Capítulo Cinco: O Presente de Draco Malfoy
NOTAS DA AUTORA
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Na manhã seguinte, os sonserinos à mesa do café da manhã estavam discutindo sobre a primeira partida daquela temporada, que seria entre Grifinória e Sonserina, quando o professor Snape passou pela mesa entregando os horários de aula para aquele ano letivo.
- Defesa Contra as Artes das Trevas só depois do almoço - lamentou Sollaria, com um suspiro. - Queria conhecer logo esse tal professor Lupin.
- Provavelmente é mais um dos idiotas que botam para nos ensinar - desdenhou Draco, dando um bocejo. - Quer dizer...
Sollaria virou-se para ele, chocada em virtude do comentário desnecessário.
- Draco!
- Ah, vamos, Potter... Olha só pra ele. É uma piada. E todos os nossos outros professores também foram - Os olhos cinzas do loiro brilharam de prazer ao ouvir as risadinhas de aprovação de Crabbe e Goyle.
Sollaria e os que estavam próximos - Crabbe, Goyle - viraram o rosto para observar o homem, que estava sentado à mesa dos professores.
- Quem sabe o que aquela... piada pode nos ensinar? - desafiou Sollaria baixinho, frieza perceptível em sua voz. - Até onde eu sei, eu era uma piada até exatos dois anos atrás, e ainda sou uma piada, não é? De qualquer forma, posso fazer uma lista de coisas em que sou mil vezes melhor do que todos vocês, ricos e puro-sangues.
O brilho nos olhos de Draco sumiu, e ele pareceu perder um pouco da postura que sustentava - não estava mais dando sorrisinhos sacanas com sua voz arrastada e aquele olhar penetrante. Parecia somente um adolescente com síndrome de superioridade que havia caído do topo muito rápido.
- Sollaria...
- Não importa.
A ruiva amassou o próprio horário de aula e enfiou de qualquer jeito na mochila. Pegou a primeira fruta que viu, uma maçã - ela nem mesmo gostava de maçãs, pensou ela com irritação -, deu uma mordida ruidosa e saiu, irritada, o estômago roncando de fome.
Ao chegar ao lado de fora do Salão, soltou a respiração, tirando com irritação o papel amassado de dentro da mochila. A primeira aula seria Feitiços com a Lufa-Lufa. Fechou os olhos; nem ao menos conseguia compreender o motivo de estar tão irritada. É claro que a arrogância de Draco e sua mania de superioridade a tiravam do sério, mas será que havia exagerado ao sair da mesa daquela forma?
Sem querer pensar mais no assunto, enfiou o papel de volta na mochila e foi para a primeira aula.
Começamos bem, ironizou sua consciência.
Ela tentou ignorar a voz dentro de sua cabeça.
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- Por que é que o idiota do Malfoy estava agindo feito um idiota além do normal hoje cedo, fazendo insinuações enigmáticas? - questionou Harry durante o intervalo de almoço, depois de tirá-la da mesa da Sonserina para uma conversa em particular.
Sollaria havia acabado de receber uma carta do professor Dumbledore dizendo que começariam as aulas particulares tanto com ele quanto com Snape somente a partir da primeira semana de outubro - por qual razão, ela não sabia, mas aceitaria aquilo como um presente de Natal adiantado. Quatro semanas de descanso daquela obrigação era um alívio.
- Do que você está falando? - retrucou Sollaria enquanto enfiava a carta na mochila de qualquer jeito. - Eu não sei do que está falando, Harry.
E era verdade; não conversara muito com o melhor amigo desde o café da manhã, então não fazia ideia sobre o quê Harry estaria falando.
Harry fechou a cara.
- Malfoy fez alguns comentários que insinuavam que ele sabia algo sobre Sirius Black! - sibilou Harry. - Algo sobre buscar vingança ou sei lá o quê. Fazer justiça com as próprias mãos, que seja.
Sollaria fez careta.
