Capítulo Três

O Detetive
3 meses atrás

Suas mãos suavam, enquanto o profissional fazia o trabalho com cuidado, afinal qualquer erro poderia machucá-lo. O colete não o protegeria, caso ele se mexesse e seria facilmente perfurado, devido ao tamanho da agulha.

- Prontinho, terminei - Henry disse, olhando para ele -, viu, não foi nada demais!

- Credo, Cliff - o alfaiate continuou -, você está suando frio. Até parece que eu estava desarmando uma bomba ao invés de costurar seu terno.

- Você sabe muito bem que eu lido melhor com bombas do que com agulhas - o detetive respondeu, respirando aliviado e se olhando no espelho -, já, você, é excelente com as duas coisas.

- Ai, isola! - Henry disse, batendo três vezes na madeira do armário - Bombas, nunca mais, meu amor!

- Veja se não são o detetive fodão Cliff Hoogan e o sargento alfaiate Henry Rose! - um homem gritou da porta.

- Aí vem o invejoso - Henry cochichou no ouvido de Hoogan -, não deixe esse encosto tirar a sua luz, Cliff, hoje é o seu dia.

- O que faz aqui, Charlie - Cliff perguntou, rindo do que seu amigo alfaiate disse -, não vai me dizer que pediu folga para ir ao casamento.

- Infelizmente não consegui - o homem disse se aproximando dos dois -, alguém tem que cuidar da cidade enquanto você estiver fodendo na noite de núpcias. Prometo que no seu próximo casamento eu irei sem falta!

- Porquê você não deixa de ser otário ao menos uma vez na vida, Stanton? - Henry gritou, perdendo a paciência e partindo para cima de Charlie - Já está passando da hora de alguém te ensinar a não falar merda!

- Calma, Rose - Cliff conteve o amigo, colocando-se entre os dois -, hoje não é dia de brigar.

- Tá de TPM, grandão? - Charlie disse, se afastando - Fica esperto na hora de pegar o buquê, você tá precisando arrumar um marido urgente.

- Fala logo o que veio fazer aqui, Charlie - Cliff perguntou, vendo que não conseguiria segurar Henry e, dado o seu tamanho e força, seria um massacre -, Rose e eu temos muito o que fazer ainda.

- Os caras do departamento se juntaram e separaram uma grana como presente de casamento, e me pediram para te entregar - Stanton disse, entregando para ele um envelope -, tem uma quantia boa aí, daria para contratar umas putas para despedida de solteiro, mas acho que não dá mais tempo para isso.

- Aposto que tinha muito mais - Henry retrucou com tom sarcástico -, você deve ter pegado metade para pagar pensão dos filhos que suas ex-mulheres disseram que eram seus.

- Toma cuidado, Rose - Charlie ameaçou -, você é grande e forte, mas não tem olhos na nuca, algo pode te acertar quando estiver de costas. Se bem que você deve gostar, né?

- Vindo e você, eu acho difícil - Henri rebateu -, se tivesse algo de bom aí, você não teria que gastar o resto do dinheiro que sobra depois de pagar as pensões com putas.

- Olha, Charlie, agradece os caras por mim, tá legal - Cliff interrompeu a discussão -, valeu por ter trazido a grana, mas agora tenho que terminar os preparativos. Não é normal o noivo se atrasar.

- Está certo - Charlie disse, levantando os braços em sinal de rendição e caminhando até a porta -, espero que nada atrapalhe o seu grande dia.

