Capítulo Vinte e Quatro: O Cálice de Fogo


NOTAS DA AUTORA

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Draco ainda tagarelava atrás de Sollaria quando os alunos de Hogwarts se enfileiraram pelos degraus atrás da delegação de Durmstrang.

- Eu não acredito que teremos Viktor Krum em Hogwarts este ano - comentou empolgado Blaise Zabini.

- Achei que ele tivesse uns vinte anos! - exclamou Theodore, que começou a se mexer de um lado para o outro na tentativa de enxergar alguma coisa adiante. - Onde será que eles vão ficar, hein? Em algum dos salões comunais?

- Não faço ideia - respondeu Sollaria. - Mas Dumbledore deve ter providenciado tudo.

Pouco tempo depois, quando finalmente chegaram ao Salão Principal, sua atenção foi desviada para um grupo de várias sextanistas que apalpavam freneticamente os bolsos enquanto andavam.

- Ah, não! Eu não acredito! - comentou uma delas. - Eu não trouxe nem uma pena sequer comigo. Você acha que Krum assinaria o meu chapéu com um batom?

Ouviu-se um murmúrio impaciente ("Ora, francamente!") vindo de algum lugar mais à frente. Ela não precisava se erguer nas pontas dos pés para saber que se tratava de Hermione, que tinha no rosto uma expressão de quem sentia um mau cheiro debaixo do nariz.

Sollaria revirou os olhos. Qual era o problema de gostar de uma celebridade?

Às vezes, ela gostaria muito de chacoalhar a amiga pelos ombros, mas sempre que esse pensamento lhe vinha à cabeça, ela se sentia mal e engavetava-o imediatamente.

- Algum de vocês tem uma pena para emprestar? - perguntou uma das garotas para eles.

Todos balançaram as cabeças em sinal negativo.

- Acho que você precisaria de tinta, não? - indagou Blaise em tom de diversão.

A garota corou diante da observação, murmurou alguma coisa e puxou as amigas para longe.

- Sabe, se eu fosse um pouco mais... não sei... aberta a conhecer pessoas, talvez eu também pedisse um autógrafo - revelou Sollaria para os três garotos que a acompanhavam. - De qualquer forma, acho que ele já deve estar cansado disso. Imagine passar uns meses com um bando de adolescentes te perseguindo para lá e para cá?

Quando todos se sentaram em seus devidos lugares, puderam ver que os alunos de Durmstrang e Beauxbatons pareciam não saber a qual mesa se dirigir. Ainda estavam parados à porta do Salão Principal, analisando os rostos dos alunos que estavam sentados às mesas da Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina.

Sollaria tivera a sensação de que os alunos de Beauxbatons não haviam feito a lição de casa, e se sentariam à mesa que mais lhes parecesse esteticamente aprazível. Essa mesa, é claro, foi a da Corvinal.

Sollaria não os culpava; os alunos da Corvinal tinham fama de serem, em geral, os mais atraentes da Escola, e os discretos detalhes azuis em seus uniformes combinavam com a seda azul clara das vestes da delegação de Beauxbatons.

Os de Durmstrang, por sua vez, sentaram-se à mesa da Sonserina.

Viktor Krum escolheu o lugar ao lado de Draco, bem diante de Sollaria. Ele tinha uma expressão séria e cansada, como se houvesse um tempo desde a última vez que dormira.

Mesmo com olheiras debaixo dos olhos e os lábios crispados, o jovem apanhador ainda conservava um belo semblante.

Viktor Krum estava na frente dela.

- Boa noite - saudou o mais velho, o sotaque estrangeiro carregando as palavras.

A voz dele era baixa e grave e muito agradável de se ouvir. Os olhos de Sollaria encontraram os de Krum e ele esboçou um sorriso educado.

- Vocês sabem nos dizer que horas vão servir a comida? Estamos com fome - perguntou um outro aluno de Durmstrang, inclinando-se sobre a mesa para se fazer ouvir.

