Capítulo Trinta e Cinco: Mais que Amigos
NOTAS DA AUTORA
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A manhã de sábado começou com pequenos flocos de neve que caíam sem parar sobre a já grossa camada de neve que cobria o gramado da Escola.
O frio parecia penetrar sua pele, mas era um alívio bem-vindo em comparação com a inquietação que tomava conta de seus pensamentos. O vento cortante e os flocos de neve que pousavam suavemente eram uma distração bem-vinda. Ela precisava daquilo — uma sensação externa que a afastasse, nem que fosse por um momento, da confusão crescente em seu interior.
Isso porque havia uma tensão latente entre ela e Draco, e cada encontro, cada troca de olhares furtiva, parecia aproximá-los cada vez mais do ponto de ruptura. Ela sabia que, a qualquer momento, aquilo poderia desmoronar, e os sentimentos que tentava controlar viriam à tona de uma vez só.
Sollaria sabia que precisava tomar uma decisão, afinal, o tempo estava se esgotando. Eles não podiam continuar eternamente nesse limbo de silêncio e olhares desconfortáveis, fingindo que nada havia mudado. Quanto mais adiava, mais sua mente girava em círculos, presa em suposições e medos que só aumentavam sua inquietação. Draco merecia uma resposta, e ela precisava encontrar a coragem para dar isso a ele.
No fundo, tinha consciência de que a questão era que tinha medo e não sabia como enfrentar aquilo sem se sentir pequena e vulnerável. É claro que Draco já havia a visto em situações de vulnerabilidade antes, mas, daquela vez, era diferente. Ela odiava não saber o que fazer e odiava não se sentir no controle de suas próprias emoções, e ver como Draco estava agindo como se soubesse exatamente o que fazer e como se tivesse experiência naquilo fazia com que se se sentisse ainda mais tola.
Ela ergueu os olhos para o Lago, sobre o qual uma fina camada de gelo se cristalizava. Sollaria inclinou o rosto, perguntando-se quanto tempo passaria até que uma das criaturas das profundezas do Lago Negro se aborrecesse e arranjasse uma forma de quebrar aquela fina barreira sólida que havia se formado entre os dois mundos.
Um suspiro escapou de seus lábios na forma de uma fumacinha branca. Ela não conseguia relaxar; estava muito tensa. Tinha medo de que, de alguma forma, a sua demora para entender os próprios sentimentos e o que queria com Draco acabasse o afastando, especialmente após a conversa que haviam tido na sala de treinamento na noite anterior. Malfoy parecia ter tudo sob controle, parecia decidido e, ao mesmo tempo, um pouco impaciente. É claro que ele a respeitaria e diria que cabia a ela decidir, mas ela tinha plena certeza de que, por ele, os dois já teriam resolvido aquilo há tempos.
Outro problema, que Draco talvez não entendesse, é que ainda que conseguisse exteriorizar o que sentia e organizar seus sentimentos, Sollaria tinha medo de estragar tudo entre eles. Achava que era muito nova para namorar, e se preocupava com o risco de arruinar tudo entre eles, afinal, aquilo que possuíam... uma amizade pura, verdadeira... Sollaria abriu um sorrisinho, embora não percebesse o que havia feito.
Aquilo que ela e Draco possuíam... parecia um encontro de almas. E ela não queria perdê-lo. E se discutissem, terminassem e então arruinassem tudo? E se Draco percebesse que Sollaria não era aquilo tudo que ele talvez pensasse que ela era? Ah, Merlin...
Sollaria estava prestes a voltar para o castelo quando o som da neve sendo pisada atrás dela chamou sua atenção. Ela, no entanto, não se virou de imediato, temendo ser Draco vindo atrás dela.
— Sollaria? — Era a voz de Hermione, calma e familiar, mas com um toque de preocupação.
Sollaria hesitou antes de se virar lentamente. Hermione estava parada a poucos metros dela, com as bochechas rosadas pelo frio e os braços cruzados, como se tentasse se proteger da temperatura.
— Oi, Hermione. — A voz de Sollaria soou baixa, quase engolida pelo vento.
Hermione se aproximou com cuidado, os olhos cheios de curiosidade, mas também de algo mais: a determinação silenciosa de alguém que sabia que algo estava errado e estava disposta a ajudar, mesmo sem ter todos os detalhes.
