Capítulo Sete: Bulgária x Irlanda


NOTAS DA AUTORA

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O pai dos garotos Weasley foi à frente, guiando-os animadamente até o estádio. Havia muitos bruxos dirigindo-se contentes até a floresta, seguindo o caminho iluminado por lanternas. Por isso, Arthur orientou os filhos, Harry e Hermione a segurarem um na mão do outro para não correrem o risco de se perderem ou acontecer algo pior.

Pessoas cantavam, gritavam e gargalhavam, excitadas demais para se importarem se os trouxas iriam estranhar todo aquele barulho e a grande comoção.

Sollaria segurava a mão de Ginny e Harry, que vinha logo atrás. Ele não parava de sorrir, parecendo verdadeiramente maravilhado com tudo o que presenciava.

Caminharam pela floresta durante vinte minutos, conversando e brincando em voz alta até que finalmente emergiram do outro lado e se viram à sombra de um gigantesco estádio.

— Uau. — Ela ouviu Harry exclamar.

– Tem capacidade para cem mil pessoas – disse Arthur Weasley, vendo o ar de assombro no rosto do garoto. – Uma força-tarefa do Ministério, com quinhentas pessoas, trabalhou o ano inteiro. Há Feitiços Antitrouxas em cada centímetro. Todas as vezes que, neste ano, os trouxas se aproximavam da área, eles de repente se lembravam de compromissos urgentes e precisavam sair correndo... Deus os abençoe – acrescentou ele carinhosamente, se encaminhando para o portão mais próximo, que já estava cercado por um enxame de bruxos e bruxas aos gritos. — Imagino que Sirius e Remus já estejam nos esperando lá em cima.

Cedric e o senhor Diggory encontraram-nos esperando na fila e se uniram a eles. Ficaram um bom tempo de pé, conversando sobre tudo e qualquer coisa e cantando junto com os outros bruxos que puxavam trechos de canções sobre Quadribol.

Cedric cedeu o casaco dele para que Sollaria sentasse por cima, e então os dois, de pernas cruzadas no chão, começaram uma brincadeira sem finalidade alguma. A ideia geral era ficar encarando o outro sem piscar. Quem piscasse antes, perderia e teria de comprar um doce para quem ganhasse.

— Há! Eu ganhei dez vezes, e você, nove, então prepare as moedas, Ced — provocou Sollaria enquanto aceitava a ajuda do amigo para se levantar. Ela pegou o casaco com um feitiço simples de levitação, fez um feitiço de limpeza e estendeu-o para Cedric. — Obrigada pelo casaco. Foi muito gentil de sua parte.

Ele olhou de Sollaria para o casaco, e então de novo para ela, que balançou a peça diante dos olhos dele.

— C-Como você fez isso?

Ela deu de ombros.

— Faço desde sempre, mas eu pratico muito, é claro.

Ele ainda tinha um olhar de assombro no rosto.

— Uau, e eu pensando que não tinha como você me surpreender ainda mais, Potter. — Ele passou o braço pelo ombro dela e deu um tapinha amigável no braço da garota.

Quando chegou a vez deles de terem seus ingressos verificados, uma bruxa do Ministério ao portão exclamou:

– Lugares de primeira! Camarote de honra! Subam direto, Arthur, o mais alto possível.

Sollaria gemeu. Não aguentava mais ter que subir todas aquelas escadas. Pegou-se imaginando como seria possível para Astória chegar ao camarote. Será que havia alguma rampa? Ou o elfo doméstico dela aparatava com ela sempre que precisava?

— Vamos, Potter, pare de choramingar — provocou Cedric, vendo a garota parar um pouco para respirar.

Ela fez cara feia.

— Eu te falei que eu não tive muito tempo para treinar.

Cedric deu de ombros, um sorriso provocador no rosto.

— Eu dei um jeito. E eu duvido que vá ter Quadribol esse ano por conta do Torneio, então já estou pensando em alguns exercícios para eu manter a forma ao longo do ano.

Ela não havia parado para pensar naquela possibilidade — não ter Quadribol durante todo o ano?

Sollaria resmungou, derrotada:

— Pode me incluir nesse seu plano de exercícios.

Ele bagunçou o cabelo dela.

— Boa garota, Potter.

Ela deu um soco no estômago dele e ultrapassou-o, chegando ao topo daquele lance.

— Não seja tão metido, Diggory.

As escadas de acesso ao estádio estavam forradas com carpetes púrpura berrante. Eles subiram com o resto da multidão, que aos poucos foi se dispersando pelas portas à direita e à esquerda que levavam às arquibancadas. O grupo liderado pelo pai de Sollaria continuou subindo e finalmente chegou ao alto da escada, onde havia um grande camarote, armado no ponto mais alto do estádio e situado exatamente entre as duas balizas de ouro. Várias cadeiras douradas e púrpura tinham sido distribuídas em duas filas. Os Weasley ocuparam a primeira fileira à esquerda junto com Sirius e Remus, que cumprimentaram animadamente cada um deles.

— Remus! Sirius! — Sollaria deu um abraço em cada um. — Que bom vê-los novamente. Para quem estarão torcendo?

— Bulgária, é claro. Aquele rapaz é um gênio — respondeu Sirius, apontando para um broche que alternava as cores entre branco, verde e vermelho (as cores da bandeira da Bulgária) e exibia o rosto de Viktor Krum.

Sollaria dirigiu-se ao padrinho.

— E você, Remus? É um fã de Krum também?

Ele riu.

— Hum, acho que não. Estou torcendo pela Irlanda. A Bulgária pode ter um ótimo jogador, mas a Irlanda tem sete.

— É isso que eu estava tentando dizer a Draco! — Eles ouviram uma voz exclamar.

Astória Greengrass aproximou-se deles no corredor, tendo sua cadeira de rodas empurrada por seu elfo doméstico.

