Capítulo Treze: A Conversa no Três Vassouras


NOTAS DA AUTORA

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Sua última aula com o professor Dumbledore antes do feriado de Natal não fora muito animadora. Assim como o professor Snape, o diretor pensava que ela estava atrasada em seu rendimento, então a fizera ficar até depois do toque de recolher sendo submetida à Maldição Imperius, até que ela resistisse completamente às ordens dele.

Ele dissera que poderiam aperfeiçoar aquilo uma última vez depois do feriado de Natal e Ano Novo antes de seguirem para o Feitiço do Patrono.

Bem... Aquele feitiço ela estava ansiosa para aprender. Além de muito útil, ela gostaria de saber que forma tomaria seu protetor.

Uma corça, como o patrono de sua mãe? Um cervo, como o de seu pai? Ou um animal completamente diferente?

Dumbledore fora quem lhe revelara os patronos de seus pais. Um completava o outro. O cervo e a corça...

Ela se pegou pensando se, talvez, o futuro pai de seus filhos teria um patrono que combinasse com o dela.

Ora, aquela dúvida só poderia ser respondida dali a muitos anos; Sollaria podia ser paciente.

Na mesma semana em que o trimestre chegou ao fim, o céu clareou de repente até atingir um branco leitoso e ofuscante, e os terrenos enlameados da escola amanheceram, certo dia, cobertos de cintilante geada. No interior do castelo, havia um rebuliço de Natal no ar. Flitwick, o professor de Feitiços, já enfeitara sua sala de aula com luzes pisca-piscas que, quando foram ver, eram fadinhas voadoras de verdade. Os alunos estavam satisfeitos discutindo planos para as férias de Natal.

Porque Harry ficaria sozinho em Hogwarts e Rony e Hermione decidiram ficar com ele na Escola, Sollaria optou por também ficar. Ginny e os outros Weasley voltariam para casa (a mais nova estava se sentindo culpada por ir embora e deixá-la sozinha, mas Sollaria garantiu que estava tudo bem), assim como Draco Malfoy e todos os outros sonserinos de seu ano.

Para alegria de todos, exceto Harry, houve mais uma visita a Hogsmeade no último fim de semana do trimestre.

- Podemos fazer todas as nossas compras de Natal lá! - exclamou Hermione para Sollaria quando as duas saíram do banheiro no intervalo. - Mamãe e papai iriam adorar receber fios dentais de menta da Dedosdemel!

Resignado com a ideia de que seria o único aluno do terceiro ano a não ir, Harry pediu emprestado a Oliver Wood um livro sobre vassouras e ficou enfurnado no dormitório dos meninos por um bom tempo depois do aviso de que teriam mais aquela visita antes do feriado.

Na manhã de sábado em que os colegas iriam a Hogsmeade, o garoto se despediu da irmã gêmea e dos dois amigos perto da Torre do Relógio e ficou observando os demais se afastarem em direção ao vilarejo até perdê-los de vista.

Sollaria, Rony e Hermione haviam decidido ir à Honeydukes para se abastecerem de doces antes de irem ao Três Vassouras tomar cerveja amanteigada. De lá, ela iria atrás de Draco e passaria o resto do passeio com ele e os amigos dele.

A loja de doces estava lotada de alunos fazendo compras de Natal. Sollaria já havia comprado docinhos para Astória, Hermione, Harry, Draco e Ginny, e estavam decidindo se deveriam levar um vidro de cachos de barata para Harry quando, de repente, algo muito absurdo aconteceu.

Harry apareceu atrás deles, tirando a Capa da Invisibilidade.

Rony quase deixara cair o vidro de doces que segurava.

- Harry! - berrou Hermione. - Que é que você está fazendo aqui? Como... Como foi que você...?

- Uau! - exclamou Rony, parecendo muito impressionado -, você aprendeu a aparatar!

- Claro que não aprendi. - Harry baixou a voz de modo que nenhum dos alunos ao redor pudesse ouvir e contou aos amigos como havia conseguido chegar lá.

Aparentemente, Fred e George haviam surrupiado de uma das gavetas de Filch um artefato mágico secreto que mostrava todas as passagens e cômodos de Hogwarts, assim como as pessoas que perambulavam pelo Castelo. E o nome não poderia ser outro, senão...