— Você está aqui fora desde cedo? — perguntou Hermione, olhando de relance para o lago congelado. — Tá um frio de rachar, Sol.
Sollaria deu de ombros, forçando um sorriso fraco.
— Eu precisava sair um pouco do salão comunal. Estava ficando sufocante lá dentro.
Hermione não respondeu de imediato. Ficou ao lado dela, o silêncio entre as duas preenchido apenas pelo som distante de risadas vindas do castelo.
— Quer companhia? — perguntou Hermione, depois de um tempo.
Sollaria olhou para ela e suspirou. Ela sabia que Hermione estava lá porque se preocupava, e não porque precisava realmente de uma desculpa para estar ali.
— Claro — respondeu finalmente, dando um passo para o lado, como se quisesse abrir espaço para a amiga.
Hermione se sentou na borda da neve ao lado de Sollaria, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. Ela permaneceu quieta por alguns instantes, como se soubesse que Sollaria precisava de tempo para reunir coragem para falar.
— Sol, eu sei que você não gosta de falar sobre o que está sentindo — começou Hermione, com cuidado. — Mas você anda tão diferente... Não que precise me contar, mas... eu estou aqui, tá? Se precisar.
Sollaria sentiu um aperto no peito. Hermione era prática, mas também sabia ser sensível quando necessário, e isso tornava ainda mais difícil ignorar o quanto precisava desabafar.
— É complicado, Hermione — começou, hesitando. — Eu... não sei nem por onde começar. Nem se devo começar.
Hermione inclinou a cabeça para o lado, avaliando-a com o olhar.
— Bom, começar pelo que você sente pode ser um bom ponto de partida — sugeriu. — Às vezes, só dizer em voz alta já ajuda a organizar as coisas na cabeça.
Sollaria olhou para o lago, observando os pequenos flocos de neve caírem suavemente sobre a água congelada. Ela sabia que Hermione estava certa, mas era difícil admitir até para si mesma.
— Eu... acho que estraguei tudo com Draco.
Hermione não disse nada de imediato, apenas a observou, deixando o silêncio confortável abrir espaço para que Sollaria continuasse, no ritmo dela.
— A gente se beijou — confessou Sollaria, a voz quase um sussurro. Seu coração batia acelerado, e ela sentiu o calor subir ao rosto. — E agora... agora não sei como agir perto dele. Não quero estragar o que temos, sabe? Mas... também não sei o que fazer com o que estou sentindo.
Hermione piscou, absorvendo a informação, e depois sorriu de forma compreensiva.
— Faz sentido você se sentir assim. Draco é... complicado, para dizer o mínimo, mas também é óbvio que ele se importa com você. O jeito como ele olha para você, como está sempre ao seu lado... Eu sei que ele não é exatamente meu tipo favorito de pessoa, mas acho que, para você, ele importa muito. E acho que você importa muito para ele também.
Sollaria desviou o olhar, mordendo o lábio.
— Eu só... tenho medo de perder o que temos. E se eu não estiver pronta? E se eu só... estragar tudo? Eu não sei o que estou fazendo, Hermione. — Sua voz falhou no final, e ela apertou os olhos, lutando para não deixar as lágrimas que vinha segurando há dias caírem. — Ele é meu melhor amigo. O único que realmente me conhece. E se... se eu não for suficiente para isso? Para ele?
Hermione franziu o cenho, inclinando-se levemente para frente, como se quisesse garantir que Sollaria ouvisse cada palavra.
— Sol... você é incrível. Ele seria um tolo se não visse isso. E, pelo que eu já percebi — mesmo que contra minha vontade —, ele sabe exatamente quem você é e gosta de você do jeito que você é. Não do jeito que você acha que deveria ser.
Sollaria piscou, surpresa. Era raro ver Hermione falando de Draco Malfoy sem um tom de desprezo, mas a sinceridade nas palavras dela a atingiu como uma onda.
— Eu... eu não sei o que dizer... — murmurou Sollaria, a voz trêmula. — E se eu errar?
Hermione sorriu suavemente, seus olhos brilhando com empatia.
