26.

Para o almoço, Kurt resolveu levar a mãe para comer fora. Foi no melhor restaurante que conseguiu encontrar naquela região, um antigo rancho transformado em espaço rústico, especializado em servir comida caipira com roupagem de alta gastronomia. Havia cercas vivas floridas, mesas ao ar livre sob pergolados com parreiras cheias de uvas, o som confortável de água de um moinho d'água e a mesma música country que Alice amava escutar na rádio.

Acomodaram-se nas mesas dos fundos, onde seriam menos incomodados. Quando a garçonete veio, Kurt não se segurou em pedir um banquete, citando mais da metade do rico cardápio. Assim que a funcionária se afastou, Alice segurou o braço dele por cima da mesa.

— Kurt, não temos todo esse dinheiro — ela cochichou, como se eles ainda estivessem em Riverside, como se ainda fosse aquela vida.

— Eu vou pagar, mãe. Não se preocupa. Você pode pedir o que quiser, eu juro. — Ele segurou a mão dela antes que se afastasse. — Você ainda gosta de frango com molho?

Suspirando, Alice se permitiu sorrir. Então cobriu a barriga com a outra mão.

— Você me conhece, meu menino.

O velho jeito dela o chamar foi o suficiente para silenciar todas as outras questões rondando na cabeça de Kurt.

Alice não protestou que toda a comida fosse servida e se permitiu algumas garfadas tímidas de pratos diferentes. Kurt tentou agir com naturalidade para que ela se sentisse à vontade, mas não pode evitar de se sentir observado quando ela parou de comer e ficou olhando para ele, o analisando em completo silêncio.

— Já acabou? — Ele tentou conversar.

— Eu só consigo pensar no quanto você cresceu — ela mudou de assunto, mostrando que outras coisas passavam por sua cabeça. — E sem precisar de mim. Na verdade... muito melhor sem mim.

Kurt largou o garfo e afastou o prato.

— Mãe, não é assim... — Ele estava em parte acostumado a ela ir por esse caminho quando começava a pensar contra si mesma. O mesmo tipo de pensamento que já a levou a tomar uma porção de pílulas, todas de uma vez.

— Eu já deixei faltar tanta coisa. E agora... você se sustenta sozinho sem precisar contar moedas, como a gente fazia — ela continuou, como se não estivesse escutando. — Fiz um péssimo trabalho em te criar, mas você se construiu sozinho. E conseguiu.

— Para, por favor. Se tivesse sido péssimo, eu nem estaria aqui — Kurt afirmou.

Alice abaixou o olhar.

— Conta para mim: essas pessoas que vivem com você agora, elas cuidam de você? — Ela perguntou.

— Da nossa forma, sim. Cuidamos uns dos outros. — Kurt poderia parar por ali, mas continuou: — Eles me conheceram de verdade. No meu melhor e no meu pior. Eles sabem todas as coisas ruins que já me cercaram, sabem de toda a bagunça que herdei com as dívidas de Riverside. Ainda assim, me aceitam. E me defendem. E não me deixam ir.

Quando suspendeu o rosto, Alice tinha os olhos úmidos.

— Bem, agradeça a eles por mim — ela pediu com um sorriso melancólico.

Kurt acenou.

Quietos, eles voltaram a comer.

Kurt não queria que aquele momento terminasse, mas depois de uma caminhada tranquila na volta, Alice o segurou suavemente antes que alcançassem o motorhome, usando as árvores do parque para se camuflarem à distância.

— Foi um ótimo almoço. Eu gostei muito de podermos passar esse momento juntos — Alice disse no meio de um abraço. — Eu te chamaria para entrar... mas está tão bagunçado lá.

O que mais chateava era a mentira. Porque Kurt podia ver, por cima do ombro dela, a verdadeira razão de não ser bem-vindo. Jennifer estava lá, parada na porta aberta do motorhome, conversando com um homem. Não era difícil imaginar a conversa que as duas pudessem ter tido sobre ele, estabelecendo limites bem rígidos sobre o quanto ele poderia se aproximar da vida delas. Sair juntos por algumas horas? Sim. Mas estar presente dentro do lar construído por elas? Sem chance.

Era injusto que Jennifer não tivesse lhe dado nem ao menos a chance de conhecê-lo primeiro. Pensando nas possíveis maneiras que poderia, talvez, tentar uma segunda aproximação, para convencê-la de que ele só queria ter uma boa relação, Kurt passou o olhar pelo homem conversando com ela. Um vislumbre desinteressado à primeira vista. Até que algo despertou sua atenção. Ele olhou uma segunda vez.

Aquele cara não devia ser familiar. Mas era. Kurt demorou a reconhecer, porque só o havia visto uma vez, embora o suficiente para lembrar por uma vida toda. Jovem, esguio, bem vestido, cabelo liso escuro bem cortado, e um brilho refletido em seu rosto bonito pelos óculos sofisticados. Da última vez, Kurt o tinha flagrado saindo às escondidas da festa em Little Tokyo com Nash, na mesma noite em que foi sequestrado. Agora o cara estava plantado na porta da nova casa de sua mãe, à luz do dia numa segunda-feira qualquer.

Nenhuma explicação racional conseguiu se formar na cabeça de Kurt.

Alice soltou do abraço e se virou, vendo a mesma cena que se desenrolava à distância, na porta do motorhome.

— Ah, droga... — Ela murmurou, reconhecendo algo naquela situação.

— Mãe, você conhece ele? — Kurt não tirou os olhos do sujeito, o escaneando de novo e de novo, para ter certeza do que seus olhos estavam enxergando, mas seu cérebro se recusava a registrar.

— Se conheço? — Alice ironizou. Então cruzou os braços, do jeito de quando estava incomodada. — Já é a terceira vez que a polícia vem. Toda vez é uma multa nova. Dizem que não podemos estacionar aqui.

Um sopro frio congelou Kurt por dentro.

O quê?!