Cliff se dava bem com todo mundo no trabalho, até mesmo com Charlie, que era um caso complicado. Com quarenta e dois anos, ele acumulava três divórcios e pagava três pensões diferentes, mas não era só na vida pessoal que era malsuscedido, sendo que com mais de vinte anos de profissão, ele nunca resolveu um grande caso, além de acumular muitas advertências e punições disciplinares. Era o tipo de pessoa desagradável que, para disfarçar sua mediocridade, atacava as pessoas com brincadeiras ofensivas e constrangedoras. Já Henry, era a pessoa mais gentil e solidária que já conheceu. Os dois serviram juntos no Iraque, e salvaram a vida um do outro algumas vezes. Rose era do esquadrão antibombas antes de se juntar ao pelotão de Hoogan, e eles se deram bem desde o início. O grandalhão foi dispensado por levar vários tiros durante uma operação, e foi salvo graças à perícia de Cliff, e da sua massa muscular, que sempre foi bem desenvolvida, mesmo ele não malhando muito, já o detetive, pediu baixa para cuidar da mãe que estava doente.

- O que tá fazendo, cara? - Cliff perguntou, vendo o amigo acendendo um incenso perfumado e colocando em cima da mesa, um pote com o que parecia ser sal grosso.

- É preciso espantar a inveja e o mau-olhado, querido - ele respondeu, jogando um punhado de sal sobre cada ombro de Cliff, e repetindo nos seus -, já que você não deixou eu arrebentar a cara daquele filho do satanás.

Era engraçado ver um cara de quase dois metros e mais de cem quilos em uma cena como aquela, mas Cliff era o único que tinha coragem de rir. Ainda precisavam cuidar do cabelo e da barba, ele tinha que estar perfeito para o casamento, porque Laura, certamente, estaria.

Já em sua casa, algumas horas antes de ir até a igreja, Cliff relaxava em um banho quente quando a campainha tocou, então, colocando uma toalha em volta da cintura, ele foi atender. Era sua amiga Amber, legista forense do departamento, com quem já teve um relacionamento. Trazendo uma garrafa de vinho e duas taças na mão, ela entrou, antes mesmo que ele a convidasse, e fechando a porta ele a seguiu.

- Eu não vou poder ir à cerimônia, então quis vir brindar à sua felicidade - ela disse, colocando a garrafa e as taças em cima do balcão da cozinha.

- Ótimo - ele disse simpaticamente -, só me deixa vestir alguma coisa, que eu já venho.

- Pois eu acho que assim está ótimo - Amber se aproximou, com um andar sensual e começou a passar a mão no peitoral bem definido e na barriga sarada dele.

- Amber, por favor - ele implorou, sentindo seu membro responder aos estímulos dela -, nós já conversamos sobre isso, e você me disse que não ia mais insistir.

- Desde que vocês me disse que o lance com a Laura era sério, eu venho me contendo perto de você - ela insistiu, segurando e apertando o membro dele, sob a toalha e se ajoelhando devagar -, mas agora, na iminência do casamento, eu não consigo mais.

Sem reação, ele a viu desprender a toalha e, segurando seu membro que estava ereto e pulsante, o abocanhou com vontade, fazendo-o sumir dentro da boca.

- Amber, é melhor parar - ele disse ofegante, e quanto ela fazia o movimento, da forma que só ela sabia fazer, aumentando e diminuindo a velocidade, até que ele não aguentou e explodiu dentro da boca dela, que não deixou escapar nem uma gota.

- A gente pode continuar fazendo isso, Cliff - ela disse, ainda ajoelhada, abraçando as pernas dele, quase como uma serva que suplica pela misericórdia do seu senhor -, não precisa ter medo, e...

- Não, Amber - ele a afastou, a fazendo cair sentada no chão -, não podemos, e isso não devia ter acontecido. Você vai ter que entender isso, ou eu terei que pedir a sua transferência de departamento, ou a minha. Eu amo a Laura, e não tenho interesse nenhum em trai-la.

- O sempre perfeito, Cliff Hoogan - ela se levantou, foi até o balcão, abriu a garrafa de vinho, encheu as taças e pegando-as, leviu uma até ele -, pode pegar, não está envenenada.

Mesmo sem vontade, ele pegou a taça. Após um brinde leve, bebeu todo o conteúdo de uma vez só, e foi até o balcão onde pegou a garrafa e entregou tudo para ela, dizendo: - Agradeço por ter vindo, mas agora, preciso terminar de me arrumar. Nós vemos no trabalho quando eu voltar.

