. Ver seus filhos brigando deveria ser muito para ela, então a levo para seu quarto e peço Maria para entregar-lhe um remédio; apenas saí do seu lado quando estava se sentindo melhor.
Dirijo-me até meu quarto e sento em minha cama.
Um vazio invade o meu peito ao pensar na ameaça do meu irmão, mas uma chama calorosa ameniza essa sensação quando penso na possibilidade da mulher ser a Back.
Seria ela a dama misteriosa?
Lentamente caío em sono profundo e novamente o pesadelo se faz presente.
Pesadelo este que me atormenta há algum tempo, mas desta vez ele estava um pouco diferente.
Consigo ver a mulher pegar a garota que estava ao meu lado e averiguar suas vestes.

— Como você não notou isso? Imbecil! — grita. — Como vamos pedir um preço por ela?

— Acredito que eu me confundi. — o homem responde.

A mulher estava furiosa; aparentemente a garota não era o que ela procurava.

— O menino está  vestido bem, tem boa aparência. — respira. — Vão pagar bem por ele! Mas e essa esfarrapada? O que podemos fazer com ela? — refere-se a menina.

A mulher que até então estava segurando a menina soltou-a bruscamente no chão.
Consegui escutar seu grunhido de dor depois do impacto.

— Você está bem? — pergunto.

— Sim! — ela diz com a voz um pouco falha.

Eu também estava assustado, mas o fato desta garota estar comigo e segurar a minha mão acalma-me.
Por um breve momento ela olha para mim e aqueles olhos assustados... Eu já vi essa expressão nos olhos de alguém. Mas quem?
O pesadelo encerrou-se com a discussão daquele casal ao fundo como trilha sonora.

Jackson On

Back parece tão decidida em odiar seu pai que pego-me pensando em como seria se eu tivesse um. Eu também o odiaria?
Lembranças do passado invadem a minha mente.
Lembro-me de quando era menor; estava sozinho, com fome e frio.
Sou muito grato pela ajuda do chefe, pois ele me tirou das ruas.
Como na época ele tinha uma esposa e filha não pude ficar em sua casa, mas mesmo assim ele arrumou outro lugar para que eu ficasse e cuidou de mim. Desde então ele me trata como filho adotivo.

— Jackson! Como vai a menina? — o chefe pergunta.

— Vai bem! Aos poucos ela está se dando bem no centro de Londres. Seu trabalho parece ser muito bom também, chefe.

— Não me chame de chefe; pode me chamar pelo primeiro nome mesmo. — ele sorri.

— Como quiser, August.

— Eu lamento o fato dela ter tido que sair de seu bairro tão rapidamente. — suspira. — Se a facção rival não tivesse descobrido quem ela era, talvez pudesse ainda viver lá.

— As coisas mudaram desde a última vez que esteve lá, August.

— Realmente... Eu sinto tanto pela perda de Christiny. A minha sede por vingança cegou os meus olhos e eu as abandonei.

— Não se culpe! Você vai poder se redimir depois.

Ele se culpava tanto e eu sentia pena dele. Não sei se ela o aceitaria de volta se soubesse a verdade do porquê ele a deixou.
Aquele casal ainda está por aí e August quer encontrá-los a qualquer custo.

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Espero que tenha gostado.❤️

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