- Mapa do Maroto? - zombou Hermione. - Que nome tosco.

- Quem liga para o nome? - Rony interrompeu-a, indignado. - Como é que Fred e George nunca me deram esse mapa? Eu sou irmão deles!

- Porque o Mapa era deles até então, oras - resmungou Sollaria, um pouco ofendida também.

Não que quisesse realmente fazer gracinhas, mas saber quem estava aonde e de quem se esquivar enquanto perambulava por Hogwarts era realmente muito útil para ela. Suas noites na Torre de Astronomia e no retorno das aulas secretas seriam muito melhores com aquele Mapa. Mas ela não poderia culpar Fred e George; eles não sabiam de nada e, mesmo se soubessem, ela imaginava que eles não compreenderiam sua situação.

- Mas Harry não vai ficar com o Mapa! - afirmou Hermione como se a ideia fosse ridícula. - Vai entregá-lo à professora Minerva, não é Harry?

- Não, não vou não! - disse Harry.

- Você ta brincando, só pode! - exclamou Sollaria, arregalando os olhos para a garota. - Entregar uma coisa boa dessas? Imagine a utilidade dessa coisa!

- Se eu entregar, vou ter que contar onde foi que o arranjei. Filch ia saber que Fred e George surrupiaram dele!

- Mas e o Sirius Black? - sibilou Hermione. - Ele poderia estar usando uma das passagens do Mapa para entrar no castelo! Os professores têm que saber disso!

Sollaria sentiu como se alguém a tivesse murchado como uma bola; Hermione tinha um ponto.

- Ele não pode estar entrando por uma passagem - retrucou Harry depressa. - Tem sete túneis secretos no mapa, certo? Fred e George calculam que Filch conheça uns quatro. E os outros três... um desabou, de modo que ninguém pode passar. Outro tem o Salgueiro Lutador plantado na entrada, portanto, não se pode sair. E este que eu usei para chegar aqui... bem... é realmente difícil ver a entrada dele no porão. Então, a não ser que Black soubesse que havia uma passagem...

Harry hesitou, e Sollaria pensou que talvez ele estivesse considerando o mesmo que ela: e se Black soubesse que havia uma passagem ali?

Rony, porém, pigarreou querendo sinalizar alguma coisa e apontou para um aviso colado dentro da loja de doces.

POR ORDEM DO MINISTÉRIO DA MAGIA

Lembramos aos nossos clientes que até nova ordem, os dementadores irão patrulhar as ruas de Hogsmeade todas as noites após o pôr do sol. A medida visa garantir a segurança dos habitantes de Hogsmeade e será revogada quando Sirius Black for recapturado. É, portanto, aconselhável que os clientes encerrem suas compras bem antes de anoitecer.

Feliz Natal!

- Estão vendo só? - falou Rony em voz baixa. - Eu gostaria de ver Black tentar entrar na Honeydukes com dementadores pululando por todo o povoado. Em todo o caso, Hermione, os donos da loja ouviriam se alguém arrombasse a loja, não? Eles moram no primeiro andar!

- Tá, mas... mas... - A garota parecia estar fazendo força para encontrar outro argumento. - Olha, ainda assim Harry não devia ter vindo a Hogsmeade. Ele não tem autorização! Se alguém descobrir, ele vai ficar enrascado até as orelhas! E ainda não anoiteceu... e se Sirius Black aparecer hoje? Agora?

- Ia ter muito trabalho para encontrar Harry no meio disso aí - disse Rony indicando com a cabeça as janelas de caixilhos, pelas quais se via a nevasca rodopiando lá fora.

- Vamos, Mione, é Natal. Harry merece uma folga. - Sollaria passou o braço pelo ombro da amiga.

Hermione mordeu o lábio, parecendo extremamente preocupada.

- Você vai me denunciar? - perguntou Harry à amiga, sorrindo.

- Ah... claro que não... mas sinceramente, Harry...