— Astória! — Ginny correu até a amiga, indo abraçá-la. O mesmo fez Sollaria, que estabelecera um vínculo amigável com a Greengrass desde o ano anterior.

Sollaria fez menção de voltar para o próprio lugar, afinal, havia deixado Cedric sozinho.

— Ei, Sol, você ficou linda com esse vestido! Quem quer que tenha te dado, tem muito bom gosto!

Rindo, a Potter voltou para o próprio lugar, entre Ginny e Cedric, e então notou o modo indagador como Sirius olhava para Remus — como se o fato de Ginny e Astória estarem interagindo entre si, fosse algo absurdo. Não de modo ruim, necessariamente, mas... chocante.

Ela se levantou, tocou o ombro de Cedric, como quem pede licença, e chamou pelo padrinho do irmão.

— Ei, Sirius. Aquela é Astória Greengrass, nossa amiga.

Ele o conduziu até onde Ginny e a filha dos Greengrass estavam conversando, em uma área mais ampla para que Astória pudesse transitar com sua cadeira de rodas.

Astória exibiu um sorriso educado e acenou para o mais velho, que retribuiu um pouco desconcertado. Sollaria imaginou que fosse um pouco estranho para ele presenciar uma pessoa da família Greengrass não sendo preconceituosa como as demais.

— Boa-noite, professor Lupin. — Ela conduziu a cadeira até o professor. — Como o senhor está? Espero que aproveitando para descansar e cuidar melhor de sua saúde. — Ela tossiu forte e então deu um sorriso sem-graça, como se pedisse desculpas. — O senhor sabe como essas coisas são, não é?

Remus encarava-a com educação e alegria por reencontrar uma aluna tão agradável quanto Astória, embora Sollaria soubesse que por trás daquilo tudo, ele estava sentindo pena da segundanista.

Ela então lançou um rápido olhar em direção à família Greengrass, imaginando de repente o que poderia o casal pensar daquela interação. Os pais de Astória tinham expressões que faziam parecer que tinham um mau-cheiro embaixo do nariz, ao passo que Daphne nem mesmo parecia ligar para o encontro entre Ginny e a irmã mais nova por estar ocupada demais conversando animadamente com Pansy Parkinson, sua melhor amiga.

Pela primeira vez, Sollaria observou melhor o camarote. Haviam vários bruxos de famílias muito importantes ali. Até mesmo Cornelius Fudge, o Ministro da Magia, estava presente. Ela notou que Sirius evitava terminantemente olhar para o lado dele do camarote.

Ao voltar para o lado de Cedric, observou que Blaise Zabini, Theodore Nott e Draco Malfoy conversavam baixinho do outro lado da primeira fileira de assentos. Malfoy parecia realmente aborrecido com o que quer que estivesse sendo discutido. Ele parecia ter sentido o olhar de Sollaria sobre ele, porque ergueu os olhos em sua direção, parecendo em dúvida se deveria dizer algo ou ficar em silêncio.

Ele lançou um olhar rápido na direção dos pais, que pareciam ocupados conversando com os Parkinson mais atrás.

Draco voltou a olhar para Sollaria, que revirou os olhos e fingiu prestar atenção à algazarra lá embaixo.

— Sollaria. — Draco se aproximou de onde ela estava sentada e colocou as mãos no encosto da cadeira vazia onde Ginny sentaria, bem ao lado de Sollaria. — Como você está?

— Espetacular — murmurou ela secamente.

Cedric fingiu não estar prestando atenção à conversa, puxando um livro de dentro da mochila do pai.

Draco focou o olhar no topo da cabeça de Diggory, erguendo as sobrancelhas e olhando dele para ela.

Ela revirou os olhos.

— Eu senti a sua falta... Achei que fôssemos nos encontrar mais cedo.

Ela se levantou para encará-lo, os braços cruzados diante do peito.

— Sentiu, é? Achei que estivesse muito ocupado escondendo detalhes importantes da sua vida de mim para isso.

Draco chiou, impaciente, e sinalizou para que ela rodeasse. Depois, puxou-a pela mão até um canto reservado.

— Roselyn Greenbriar? Sério? Até mesmo Theo veio falar comigo, e você nem mesmo se deu o trabalho de...

Ela parou de falar ao notar um sorriso divertido surgir nos lábios de Draco.

— O que foi agora?

Ele deu uma batidinha na ponta do nariz de Sollaria.

— Você está com ciúmes?

Sollaria colocou a mão sobre o peito, ofendida.

— Eu? Com ciúmes? Eu não sinto ciúmes.

Ele deu um cutucão na costela dela, fazendo com que ela se esquivasse.

— Eu adoraria se parasse com isso.

— Sollaria Potter é uma garota ciumenta.

Ela revirou os olhos.

— Por que você parece estar adorando isso, hein?

— Porque é engraçado ver você irritada por conta de algo bobo.

Sollaria soltou os braços.

— Não é bobo se meu melhor amigo começa a namorar e não me conta e ainda por cima passa reto por mim na sorveteria. E eu não gostaria de perder o meu posto para uma garota que nem sei se poderia fazer mal a você.

— Sollaria.

Ela o ignorou.

— E se ela não gostar de ouvir as suas histórias sobre mitologia? E se ela não se interessar pelo seu monólogo de trinta minutos sobre por que você quer ter vários filhos e nomear cada um com nomes de astros?

— Sollaria...

— E se ela proibir você de andar comigo por pensar que eu...

— Sollaria! — Draco pegou-a pelos ombros e chacoalhou-a. Ele olhou para ela com carinho, um sorrisinho surgindo no rosto. — Você é um pouco boba às vezes. Eu não estou namorando a Roselyn, e eu nunca, jamais a trocaria por ela.

— Não está namorando Roselyn? Mas eu os vi juntos hoje.

Ele deu de ombros.