Eles evidentemente tinham uma certa dificuldade com o inglês, o que definitivamente tornaria o processo de comunicação entre os alunos de Hogwarts e os de fora muito mais difícil.

Quando Sollaria abriu a boca para respondê-lo, no entanto, Draco pôs-se a falar em um rápido e - ela podia supor - perfeito... bem, ela não sabia dizer que idioma era aquele, mas supunha que fosse búlgaro.

Ela ergueu as sobrancelhas, impressionada.

A expressão séria de Krum deixou seu semblante imediatamente. Ele se inclinou sobre a mesa e começou a conversar com Draco e o amigo em búlgaro, o que fez com que Sollaria se sentisse muito deslocada.

Ela pigarreou, atraindo a atenção dos três rapazes.

- Desde quando você fala búlgaro?

Draco deu de ombros.

- Não falo. Estávamos falando alemão.

- Ah. Presumi que, por Krum ser búlgaro...

Krum sorriu, condescendente.

- Eu sou búlgaro e moro na Bulgária durante as férias com meus pais, que voltaram para lá depois de passarem dois anos na Alemanha, mas isso foi um pouco antes de eu nascer. Minha família paterna é búlgara, mas a outra parte é alemã. Por isso estou em Durmstrang.

Sollaria apoiou o queixo nas mãos e inclinou-se sobte a mesa, interessada na história de vida de Krum.

- Fascinante. Então quer dizer que pessoas que falam diferentes idiomas frequentam uma mesma Escola? E vocês aprendem todas elas?

Por ser uma explicação relativamente longa, Viktor respondeu em alemão para que Draco traduzisse para ela.

-...e é justamente por receber pessoas de diversas nacionalidades, que é mais fácil todos serem obrigados a aprender uma só do que todas elas. Então aprendem alemão por obrigação, e as outras são opcionais.

- Ah, é? E quais são essas outras línguas?

Ela estava esperando que Krum revelasse pelo menos aquilo, para que pudessem ter uma pequena pista de onde poderia estar localizada Durmstrang, mas o búlgaro apenas sorriu maliciosamente, balançando a cabeça em negação, enquanto tirava o pesado casaco de pele.

- Boa tentativa. Ninguém sabe onde fica Durmstrang, é um segredo que todo aluno de lá leva consigo para o túmulo. Fazemos um juramento de sangue para manter os segredos do Instituto quando somos selecionados. Uau, aqui é meio quente, não acham?

Sollaria e Draco olharam ao redor; bom, aquilo era relativo. Os alunos de Beauxbatons ainda pareciam encolhidos de frio, mesmo dentro do Salão. Os de Hogwarts estavam devidamente agasalhados para o início de novembro, e todas as belas moças e rapazes de Durmstrang já haviam tirado a capa vermelha que usavam sobre os ombros.

Depois de um tempo, Madame Maxine, Igor Karkaroff e Dumbledore caminharam em direção à mesa dos professores, vindo de uma das câmaras localizadas nos fundos do Salão.

Quando a diretora apareceu, os alunos de Beauxbatons levantaram-se imediatamente. Alguns alunos de Hogwarts riram. A delegação de Beauxbatons não pareceu se constranger nem um pouco e não tornou a se sentar até que Madame Maxime estivesse acomodada do lado esquerdo de Dumbledore. Este, porém, continuou em pé e o Salão Principal ficou silencioso.

- Boa-noite, senhoras e senhores, fantasmas e, muito especialmente, hóspedes - disse Dumbledore sorrindo para os alunos estrangeiros. - Tenho o prazer de dar as boas-vindas a todos. Espero e confio que sua estada aqui seja confortável e prazerosa. O Torneio será oficialmente aberto no fim do banquete - disse Dumbledore. - Agora convido todos a comer, beber e se fazer em casa!

Ele se sentou, e Karkaroff imediatamente se curvou para a frente e iniciou uma conversa com o diretor.

As travessas diante deles se encheram de comida como de costume. Os elfos domésticos na cozinha pareciam ter se excedido; havia uma variedade de pratos à mesa que Sollaria jamais vira, inclusive alguns decididamente estrangeiros.