— Errar faz parte, Sol. Não existe jeito certo de fazer essas coisas. Você só precisa ser honesta com ele... e consigo mesma. Se vocês têm uma amizade tão forte assim, isso não vai se quebrar tão fácil. E, honestamente, acho que ele está esperando por você. Ele só não quer te pressionar.
Sollaria mordeu o lábio com força, o coração batendo forte no peito. As palavras de Hermione eram tão simples, mas carregavam uma verdade que ela sabia, no fundo, que precisava ouvir.
— Eu tenho medo, Hermione. Medo de que, se isso não der certo, tudo entre nós acabe.
Hermione deu um passo à frente e colocou a mão no ombro de Sollaria, apertando levemente.
— Medo não é uma coisa ruim, Sol. Significa que você se importa. Mas você não pode deixar isso te paralisar. Olha, eu não sou a maior fã do Malfoy, mas se ele é importante para você, e, pelo que vejo, você é importante para ele, então vale a pena tentar. Vocês merecem pelo menos a chance de resolver isso.
Sollaria piscou algumas vezes, sentindo as lágrimas que havia segurado se acumularem em seus olhos. Hermione não disse nada, apenas permaneceu ali, oferecendo um sorriso compreensivo e caloroso.
Finalmente, Sollaria soltou um longo suspiro e murmurou:
— Obrigada, Hermione. De verdade.
Hermione apertou levemente o ombro dela antes de recuar.
— Não precisa me agradecer. Você já sabe o que fazer. Só precisava ouvir de alguém que vai ficar tudo bem.
Sollaria deu um pequeno sorriso, mais genuíno dessa vez, embora ainda carregasse a hesitação.
Ela sabia o que precisava fazer. Precisava falar com Draco. Hoje.
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Após a conversa com Hermione, Sollaria decidiu que precisava resolver aquilo o quanto antes. Não havia para onde fugir, e precisava falar com Draco antes que a coragem que estava sentindo desaparecesse.
Voltou quase correndo para o castelo e desceu para as masmorras, direto para o Salão Comunal da Sonserina. Ao perguntar aos amigos de Draco onde ele estava, a resposta que lhe deram foi que ele estava treinando.
Sollaria chegou ao vestiário com o coração martelando no peito. O frio da manhã já não conseguia amortecer a ansiedade que pulsava em seu interior. Ao entrar na sala de treinamento, encontrou Draco fazendo abdominais, distraído demais para notar a sua presença.
Ela caminhou até o toca-discos e abaixou um pouco o volume da música.
— Draco. — Sua voz saiu hesitante, mas forte o suficiente para que se sobrepusesse à música e chamasse a atenção do garoto.
Ao vê-la, ele ficou de pé quase automaticamente, como se fosse instintivo. Seus olhos estavam atentos, cautelosos, mas havia um brilho neles que Sollaria não conseguia decifrar.
— Sol. — A palavra soou mais como um alívio do que como uma saudação. Ele esperou, claramente percebendo que ela tinha algo importante a dizer.
Ela andou até ele, respirando fundo. Seus dedos brincaram nervosamente com a barra da manga das vestes enquanto ela tentava organizar os pensamentos.
— Podemos conversar? — perguntou finalmente.
Draco assentiu e indicou o banco, mas ela balançou a cabeça, recusando-se a sentar. Estava inquieta demais para isso.
— Olha... eu sei que tenho agido de forma estranha. — Ela cruzou os braços, como se tentasse se proteger. — Desde... desde o que aconteceu. E... — Sua voz falhou, e ela engoliu em seco. — Eu quero pedir desculpas por isso. Não é justo com você.
Draco permaneceu em silêncio, mas seus olhos não deixaram os dela nem por um segundo.
— A verdade é que eu estou confusa. E com medo. — As palavras começaram a sair com mais facilidade, embora ainda carregassem um peso evidente. — Eu não sei como lidar com isso, Draco. Com o que eu sinto por você. Com o que isso significa para nós.
Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. Não tentou tocá-la, mas sua presença era reconfortante de uma maneira que Sollaria não sabia descrever.
— Sol... você acha que eu não estou confuso também? — A voz dele era baixa, quase um sussurro, mas carregava uma intensidade que fez o coração dela vacilar. — Eu passei tanto tempo guardando isso, achando que... que você nunca me veria dessa forma. E agora que aconteceu, é claro que eu também estou tentando entender como tudo vai funcionar.