— Foi um caso de verão. Tivemos uma festa na Mansão, ela e a família foram, e quando estávamos todos, digo, os adolescentes, reunidos em uma das salas de chá, Nate Grayson e Adrian Pucey insistiram para que eu a beijasse. Daphne praticamente me ameaçou, dizendo que Roselyn gostava de mim e eu iria ferir os sentimentos dela se a rejeitasse.

Ela ergueu as sobrancelhas, um pouco confusa.

— Isso não me parece muito legal de se fazer com um amigo.

Draco deixou escapar um grunhido e deu uma risada sarcástica.

— Eles não são meus amigos, Sollaria. Você às vezes se esquece de que, às vezes, é necessário ter... conexões. Mas não se preocupe, até o fim do sétimo ano, vou te criar para ser uma ótima sonserina. — Ele deu batidinhas no ombro da amiga.

— Dá para focar em Roselyn, por favor? — resmungou ela. — O jogo vai começar em breve.

Draco consultou o relógio no pulso.

— Relaxa. Faltam uns cinco minutos ainda. — Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos. — Roselyn é muito legal e bonita, demos muitas risadas juntos, mas eu não acho que eu senti muita conexão com ela. Eu gostava de estar com ela e dos beijos, mas não acho que evoluiríamos para nada além disso. E não sei se eu estava a fim, também.

Hum.

— E por que você simplesmente enrolou a coitada dessa forma? — Ela deu um leve empurrão em Draco. — Ela é um ser humano com sentimentos, Malfoy!

Mais uma vez, Draco deu uma risada regada de sarcasmo.

— Acho que era eu quem estava sendo enrolado. Não que eu estivesse achando muito ruim ou estivesse reclamando. Mas ela me confessou a verdade hoje. Os pais queriam mandá-la para Beauxbatons quando descobriram que ela estava "trocando cartas" com... — Ele olhou para os dois lados e abaixou a voz —...Pansy.

Sollaria arregalou os olhos.

— O QUÊ?

Todos imediatamente olharam para Sollaria, cujo rosto adquiriu um tom forte de vermelho.

— Shhh! — mandou Draco, fazendo sinal para que ela ficasse quieta. — Pois é. Então ela só precisava meio que "provar" para os pais que ela estava apaixonada por mim. E que eles haviam interpretado tudo errado.

Sollaria piscou várias vezes e, por fim, deu um tapa na cabeça de Draco.

— Ai! Por que fez isso?

— Não podia ter contado essas coisas em uma carta?

Ele fez cara feia, esfregando a parte de trás da cabeça.

— Não! E, além do mais, esse tipo de fofoca é sempre melhor contar pessoalmente. — E deu um soquinho no braço da melhor amiga, que riu.

Para a surpresa de Draco, Sollaria pulou em seu pescoço e passou os braços ao redor dele, abraçando-o apertado.

Ela inspirou o cheiro do perfume amadeirado do amigo — um de seus aromas preferidos —, e sussurrou:

— Eu senti tanto a sua falta, Draco...

Ele tinha as mãos em sua cintura, apertando-as levemente.

— Eu também senti a sua falta, Sollaria.

Eles se afastaram, os rostos a centímetros um do outro. Quando Draco ia dizer alguma coisa, um apito soou atrás deles, fazendo com que Sollaria se sobressaltasse e olhasse ao redor.

— Talvez você devesse ir. Acho que a partida vai começar.

Ela voltou para o assento e se sentou, bem ao lado de Ginny, sentindo as pernas estranhamente fracas. Seu coração batia forte no peito por alguma razão, mas ela nem se importava. Talvez fosse a adrenalina de poder presenciar a Final da Copa, ou talvez apenas o alívio de saber que tudo estava bem entre ela e o melhor amigo.

Sollaria deixou os pensamentos ruins irem embora, e permitiu que os bons permanecessem. Ela se inclinou sobre a barra de contenção, abrindo um largo sorriso ao observar o telão mágico que passava propagandas sem parar interromper a programação para expôr o rosto do locutor.

Ludo Bagman se preparava para discursar, o que significava que, enfim, a partida iria começar. Ele puxou a varinha, apontou-a para a própria garganta, disse "Sonorus!" e então, sobrepondo-se à zoeira que agora enchia o estádio lotado, falou, a voz ecoando por todas as arquibancadas:

"Senhoras e senhores... bem-vindos! Bem-vindos à final da quadricentésima vigésima segunda Copa Mundial de Quadribol!"

Os espectadores gritaram e bateram palmas.

Milhares de bandeiras agitaram-se, somando seus desafinados hinos nacionais à barulheira geral. O grande quadro-negro defronte apagou a última mensagem (Feijõezinhos de todos os sabores Berty Botts — um risco a cada dentada!) e passou a informar BULGÁRIA: ZERO, IRLANDA: ZERO.

"E agora, sem mais demora, vamos apresentar... os mascotes do time búlgaro!"

O lado direito das arquibancadas, que era uma massa compacta e vermelha, berrou manifestando sua aprovação.

— O que será que eles trouxeram? — indagou Sollaria para Cedric, curvando-se para a frente na cadeira.

— Ah-ha! — O pai de Sollaria de repente tirou os óculos e limpou-os depressa nas vestes. — Veelas!

Cem veelas deslizaram pelo campo; eram mulheres muito bonitas, na opinião de Sollaria, só que não eram — não podiam ser — humanas. Ninguém poderia naturalmente ser tão bonito daquele jeito.

Isso deixou Sollaria intrigada por alguns momentos, tentando adivinhar o que poderiam ser exatamente; que é que faria a pele delas refulgir como o luar ou os cabelos louro-prateados se abrirem em leque para trás sem haver vento... Uma música começou a tocar e Fred, George, Harry, Rony e Cedric começaram a se comportar de forma estranha; Harry tinha os olhos vidrados nas belas figuras que agora dançavam e tinha um pé atravessado pela tela que o separava de uma queda terrível. Ele parecia não se dar conta disso.