- O que é isso? - indagou Sollaria, fazendo esforço para não torcer o nariz diante dos alunos de Durmstrang.

Parecia se tratar de uma espécie de carne... Ou algo próximo disso. Vinha acompanhado de batatas e molho de mostarda.

- Eisbein. É joelho de porco - explicou um dos colegas de Krum. - Quer que eu sirva um pouco para você? Tenho certeza de que está deliciosa.

Os olhos azuis do garoto refletiam um brilho que para muitas poderia parecer galanteador, mas, para Sollaria, dava a impressão de ser... animalesco.

Sollaria abriu a boca para responder, mas Draco fora mais rápido. Ele cuspiu uma resposta em alemão, e mesmo sem ter ideia do que ele estava dizendo, Sollaria tinha certeza de que ele estava jogando a carta de 'nobre e puro-sangue Malfoy' apenas pela forma como ele se portava naquele momento.

O rapaz estrangeiro olhou dele para ela e engoliu em seco, pedindo desculpas várias vezes.

- Me desculpe mais uma vez se a deixei desconfortável, senhorita Potter, eu não...

- Já chega, ela entendeu. - Malfoy ergueu a mão e o rapaz se calou imediatamente. Ele se dirigiu a Sollaria agora, o tom de voz suave. - Você quer que eu te sirva um pouco de Eisbein?

Naquele instante, ouviram uma voz:

- Com licença, vocês vão querer a bouillabaisse?

Era uma das belas garotas de Beauxbatons. Uma longa cascata de cabelos louro-dourados caía quase até sua cintura. Tinha grandes olhos azul-profundos e dentes muito brancos e iguais. Ela era linda.

Sollaria abriu a boca, mas nenhum som saía.

- Hum... - O que era essa tal de bouillabaisse mesmo?

- Pode levar - respondeu Viktor Krum, empurrando a terrina para a garota.

- Vocês já se serviram?

- Sim, obrigado. - Draco parecia estar fazendo muito esforço para não rir.

A jovem francesa agradeceu a Krum e sorriu para Sollaria antes de voltar para a mesa da Corvinal.

- Meu Deus. Ela é perfeita - murmurou Sollaria. Ela se virou para Draco. - Você viu? O cabelo dela é incrível! - Ela apoiou a cabeça nas mãos e fez biquinho. - Eu quero ser como ela quando eu crescer.

Draco riu e colocou uma mecha do cabelo de Sollaria atrás da orelha.

De repente, Sollaria piscou algumas vezes, acordando de seu transe.

- Ei, aquele não é o cara que irradiou a partida na Copa? - indagou Krum, chamando a atenção deles para a mesa dos professores. - O que ele está fazendo aqui?

De fato, Ludo Bagman estava agora se sentando ao lado de Igor Karkaroff e o senhor Crouch, chefe de Percy, ao lado de Madame Maxime.

- Ah, é. Meu pai me explicou tudo sobre esse negócio - começou Draco. - Os dois estão organizando o Torneio Tribruxo. Imagino que quisessem vir assistir à abertura.

O segundo prato chegou; era hora das sobremesas. Diversos tipos diferentes de tortas e pudins e outras coisas foram feitos para receber os convidados. Diante de Sollaria havia uma espécie de bolo branco cheio de pedaços de morango, o que lhe chamou muito a atenção.

- O que é isso?

- Jordgubbstårta, é um tipo de bolo sueco. Pode comer, é bem gostoso.

Ela se serviu com um pouco daquela coisa, e então apontou para uma espécie de tortinha.

Vendo seu interesse, Viktor apontou:

- Isso aí é Mustikkapiirakka, é tipo uma torta finlandesa de mirtilos.

Ela se serviu com um pouco da torta. Ela adorava mirtilos!

Draco se servia de uma espécie de pãezinhos tostados em formato de bolinhas, o que a deixou bem curiosa.

- Isso aqui é Aebleskiver, eu comi quando fui passar o Natal na Dinamarca uma vez. É bem gostoso. Quer?