— Sim! Foi a mesma coisa que eu disse — Alice interpretou errado o choque do filho. — Não existe nenhuma placa aqui que proíba...

— Não, mãe. O que você disse antes. — Kurt tinha os olhos arregalados para ela. — Polícia? Aquele cara ali é da polícia?!

Alice parecia mais assustada por sua reação. Para tentar acalmá-lo, ela afagou seu ombro e seu rosto.

— Nós estamos bem. Está tudo bem — ela respondeu suave. — São só algumas multas. Talvez a gente tenha só que se mudar daqui, nada demais.

Mas Kurt continuava balançando a cabeça, perturbado.

— Não, não pode ser. Você não se confundiu? Ele não pode... ele não é...

— É sim. Oficial Miyamoto, é o que diz a identificação dele. Já até decorei de todas as vezes que ele se apresentou — Alice afirmou com convicção. Até que parou, de novo com preocupação pintada em seu rosto. — Kurt, o que tem de errado?

Tudo estava errado. Ele encarou de novo aquele cara e não sabia como se sentir. O que antes não passava de ciúme e inveja, tinha se tornado verdadeiro temor e preocupação.

— Mãe, posso vir te ver amanhã? — Kurt cortou. — Eu realmente preciso ir agora.

Mesmo sem entender por completo, Alice acenou que sim.

Depois de se despedirem com outro abraço, Kurt saiu por um caminho em que não seria visto. Ao invés de ir para o quarto de hotel, onde já havia deixado mais uma diária paga, ele decidiu que precisava voltar para o deserto, o quanto antes.

Sem um carro, escolheu ligar para Jerome e pedir por uma carona. Por sorte, Jerry lhe disse ao telefone, Darko estava na cidade comprando suprimentos para a semana. Então ele esperou no ponto de referência mais fácil e mais próximo, até Darko poder ir buscá-lo com o Challenger reformado que Kurt havia recuperado após semanas de trabalho.

Por mais que tentasse se manter calmo, entre conversas casuais com Darko pelo caminho e ajudando a descarregar as caixas do porta-malas assim que chegaram, Kurt se esgueirou apressado para dentro da Toca, vasculhando os três andares de ponta a ponta. Em frenesi, sua mente tumultuada era capaz de processar apenas uma linha de raciocínio: encontrar Nash; e rápido.

Sem surpresa, Nash não estava em canto algum, ausente para mais uma de suas saídas particulares. Kurt bufou, mas não havia o que fazer. Ele não pediria a ninguém do bando para dirigir até o condomínio de Nash com ele, porque era uma conversa que queria ter em particular; muito menos telefonaria para tratar do assunto, porque queria lidar com aquilo olho no olho. A única alternativa que teve foi esperar.

O bando sempre sabia como distraí-lo, então ele usou isso para gastar o tempo. Conversou a sós com Mackenzie em seu escritório, sobre onde esteve e sobre sua mãe; Kurt quis contar, sobretudo porque havia adotado o princípio de que as coisas eram melhores quando compartilhadas. Depois, passou um tempo com Cole, planejando projetos de melhorias para os carros. Então ajudou Jerome, enquanto ele marcava jogos e jantares de socialização com outros grupos de corredores. Por último, com Iggy, serviu de companhia quando ele precisava de uma segunda opinião sobre as dezenas de roupas novas que havia comprado.

Já era fim de tarde quando o ronco do Mustang soou da garagem. Kurt desceu correndo, mas desacelerou o passo tão logo que mirou os portões abertos. Nash estava lá, sentado sobre uma pilha de pneus, enquanto trocava uma conversa calma e humorada com Darko e Cole. Ele parecia inalterado, fazia Kurt quase acreditar que teria imaginado que aquele cara, com distintivo de policial parado na porta de sua mãe, pudesse ser qualquer coisa relacionado a ele. Mas Kurt não podia esquecer como seu sangue tinha fervido na ocasião.

Respirando fundo, Kurt entrou para a garagem, pisando duro e apenas retribuindo friamente os cumprimentos que recebeu, sem olhar para ninguém em particular. Começou a fuçar a caixa de ferramentas, mas, com o nervosismo, se atrapalhou até com os instrumentos mais simples. Parafusos caíram de uma caixinha, se espalhando. Kurt chutou alguns, irritado. Deixou que eles ficassem lá, caóticos no chão e puxou a chave de roda que precisava. Ele estava consciente dos olhares curiosos que o seguiam, mas não fez nada sobre isso.

À procura de um serviço, agachou ao lado do carro novo de Iggy e se concentrou em uma coisa de cada vez. Primeiro, desfazer o aperto dos parafusos. Depois, desmontar a roda. Por último, ajustar e regular o eixo. Nada além do que ele já estava acostumado. Mas Kurt tentou uma, duas, três vezes, e continuou falhando. A chave ao redor dos parafusos ficava escorregando, escapando de uma forma irritante. Na quinta tentativa frustrada, ele rugiu e jogou a ferramenta longe. O barulho metálico encheu toda a garagem, retinindo e ecoando pelas paredes.

Os outros três na garagem se assustaram, mas, dentre eles, apenas um se aproximou. Kurt reconheceu os sapatos antes de levantar o rosto para ver quem era.

— O que aconteceu com o plano de me ligar para eu ir buscar você? — Nash perguntou casual. Sua voz fez a agitação dentro de Kurt ganhar mais força. — Eu poderia ter ido.

Kurt se apoiou nos joelhos e se levantou de uma só vez, ficando cara a cara com Nash.

— Eu vou te contar o que aconteceu. — A intenção foi parecer impessoal e frio. Mas o ressentimento se expressou em cada sílaba. — Pode me dar um minuto do seu tempo, ou está muito ocupado tendo que sair por aí de novo?