Cedric, ao lado de Sollaria, estava apoiado sobre a grade de contenção de uma forma muito estranha. A garota teve de conter a súbita vontade de dar um chute na bunda dele por estar agindo de forma ridícula.

Ela olhou para o outro lado, onde Blaise, Theo, Draco, as irmãs Greengrass e Pansy estavam assistindo ao espetáculo das veelas.

Theo conversava distraído com Daphne, enquanto Blaise e Pansy pareciam muito interessados na dança das belas figuras lá embaixo. Draco, por outro lado, olhava para os próprios pés e tampava os ouvidos. Ele pareceu, de alguma forma, sentir o olhar de Sollaria, porque encarou-a de volta e deu um sorriso.

Ela retribuiu, voltando a prestar atenção ao desfile, embora sentisse uma estranha sensação de ter sido pega fazendo alguma coisa. As bochechas arderam levemente, e ela tentou conter a vontade de sorrir para o nada.

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Ginny, que berrou com força ao seu lado:

— Harry, que é que você está fazendo?

Sollaria olhou imediatamente para o irmão, que parecia prestes a pular da borda do camarote.

A música parou.

Harry piscou os olhos.

Ao lado dele, Rony estava paralisado numa posição que dava a impressão de que ia saltar de um trampolim.

Fred e George estavam de pé, inclinados sobre a borda, então apenas se sentaram em seus lugares. Cedric pareceu despertar de sua hipnose e percebeu que estava em uma posição muito esquisita, uma cruza de uma gata no cio e um cachorro abanando o rabo.

Ele corou fortemente e voltou a se sentar ao lado de Sollaria, que tentava com todo o seu ser não rir na cara dele.

— Sem comentários — pediu ele, resmungando, sem nem mesmo olhar para ela.

Gritos indignados começaram a encher o estádio. A multidão não queria que as veelas se retirassem. Entrementes, Rony, distraidamente, despetalava os trevos do chapéu. Seu pai, sorrindo, curvou-se para o filho e tirou o chapéu das mãos dele, dizendo algo que Sollaria não pôde ouvir devido à distância.

Rony ainda olhava fixamente para as veelas, boquiaberto, enquanto elas se enfileiravam a um canto do campo.

Sollaria deu um muxoxo alto.

— Francamente! — exclamou ela.

"E agora", trovejou Ludo Bagman, "por favor levantem as varinhas bem alto... para receber os mascotes do time nacional da Irlanda!"

No instante seguinte, algo que lembrava um imenso cometa verde e ouro entrou velozmente no estádio. Deu uma volta completa, depois se subdividiu em dois cometas menores, que se projetaram em direção às balizas. De repente, um arco-íris atravessou o céu do campo unindo as duas esferas luminosas. A multidão fazia "aaaaah" e "ooooh", como se presenciasse um espetáculo de fogos de artifício.
Depois o arco-íris foi-se dissolvendo e as esferas se aproximaram e se fundiram; tinham formado um grande trevo refulgente, que subiu em direção ao céu e ficou pairando sobre as arquibancadas. Parecia estar deixando cair uma espécie de chuva dourada...

— Excelente! — berrou Rony, quando o trevo sobrevoou o camarote, fazendo chover pesadas moedas de ouro, que ricocheteavam nas cabeças e cadeiras.

Milhares de pessoas — mesmo aquelas que não usavam as cores da Irlanda — eram vistas pegando as moedas no chão, excitadas. Sollaria se perguntou se elas tinham a consciência de que aquelas moedas eram falsas e desapareceriam depois de um tempo.

Apertando os olhos para ver melhor o trevo, Sollaria percebeu que na realidade ele era composto de milhares de homenzinhos barbudos de colete vermelho, cada qual carregando uma minúscula luz ouro e verde.

— Leprechauns! — exclamou o senhor Weasley, fazendo-se ouvir em meio ao tumultuoso aplauso dos espectadores.

O maior dos trevos se dissolveu e os leprechauns, que são duendes irlandeses, foram descendo no lado do campo oposto ao das veelas, e se sentaram de pernas cruzadas para assistir à partida.

"E agora, senhoras e senhores, vamos dar as boas-vindas... ao time nacional de quadribol da Bulgária! Apresentando, por ordem de entrada... Dimitrov!"

Um vulto vermelho montado em uma vassoura, que voava tão veloz que parecia um borrão, disparou pelo campo, vindo de uma entrada lá embaixo, sob o aplauso frenético dos torcedores da Bulgária.

"Ivanova!"

Um segundo jogador de vermelho passou zunindo.

"Zograf! Levski! Vulchanov! Volkov! Eeeeeeeee... Krum!"

Ela procurou o olhar de Draco, que comemorava a entrada de Krum; ele era o jogador favorito do Malfoy.

— É ele, é ele! — berrou Rony, acompanhando Krum com o onióculo e recuperando a atenção de Sollaria, que também pegou seu onióculo para dar uma olhada.

Viktor Krum era magro, de cabelos castanhos e pele muito pálida, com um nariz levemente adunco e sobrancelhas negras bem marcadas. Era um jovem forte e muito bonito também, na opinião de Sollaria. Era difícil acreditar que tivesse apenas dezoito anos.

"E agora vamos saudar... o time nacional de Quadribol da Irlanda!", berrou Bagman. "Apresentando... Connolly! Ryan! Troy! Mullet! Moran! Quigley! Eeeeeee... Lynch!"

Sollaria berrou com toda a força e fôlego que pôde, pulando e aplaudindo junto a Fred e George, que também acreditavam que a Irlanda venceria.

Sete borrões entraram velozes no campo, e ela não precisou verificar pelos onióculos; sabia que todos estavam montados em Firebolts.

"E conosco, das terras distantes do Egito, o nosso juiz, o famoso bruxo presidente da Associação Internacional de Quadribol, Hassan Mostafa!"