Ela assentiu, esperando que ele colocasse um pouco no prato dela. Depois disso, deu uma pequena mordida, surpreendendo-se com o delicioso sabor de creme de avelã com cacau.

Ela gemeu de prazer, limpando um pouco do creme que caiu em seu queixo, e deu mais uma mordida.

- Eu sei, não é? - Draco riu. - É muito bom. Ah, tem um pouco de... - Ela esfregou o queixo mais uma vez. - Não, aqui.

Draco passou a mão no outro canto de sua boca, parecendo muito descontraído, como se fizesse aquilo sempre.

- Pronto.

Ele voltou a comer o bolinho, como se nada de mais tivesse acontecido.

Como se não tivesse... Ela nem sabia o que ele havia acabado de fazer. Sollaria ficou temporariamente sem fala, o coração batendo forte e confuso no peito, como se tivesse acabado de errar uma batida.

O que Draco tinha na cabeça, agindo... daquele jeito?

Dumbledore se levantou mais uma vez, tirando-a de seus pensamentos. Neste momento, uma agradável tensão pareceu invadir o salão.

- Chegou o momento - disse Dumbledore, sorrindo para o mar de rostos erguidos. - O Torneio Tribruxo vai começar. Eu gostaria de dizer algumas palavras de explicação antes de mandar trazer o escrínio, apenas para esclarecer as regras que vigorarão este ano. Mas, primeiramente, gostaria de apresentar àqueles que ainda não os conhecem o senhor Crouch, Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia - houve vagos e educados aplausos -, e o senhor Bagman, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos.

Houve uma rodada mais ruidosa de aplausos para Bagman do que para Crouch, talvez por sua fama de batedor ou simplesmente porque ele parecia muito mais simpático. Ele agradeceu com um aceno jovial. Crouch não sorriu nem acenou quando seu nome foi anunciado.

- Nos últimos meses, o senhor Bagman e o senhor Crouch trabalharam incansavelmente na organização do Torneio Tribruxo - continuou Dumbledore - e se juntarão a mim, ao professor Karkaroff e à Madame Maxime na banca que julgará os esforços dos campeões.

À menção da palavra "campeões", a atenção dos estudantes que ouviam pareceu se aguçar.

Talvez Dumbledore tivesse notado essa repentina imobilidade, porque ele sorriu e disse:

- O escrínio, então, por favor, senhor Filch.

Filch, que andara rondando despercebido um extremo do salão, se aproximou então de Dumbledore, trazendo uma arca de madeira, incrustada de pedras preciosas de uma aparência extremamente antiga.

Um murmúrio de interesse se elevou das mesas dos alunos; Ginny chegou a se ajoelhar na cadeira para ver direito.

- As instruções para as tarefas que os campeões deverão enfrentar este ano já foram examinadas pelos senhores Crouch e Bagman - disse Dumbledore, enquanto Filch depositava a arca cuidadosamente na mesa à frente do diretor -, e eles tomaram as providências necessárias para cada desafio. Haverá três tarefas, espaçadas durante o ano letivo, que servirão para testar os campeões de diferentes maneiras... sua perícia em magia, sua coragem, seus poderes de dedução e, naturalmente, sua capacidade de enfrentar o perigo.

A esta última palavra, o salão mergulhou num silêncio tão absoluto que ninguém parecia estar respirando.

- Como todos sabem, três campeões competem no torneio - continuou Dumbledore calmamente -, um de cada escola. Eles receberão notas por seu desempenho em cada uma das tarefas do torneio e aquele que tiver obtido o maior resultado no final da terceira tarefa ganhará a Taça Tribruxo. Os campeões serão escolhidos por um juiz imparcial... o Cálice de Fogo.

Dumbledore puxou então sua varinha e deu três pancadas leves na tampa do escrínio. A tampa se abriu lentamente com um rangido. O bruxo enfiou a mão nele e tirou um grande cálice de madeira toscamente talhado. Teria sido considerado totalmente comum se não estivesse cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão de dançar.