- Viu as delícias gasosas, Harry? - perguntou Rony, puxando Harry e levando-o até a barrica em que se encontravam. - E as lesmas gelatinosas? E os picolés ácidos? Fred me deu um desses quando eu tinha sete anos, fez um furo que atravessou a minha língua. Me lembro da mamãe pegando a vassoura e baixando o pau nele. - Rony ficou mirando, pensativo, a caixa de picolés ácidos. - Você acha que Fred comeria um cacho de baratas se eu dissesse a ele que era amendoim?

Depois que Sollaria, Rony e Hermione pagaram por todos os doces que compraram, os quatro saíram da Honeydukes para enfrentar a nevasca lá fora.

Hogsmeade parecia um cartão de Natal; as casas e lojas de telhado de colmo estavam cobertas por uma camada de neve fresca; havia coroas de azevinho nas portas e fieiras de luzes encantadas penduradas nas árvores.

Harry estremeceu; ao contrário dos outros três, ele não estava usando casaco. Sollaria, que estava ao lado, cedeu a ele seu cachecol verde e prata, a fim de tentar mitigar a sensação congelante que acometia o irmão.

Com a cara fechada, Harry murmurou:

- Eu tenho certeza de que você deve estar adorando passar frio apenas para me ver usando um cachecol da Sonserina, não é?

Eles saíram caminhando pela rua, a cabeça abaixada contra o vento, Rony e Hermione gritando por dentro dos cachecóis.

- Ali é o Correio...

- A Zonko's fica mais adiante.

- Podíamos ir até a Casa dos Gritos...

- Vamos fazer o seguinte - sugeriu Sollaria com os dentes batendo, falando pela primeira vez desde que cedera o cachecol para o irmão -, vamos tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras?

A sala estava cheíssima, barulhenta, quente e enfumaçada. Uma mulher tipo violão, com um rosto bonito, estava servindo um grupo de bruxos desordeiros no bar.

- Aquela é a Madame Rosmerta - disse Rony. - Vou pegar as bebidas, está bem? - acrescentou, corando ligeiramente. - Mione, você me ajuda?

Harry e Sollaria foram até o fundo do salão, onde havia uma mesinha desocupada entre uma janela e uma bela árvore de Natal próxima à lareira. Rony e Hermione voltaram em menos de cinco minutos, trazendo quatro canecas espumantes de cerveja amanteigada.

- Feliz Natal! - desejou Rony alegremente, erguendo a caneca.

Depois de brindarem, Sollaria bebeu com gosto, o líquido aquecendo agradavelmente sua garganta e cada parte de seu corpo, de dentro para fora.

Uma brisa repentina mexeu seus cabelos acobreados. A porta do Três Vassouras tornou a se abrir.

Harry olhou por cima da borda da caneca e se engasgou. Sollaria se inclinou para ver quem havia entrado.

Os professores McGonagall e Flitwick tinham acabado de entrar no bar em meio a uma rajada de flocos de neve, seguidos de perto por Hagrid, que vinha absorto em uma conversa com um homem corpulento de chapéu-coco verde-limão e uma capa de risca de giz - Cornelius Fudge, o Ministro da Magia.

Numa fração de segundo, Rony e Hermione, ao mesmo tempo, tinham posto as mãos na cabeça de Harry e feito o amigo escorregar do banquinho para baixo da mesa. Pingando cerveja amanteigada e se encolhendo para sumir de vista, Harry, agarrado à caneca, espiou os pés dos professores e de Fudge caminharem até o bar, pararem e, em seguida, darem meia-volta e se dirigirem para onde eles estavam.

Hermione, que sempre pensava rápido, sussurrou:

- Mobiliarbus!

A árvore de Natal ao lado da mesa se ergueu alguns centímetros do chão, flutuou de lado e desceu com um baque suave bem diante da mesa dos garotos, escondendo-os dos professores.

Madame Rosmerta se aproximou da mesa com uma bandeja em mãos.

- Uma água de gilly pequena...

- É minha - disse a voz da professora Minerva.

- A jarra de quentão...

- Obrigado - disse Hagrid.

- Soda com xarope de cereja, gelo e guarda-sol...

- Hummm! - exclamou o professor Flitwick estalando os lábios. - Para o senhor é o rum de groselha, ministro.

- Obrigado, Rosmerta, querida - disse a voz de Fudge. - É um prazer revê-la, devo dizer. Não quer nos acompanhar? Venha se sentar conosco...