Um bruxo miúdo e magro, completamente careca, mas com uma bigodeira espessa, entrou em campo trajando vestes de ouro puro para combinar com o estádio. Um apito de prata saía por baixo dos bigodes e ele sobraçava de um lado uma grande caixa de madeira e, do outro, sua vassoura.

Sollaria girou o botão de velocidade do seu onióculo para a posição normal, e observou com atenção Mostafa montar a vassoura e abrir a caixa com um pontapé — quatro bolas se projetaram no ar; a goles vermelha, os dois balaços pretos e (Sollaria o viu por um brevíssimo instante antes que ele desaparecesse de vista) o minúsculo pomo alado de ouro. Com um silvo forte e curto do apito, Mostafa saiu pelos ares acompanhando as bolas.

"COOOOOOOOOOOMEÇOU a partida!", berrou Bagman. "É Mullet! Troy! Moran! Dimitrov! De volta a Mullet! Troy! Levski! Moran!"

Sollaria apertava o onióculo com força contra os olhos; a velocidade dos jogadores era incrível — os artilheiros jogavam a bola de um para o outro tão depressa que Bagman só tinha tempo de identificá-los.

Formação de ataque de Hawkshead — leu ela enquanto assistia a três artilheiros irlandeses voarem juntos, Troy no meio, um pouco à frente de Mullet e Moran, e investirem contra os búlgaros.

Manobra de Ploy, leu ela em seguida, quando Troy fingiu que ia subir com a goles, atraindo a artilheira búlgara Ivanova, e deixou cair a bola para Moran. Um dos batedores búlgaros, Volkov, rebateu violentamente, com o seu pequeno bastão, um balaço que passava, derrubando-o no caminho de Moran; Moran abaixou-se para evitar o balaço e soltou a goles; e Levski, que voava mais abaixo, apanhou-a...

"GOL DE TROY!", berrou Bagman, e o estádio estremeceu com o rugido dos aplausos e vivas. "Dez a zero para a Irlanda?"

— Quê? — Ouviu Harry berrar, nervoso, observando o campo com o onióculo. — Mas Levski é que está com a goles!

— Harry, se você não observar em velocidade normal, vai perder todos os lances! — gritou Hermione, que dançava aos pulos agitando os braços no ar enquanto Troy dava uma volta no campo para comemorar o gol.

Sollaria espiou depressa por cima do onióculo e viu que os leprechauns, que assistiam ao jogo na extremidade do campo, tinham novamente levantado voo e formavam o grande trevo refulgente. Na outra extremidade, as veelas assistiram a essa exibição em silêncio.

Os artilheiros irlandeses eram simplesmente fantásticos. Deslocavam-se em harmonia, parecendo ler o que ia nas mentes uns dos outros, pela maneira com que se posicionavam, e a roseta no peito de Sollaria não parava de guinchar o nome deles: "Troy - Mullet - Moran!". Em dez minutos a Irlanda marcou mais duas vezes, elevando sua vantagem para trinta a zero e provocando uma onda de gritos e aplausos dos torcedores de verde — entre eles, Sollaria.

A garota ruiva se curvou sobre a borda e fez um sinal para Draco, exibindo a vantagem que o time para o qual ela estava torcendo tinha em comparação ao dele. O Malfoy apenas revirou os olhos para ela e sorriu de lado.

A partida tornou-se ainda mais rápida, porém mais brutal. Volkov e Vulchanov, os batedores búlgaros, atiravam os balaços com bastonadas fortíssimas nos artilheiros irlandeses e estavam começando a impedi-los de executar alguns dos seus melhores movimentos; duas vezes eles foram obrigados a dispersar e então, finalmente, Ivanova conseguiu passar por eles, driblar o goleiro Ryan, e marcar o primeiro gol da Bulgária.

— Dedos nos ouvidos! — berrou Amos Diggory ao lado do filho, quando as veelas começaram a dançar comemorando o lance.

Sollaria apertou os olhos também; queria manter a atenção no jogo. Passados alguns segundos, arriscou uma espiada no campo. As veelas haviam parado de dançar e a Bulgária recuperara a posse da goles.

"Dimitrov! Levski! Dimitrov! Ivanova... ah, essa não!", berrou Bagman.

Cem mil bruxos e bruxas prenderam a respiração quando os dois apanhadores, Krum e Lynch, mergulharam no meio dos artilheiros, tão velozes que pareciam ter pulado sem paraquedas de um avião. Sollaria acompanhou a descida deles com o onióculo, apurando a vista para procurar o pomo...

— Eles vão colidir! — berrou Hermione ao lado de Harry.

Hermione estava parcialmente certa — no último segundo, Viktor Krum se recuperou do mergulho e se afastou em círculos. Lynch, no entanto, bateu no chão com um baque surdo que pôde ser ouvido em todo o estádio. Um enorme gemido subiu dos lugares ocupados pelos irlandeses.

— Idiota! — lamentou Ginny. — Era uma finta de Krum!

"Tempo!", berrou Bagman. "Os medibruxos vão entrar em campo para examinar Aidan Lynch!"

— Ele está bem, só levou um encontrão! — disse Ginny tranquilizando Hermione, que estava pendurada por cima da lateral do camarote, horrorizada. — E isso era o que Krum pretendera, é óbvio...

Lynch levantou-se finalmente, sob ruidosos vivas dos torcedores de verde, montou a Firebolt e deu impulso para o alto. Sua reanimação parecia ter dado à Irlanda novas esperanças. Quando Mostafa tornou a soar o apito, os artilheiros entraram em ação com uma destreza que não se comparava a nada que Sollaria tivesse visto até então.

Decorridos quinze minutos de velocidade e fúria, a Irlanda acumulara uma vantagem de mais dez gols. Agora liderava por cento e trinta pontos a dez e a partida estava começando a ficar mais desleal.