Dumbledore fechou o escrínio e pousou cuidadosamente o cálice sobre a tampa, onde seria visível a todos no salão.

- Quem quiser se candidatar a campeão deve escrever seu nome e escola claramente em um pedaço de pergaminho e depositá-lo no cálice - disse Dumbledore. - Os candidatos terão vinte e quatro horas para apresentar seus nomes. Amanhã à noite, durante a festa de Dia das Bruxas, o cálice devolverá o nome dos três que ele julgou mais dignos de representar suas escolas. O cálice será colocado no saguão de entrada hoje à noite, onde estará perfeitamente acessível a todos que queiram competir.

"Para garantir que nenhum aluno menor de idade ceda à tentação", continuou Dumbledore, "traçarei uma linha etária em volta do Cálice de Fogo depois que ele for colocado no saguão. Ninguém com menos de dezessete anos conseguirá atravessar a linha. "E, finalmente, gostaria de incutir nos que querem competir, que ninguém deve se inscrever neste torneio levianamente. Uma vez escolhido pelo Cálice de Fogo, o campeão ficará obrigado a prosseguir até o final do torneio. Colocar o nome no cálice é um ato contratual mágico. Não pode haver mudança de ideia, uma vez que a pessoa se torne campeã. Portanto, procurem se certificar de que estão preparados de corpo e alma para competir, antes de depositar seu nome no cálice. Agora, acho que já está na hora de irmos nos deitar. Boa-noite a todos."

- Se pudessem, algum de vocês tentaria entrar? - indagou Sollaria para Theo, Blaise e Draco, que a seguiam em direção às Masmorras.

- Não - respondeu Draco.

- Eu já sou rico, não preciso por minha vida em risco por mil galeões - replicou Theo enquanto dava um bocejo exagerado.

- Nem por toda a glória do mundo - murmurou Blaise. - Eu também não colocaria a minha vida em risco por nada.

Sollaria virou-se para trás.

- E você, Pansy, entraria se pudesse?

A garota ergueu a cabeça, parecendo surpresa por terem se dirigido a ela.

- Ah, hum... não. Acho que eu não teria coragem.

Theo deu outro bocejo exagerado e disse:

- Bem, tanto faz para mim quem acabar sendo o representante de Hogwarts. Só espero que seja alguém da Sonserina.

_____

Como o dia seguinte era sábado, normalmente a maioria dos estudantes teria tomado o café da manhã mais tarde. Este não era o caso de Sollaria, que treinava todas as manhãs com Cedric no campo de Quadribol.

Aos sábados, era difícil encontrar alunos nas arquibancadas ou praticando exercícios, mas, naquela manhã, meia dúzia de alunos de Durmstrang marcaram presença no campo, correndo no gramado e fazendo levantamento de peso.

Perto das oito e meia, quando os dois já estavam suados e cansados demais para continuarem a treinar, decidiram que era hora de tomar café da manhã.

Havia umas vinte pessoas reunidas ao redor de onde fora colocado o Cálice de Fogo. Curiosos, Sollaria e Cedric se aproximaram.

- Será que alguém já colocou o nome? - perguntou Sollaria.

Cedric tirou alguma coisa do bolso. Era um pedaço de papel.

Ele andou lentamente até a pequena multidão, ultrapassando uma fina linha dourada traçada no chão, e depositou seu nome no Cálice de Fogo.

O queixo de Sollaria caiu.

- O-o quê? Eu achei que fosse conversa fiada que você queria entrar no Torneio!

Cedric colocou a mão na nuca, parecendo sem-graça.

- Ah, é... Eu pensei muito sobre isso. Acho que seria legal.

- "Legal"? - Sollaria colocou as mãos nos ombros do amigo e chacoalhou-o. - Ced, esse negócio é perigoso. Pessoas morrem nesse Torneio.

Ele se afastou gentilmente dela.

- Besteira. Isso foi séculos atrás, agora as coisas mudaram. Além disso, temos Dumbledore. Ele jamais deixaria que alguma coisa acontecesse com qualquer um de nós.