Aos fundos, Darko e Cole se entreolharam, escutando. Já Nash afundou as sobrancelhas, estranhando. Kurt não disse mais nada, apenas saiu para as escadas, sem olhar para trás nem esperar para ser acompanhado. Casa adentro, ele subiu depressa até o terceiro andar, antes que Mackenzie pudesse cruzar seu caminho. Então entrou no isolado quarto de Nash e bateu a porta fechada. Menos de um minuto depois, Nash entrou pelo mesmo caminho, o observando de lado. Ele fechou a porta mais discreto e parou em frente ao colchão, onde Kurt havia se sentado.

— Então? — Nash questionou, depois de um longo instante de silêncio sob a mira do olhar matador à sua frente.

— O quão bem você conhece aquele seu "amigo"? — Kurt fez aspas com a mão, sem poupar intensidade na voz.

Nash parecia genuinamente perdido.

— Do que está falando?

— Boa pinta. Óculos chiques. Que fugiu pelos fundos com você em Little Tokyo. Que tem encontros frequentes marcados no seu celular de emergência. É, eu encontrei aquilo na gaveta da sua casa. Onde, bem suspeito, havia uma aliança também; com nome gravado e tudo — Kurt se viu cuspindo tudo de uma vez, até mais do que gostaria de revelar. Mas era um momento de esclarecer coisas, e foi como um desabafo.

Nash estreitou o olhar. Devagar e calculado, ele se inclinou com as duas mãos sobre o colchão, forçando Kurt a se deitar para trás, debaixo dele.

— Onde está indo com tudo isso? — Nash sussurrou no espaço curto entre eles. Parecia que era ele quem estava enquadrando Kurt ali por tê-lo descoberto espiando suas coisas.

Kurt engoliu, mas se concentrou em não aceitar que o jogo virasse.

— Você sabia que ele é um maldito policial? — Ele jogou a carta de uma vez sobre a mesa. — Da polícia de verdade.

Foi como se Kurt tivesse lhe dado um tapa. A cor sumiu dos lábios de Nash, e seus olhos verdes se tornaram bolinhas de gude, vítreos.

— Ele fez alguma coisa? Com você? — A voz de Nash também pareceu transformada, com uma espécie de... medo.

— Não — Kurt respondeu mais suave, desarmado pela preocupação que não esperava. — Ele estava no trailer da minha mãe, multando ela ou algo assim, por estacionamento irregular.

Os dois se entreolharam mudos, até que Nash tombou a cabeça entre os ombros, fechando os olhos.

— Então? — Kurt voltou a exigir. — Você sabia?

Nash empurrou o colchão e se levantou, dando a volta até a janela.

— Vou ter uma conversa com ele. — A resposta veio de costas.

Uma coisa era Nash não ter conhecimento antes. Mas agora Kurt estava mais aborrecido com a ideia de Nash insistir em continuar encontrando o cara agora que ele sabia.

— Na verdade, você deveria rever melhor sobre as pessoas com quem se envolve — Kurt murmurou e se levantou contrariado, decidido a ir para a porta.

— Kurt... — Nash tentou segurá-lo pelo braço.

— Usa esse tempo para pensar nisso — Kurt se viu desviando do toque que passou a última noite desejando. — Tenho trabalho para fazer.

E com a porta de novo fechada entre eles, Kurt se afastou sozinho.

Sem corrida marcada, o bando teve um jantar conjunto e barulhento ao longo da mesa comprida da Toca. Ao som da televisão sintonizada num canal de música e sob todas as luzes acesas, tiveram uma noite animada que prometia se estender. Exceto pelos dois sentados em pontas opostas da mesa, calados e contribuindo menos com a conversa; Kurt evitando olhares, enquanto Nash caçava por eles.

Pensando em se distanciar, Kurt decidiu aproveitar a última diária do hotel e dormir fora aquela noite. Mal terminou o prato e se levantou, subindo para empacotar algumas poucas coisas na mochila e sair discreto para a garagem. Cole não se importava que ele tivesse o chaveiro do Skyline para emergências, então ele aproveitou para tomá-lo emprestado e dirigir de volta até a periferia de Los Angeles.

O hotel era pequeno, mas possuía um estacionamento onde poderia deixar o Skyline seguro. Então ele deixou a mochila no quarto e saiu de novo para a rua. O relógio apontava dez horas. Talvez fosse tarde, mas talvez sua mãe ainda estivesse acordada. Quem sabe poderia se sentar nos degraus do lado de fora da habitação móvel e assistir às estrelas enquanto conversavam baixo só por mais um tempinho. Parecia uma boa ideia.

Caminhando na calçada, na companhia de alguns poucos ciclistas noturnos que passavam pedalando, Kurt pensou em ligar primeiro e pegou o telefone do bolso. A tela acendeu e mostrou uma notificação com o nome de Alice. Era um recado na caixa postal, enviado mais cedo, quando ainda estava na Toca.

Ele clicou para ouvir, ao mesmo tempo que apertou o passo para chegar mais rápido até a área de acampamento do trailer, duas esquinas à frente.

Kurt. — A voz de sua mãe veio acompanhada de um longo suspiro. Então ecoou, como se testando o nome: — Kurt, Kurt, Kurt.

Parecia como aquelas brincadeiras que faziam quando ele era mais novo, de repetir as palavras tantas vezes até que perdessem o peso e o significado.

Eu pensei em você por todo esse tempo com tanta culpa. Tanto remorso. As coisas realmente melhoraram para mim. Aquele dia, você me perguntou se sou feliz agora. Eu queria ter respondido que sim, mas pareceria tão egoísta de dizer na sua frente, sem saber como você estava. Mas então você me mostrou o quanto cresceu e se tornou um homem melhor do que eu poderia criar, com muito mais do que eu poderia te dar. — Outro suspiro. — Eu estou orgulhosa do quanto você é forte. Muito mais do que eu consigo ser.

Apesar do tom positivo, Kurt sentiu a garganta apertada. Alice já havia feito aquela coisa muitas vezes antes, de conversar sozinha como se no fundo, quisesse se despedir. Depois disso, sempre vinham as pílulas.