- Bem, muito obrigada, ministro.

Os três garotos que estavam sentados à mesa escondida trocaram um olhar aflito. Quanto tempo será que eles planejavam ficar ali?

Como Harry poderia ter deixado aquilo - o fato de que aquele era o último feriado do ano para os professores também - passar?

Sollaria sentiu uma vontade avassaladora de dar um chute no irmão por debaixo da mesa, mas se conteve.

- Então, o que é que o traz a esse fim de mundo, ministro? - perguntou Madame Rosmerta.

Fudge virou para os dois lados, como se para verificar se alguém estava ouvindo. Depois, respondeu em voz baixa:

- Quem mais se não Sirius Black? Imagino que você deve ter sabido o que houve em Hogwarts no Dia das Bruxas?

- Para falar a verdade, ouvi um boato - admitiu Madame Rosmerta.

- Você contou ao bar inteiro, Hagrid? - perguntou a professora Minerva, exasperada.

- O senhor acha que Black continua por aqui, ministro? - perguntou Madame Rosmerta.

- Tenho certeza - respondeu Fudge laconicamente.

- O senhor sabe que os dementadores já revistaram o meu bar duas vezes? - falou Madame Rosmerta, com uma ligeira irritação na voz. - Espantaram todos os meus fregueses... Isto é muito ruim para o comércio, ministro.

- Rosmerta, querida, gosto tanto deles quanto você - disse Fudge, constrangido. - É uma precaução necessária... infelizmente, mas veja só... acabei de encontrar alguns. Estão furiosos com Dumbledore porque ele não os deixa entrar nos terrenos da escola.

- É claro que não - disse a professora Minerva, rispidamente. - Como é que vamos ensinar com aqueles horrores por todo o lado?

- Apoiado, apoiado! - exclamou o professor Flitwick com voz esganiçada, os pés balançando a um palmo do chão.

- Mesmo assim - disse Fudge em tom de dúvida -, eles estão aqui para proteger vocês todos de coisa muito pior... Nós todos sabemos o que Black é capaz de fazer...

- Sabem, eu ainda acho difícil acreditar - disse Madame Rosmerta pensativamente. - De todas as pessoas que passaram para o lado das trevas, Sirius Black é o último em que eu pensaria... quero dizer, eu me lembro dele quando era garoto em Hogwarts. Se alguém tivesse me dito, então, no que ele iria se transformar, eu teria respondido que a pessoa tinha bebido quentão demais.

- Você não conhece nem metade do que ele fez, Rosmerta - disse Fudge com impaciência. - A maioria nem sabe o pior.

- Pior? - exclamou Madame Rosmerta, a voz animada de curiosidade. - O senhor quer dizer pior do que matar todos aqueles coitados?

- Isso mesmo.

- Não posso acreditar. Que poderia ser pior?

- Você diz que se lembra dele em Hogwarts, Rosmerta - murmurou a professora Minerva. - Você se lembra de quem era o melhor amigo dele?

- Claro - disse Madame Rosmerta, com uma risadinha. - Nunca se via um sem o outro, não é mesmo? O número de vezes que os dois estiveram aqui, aah, me faziam rir o tempo todo. Uma dupla incrível, Sirius Black e James Potter! Eram o terror da Grifinória!

Sollaria sentiu o estômago pesar, e pensou que poderia vomitar ali mesmo.

Sirius Black e James Potter! Eram o terror da Grifinória!

Sirius Black e James Potter.

Amigos.

Da Grifinória.

Como no sonho que tivera...

Ela sentiu a vista embaçar, e o rosto esquentar consideravelmente.

Ao mesmo tempo que ela sentia tudo aquilo, Harry tinha deixado cair a caneca com estrépito, mas Rony deu-lhe um pontapé.

- Exatamente - disse a professora Minerva. - Black e Potter. Líderes de uma turminha. Os dois muito inteligentes, é claro, na verdade excepcionalmente inteligentes, mas acho que nunca tivemos uma dupla de criadores de confusões igual...

- Não sei - disse Hagrid, dando uma risadinha. - Fred e George Weasley seriam páreo duro para os dois.