Sollaria não respondeu de imediato.

Derrotada, suspirou e enfim disse:

- Tudo bem. Se é assim que pensa... - Ela apontou com o dedo indicador na cara dele. - Mas se você morrer, você vai ver.

Cedric revirou os olhos e afastou a mão dela.

- Se eu morrer, você pode dizer que me avisou, tá bom? Agora vamos logo, estou com muita fome.

A decoração no Salão Principal estava diferente naquela manhã. Como era o Dia das Bruxas, uma nuvem de morcegos vivos esvoaçava pelo teto encantado, enquanto centenas de abóboras esculpidas riam-se em cada canto.

Como ainda era cedo e não tinha muitas pessoas sentadas à mesa da Sonserina, Sollaria acabou se sentando com Cedric à mesa da Lufa-Lufa por insistência dele.

Pessoalmente, Sollaria não era o tipo de pessoa que gostava de interagir com os amigos desconhecidos de seus (poucos) amigos, até porque era mais provável que ela ficasse se sentindo deslocada no meio da conversa, mas Cedric insistiu tanto que ela acabou cedendo.

- Corre um boato que Warrington se levantou cedo e depositou o nome no cálice - comentou um dos amigos de Cedric. - Aquele grandalhão da Sonserina que parece uma preguiça.

Justin Finch-Fletchley, um dos nascidos-trouxa que fora petrificado no segundo ano, sacudiu a cabeça, nauseado.

- Não podemos ter um campeão da Sonserina! - E então olhou para Sollaria como se pedisse desculpas. - Sem ofensas, mas é a verdade. E Cedric está concorrendo, não é?

Sollaria deu de ombros.

- Está tudo bem. Se Cedric for escolhido, é óbvio que eu estarei torcendo por ele também.

É claro que ela torceria por ele, afinal, era seu amigo, mas, secretamente, ela tinha expectativas de que ele não fosse escolhido. Não queria que ele corresse risco naquele jogo perigoso, embora soubesse que Cedric estava ciente das consequências.

O rapaz sorriu agradecido.

- Escutem! - disse outro lufano de repente.

Estavam aplaudindo alguém no saguão de entrada. Todos se viraram nas cadeiras e viram Angelina Johnson, uma colega de Fred e George da Grifinória, entrando no salão junto de outros alunos mais velhos, o rosto iluminado de alegria.

- Será que ela se inscreveu? - questionou Cedric enquanto todos observavam o Salão se encher mais e mais de grifinórios, que aplaudiam e assoviavam.

Sollaria mordeu o lábio inferior, ainda aborrecida demais com o amigo para prestar muita atenção à comoção grifinória.

- É, é o que parece, não é?

_____

Às seis, Sollaria se juntou aos outros sonserinos e à delegação de Durmstrang para o jantar, todos muito excitados para o anúncio especial da noite.

Apesar de ser Dia das Bruxas, ninguém parecia realmente impressionado com as exóticas e "assustadoras" sobremesas em formato de cabeça de abóboras, esqueletos ambulantes e morcegos vivos, haja vista já terem se empanturrado de toda sorte de doces na noite anterior.

A todo momento, alunos aqui e ali espichavam o pescoço para verificar se Dumbledore já havia terminado de comer.

Finalmente, Dumbledore se levantou. Quase que de imediato, o volume das conversas pelo Salão foi diminuindo.

- Bom, o Cálice de Fogo está quase pronto para decidir - disse Dumbledore enquanto estendia a mão para indicar o Cálice posto diante da mesa dos professores. - Estimo que só precise de mais um minuto. Agora, quando os nomes dos campeões forem chamados, eu pediria que eles viessem até este lado do salão, passassem diante da mesa dos professores e entrassem na câmara ao lado - ele indicou a porta atrás da mesa -, onde receberão as primeiras instruções.