Quando Mullet disparou em direção às balizas mais uma vez, segurando firmemente a goles embaixo do braço, o goleiro búlgaro, Zograf, correu ao encontro da jogadora. O que aconteceu foi tão rápido que Sollaria não percebeu, mas subiu um grito de raiva da torcida irlandesa, e o silvo longo e agudo do apito de Mostafa informou que alguém cometera uma falta.

"E Mostafa repreende o goleiro búlgaro pelo jogo bruto... usou os cotovelos!", informa Bagman aos espectadores que berram. "E... confirmando, é pênalti a favor da Irlanda."

Os leprechauns, que haviam levantado voo, furiosos, como um enxame de marimbondos reluzentes, quando Mullet fora atingida, agora corriam a se juntar formando as palavras "HA! HA! HA!". As veelas, do lado oposto do campo, levantaram-se de um salto, sacudiram os cabelos com raiva e recomeçaram a dançar.

A partida agora atingira um nível de ferocidade que ultrapassava tudo que os garotos já tinham visto. Os batedores dos dois lados jogavam sem piedade: principalmente Volkov e Vulchanov, que pareciam nem ligar se os seus bastões estavam fazendo contato com balaços ou com gente, quando os giravam violentamente no ar. Dimitrov disparou um balaço em cima de Moran, que segurava a goles, e quase a derrubou da vassoura.

— Falta! — urraram os torcedores irlandeses em uníssono, todos de pé como uma enorme onda verde.

"Falta!", ecoou a voz de Ludo Bagman, magicamente ampliada. "Dimitrov esfola Moran... o jogador saiu com intenção de dar um encontrão... e tem que ser outro pênalti... e aí vem o apito!"

Sollaria observou o irmão gêmeo, divertindo-se com o fato de que Harry se virava para cá e para lá, espiando pelo onióculo, pois a goles trocava de mãos com a velocidade de uma bala...

"Levski - Dimitrov - Moran - Troy - Mullet - Ivanova - Moran de novo - Moran — É GOL DE MORAN!"

Mas a gritaria da torcida irlandesa mal conseguia abafar os gritos agudos das veelas, os estampidos que agora vinham das varinhas dos funcionários do Ministério e os berros furiosos dos búlgaros. A partida recomeçou imediatamente; agora Levski estava com a posse da goles, agora Dimitrov...

O batedor irlandês Quigley levantou com violência o bastão contra um balaço que passava e arremessou-o com toda a força contra Krum, que não se abaixou com suficiente rapidez. O balaço atingiu-o em cheio no rosto.

Ouviu-se um lamento ensurdecedor da multidão; o nariz de Krum parecia quebrado, saía sangue para todo lado, mas Hassan Mostafa não apitou. Distraíra-se e Sollaria não podia culpá-lo; uma das veelas atirara uma mão cheia de fogo e incendiara a cauda da vassoura do juiz.

Sollaria queria que alguém percebesse que Krum estava ferido; embora estivesse torcendo pela Irlanda, Krum era um dos jogadores mais fascinantes em campo. Harry e Hermione, que berravam horrorizados com o ocorrido, obviamente sentiam o mesmo.

— Tempo! Ah, anda, ele não pode jogar assim, olha só para ele...

— Olha o Lynch! — berrou Harry para a irmã gêmea.

O apanhador irlandês repentinamente mergulhara e Sollaria teve certeza de que aquilo não era uma Finta de Wronski; era para valer...

— Ele viu o pomo! — berrou Harry. — Ele viu! Olha lá ele correndo!

Metade da multidão parecia ter compreendido o que estava acontecendo, a torcida irlandesa levantou-se como uma grande onda verde, animando o apanhador... mas Krum voava na esteira dele. Como conseguia enxergar aonde ia, Sollaria não fazia ideia; gotas de sangue voavam pelo ar à sua passagem, mas ele emparelhava com Lynch agora e os dois disparavam em direção ao chão...

— Eles vão bater! — esganiçou-se Hermione.

— Não vão! — berrou Ginny, animada.

— O Lynch vai! — gritou Sollaria, apontando para o jogador.

E tinha razão — pela segunda vez, Lynch bateu no chão com um tremendo impacto e foi imediatamente pisoteado por uma horda de veelas raivosas.

— O pomo, onde é que está o pomo? — berrou Sirius, mais adiante na fila.

— Ele pegou, Krum pegou, terminou o jogo! — gritou Harry.

Krum, as vestes vermelhas tintas com o sangue que escorrera do seu nariz, tornava a levantar voo suavemente, o punho erguido lá no alto, um brilho de ouro na mão.

O placar piscou por cima da multidão BULGÁRIA: CENTO E SESSENTA; IRLANDA: CENTO E SETENTA, mas os torcedores não pareciam ter percebido o que acontecera. Então, lentamente, como se um grande jumbo começasse a aquecer as turbinas, o rugido da torcida da Irlanda foi se avolumando e explodiu em urros de alegria.

"VENCE A IRLANDA!", gritou Bagman, que, como os irlandeses, parecia estar espantado com o inesperado desfecho da partida. "KRUM CAPTURA O POMO... MAS VENCE A IRLANDA... Deus do céu, acho que nenhum de nós esperava uma coisa dessas!"

Sollaria não cabia em si de alegria; berrava e pulava de um lado para o outro, apoiando-se nos ombros de Cedric. Foi até Fred e George e abraçaram os dois.

Naquele momento, as Seleções já estavam indo até o camarote de honra, onde a Irlanda receberia a Taça de Quadribol diretamente das mãos do Ministro da Magia. Os holofotes já estavam centrados ali, enquanto Ludo Bagman falava com a multidão, mas Sollaria não dava atenção às suas palavras.