Os passos apressados de Kurt viraram uma corrida afobada.

Provavelmente, quando escutar esse recado, não haja mais tempo. Mesmo se escutar antes.... não tente vir ou mudar as coisas, por favor. Vai ser tão mais fácil para todo mundo.

— Mãe, não... — ele sussurrou sem ar para a voz robótica da caixa eletrônica.

Amanhã, quando vier, você não vai mais me encontrar. Tente ver pelo lado bom: você está melhor sem mim. Tão melhor.

Os passos batendo contra a calçada pararam, enterrados no chão quando finalmente chegaram ao lugar. Com o telefone na orelha, ele encarou sem reação para a área de acampamento. No meio da noite, estava escuro. Ainda assim, era possível enxergar com clareza. A antiga vaga estava vazia. O motorhome não estava mais lá. No lugar, marcas de pneus mostravam uma trilha que levava para longe.

Pode confiar em mim quando digo que estou melhor também? — Aquela Alice gravada disse por último. — Estou fazendo isso por nós dois, meu menino. Vai ser bom para todo mundo. Fique em segurança. Prometo que vou ficar também.

O silêncio súbito deixou um vazio palpável, até perceber que o recado havia acabado quando a secretária eletrônica perguntou se ele gostaria de apagar.

Encarando o grande vácuo à sua frente, Kurt se deu conta: Alice tinha ido embora. Escolheu ir embora. Assim como havia escutado, no outro dia: Ela prometeu não voltar.

Ele andou por horas. De um lado para outro, de quarteirão em quarteirão, esperançoso que o motorhome só tivesse saído do lugar por conta da exigência da polícia que saíssem; que teriam parado em algum lugar próximo; que ainda houvesse maneira de alcançá-las. Mas quem estava se enganando? Não havia área de acampamento legal naquelas redondezas. Kurt se viu cruzando pela noite noturna de Los Angeles, trombando em pessoas comuns vivendo suas vidas comuns, até reconhecer que não havia onde procurar.

De volta ao hotel, com pés doloridos e energia esgotada, ele finalmente pensou em tentar ligar para o número salvo de Alice. Mas a voz automática da operadora retornou no mesmo instante: esse número não existe ou está fora de serviço.

Um buraco se abriu dentro dele, o engolindo em agonia. Kurt se sentou no chão, ao pé da cama, e enfiou a cabeça entre os joelhos, tentando fazer a cabeça parar de pulsar. O desejo incontrolável por um cigarro se abateu sobre ele, mas, pela primeira vez, ele se negou a saciá-lo. Começou a respirar pelo nariz e soltar pela boca, num exercício de relaxamento que viu alguma vez pela TV. E funcionou. A corrente elétrica que corria por seu corpo foi diminuindo, o ritmo de seu coração desacelerando. Os pensamentos clarearam, mais calmos. Pareceu um sucesso, até que alguém bateu na porta.

Kurt saltou de pé e correu para atender. Teve uma esperança tola de encontrar a mãe do outro lado, com mais um pouquinho de seu colo para oferecer. Mas quando abriu a porta, ele congelou.

Materializado à sua frente, estava Nash, respirando pela boca, com o peito subindo e descendo, ofegante. Ele lambeu os lábios para dizer algo, mas um vizinho, a três portas de distância, o interrompeu com um grito:

— Ô, babaca! Tá achando o quê? Tem gente dormindo aqui!

Confuso, Kurt espiou o vizinho pela beira da porta, depois encarou Nash de novo.

— Eu bati em cada hotel na vizinhança, em cada porta de cada quarto... até conseguir te encontrar — Nash arfou como se tivesse feito aquilo tudo correndo. — Eu não vou embora até que converse comigo.

Uma onda forte se remexeu dentro de Kurt. Por um momento, sobrou apenas os xingamentos de outro vizinho se somando ao primeiro, enquanto Kurt piscou várias vezes, sem palavras.

— O que... o que você quer? — A voz dele falhou.

Nash se segurou no batente da porta e se inclinou para perto.

— Como assim o que eu quero? Eu quero você.

Kurt vacilou. Ele podia jurar que sua versão grosseira de mais cedo tinha fragilizado o vínculo entre eles.

— Me escuta, por favor — Nash insistiu. — Eu sei que pareceu tudo muito estranho, você tem suas razões de desconfiar, mas eu posso...

Quem interrompeu Nash dessa vez foi Kurt. Tomado por um impulso, ele quebrou a parede fina e invisível entre eles. Com um passo para fora do quarto, enrolou os braços sobre os ombros de Nash e enterrou o rosto em seu pescoço, pressionados juntos. Ele estava ciente do quanto parecia desesperado, mas queria mesmo que Nash enxergasse o que estava acontecendo com ele.

Através das fibras de seu corpo, ele sentiu Nash se tencionar, surpreso, para depois relaxar e abraçá-lo pela cintura com um único braço, enquanto o outro ainda segurava no batente, buscando equilíbrio para que eles não caíssem.

Ei. — O hálito quente de Nash rebateu em sua nuca.

Kurt respirou fundo, sorvendo o cheiro da pele dele. As palavras acumuladas dentro de si se armavam para sair por falta de espaço, sufocadas em busca de ar. Pelas rachaduras em seu peito, as coisas começaram a vazar, densas, incertas e sinuosas como fumaça.

— Minha mãe... foi embora. Ela me deixou. — Kurt confessou e, então, engoliu. — Eu só percebo agora que ela tinha sumido depois de fugir da clínica simplesmente porque não queria me ver. Ela está muito melhor agora, e ela não me quer de volta.

Não deu para enxergar quando Nash fechou os olhos. Mas deu para sentir quando depositou um beijo no meio de seu cabelo.

— Queria conseguir consertar tudo para você — Nash murmurou. Àquela altura, as vozes dos vizinhos zangados já tinham parado, e não precisava de muito volume para se escutarem ali, naquele espaço entre eles.