- Poder-se-ia até pensar que Black e Potter eram irmãos! - o professor Flitwick entrou na conversa. - Inseparáveis!

- Claro que eram - comentou Fudge. - Potter confiava mais em Black do que em qualquer outro amigo. Nada mudou quando os dois terminaram a escola. Black foi o padrinho quando James se casou com Lily Evans. Depois, eles o escolheram para padrinho de Harry. O garoto nem tem ideia disso, é claro. Vocês podem imaginar como isto o atormentaria. E a garota nem imagina que um dos padrinhos dela está definhando em uma ala hospitalar e o outro é o professor doente dela. Ora, francamente... Que escolha mais... incomum, não acham? Um criminoso, um doente e um lob...

- Ouvi dizer que o casal fora chamado, mas apenas por consideração, nada oficial - contou o professor Flitwick. - Era mais por carinho e consideração, já que Lupin era o padrinho oficial e gostavam muito dele também. Todos que os viam sabiam que tanto um quanto o outro gostava igualmente da menina. E a madrinha do garoto, tsc, tsc, ela faleceu quando eles ainda tinham um ano, e...

- Por que Black acabou se aliando a Você-Sabe-Quem? - cochichou Madame Rosmerta, interrompendo o ministro.

Por Merlin.

Sirius Black era padrinho de Harry... E o professor Lupin era o padrinho dela. E quem seria a tal madrinha adoentada?

- Foi muito pior do que isso, minha querida... - Fudge baixou a voz e continuou numa espécie de sussurro grave. - Muita gente desconhece que os Potter sabiam que Você-Sabe-Quem queria pegá-los. Dumbledore, que naturalmente trabalhava sem descanso contra Você-Sabe-Quem, tinha um bom número de espiões úteis. Um deles avisou-o e ele, na mesma hora, alertou James e Lily. Dumbledore aconselhou os dois a se esconderem. Bem, é claro que não era fácil alguém se esconder de Você- Sabe-Quem. Dumbledore sugeriu aos dois que teriam maiores chances de escapar se apelassem para o Feitiço Fidelius.

- Como é que é isso? - perguntou Madame Rosmerta, ofegando de interesse.

O professor Flitwick pigarreou.

- Um feitiço extremamente complexo - explicou com a sua vozinha fina -, que implica esconder o segredo, por meio da magia, em uma única pessoa viva. A informação é guardada no íntimo da pessoa escolhida, ou fiel do segredo, e torna-se impossível encontrá-la, a não ser, é claro, que o fiel do segredo resolva contar a alguém. Enquanto ele se mantiver calado, Você-Sabe-Quem poderia revistar o povoado em que James e Lily viviam durante anos sem jamais encontrá-los, mesmo que ficasse com o nariz grudado na janela da sala deles!

- Então Black era o fiel do segredo dos Potter? - sussurrou Madame Rosmerta.

- Naturalmente - respondeu a Profa Minerva. - James Potter contou a Dumbledore que Black preferiria morrer a contar onde eles estavam, que Black estava pensando em se esconder também... mesmo assim, Dumbledore continuou preocupado. Eu me lembro que ele próprio se ofereceu para ser o fiel do segredo dos Potter.

- Ele suspeitava de Black? - exclamou Madame Rosmerta.

- Ele tinha certeza de que alguém íntimo dos Potter tinha mantido Você-Sabe-Quem informado dos movimentos do casal - respondeu a professora Minerva sombriamente. - De fato, ele vinha suspeitando havia algum tempo de que alguém do nosso lado virara traidor e estava passando muita informação para Você-Sabe-Quem.

- Mas James Potter insistiu em usar Black?

- Insistiu - disse Fudge com a voz carregada. - E então, pouco mais de uma semana depois de terem realizado o Feitiço Fidelius...

- Black traiu os Potter? - murmurou Madame Rosmerta.

- Traiu. Black estava cansado do papel de agente duplo, estava pronto a declarar abertamente o seu apoio a Você-Sabe-Quem, e parece que planejou fazer isso assim que os Potter morressem. Mas, como todos sabem, Você-Sabe-Quem encontrou sua perdição no pequeno Harry Potter. Despojado de poderes, extremamente enfraquecido, ele fugiu. E isto deixou Black numa posição realmente muito difícil. Seu mestre caíra no exato momento em que ele, Black, mostrara quem de fato era, um traidor. Não teve outra escolha senão fugir...