— Há! Nós acertamos! A Irlanda venceu! Preciso ir jogar na cara do Draco, com licença... — E afastou-se em direção ao garoto loiro, que estava parado ao lado dos outros amigos como se a algazarra ao seu redor não estivesse acontecendo.

Quando Sollaria se aproximou de Draco, saltitando de emoção, nem mesmo ligou para o fato de que poderia estar envergonhando-o publicamente; esqueceu-se por completo de que deveria tentar se conter ao máximo diante de todos aqueles bruxos importantes.

— Eu sabia, eu sabia! — Ela deu socos no ar. — A Irlanda foi demais, até você tem que admitir, vai?

Draco, que tinha os braços cruzados, encarou Sollaria, cujos olhos brilhavam, e deu um sorriso mínimo.

— Pelo menos, Viktor Krum conseguiu salvar o time da Bulgária de uma derrota vergonhosa e indigna no fim. — Ele chutou o ar, parecendo um pouco distraído.

Blaise e Theo, que antes estavam conversando entre si, voltaram-se para Sollaria e Draco.

— E aí, Sollaria! Ótima partida, não achou? — Blaise ergueu a mão, esperando que ela retribuísse o high-five.

Theo fechou a cara.

— Eu não devia ter apostado com você — resmungou o garoto, apertando os olhos com irritação. — Se apenas eu pudesse ver o futuro...

Blaise deu um sorriso satisfeito.

- Bom, Pansy também concorda comigo de que foi um bom jogo, não é, Pansy?

Entediado com o rumo da conversa, Draco puxou Sollaria para um canto. Confusa, ela esperou que ele dissesse alguma coisa, mas Malfoy apenas abriu a boca e não disse mais nada.

— Então, como foram as férias?

Ela piscou, surpresa pela pergunta aleatória.

— É... Hum... Foram ok, eu acho. Pude passar um pouco de tempo com a família, agora estamos aqui... É, acho que estão sendo boas. E as suas?

Ele arrastou os pés e coçou a ponta do nariz, desviando o olhar.

— É... Foram legais também. Você sabe... Com Roselyn e tudo mais. — Ele parou de falar e, por um milésimo de segundo, seus olhos fixaram-se no decote de Sollaria antes de se desviarem para um ponto atrás da cabeça dela, onde Cedric e Harry conversavam. Apesar da velocidade com que tudo aconteceu, Sollaria pegou-o no flagra, e talvez Draco tivesse percebido que fora descoberto, pois as bochechas dele haviam adquirido um tom rosado.

Para que não ficasse sem-graça, Sollaria apenas deixou aquilo passar, embora o silêncio que se instaurara entre os dois fosse terrivelmente desconfortável.

Draco coçou o nariz mais uma vez.

— Hum... Era só isso que você queria me dizer? — inquiriu ela, dividindo o cabelo em dois e colocando-o sobre os ombros, desejando de repente que pudesse estar usando algo por cima do vestido.

— É, hum... Na verdade... — Ela o encarou com expectativa. O que ele poderia querer lhe dizer?

Sollaria começou a brincar com o anel que usava, levemente ansiosa.

— Draco? — Narcissa Malfoy apareceu ao lado do filho, quase como se tivesse sido convocada. — Querido, nós estávamos esperando por você. Vamos?

E então ela reparou na presença de Sollaria e sorriu, exibindo os dentes brancos e perfeitos, tais como os do filho.

Ela apertou o ombro do filho, abraçando-o de lado.

— Ah, então você deve ser a famosa Sollaria Potter! Draco me falou muito bem de você, querida. Você é ainda mais adorável do que nas fotos. — Narcissa se aproximou de Sollaria e deu-lhe um abraço que lhe pareceu muito maternal. Quando a soltou, tocou o queixo da garota e sorriu. — E muito mais bonita do que como meu filho a descreveu.

Draco arregalou os olhos em um aviso silencioso e deu um sorriso amarelo para a mãe, rangendo os dentes.

Mamãe!

Sollaria riu baixinho, um pouco nervosa.

Draco falara dela para a mãe? Mostrara fotos?

Ele a descrevera como bonita?

— Obrigada. É um prazer enfim conhecê-la, senhora Malfoy.

— Digo o mesmo, querida. — Ela tocou o ombro de Draco e dirigiu-se a ele. — Despeça-se de Sollaria, filho. Seu pai deseja repousar.

E saiu, a bela túnica azul-marinho esvoaçante que usava arrastando levemente uma cauda pelo chão.

Draco e Sollaria se encararam por um breve segundo antes de ela inclinar a cabeça e dizer, os olhos faiscando:

— Aquela barraca com pavões albinos na frente é sua, não é?

Ele riu e passou a mão pelos cabelos, parecendo um pouco envergonhado.

— Como adivinhou?

Sollaria gargalhou, e então amarrou a cara para ele, tentando conter o riso.

— Pavões? Sério?

Draco deu de ombros.

— Eles são bonitinhos, vai?

Risonha, ela brincou com os nós dos dedos dele.

— Acho que são mesmo. — Ela olhou para trás, e então percebeu que todos os irmãos estavam olhando para os dois. Sentindo o sangue ferver de vergonha, forçou uma expressão calma, respirou fundo e disse: — Talvez devêssemos nos despedir. Seu pai deve estar cansado.

A expressão de Draco mudou; se antes estava alegre, agora parecia um pouco abatido e distante.

— É... Ele deve estar mesmo — murmurou, desviando o olhar.

Quando Sollaria voltou para perto do grupo, seu pai estava dando uma pequena bronca em Fred e George por terem apostado com Bagman. Não interessada em prestar atenção àquilo, ela se voltou à conversa entre Cedric e Hermione sobre os N.O.Ms do rapaz.

—...é, e eu passei em todas as matérias com um O! Achei que seria bem mais difícil, para falar a verdade. A dica que eu dou para você é, além de, é claro, estudar bastante, tenha uma boa noite de sono e respire fundo. Tente não entrar em pânico na hora de fazer os exames, e... Ah, oi, Potter.