Ele puxou, então, a varinha e fez um gesto amplo; na mesma hora todas as velas, exceto as que estavam dentro das abóboras recortadas, se apagaram, mergulhando o salão na penumbra. O Cálice de Fogo agora brilhava com mais intensidade do que qualquer outra coisa ali, a brancura azulada das chamas que faiscavam vivamente quase fazia os olhos doerem. Todos observavam à espera... alguns consultavam os relógios a todo momento...

- A qualquer segundo agora - sussurrou uma garota de Durmstrang, a dois lugares de distância de Sollaria.

As chamas dentro do Cálice de repente tornaram a se avermelhar. Começaram a soltar faíscas. No momento seguinte, uma língua de fogo se ergueu no ar, e expeliu um pedaço de pergaminho chamuscado - o salão inteiro prendeu a respiração.

Dumbledore apanhou o pergaminho e segurou-o à distância do braço, de modo a poder lê-lo à luz das chamas, que voltaram a ficar branco-azuladas.

- O campeão de Durmstrang - leu ele em alto e bom som - é Viktor Krum.

Sollaria aplaudiu com entusiasmo, assim como os outros alunos da Sonserina. Os amigos de Krum assoviaram, parecendo não ligar muito para a derrota. A garota a dois lugares de distância de Sollaria deitou com a cabeça no ombro de uma outra aluna de Durmstrang, parecendo decepcionada.

Assim que Krum cruzou o Salão em direção à antecâmara, os aplausos e comentários morreram. Agora todas as atenções tornaram a se concentrar no Cálice de Fogo, que, segundos depois, tornou a se avermelhar. Um segundo pedaço de pergaminho voou de dentro dele, lançado pelas chamas.

- O campeão de Beauxbatons é Fleur Delacour!

A garota que parecia uma veela levantou-se graciosamente, sacudiu a cascata de cabelos louro-dourados para trás e caminhou impetuosamente entre as mesas da Corvinal e da Lufa-Lufa.

Quando Fleur Delacour também desapareceu na câmara vizinha, todos tornaram a fazer silêncio, a tensão quase paupável. O campeão de Hogwarts era o próximo a ser anunciado...

O Cálice de Fogo ficou mais uma vez vermelho; jorraram faíscas dele; a língua de fogo ergueu- se muito alto no ar e de sua ponta Dumbledore tirou o terceiro pedaço de pergaminho.

Sollaria cruzou os dedos embaixo da mesa.

- O campeão de Hogwarts - anunciou ele - é Cedric Diggory!

Não!

Ela não sabia se havia dito aquilo em voz alta ou não, mas de qualquer forma, ninguém teria conseguido ouvir - a algazarra na mesa da Lufa-Lufa era ensurdecedora.

Cada um dos alunos da Lufa-Lufa ficou de pé, gritando e sapateando, quando Cedric passou por eles, um enorme sorriso no rosto, e se encaminhou para a câmara atrás da mesa dos professores. Na verdade, os aplausos para Cedric foram tão longos que passou algum tempo até que Dumbledore pudesse se fazer ouvir novamente.

- Excelente! - exclamou Dumbledore feliz, quando finalmente o tumulto serenou. - Muito bem, agora temos os nossos três campeões. Estou certo de que posso contar com todos, inclusive com os demais alunos de Beauxbatons e Durmstrang, para oferecer aos nossos campeões todo o apoio que puderem. Torcendo pelo seus campeões, vocês contribuirão de maneira muito real...

Mas Dumbledore parou inesperadamente de falar, e tornou-se óbvio para todos o que o distraíra.

O fogo no cálice acabara de se avermelhar outra vez. Expeliu faíscas. Uma longa chama elevou-se subitamente no ar e ergueu mais um pedaço de pergaminho.

Com um gesto aparentemente automático, Dumbledore estendeu a mão e apanhou o pergaminho. Ergueu-o e seus olhos se arregalaram para o nome que viu escrito. Houve uma longa pausa, durante a qual o bruxo mirou o pergaminho em suas mãos e todos no salão fixaram o olhar em Dumbledore. Ele pigarreou e leu...

- Harry Potter!

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