- Tudo bem, Cliff - ela respondeu, enquanto ia até a porta -, mas você ainda vai perceber que ninguém te faz gozar como eu, e vai me procurar.

Fechando a porta assim que ela saiu, ele se encostou na parede e levou as mãos ao rosto. Seu corpo reagia instintivamente perto de Amber, mas ele não era um canalha e não queria trair sua esposa. Imediatamente, se arrependeu de tê-la deixado entrar e se aproximar, desde que tinha decidido que seu namoro com Laura era sério, ele não ficou mais com Amber, até aquele momento em que ele se deixou levar. Indo até o banheiro, ele ligou o chuveiro novamente e tomou outro banho, sentindo-se imundo pelo que aconteceu. Precisava colocar a cabeça no lugar e terminar de se arrumar para o casamento.

Algumas horas depois ele estava no altar, recebendo a mulher mais linda do mundo aos seus olhos, e mais uma hora depois, já estavam na casa que compraram para ser o seu lar.

Lentamente, Cliff desabotoou o vestido enquanto a beijava no pescoço, a fazendo estremecer da cabeça aos pés. Por baixo do vestido, uma cinta liga valorizava o corpo perfeito de Laura, o deixando com ainda mais tesão. Cada parte da peça era retirada com calma, saboreando as sensações, afinal tinham todo o tempo do mundo só para eles, ou pelo menos era o que imaginavam.

O telefone que Cliff achava que tinha silenciado tocou uma vez, e foi ignorado. Ele continuou o que estava fazendo, mesmo com a insistência do aparelho, que tocou mais três vezes, até que Laura lhe disse que era melhor atender.

- Como assim, tem que ser eu? - ele disse, nervoso com a afirmação do rapaz do outro lado da linha. Era Patt Martinez, um jovem detetive, recém integrado ao departamento.

- Tem um envelope com o nome do senhor em cima do corpo - Patt gaguejou do outro lado -, eu sinto muito, mas é o procedimento.

- Merda, Patt - Cliff praguejou, mas, após explicar a situação para Laura, seguiu para o local do crime.

- As câmeras foram desligadas, senhor - Patt começou a passar-lhe os detalhes assim que ele chegou -, não houve gritos, nem arrombamento. A garganta dela foi cortada...

- E as pregas vocais arrancadas - Amber completou, examinando o corpo -, a incisão que foi feita foi perfeita, certamente com um bisturi bem afiado e uma mão treinada.

- Onde está o envelope? - Cliff perguntou, e recebeu o objeto de Patt. Seu nome estava escrito à mão nas costas do envelope e dentro dele, tinha um papel com a seguinte frase: "Gritei para o penhasco, e recebi em resposta o silêncio do vazio." - Alguém pesquisou essa frase?

- É uma frase original, senhor - Patt gaguejou novamente. Apesar de ser um jovem brilhante, não era tão seguro de si -, quer dizer, não há registros dela em outro lugar.

- Entendo - ele ordenou -, peguem todos os indícios e deixem a Amber e a perícia terminarem. Essa noite será longa, mas pelo menos no departamento temos café à vontade!

A noite realmente foi longa, assim como as noites seguintes e por fim, sem mais pistas para investigar, chegaram a um beco sem saída. Tudo o que Cliff deduziu foi que o fato do assassino ter levado as pregas vocais como souvenir, estava ligado à mensagem no bilhete. Era uma ilustração das palavras "gritar" e "silêncio", e só o fato de ter deixado o envelope direcionado a ele, já indicava que seria um assassino em série, mas para considerar isso, e encontrar mais pistas para seguir, seria necessário esperar por mais corpos.

Ele sabia que, com certeza, aquele era apenas o primeiro corpo que esse assassino deixaria, e precisaria se esforçar para evitar que a trilha de corpos fosse muito extensa.

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