Sollaria passou o braço direito ao redor dos ombros da amiga e lançou-lhe um olhar divertido.

— Relaxa, Mione. Nem começamos o quarto ano ainda! Teremos um bom tempo para nos prepararmos. E você é, sem esforço, a garota mais inteligente do nosso ano. — Ela se virou para Cedric. — Ela não está te bombardeando com perguntas detalhadas sobre o exame a essa hora, está?

O lufano deu uma risada e fez um gesto despreocupado com a mão.

— Ah, não, isso não é um problema. Eu sou monitor dos alunos mais novos da Lufa-Lufa, tirar as dúvidas dela não é um problema.

Hermione ergueu as sobrancelhas.

— Como você conseguiu estudar para os N.O.Ms e ser monitor dos mais novos ao mesmo tempo?

Sollaria deu batidinhas no ombro da amiga.

— E não se esqueça de que ele é o Capitão do Time da Lufa-Lufa.

Cedric corou, modesto.

— Bem, ensinar os mais novos era como uma revisão para mim. Então ajudá-los estava me ajudando também. A professora Sprout havia pedido para mim e para mais três outros alunos do quarto ano à época para dar algumas aulinhas de reforço para os mais novos. Eu fui o único que continuou ajudando-os esse ano. — Ele fez uma pausa. — Bem, eu e a Silver Queens.

Hermione deixou escapar uma risadinha.

Os outros dois olharam para ela, sem entender.

Corando, ela murmurou:

— Desculpem, é que o nome dela é bem diferente.

E apenas para não colocar Hermione em uma posição sem-graça, Sollaria perguntou:

— Quem eram os outros dois alunos?

Cedric coçou o queixo, talvez para tentar disfarçar a rigidez repentina de sua mandíbula.

— Rhys Bennett e Olívia Hunter.

Sollaria não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas. Às vezes, ela se esquecia de que Hogwarts era uma Escola gigante com mais de mil alunos.

Era impossível conhecer todas as pessoas. Mesmo estando na Sonserina, Sollaria não fazia ideia de quem eram todas aquelas pessoas que lotavam a Sala Comunal todos os dias.

Quando era apenas uma primeiranista, tinha a impressão de que as turmas dos três primeiros anos tinham bem menos alunos do que os outros, ainda que os alunos nascidos-trouxas fizessem com que os números de estudantes não diminuíssem drasticamente.

Ela supunha que essa redução de alunos naqueles anos em específico se dava em virtude da ascensão de Voldemort, e a superlotação que observara já no ano anterior, em razão do desaparecimento de Voldemort depois de mil novecentos e noventa e um. Com uma maior sensação de segurança, casais bruxos se permitiam constituir uma família, às vezes pequena, às vezes tão numerosa quanto a dela própria.

Ela encarou Cedric. Se ele não fosse muito popular ou não fosse Capitão, talvez passasse despercebido por Sollaria por todos aqueles anos.

— Em quê está pensando? — indagou o rapaz.

Ela balançou a cabeça.

— Imaginando que, se eu não tivesse aulas com Hermione ou não a tivesse visto no trem, e se você não fosse Capitão, eu talvez não conheceria nenhum de vocês. Afinal, Hogwarts é gigante. Não faço a mínima ideia de quem são esses três outros alunos de quem você falou. Deve ter uns cem alunos por ano dependendo da quantidade de bruxos que nasce.

Cedric revirou os olhos, dando uma cotovelada leve em Sollaria.

— Você pensa cada coisa, Potter. Você é engraçada.

O pai de Cedric apareceu ao lado deles e colocou a mão sobre o ombro do filho.

— Nós temos que ir, Ced. O senhor Crouch quer ter una reunião comigo em quarenta minutos. Se queremos chegar à tempo, precisamos sair agora.

Após as despedidas, Sollaria e Hermione observaram os dois enquanto desciam as escadas. Não muito tempo depois, os Weasley, Hermione e Harry refizeram o caminho de volta para o acampamento, sendo engolfados pela multidão que saía do estádio.

As pessoas ainda cantavam e dançavam e riam e conversavam quando o grupo dos Weasley chegou às barracas.

Ninguém estava com vontade de dormir e, dado o nível da barulheira ao redor, o pai de Sollaria concordou que podiam tomar, juntos, uma última xícara de chá antes de todos se deitarem. Logo estavam discutindo prazerosamente a partida; o senhor Weasley se deixou envolver por Charlie em uma polêmica sobre jogo bruto, e somente quando Ginny caiu no sono em cima da mesinha e derramou chá pelo chão que o pai deu um basta nas retrospectivas verbais e insistiu que todos fossem se deitar. Hermione, Sollaria e Ginny se transferiram para a barraca vizinha, onde decidiram que, ainda que tivessem cinco quartos para escolher, dormiriam juntas em um só.

Depois de colocar o pijama e pegar um copo de água na cozinha, Sollaria se jogou na cama que estava dividindo com Ginny e virou-se para o lado, observando a irmã postiça que já se encontrava dormindo.

— Boa noite, Mione — sussurrou Sollaria para a amiga, que havia acabado de sair do banheiro.

Enrolando o longo cabelo em um coque, Hermione se enfiou debaixo do cobertor.

Apenas então Sollaria apagou a luz da varinha e colocou-a sobre a mesa de cabeceira. Seu corpo estava exausto, mas sua mente se forçava a reviver aquele dia — estava inquieta.

Aparentemente, sua mente não era a única coisa inquieta, pensou ela, ouvindo a cantoria sem fim que vinha do outro lado do acampamento. Uma batida ecoava estranhamente ao fundo, mas provavelmente era só o pessoal da Irlanda comemorando... Ou era sua mente já se desligando do mundo real e permitindo que ela mergulhasse no mundo dos sonhos.

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