Era como se Kurt também não conseguisse mais se lembrar de nenhum motivo para estar zangado ou chateado com Nash também.

— Mas sabe o que mais? No fim das contas... eu e ela devemos ser feitos da mesma coisa. O sangue não mente. Porque eu a entendo e não consigo culpá-la. Se fosse para eu deixar você, ou o bando, ou a Toca... eu escolheria sempre vocês também. — Confessar em voz alta fez a tristeza dentro de Kurt se conformar, derretendo e moldando às rachaduras antigas dentro dele. Algo com que conviveria para sempre, mas nada que não pudesse sobreviver. — Acho que isso significa... que minha família já está bem aqui.

Nash se afastou o mínimo, apenas o suficiente para enxergar o rosto dele. Kurt não percebeu que estava chorando até Nash começar a beijar suas lágrimas, dos dois lados da face. Kurt o agarrou pela frente da blusa, o trazendo para mais perto, só desejando esquecer qualquer discussão que envolvesse outras pessoas além deles dois.

— Não me deixa sozinho. Fica comigo essa noite — Kurt choramingou. — Fica?

— Fico. É claro que eu fico — Nash não precisou pensar para responder.

Quando a mão de Nash o puxou pelo queixo, Kurt já estava na metade do caminho para encontrá-lo. Foi um beijo com mais lábio no início, macio e demorado. Eles aprisionavam a boca um do outro entre mudanças de posições e paravam, lábios pressionados, em contato de reconhecimento.

— Isso ajuda? — Nash soprou a questão, entre um ofegar e outro.

De testas coladas, Kurt acenou.

— Me distrai.

Suave, Nash roçou a curva do lábio de Kurt com o polegar.

— Então me use como distração.

Ainda agarrando a frente da blusa dele, Kurt o puxou para dentro. Quando Nash bateu a porta com um pontapé, o peito de Kurt palpitou.

Ele continuou com passos desajeitados para trás, os guiando cegamente pelo caminho. O contato entre suas bocas era tão intenso, que não havia espaço para palavras, apenas gestos. As mãos de Nash não deixaram seu rosto, mas a ponta dos dedos dançavam suaves em seu cabelo e sua pele, fazendo cócegas e levantando arrepios pelas cicatrizes mais recentes já fechadas.

Entrando pelas sombras do quarto de hotel, Kurt não perdeu tempo em procurar pelo interruptor, porque também não queria soltar Nash. Por isso, atravessaram no escuro do cômodo de cortinas fechadas. Kurt já havia memorizado onde estava cada coisa e sabia guiá-los por um caminho até a cama sem tropeçar.

Quando se imaginou fazendo aquilo com Nash, depois de todas as turbulências, ele pensou que o faria com raiva. Que o beijaria de forma grosseira, arrancaria as roupas sem gentileza, que seriam dois corpos se chocando sem afeto algum, apenas com o desespero de se consumirem.

Mas foi o contrário daquilo. Nash o beijava com calma, o segurava com carinho, e Kurt retribuiu o cuidado. Assim que chegaram ao pé da cama box, ele pressionou Nash pelo peito devagar, para que se sentasse no colchão e ele caísse junto por cima, sem precisar desfazer o beijo. Nash os arrastou um pouco mais para trás, e Kurt se sentou em seu colo, de joelhos dobrados. Era complicado explicar como o frio em sua barriga podia queimar tanto, mas ele não queria mesmo entender.

Em cima da cama, ele deslizou as mãos por dentro da jaqueta de Nash, até arrancá-la e jogá-la no chão. Depois, alcançou a barra da blusa de algodão dele, mas não ousou puxá-la para cima ainda. Talvez Nash tenha sentido a hesitação. Ele soltou dos lábios para beijar uma trilha úmida da bochecha até a orelha de Kurt.

— Você quer? — Nash perguntou rouco e desceu a mão por suas costas, arrepiante.

Kurt delirou com o simples toque, soltando um suspiro engasgado. Nash não tinha culpa de entender errado seus sinais. Envergonhado, Kurt abaixou a cabeça e encostou a testa no ombro dele. Agradecia por estarem na semi-escuridão, assim ficava mais difícil enxergar suas falhas.

— Eu... Eu só fiz isso uma vez. E já tem um tempo — Kurt confessou sussurrado, se sentindo queimar do peito até o rosto.

Era até mesmo questionável se aquela outra vez, no passado, havia contado de verdade. Tinha sido com outro garoto qualquer, tão rápido e desajeitado, mais pela curiosidade do que pela força de um desejo pessoal. Nada tão íntimo quanto o que acontecia ali e agora. Sem a confiança da prática, Kurt sentia como se nem ao menos soubesse como fazer.

De olhos fechados, ele fingiu que não estava chateado pela falta de experiência. Por Nash, ele queria tanto ser bom. Ele desejou poder voltar no tempo apenas para se preparar dignamente para aquele momento, mas estava preso no presente.

Nash não fez piada. Ele entrelaçou os dedos com os de Kurt sobre o colchão, apertando as mãos de uma forma cúmplice. Beijou uma vez a base da garganta, entre as clavículas salientes, alcançando a tatuagem recente em seu peito, para depois subir mais uma vez à boca, entreaberta.

Seus olhos verdes se abriram, brilhando na penumbra.

— Está tudo bem. Não tem nada de errado — Nash tranquilizou com um sussurro. — O prazer vai ser todo meu em te fazer relembrar como é. Só me diga se tiver alguma coisa que você não goste, tudo bem?

Erguendo o rosto, Kurt imaginou que não houvesse nada que Nash fizesse ali que ele não gostasse. Mas no fim, acenou em silêncio, concordando.

A blusa de algodão saiu pela cabeça quando Nash agarrou atrás da gola e puxou para cima. Enquanto ele desfazia o fecho do cinto, Kurt continuou no mesmo lugar, observando nervoso. Ele deveria fazer alguma coisa também? Tirar a própria roupa? Talvez sair de cima para dar espaço?