- Vira-casaca imundo e podre! - exclamou Hagrid tão alto que metade do bar se calou.

- Psiu! - fez a professora Minerva.

- Eu o encontrei! - rosnou Hagrid. - Devo ter sido a última pessoa que viu Black antes de ele matar toda aquela gente! Fui eu que salvei Harry da casa de Lily e James depois que o casal morreu! Tirei o garoto das ruínas, coitadinho, com um grande corte na testa, e os pais mortos... e Sirius Black aparece, naquela moto voadora que ele costumava usar. Nunca me ocorreu o que ele estava fazendo ali. Eu não sabia que ele era o fiel do segredo de Lily e James. Pensei que tivesse acabado de saber da notícia do ataque de Você-Sabe-Quem e vindo ver o que era possível fazer. Estava tremendo, branco. E vocês sabem o que eu fiz? EU CONSOLEI O TRAIDOR ASSASSINO! - bradou Hagrid.

- Hagrid, por favor! - pediu a Profa Minerva. - Fale baixo!

- Como é que eu ia saber que ele não estava abalado com a morte de Lily e James? Que estava preocupado era com Você-Sabe-Quem! Então ele disse: "Me dá o Harry, Hagrid. Sou o padrinho dele, vou cuidar dele..." Ah! Mas eu tinha recebido ordens de Dumbledore, e disse não, Dumbledore tinha me mandado levar Harry para a casa dos tios. Black discordou, mas no fim cedeu. Me disse, então, que eu podia pegar a moto dele para levar Harry. "Não vou precisar mais dela", falou. E ainda pediu que eu desse notícias caso soubesse o paradeiro de Sollaria!

"Eu devia ter percebido, naquela hora, que alguma coisa não estava cheirando bem. Black adorava a moto. Por que estava dando ela para mim? Por que não ia precisar mais da moto? A questão é que a moto era muito fácil de localizar. Dumbledore sabia que ele tinha sido o fiel do segredo dos Potter. Black sabia que ia ter que se mandar àquela noite, sabia que era uma questão de horas até o Ministério sair à procura dele.

"Mas e se eu tivesse entregado Harry a Black, hein? Aposto como ele teria jogado o garoto no mar no meio do caminho. O filho dos melhores amigos dele! Mas quando um bruxo se alia ao lado das trevas, não tem mais nada nem ninguém que tenha importância para ele..."

À história de Hagrid seguiu-se um longo silêncio. Então, Madame Rosmerta falou com uma certa satisfação.

- Mas ele não conseguiu desaparecer, não foi? O Ministério da Magia o agarrou no dia seguinte!

- Ah, se ao menos isso fosse verdade - lamentou Fudge com amargura. - Não fomos nós que o encontramos. Foi o pequeno Peter Pettigrew, outro amigo dos Potter. Com certeza, enlouquecido de pesar e sabendo que Black fora o fiel do segredo dos Potter, Pedro foi pessoalmente atrás dele.

- Pettigrew... aquele gordinho que sempre andava atrás dos dois em Hogwarts? - perguntou Madame Rosmerta.

- Ele venerava Black e Potter como se fossem heróis - disse a professora Minerva. - Não estava bem à altura deles em termos de talento. Muitas vezes fui severa demais com ele. Podem imaginar agora como me... como me arrependo disso... - Sua voz parecia a de alguém que apanhara de repente um resfriado.

- Vamos, Minerva - consolou-a Fudge, com bondade. - Pettigrew teve uma morte de herói. Testemunhas oculares, trouxas, é claro, depois limpamos a memória deles, nos contaram como Pettigrew encurralou Black. Dizem que ele soluçava: "Lily e James, Sirius! Como é que você pôde?" Então fez menção de apanhar a varinha. Bem, naturalmente, Black foi mais rápido. Fez Pettigrew em pedacinhos...

A professora Minerva assoou o nariz e disse com a voz embargada:

- Menino burro... menino tolo... nunca teve jeito para duelar... deveria ter deixado isso para o Ministério...

