Capítulo Vinte e Três: As Delegações Estrangeiras
NOTAS DA AUTORA
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Havia uma sensação de agradável expectativa no ar aquele dia. Ninguém prestou muita atenção às aulas, pois estavam bem mais interessados na chegada das comitivas de Beauxbatons e Durmstrang à noite; até Poções foi mais tolerável do que de costume, porque durou meia hora a menos. Quando a sineta tocou mais cedo, Sollaria, Draco e os amigos caminharam até a Sala Comunal da Sonserina, que ficava nas Masmorras assim como a sala de aula de Poções, largaram as mochilas e os livros, conforme as instruções que tinham recebido, vestiram as capas e os chapéus e subiram correndo para o saguão de entrada.
Os diretores das Casas estavam organizando os alunos em filas.
- Senhorita Weasley, arrume direito esse chapéu - mandou Snape, a voz grave e lenta.
- Senhorita Patil, tire essa coisa ridícula dos cabelos - exigiu a professora McGonagall, do outro lado da sala, para uma de suas alunas.
Fazendo cara feia, Parvati Patil arrancou um enfeite enorme de borboleta da ponta das tranças e enfiou-o no bolso das vestes.
Os diretores das Casas mandaram seus alunos seguirem-nos, por ordem crescente de turma, para fora do Castelo.
Sollaria procurou Harry, Rony e Hermione na multidão, mas não os encontrou em meio ao mar de alunos que se organizavam com certa dificuldade. Com um suspiro, voltou-se para frente, ansiosa demais para a recepção dos estrangeiros para sequer se incomodar com a ausência dos três.
- Sem empurrar! - ralhou McGonagall a altas vozes. - Alunos da primeira série à frente... Sem empurrar, eu disse!
- Ora, professora, eles são tão jovens e pequeninos! Ainda por cima, tão novos aqui! Tenha um pouco mais de paciência. - Ouviu-se a voz do Frei Gorducho, que passava flutuando um por cima de um em direção aos alunos da Lufa-Lufa.
Enquanto os grifinórios e lufanos ainda formavam filas, Sollaria pegou-se pensando sobre como poderia ser a educação em Durmstrang e Beauxbatons. Será que eram mesmo tão rígida e avançada como os professores faziam parecer ser, ou isso tudo apenas se devia ao fato de que eles não queriam fazer parecer que Hogwarts era uma bagunça?
Finalmente, eles desceram os degraus da entrada e se enfileiraram diante do castelo. Por ser o penúltimo dia de outubro, o tempo estava frio o suficiente para que Sollaria se lamentasse por não ter pegado um casaco antes de se encontrar com o resto dos colegas no Salão de Entrada.
Os últimos raios crepusculares iam aos poucos dando lugar para uma noite clara, e uma pálida lua crescente já brilhava sobre a Floresta Proibida.
Ao lado de Sollaria, Draco olhava para o ornamentado relógio de pulso pela terceira vez em menos de dez minutos.
- Quase seis horas da tarde - comentou ele sem necessidade, já que havia anunciado que eram cinco e cinquenta e três havia pouquíssimo tempo.
- De que forma vocês acham que eles vão chegar? - perguntou Blaise Zabini, aproximando-se levemente dos dois para que ambos pudessem ouvi-lo. - De trem?
Pansy, que estava na fila da frente, virou-se para eles e, acenando negativamente a cabeça, disse:
- Acho que não, hein... Pelo menos não Durmstrang. Meu avô estudou lá, e fica bem longe daqui.
Sollaria inclinou a cabeça, curiosa.
- Quão longe?
Os lábios de Pansy se curvaram em um sorriso.
- Meu avô me apresentou Durmstrang como Durmstrang Institut för Magisk Lärande. Isso quer dizer Instituto de Aprendizagem Mágica Durmstrang em sueco, então deve ficar mais para o norte.
Blaise revirou os olhos.
- Isso aí todo mundo supõe, já que as vestes com peles fazem parte do uniforme deles. Seu avô não te contou nenhuma novidade.
- Não é verdade - defendeu-a Sollaria. - Viktor Krum é búlgaro e frequentou Durmstrang. Qualquer pessoa que é fã do cara, e nunca leu sobre Durmstrang para saber coisas específicas sobre o Instituto, como qual é o tipo de veste que usam lá, pode pensar que Durmstrang fica em algum lugar ao sul ou sudeste da Europa.
Sollaria observou que, ao se virar para frente, por mais que tentasse disfarçar, Pansy tinha agora um sorrisinho agradecido no rosto.