Incerto, Kurt tentou puxar a própria blusa, mas congelou logo no início do movimento. Pela iluminação fraca que atravessava as cortinas, ele contemplou o corpo perfeito de Nash. Os músculos trabalhados, cada arranjo no lugar exato, formando um conjunto lindo. Ele pensou em seu próprio corpo defeituoso, em suas marcas sinistras. Kurt não tinha avaliado antes, mas, naquela hora, caiu a ficha de como Nash teria todos os motivos para desistir quando o visse por inteiro.

Eles se beijaram de novo, suave. Então, contra sua boca, Nash murmurou:

— Me deixe dar uma olhada em você e ver como é fora dos pensamentos que tenho toda noite, antes de dormir.

A mera ideia de Nash se tocando com Kurt em sua mente era um sonho por si só. Apesar do gelo descendo por seu estômago, até embaixo, Kurt engoliu, nervoso por alguém interessado justamente em ver suas falhas. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Não é uma vista boa — Kurt devolveu.

Nash ajeitou o quadril no colchão, fazendo Kurt ofegar com o volume que sentiu.

— Eu já não pareço gostar do que eu vejo? — Nash estava sério e empenhado em demonstrar isso.

Os ombros de Kurt caíram, e ele suspirou.

— Feche os olhos — ele pediu, baixinho. Queria que Nash visse de outra forma.

Apesar do pedido estranho, Nash atendeu. Seus olhos se fecharam, e Kurt acariciou por cima das pálpebras, dando um pequeno beijo em cada uma. Então, ele tirou a camisa com um puxão pela barra. Seu corpo inteiro se arrepiou com a corrente de ar que soprou a pele.

Parou por um ínfimo segundo, para admirar o rapaz de olhos fechados à sua frente. Depois, levantou as mãos de Nash, segurando por seus pulsos e, suavemente, deslizou suas palmas abertas ao longo de seu torso despido. Se Nash queria mesmo conhecer suas marcas, Kurt precisava de pelo menos algum controle sobre isso. Assim, ele guiou por onde as mãos dele passariam.

Mas, ao contrário do que ele esperava, Nash parecia curioso ao conhecer seu corpo pelo tato. Suas palmas desceram explorando do peito de Kurt até a base da barriga, gravando na memória dos dedos cada saliência e depressão que encontrava no caminho. Kurt então colocou as mãos dele em suas costas e as desceu de novo, devagar para que não perdesse nem um pedaço. Quando Nash sentiu a última ponta sólida, na base da coluna, Kurt o puxou pelo queixo até a curva entre seu pescoço e seu ombro. Fez com que Nash o sentisse com a boca e descesse até a ponta do dedo, passando pela extensão do braço. Algo dentro de si derreteu quando Nash alcançou as marcas de queimadura em seus antebraços e as beijou, uma por uma. Só parou ao chegar na curva do pulso, onde beijou o dorso da mão de Kurt.

— Ainda tem certeza de que quer isso? — A pergunta de Kurt saiu em um sussurro falhado. Havia tantos defeitos que ele entenderia se Nash decidisse que merecia algo melhor. — Eu sou uma coisa quebrada.

Leve, Nash deitou o corpo para trás, levando Kurt junto consigo.

— Me deixe colar os seus pedaços com os meus, então — Nash cochichou em seu ouvido, passando seu cabelo por trás da orelha, e dando uma certeza a Kurt: a de que ele não era perfeito e de que podia ser tão quebrado quanto ele. Nem toda marca era palpável, e cicatrizes invisíveis não deixavam de ser pesadas por isso.

Por decisão de Kurt, eles levaram aquilo para o banheiro da suíte. Sem as camisas, eles tropeçaram descalços até sentirem a cerâmica fria sob seus pés. Um frio ainda mais arrepiante se acumulava entre o peito e a barriga de Kurt, alimentado pela boca atenciosa de Nash, que o beijava com adoração.

Kurt o empurrou contra a parede de azulejos e beijou um pedido em sua orelha, para que esperasse ali. Então deu as costas e foi para o chuveiro, ligando a água. Se pensasse demais, acabaria perdendo a coragem de fazer. Por isso, se livrou das calças num instante e, no outro, estava tomando uma ducha rápida bem ali, na frente de Nash. Quando espiou por cima do ombro, ele contraiu com a visão que teve: Nash, já sem os jeans e sem a roupa debaixo, escorado nu contra a parede, se tocando enquanto o assistia; esperando para ser usado como distração, como ele mesmo disse.

Se virando de frente, Kurt o assistiu também enquanto se limpava, agradecendo aos céus pelo jejum. Pessoalmente, ele não possuía preferência entre dar ou receber. Mas naquele momento? Ele só queria ser tomado. Sentar no banco passageiro e aproveitar a viagem.

Cercado por cheiro de sabonete fresco e vapor de água quente, ele deitou as costas contra a parede úmida, expondo o pescoço ao jogar a cabeça para trás, e observou Nash pela fresta dos cílios, perguntando:

— O que acha de vir até aqui?

Nash chegou lá com pressa. Passou pela cortina de água feito um herói épico milagroso, gotas molhadas desenhando as curvas dos músculos de seu corpo. Kurt sorveu o líquido pingando de seus lábios, mas sua sede só aumentou.

Fricção era uma dança familiar para eles. Quando Nash colou o corpo no dele, Kurt foi estimulado pelo contato. Da maneira como já estavam, dolorosamente duros, tão firmes quanto poderiam ficar, Kurt se perguntou se poderiam pular a preparação.

— Nesse momento, sinto que preciso de mais do que mãos e boca, como fizemos da últimas vezes — ele murmurou as palavras contra os lábios de Nash. — Seria egoísmo pedir para você só me foder direto e de uma vez?

O sorriso de Nash se esticou, imprimindo uma sensação em sua pele.

— Seu pedido é meu comando — Nash respondeu. — Deixa que eu dirijo isso, amor.