- E vou dizer uma coisa, se eu tivesse chegado ao Black antes de Pettigrew, não teria apelado para varinhas, eu teria despedaçado ele aos bocadinhos - rosnou Hagrid.

- Você não sabe o que está dizendo, Hagrid - disse Fudge com severidade. - Ninguém, a não ser bruxos de elite do Esquadrão de Execução das Leis da Magia, teria tido uma chance contra Black depois que ele foi encurralado. Na época, eu era ministro júnior no Departamento de Catástrofes Mágicas, e fui um dos primeiros a chegar à cena depois que Black liquidou aquelas pessoas, nunca vou me esquecer. Ainda sonho com o que vi, às vezes. Uma cratera no meio da rua, tão funda que rachou a tubulação de esgoto embaixo. Cadáveres por toda a parte. Trouxas berrando. E Black parado ali, dando gargalhadas, diante do que restava de Pettigrew... um monte de vestes ensanguentadas e uns poucos, uns poucos fragmentos...

A voz de Fudge parou abruptamente. Ouviu-se o barulho de cinco narizes sendo assoados.

- Bem, aí tem você, Rosmerta - disse Fudge com a voz carregada. - Black foi levado por vinte policiais do Esquadrão de Execução das Leis da Magia e Pettigrew recebeu a Ordem de Merlim, Primeira Classe, o que acho que foi algum consolo para a coitada da mãe dele. Black tem estado preso em Azkaban desde então.

Madame Rosmerta deu um longo suspiro.

- É verdade que ele é doido, ministro?

- Eu gostaria de poder dizer que é - disse Fudge lentamente. - Acredito que é certo que a derrota do mestre o desequilibrou por algum tempo. O assassinato de Pettigrew e de todos aqueles trouxas foi trabalho de um homem desesperado e acuado, cruel... sem sentido. Mas eu encontrei Black na última inspeção que fiz à Azkaban. Vocês sabem que a maioria dos prisioneiros lá ficam sentados no escuro resmungando; não dizem coisa com coisa... mas fiquei chocado com a aparência normal de Black. Conversou comigo muito racionalmente. Me deixou nervoso. Deu a impressão de estar meramente entediado, perguntou se eu já tinha acabado de ler o meu jornal, com toda a tranquilidade, disse que sentia falta das palavras cruzadas. Fiquei realmente espantado de ver o pouco efeito que os dementadores estavam causando nele, e, vejam, ele era um dos prisioneiros mais fortemente guardados do lugar. Dementadores à porta da cela dia e noite.

- Mas para que o senhor acha que ele fugiu? - perguntou Madame Rosmerta. - Por Deus, ministro, ele não está tentando se juntar a Você-Sabe-Quem, está?

- Eu diria que esse é o plano dele, hum, a longo prazo - disse Fudge evasivamente. - Mas temos esperança de pegar Black bem antes disso. Devo dizer que Você-Sabe-Quem sozinho e sem amigos é uma coisa... mas se tiver de volta o seu serviçal mais dedicado, estremeço só em pensar na rapidez com que se reergueria...

Ouviu-se um leve tilintar de copo em madeira. Alguém pousara o copo, mas, pelo ângulo em que estava, Sollaria não conseguia distinguir quem havia feito aquilo.

- Sabe, Cornelius, se você vai jantar com o diretor, é melhor voltarmos para o castelo - sugeriu a professora Minerva.

Um por um, eles se levantaram, prontos para sair, e Madame Rosmerta tornou a desaparecer atrás do balcão do bar. A porta do Três Vassouras tornou a se abrir, deixando entrar mais uma rajada de flocos de neve e os professores desapareceram.

- Harry?

Rony e Hermione colocaram as cabeças por debaixo da mesa, para encarar Harry, que estava muito quieto. Sollaria, por outro lado, ainda estava em choque com toda aquela informação.

Seus pais haviam confiado na pessoa errada... E por isso estavam mortos.

O padrinho de seu irmão era um criminoso traidor e assassino. E o dela, duas pessoas de cuja existência ela nem sabia e seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, de quem ela tanto gostava e com quem já havia tomado um chá e jogado conversa fora. Ele a conhecia desde que nascera e, mesmo assim, jamais revelara a ela a verdade.

Por quê?

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