Pansy discutia com Daphne na fila da frente, e Blaise estava engajado em uma conversa sobre uma banda de rock com Theo Nott. Enquanto isso, Draco e Sollaria permaneciam ambos em silêncio, imersos em seus próprios pensamentos.
- E então, como você acha que eles vêm? - murmurou Draco depois de um tempo.
- Hum...
A verdade era que ela jamais havia parado para refletir a respeito do meio de transporte pelo qual as delegações de Beauxbatons e Durmstrang chegariam a Hogwarts.
- Não sei. Será que Beauxbatons viria de trem? Pelo nome, acho que deve estar em algum lugar entre a França e a Suíça, mas se bem que eles teriam que vir pela Inglaterra se viessem de trem...
Draco checou o relógio mais uma vez.
- Se Durmstrang de fato estiver no norte, também não é tão longe daqui - observou ele.
- Só que não acho que teria como eles virem de trem - contrapôs ela, observando alguns pássaros que sobrevoavam o terreno. - Eles teriam que, pelo menos, vir de navio, a não ser que eles venham por algum outro meio de transporte mágico, tipo uma Chave de Portal, mas aí já é improvável por se tratar de uma distância grande e ter várias pessoas envolvidas.
Draco abriu a boca para responder, porém ouviram a voz ampliada de Dumbledore vindo da última fileira, onde aguardava com os outros professores:
- Aha! A não ser que eu muito me engane, a delegação de Beauxbatons está chegando!
- Onde? - perguntaram muitos alunos ansiosos, olhando em diferentes direções.
- Ali! - gritou um aluno da sexta série, apontando para o céu sobre a Floresta.
Alguma coisa grande voava em alta velocidade pelo céu azul-escuro em direção ao castelo, e se tornava cada vez maior.
- É um dragão! - gritou esganiçada uma aluna da primeira série.
- É claro que não! É uma casa voadora! - retrucou um garotinho.
O palpite dele estava mais próximo... quando a sombra gigantesca e escura sobrevoou as copas
das árvores da Floresta Proibida, e as luzes que brilhavam nas janelas do castelo a iluminaram, eles viram uma enorme carruagem azul-clara do tamanho de um casarão, que voava para eles, puxada por doze cavalos alados, todos baios, cada um parecendo um elefante de tão grande.
As três primeiras fileiras de alunos recuaram quando a carruagem foi baixando para pousar a uma velocidade fantástica - então, com um baque estrondoso que fez Sollaria saltar para trás e pisar no pé de um aluno da quinta série da Sonserina - os cascos dos cavalos, maiores que pratos, bateram no chão. Um segundo mais tarde, a carruagem também pousou, balançando sobre as imensas rodas, enquanto os cavalos dourados agitavam as cabeçorras e reviravam os grandes olhos cor de fogo.
Sollaria só teve tempo de ver que a porta da carruagem tinha um brasão (duas varinhas cruzadas, e de cada uma saíam três estrelas) antes que ela se abrisse.
Um rapaz muito bonito de pele escura e vestes azul-claras saltou da carruagem, curvado para a frente, mexeu por um momento em alguma coisa que havia no chão da carruagem e abriu uma escadinha de ouro. Em seguida, recuou respeitosamente.
Sollaria viu um sapato preto e lustroso sair de dentro da carruagem - um sapato do tamanho de um trenó de criança - acompanhado, quase imediatamente, pela maior mulher que ela já vira na vida. O tamanho da carruagem e dos cavalos ficou imediatamente explicado.
Algumas pessoas exclamaram, talvez surpresas pela altura da mulher, talvez impactados por sua beleza avassaladora.
Sollaria já havia visto muita coisa diferente, nova ou incomum em sua vida e também várias pessoas e criaturas mágicas de todos os tipos, cores e tamanhos, mas jamais havia visto alguém cuja altura pudesse ser comparada à de Hagrid e tampouco havia visto uma mulher tão bonita quanto aquela. Pegou-se pensando se ela não poderia ter parentesco veela.
Ao entrar no círculo de luz projetado pelo saguão de entrada, a mulher revelou um rosto belo, pele retinta e grandes e sedutores olhos negros. Seus cabelos trançados estavam puxados para trás e presos em um coque na nuca. Vestia-se da cabeça aos pés de cetim azul claro, e brilhavam numerosas safiras em seu pescoço e nos dedos grossos.
Dumbledore começou a aplaudir; os estudantes, acompanhando a deixa, prorromperam em palmas, muitos deles nas pontas dos pés, para poder ver melhor a mulher.