Ela olhou para ele, surpresa.
— Mas você parece tão... tão certo de tudo. — A confissão escapou antes que ela pudesse impedir. — Como se soubesse exatamente o que fazer.
Draco soltou uma risada curta, sem humor.
— Porque eu precisei me convencer disso. Porque eu sabia que, se não fosse forte o suficiente por nós dois, você fugiria. — Ele deu um sorriso pequeno, mas cansado. — E você estava fugindo, Sol. Eu só não sabia como te trazer de volta sem te pressionar.
As palavras dele a atingiram como uma onda. Sollaria sentiu o peso do próprio comportamento recair sobre seus ombros, mas, ao invés de se sentir culpada, encontrou uma clareza inesperada.
— Eu não quero fugir, Draco. — Sua voz saiu mais firme agora, com uma determinação que ela não sabia que tinha. — Eu só... eu só quero que a gente dê um passo de cada vez. Eu não quero arruinar o que temos. Você é... tudo para mim. E eu não quero te perder.
Draco finalmente quebrou a distância entre eles, segurando delicadamente as mãos dela. O toque era reconfortante, mas cheio de significado.
— Você não vai me perder, Sol. Não agora, não nunca. — Ele apertou as mãos dela levemente. — A gente pode ir no seu ritmo. Eu não estou com pressa. Eu só quero... eu só quero que você confie em mim. Que a gente confie um no outro.
Sollaria sentiu os olhos arderem, mas dessa vez, não tentou conter as lágrimas. Ela assentiu, apertando as mãos dele de volta.
— Eu confio em você.
O sorriso que Draco deu foi o mais genuíno que ela já vira em dias. Ele inclinou levemente a cabeça, como se quisesse dizer algo, mas hesitasse.
— Então... isso significa que... nós somos... — Ele não completou, mas os olhos dele pareciam perguntar por ele.
Sollaria riu levemente, um som quase aliviado.
— Somos... mais que amigos? — sugeriu ela, com um pequeno sorriso.
Draco arqueou uma sobrancelha, o sorriso crescendo.
— Mais que amigos, hein? — Ele balançou a cabeça, divertido. — Acho que posso viver com isso... por enquanto.
Sollaria revirou os olhos, mas havia um brilho novo neles.
— Por enquanto.
Os dois riram, e pela primeira vez em dias, o peso que pairava sobre ambos parecia ter desaparecido.
— Mas só pra constar, ainda sou seu par no Baile. A menos que você esteja planejando me trocar.
Sollaria soltou uma risada genuína, e o som ecoou pela sala, como se quebrasse qualquer último resquício de tensão entre eles.
— Nem pensar — ela disse, balançando a cabeça. — Quem mais aceitaria ser meu par e ainda sobreviver à minha total incapacidade de dançar?
Draco riu, balançando a cabeça, mas havia algo de brincalhão em seu olhar.
— Você é uma causa perdida, Potter. Mas sorte sua que eu sou um ótimo professor. Ainda tem tempo de evitar passar vergonha. Que tal um ensaio na terça?
Sollaria revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso.
— Ah, para. Eu não sou tão horrível assim.
— Ah, é sim. Mas tudo bem, eu aguento.
Ela deu uma risada, e pela primeira vez em dias sentiu o peso em seus ombros começar a desaparecer.
— Obrigada, Draco. Por... tudo. — Sua voz suavizou, mas havia sinceridade em cada palavra.
Ele deu um passo à frente, inclinando a cabeça ligeiramente.
— Sempre, Sol.
Por um momento, parecia que ele iria dizer algo mais, mas então se virou para a porta, segurando-a para ela.
— Vamos? — disse ele, com um sorriso despreocupado. — Acho que chega de treino por hoje.
Sollaria assentiu, respirando fundo. Enquanto caminhavam lado a lado pela trilha coberta de neve, ela sentiu algo diferente — uma leveza que não experimentava há dias. Não estava tudo resolvido, mas pela primeira vez sentia que as coisas entre eles estavam no caminho certo.
E isso, por ora, era o suficiente.
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