Então as mãos fortes que estavam nos quadris desceram pela parte traseira, apalpando e apreciando a firmeza que encontraram. Nash adoraria se abaixar e usar a língua naquilo, mas isso exigiria outro momento com mais tempo e paciência para adoração. E, com todo o clima em que estavam, ele não duvidou que teria outras muitas oportunidades.

Nash o agarrou pelos cotovelos e o girou preso contra a parede. Sua ereção encontrou caminho entre a bunda Kurt, esfregando livre, enquanto segurava o resto do corpo como um ato de reivindicação, o tipo de pressão e constrição ideal que Kurt precisava para sentir mais um aceno de excitação. Outra cascata de gelo rolou pelo estômago de Kurt assim que Nash beijou suas costas, subindo pela nuca até respirar quente atrás de sua orelha.

— Gosta assim? — A voz de Nash saiu rouca.

Kurt assentiu um sim desesperado, estremecendo de sensibilidade. Por dentro dentro de suas pálpebras fechadas, piscavam luzes verdes, sinais de "siga" em pane, implorando para continuar.

Naquela circunstância, eles tinham óleo de banho para usar. Nash estourou a tampa do frasco e despejou ao longo da ereção, depois pelos dedos, que alcançaram para dentro das nádegas de Kurt. Sentindo a contração, ele brincou um pouco, descobrindo os diferentes tipos de lamentos que poderiam sair da boca de Kurt. Quando ele trocou o estímulo dos dedos pela ponta do pau, foi a chave para Kurt ficar realmente manhoso.

Kurt arqueou as costas e olhou para trás, faminto, ainda mais bonito com lábios inchados dos beijos. Nash desejou profundamente que Kurt pudesse se ver com os olhos dele. Quando o capturou para mais um beijo profundo e molhado, ele murmurou elogios tanto gentis quanto quentes para que Kurt escutasse em voz alta cada uma das coisas apaixonadas que passavam por sua cabeça. Os ruídos desejosos que recebeu em resposta só aumentaram sua paixão.

Nash queria mais daquilo: foder enquanto Kurt olhava para ele e mostrava o quanto estava gostando. Então o virou de volta de frente, percebendo a ligeira confusão que passou em seu rosto. Para guiá-lo, Nash pendurou a perna direita de Kurt na curva do antebraço, o abrindo enquanto ainda estavam de pé. Para ter mais acesso, Nash se virou um pouco para o lado, obtendo o ângulo perfeito para a bunda de Kurt. Então esfregou ali uma vez, para provocar, antes de pressionar mais forte, empurrando para dentro.

O deslizar foi suave, habilidoso. Kurt gemeu um barulho suave, se apertando ao redor da intrusão. A sensação inundou a ambos, que se seguraram mais forte para manter a estabilidade e não cair com toda a carga excitante que estavam recebendo. O resto do mundo desapareceu, e eles eram as únicas existências importantes, se encarando com olhos ardentes e bocas entreabertas.

A naturalidade com que progrediram a partir dali foi como se já tivessem feito tantas vezes antes, se conhecendo tão bem. Nash metia em um ritmo firme e necessitado, mal saindo por completo antes de empurrar de novo. O gradual aumento de prazer só deixava Kurt querendo mais. Seu corpo agora era um nervo exposto, carregado por uma alta corrente, sensível a cada carícia e beijo. Seus olhares nunca se abandonavam, conectados e transparentes.

Nem se quisessem, eles não poderiam mentir para si mesmos: aquilo não era casual; era verdadeira intimidade. O tipo que não dava para ignorar ou esquecer no dia seguinte, porque era transformador. Penetrados e mudados um pelo outro.

Inconscientemente, a mão de Kurt se moveu para o próprio pau, buscando com ânsia pelo estímulo de libertação. Foi quando Nash prendeu seu pulso na parede, o fazendo choramingar.

— Hum-hum. Você não disse que precisava de mais do que mãos agora? — Nash esticou um sorriso sacana, então empurrou uma vez mais forte, conseguindo outro choro necessitado de Kurt. — Estou me dedicando aqui para dar o que você precisa. Você pediu, você leva, amor.

As costas de Kurt escorregaram na parede molhada quando Nash investiu com um ritmo punitivo, entrando e saindo em pancadas. Kurt revirou os olhos, tombando a cabeça para trás, só para que Nash segurasse seu rosto pelas bochechas, exigindo que não parasse de olhar para ele.

Pela necessidade de se segurar, Kurt prendeu os dedos nas costas dele feito garras quentes, deixando marcas para trás. Definitivamente, ele não queria que terminasse tão cedo, mas não podia evitar o quanto seu joelho tremia agradavelmente de desejo, lutando para se manter de pé. Ele continuava escorregando, se sentindo derreter.

Nash estava lá para pegá-lo. Suspendendo suas duas pernas, ele o pegou no colo, sustentando seu peso por completo. Como efeito, a ereção afundou até a base. Kurt gemeu alto, sentindo aquilo atingir um ponto mais fundo e ainda mais delirante. Suas pernas envolveram a cintura de Nash, o prendendo ali. Nash lambeu a lateral de seu pescoço, até alcançar a boca e investir um beijo desleixado.

Quando Kurt abriu de novo os olhos, Nash tinha desligado o chuveiro e o estava carregando para fora do box. Ele o sentou no balcão da pia, ainda molhados, ainda encaixados. Sem esperar, Nash segurou na alça do armário acima de suas cabeças e investiu com o quadril, forte e determinado. Recebendo um impulso atrás do outro, sem parar, Kurt se deixou cair para trás, a cabeça e os ombros pressionando contra o espelho.

Sem o ruído da queda d'água, o som das pancadas de pele contra pele encheu a suíte, junto ao barulho do balcão batendo contra a parede. Uma sinfonia coroada por gemidos sem fôlego. Alucinantemente bom.