O rosto dela se descontraiu em um gracioso sorriso e ela se dirigiu a Dumbledore, estendendo a mão faiscante de anéis. O diretor, embora alto, mal precisou se curvar para beijar-lhe a mão.
- Minha cara Madame Maxime - disse. - Bem-vinda a Hogwarts.
- Dumbledore - disse Madame Maxime, com uma voz grave e um carregado sotaque francês. - Espero encontrá-lo com boa saúde.
- Excelente, obrigado - respondeu Dumbledore.
- Meus alunos - disse Madame Maxime, acenando graciosamente com uma de suas enormes mãos para trás.
Sollaria, cuja atenção estivera focalizada inteiramente em Madame Maxime, reparou, então, que uns doze garotos e garotas - todos, pelo físico, no fim da adolescência - haviam descido da carruagem e agora estavam parados atrás de Madame Maxime.
- Nossa, eles são tão bonitos. - Sollaria deixou escapar um suspiro, admirada com a postura graciosa, bela e elegante dos jovens de Beauxbatons.
Cada um deles era diferente do outro, cada um deles tinha uma beleza única; não que em Hogwarts não fosse possível encontrar pessoas de diferentes ascendências ou que nenhum dos alunos de Hogwarts fosse belo, mas era absurdamente impossível para Sollaria descrever a beleza dos traços de cada um daqueles jovens alunos.
Eles pareciam tremer de frio, o que não surpreendia, pois suas vestes eram feitas de finíssima seda e nenhum deles usava capa. Alguns tinham enrolado echarpes e xales na cabeça. Uma das garotas da delegação - uma moça alta e esguia, cujos cabelos caíam em uma cascata louro-dourada pelas costas - havia acabado de sacar sua varinha, e Sollaria imaginou que fosse para conjurar um Feitiço para Aquecer.
Ela pegou-se refletindo a possibilidade de aquela garota também ter alguma ascendência veela. Ora, talvez todos eles tivessem, e aquilo faria muito sentido, já que Sollaria simplesmente não conseguia deixar de olhar para os rostos deles, como se estivesse hipnotizada.
- Karkaroff já chegou? - perguntou Madame Maxime, arrancando Sollaria de seu torpor.
- Deve estar aqui a qualquer momento - disse Dumbledore. - Gostaria de esperar aqui para recebê-lo ou prefere entrar para se aquecer um pouco?
- Me aquecer, acho. Mas os cavalos...
- O nosso professor de Trato das Criaturas Mágicas ficará encantado de cuidar deles.
- Meus corcéis exigem... hum... um tratador forte - disse Madame Maxime, com uma expressão de dúvida quanto à capacidade de um professor de Trato das Criaturas Mágicas em Hogwarts para dar conta da tarefa. - Eles são muito grandes e fortes...
- Posso lhe assegurar que Hagrid poderá cuidar da tarefa - disse o diretor, sorrindo.
- Ótimo - disse Madame Maxime, fazendo uma ligeira reverência -, por favor, informe a esse Hagrid que os cavalos só bebem uísque de um malte.
- Farei isso - respondeu Dumbledore, retribuindo a reverência.
Madame Maxime virou-se para os alunos e lhes disse alguma coisa em francês, o que provavelmente significava que ela deveria segui-los porta adentro, porque logo o pessoal de Hogwarts se afastou para deixá-los subir os degraus de pedra e eles se foram.
- Nojentos - murmurou Daphne assim que a delegação de Beauxbatons se foi.
- Você é uma cobra invejosa mesmo, não é, Daphne? - indagou Theodore em um tom preguiçoso e desinteressado. - Você só diz isso porque está com medo de os caras deixarem de se interessar por você agora que aquelas meninas estão aqui.
- Cale a boca, Nott - mandou ela. - Você não sabe de nada! Você por acaso não viu o jeito que aqueles idiotas estavam olhando para Hogwarts? Para nós? Como se fossem melhores do que a gente!
Sollaria deixou escapar uma risada, a qual ela logo tentou disfarçar com uma tosse, mas sem efeito.
Draco, Pansy, Theo, Blaise e Daphne olharam para ela, esperando uma explicação.
- Acho muito interessante o fato de você se ofender e se sentir ameaçada pela forma como eles olharam para nós, sendo que você mesma trata todos os que não são ricos e sangue-puros como se fossem insetos.
Todos, menos Daphne, deram uma risadinha.
A garota de cabelos loiros tinha os lábios formando um perfeio "O", em absoluto choque pela audácia da colega.
- V-Você não sabe de nada ao meu respeito, Potter.
Daphne passou a ignorá-los pelo resto da noite.
- De que tamanho você acha que os cavalos de Durmstrang vão ser? - perguntou Theodore (depois de não aguentar mais ficar quieto), esticando-se por trás de Blaise para falar com Draco e Sollaria.
- Bom, se eles forem maiores do que esses, nem Hagrid vai ser capaz de cuidar d-d-deles... - comentou Sollaria com um bocejo.
Eles continuaram parados, agora tremendo um pouco de frio, à espera da delegação de Durmstrang. A maioria das pessoas contemplava o céu, esperançosa. Durante alguns minutos, o silêncio só foi interrompido pelos cavalões de Madame Maxime que resfolegavam e pateavam. Mas então...
- Vocês estão ouvindo alguma coisa? - perguntou Blaise de repente.
Sollaria prestou atenção; um barulho alto e estranho chegava até eles através da escuridão; um ronco abafado mesclado a um ruído de sucção, como se um imenso aspirador de pó estivesse se deslocando pelo leito de um rio...
- O lago! - berrou Lee Jordan, um amigo de Fred e George, apontando em direção ao Lago Negro. - Olhem para a água!
De sua posição, no alto dos gramados, de onde descortinavam a propriedade, eles tinham uma visão desimpedida da superfície escura e lisa da água - exceto que ela repentinamente deixara de ser lisa.
Ocorria alguma perturbação no fundo do lago; grandes bolhas se formavam no centro, e suas ondas agora quebravam nas margens de terra - e então, bem no meio do lago, apareceu um rodamoinho, como se alguém tivesse retirado uma tampa gigantesca do seu leito...
Algo que parecia um pau comprido e preto começou a emergir lentamente do rodamoinho... e então tornou-se possível avistar as velas...
Sollaria deixou escapar uma exclamação, e ela deixou inconscientemente que sua mão fosse de encontro à do amigo.
- É um mastro! É um navio! Minha suposição estava certa!
Lenta e imponentemente o navio saiu das águas, refulgindo ao luar. Tinha uma estranha aparência esquelética, como se tivesse ressuscitado de um naufrágio, e as luzes fracas e enevoadas que brilhavam nas escotilhas lembravam olhos fantasmagóricos. Finalmente, com uma grande espalhação de água, o navio emergiu inteiramente, balançando nas águas turbulentas, e começou a deslizar para a margem. Alguns momentos depois, ouviram a âncora ser atirada na água rasa e o baque surdo de um pranchão ao ser baixado sobre a margem.
Havia gente desembarcando; os garotos viram silhuetas passarem pelas luzes das escotilhas. Os recém-chegados pareciam mais velhos - como os alunos de Beauxbatons, pareciam estar no fim da adolescência. O primeiro grupo de rapazes que apareceu parecia ter ombros largos e um físico forte e musculoso, mas então, quando subiram as encostas dos jardins e chegaram mais próximos à luz que saía do saguão de entrada, Sollaria viu que aquela aparência se devia às capas de peles de fios longos e despenteados que estavam usando.
O homem que os conduzia ao castelo usava peles de um outro tipo; sedosas e prateadas como os seus cabelos.
- Dumbledore! - cumprimentou ele cordialmente, ainda subindo a encosta. - Como vai, meu caro, como vai?
- Muito bem, obrigado, professor Karkaroff.
O homem tinha uma voz ao mesmo tempo engraçada e untuosa; quando ele entrou no círculo de luz das portas do castelo, os garotos viram que era alto e magro como Dumbledore, mas seus cabelos brancos eram curtos, e a barbicha (que terminava em um cachinho) não escondia inteiramente o seu queixo fraco. Quando alcançou Dumbledore, apertou-lhe a mão com as suas duas.
- Minha velha e querida Hogwarts! - exclamou, erguendo os olhos para o castelo e sorrindo; seus dentes eram um tanto amarelados, e Sollaria reparou que seu sorriso não abrangia os olhos, que permaneciam frios e astutos. - Como é bom estar aqui, como é bom... Viktor, venha, venha para o calor... você não se importa, Dumbledore? Viktor está com um ligeiro resfriado...
Karkaroff fez sinal para um de seus estudantes avançar. Quando o rapaz passou, Sollaria viu de relance um nariz grande e curvo e sobrancelhas escuras e espessas. Não precisava do soco que Draco lhe deu no braço, nem do cochicho na orelha para reconhecer aquele perfil.
- Pelas barbas de Merlin, Potter! É o Viktor Krum!
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