Kurt implorou um não para, e Nash se sentiu tendo que afundar o pé no freio em cima da linha de chegada. Ele se dobrou para a frente, caindo sobre Kurt, e deu uma risada.

— Insaciável, hum?

— Quando se trata de você — Kurt respondeu ofegante.

Nash parou e se abaixou para distribuir uma sequência de beijos ao longo do corpo de Kurt, passando por seu bíceps, sua axila exposta e parando na curva de seu peito, causando mais uma contração excitada em resposta. Sorrindo, ele deu um tapinha suave na traseira de Kurt, dizendo:

— Vamos lá, amor. Reta final. Você dirige agora.

Mordendo o lábio, Kurt segurou Nash pelo quadril e, lentamente, balançou contra ele. Uma, duas, três reboladas, até que viraram uma cavalgada meio deitada, gerando investidas vagarosas. Para o completo desespero do autocontrole de Nash, Kurt era implacável sendo lento e doce.

A respiração de Nash engatou, acelerada. Kurt cruzou os tornozelos atrás dele, para não deixá-lo sair. Nash amaldiçoou um palavrão misturado a uma risada, se perguntando como poderia se segurar mais do que aquilo. Então Kurt gemeu que queria ver ele se perdendo dentro dele. Foi o que precisava para o corpo de Nash ceder, caindo e estremecendo, expandindo e contraindo, apertando e relaxando.

Parecia que Kurt só precisava sentir aquele jorro quente dentro de si para se libertar também, sem precisar das mãos. Uma reação espelhada. Conexão verdadeira.

Com Nash ofegando em cima dele, Kurt fechou os olhos, o prendendo dentro de um forte abraço, impossivelmente desejando que ainda não acabasse. Parecia loucura querer tanto alguém daquele jeito.

Depois de se secarem, os dois foram para a cama sem se importar com roupas. Deitados, eles tentaram se acalmar. Mas com seus corpos em contato, não havia maneira de impedir a reação natural que pedia por outros rounds.

Foi preciso outras quatro vezes para que finalmente se cansassem. Enquanto Nash se deitou de costas, braços espalhados no colchão, Kurt descansou a cabeça em seu bíceps, soltando um suspiro de olhos fechados. E todo aquele prazer o seguiu através de seus sonhos vividos.

Quando acordou, a luz através da cortina continuava escassa, sem sinal de sol. Mas o rádio-relógio em cima da cômoda anunciava as seis horas da manhã.

Kurt rolou para fora da cama. Sua ausência imediatamente foi notada por Nash, que o perseguiu sonolento até a borda do colchão e terminou com o braço enlaçando seu quadril.

— Volta — Nash resmungou, meio acordado, meio dormindo.

Kurt riu.

— A diária acabou. Vamos ser expulsos se eu não for até lá renovar o quarto agora.

— Se vierem incomodar, eu atiro o dinheiro neles e compro esse quarto. O prédio inteiro, se for necessário. — Da forma como Nash arrastava as palavras e nem abria os olhos, ele poderia muito bem estar falando em seus sonhos. Aquilo divertiu Kurt ainda mais. — Eu pago tudo. Vem. Fica.

Sorrindo, Kurt se abaixou e imprimiu um beijo nos lábios fechados dele. Depois correu os dedos por seu cabelo raspado, esperando que o carinho abatesse seus sentidos de novo. Ele soube que funcionou quando o braço de Nash ao seu redor relaxou, e a respiração dele voltou a ter ritmo de sono, mais lenta.

— Cinco minutos — Kurt sussurrou, como se pudesse alcançar a inconsciência de Nash. — Cinco minutos, e eu volto para você.

De pé, ele recolheu suas roupas do chão às cegas e saiu para o corredor, onde amarrou os sapatos e logo fechou a porta atrás. Pelo caminho todo, do segundo andar até a recepção no térreo, ele sorriu perdido em pensamentos.

No balcão de atendimento, a recepcionista do turno noturno levantou a cabeça e o reconheceu com um sorriso cordial.

— Vou precisar de mais uma diária, por favor — Kurt explicou. Sem graça, ele se perguntou se estaria estampado na sua cara o motivo da renovação.

A atendente não pareceu julgá-lo, profissional em só fazer o seu trabalho.

— A confirmação do quarto? — Ela pediu, educadamente.

— B9 — Kurt respondeu e esperou paciente enquanto ela digitava no computador.

— Crédito ou débito? — Ela disse finalmente.

— Não, é dinheiro — Kurt a relembrou. Cartões e bancos não eram exatamente a maneira que circulava o dinheiro originado da Toca.

— Ah, claro. São cento e noventa dólares.

Distraído, Kurt apalpou os bolsos da jaqueta, procurando pela carteira. Encontrou-a no bolso de dentro. Quando puxou e abriu, em busca do dinheiro, ele se deu conta de que não era sua carteira. Analisando o que tinha vestido, Kurt percebeu que, no escuro, havia trocado sua jaqueta pela de Nash. E agora tinha a carteira dele em suas mãos.

Ele pensou em pedir para a atendente esperar enquanto voltava até ao quarto para corrigir o erro. Porém, ele se viu parado, olhando para a carteira de Nash aberta em suas mãos. Não era no dinheiro que estava interessado, mas no documento guardado e que havia se revelado. Era uma identificação de trabalho com a foto de Nash, mas o registro estadual lhe atribuía outro nome, e o nome do órgão responsável era ainda mais chocante:

Nathan Hay Jones;

Cargo - Agente Oficial;

Departamento de Polícia de Los Angeles.

— Senhor? — A atendente chamou.

Mas o zumbido nos ouvidos de Kurt o impediu de ouvir qualquer outra coisa.



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E com isso... sejam bem-vindos ao capítulo de marca a última parte de Colisão, reta final da história! 🗣

No próximo, vamos ver como vai ser a reação completa do Kurt e o que ele vai fazer com essa informação nova. Alguém tem alguma aposta? 👀

Próxima atualização: 20 de outubro (domingo) 

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