- Ah, Harry. - Sollaria pôs as mãos nos ombros do irmão. - Draco só estava querendo te importunar. Ele provavelmente nem sabe de nada, e está querendo te confundir. Ele com certeza está agindo igual um idiota com você porque eu e ele discutimos hoje cedo.
Harry franziu o cenho.
- Você acha?
Sollaria olhou para a mesa da Sonserina, mais precisamente para onde Draco se encontrava. Seus olhares se encontraram, mas ele desviou, fazendo com que ela soltasse um longo suspiro.
- Sim, eu acho que sim. Esquece isso, Harry. Confia em mim, Draco consegue ser um bocó às vezes, mas ele faz isso só para não sair por baixo. Ele não suporta isso.
- Isso o quê?
- Não ficar por cima.
Harry olhou para o garoto também, logo voltando sua atenção a Sollaria.
- E, mesmo assim, você é amiga dele.
A garota se encolheu, desconfortável.
- Draco tem suas qualidades, Harry. Ele pode não mostrar a todo mundo, mas ele é uma boa pessoa. No fundo, no fundo, ele só... - Ela deixou a voz morrer.
- "No fundo, no fundo" tão fundo como na frase "muito abaixo da camada mais quente do centro da Terra", você quer dizer, não é? - provocou Harry, logo levando um tapinha da irmã.
O sino tocou, indicando que as aulas do período vespertino começariam em dez minutos.
- Venha, vamos atrás de Rony e Hermione para a primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Tenho certeza de que será no mínimo interessante.
E, seguindo o irmão, a ruiva caminhou em direção à mesa da Grifinória.
- Ah, oi, Sollaria - cumprimentou-a Rony.
- Que bom que veio ficar com a gente. - Hermione abriu um sorriso. - Você viu que teremos mais aulas juntos este ano?
É claro que aquilo não passara batido por Sollaria, mas ela simplesmente evitou comentar a respeito à mesa do café para evitar se estressar. Sabia que a Grifinória e a Sonserina fariam juntas as aulas de Poções, Astronomia e Defesa como sempre faziam, assim como, a partir daquele ano, Transfiguração, Runas Antigas e Aritmância.
Os quatro caminharam em direção à sala do professor Lupin. Foram os primeiros a chegar, então fizeram uma pequena fila e aguardaram. Quando todos chegaram e o professor mandou que entrassem, fez uma rápida chamada (parando brevemente ao ler os nomes de Harry e Sollaria) e pediu que todos formassem uma nova fila; iriam para a sala dos professores.
Todos pareciam confusos, mas também animados. Nenhum outro professor jamais os levara pra ter aula em outro ambiente da Escola. Acabaram encontrando Pirraça, o poltergeist, no corredor que levava à sala dos professores. Ele parecia estar colocando chicletes mastigados no vão da fechadura da porta do escritório de Filch. Pirraça só deu atenção a eles quando chegaram perto o suficiente de onde ele estava; então, agitou os dedos dos pés e começou a cantar.
- Louco, lobo, Lupin - entoou ele. - Louco, lobo, Lupin...
Grosseiro e intratável como era quase sempre, Pirraça em geral demonstrava algum respeito pelos professores. Todo mundo olhou na mesma hora para Lupin para ver qual seria a sua reação àquilo; para surpresa de todos, o professor continuou a sorrir.
- Eu tiraria o chicle do buraco da fechadura se fosse você, Pirraça - disse ele gentilmente. - O senhor Filch não vai poder apanhar as vassouras dele.
Filch era o zelador de Hogwarts, mal-humorado, um bruxo frustrado que travava uma guerra constante contra os estudantes e, na verdade, contra Pirraça também. Mas o poltergeist não deu a mínima atenção às palavras do professor a não ser para respondê-las com um ruído ofensivo e alto feito com a boca.
O professor deu um breve suspiro e tirou a varinha.
- Este é um feitiçozinho útil - disse à turma por cima do ombro. - Por favor observem com atenção.
Ele ergueu a varinha até a altura do ombro e disse:
- Uediuósi! - E apontou para Pirraça.
Com a força de uma bala, a pelota de chiclete disparou do buraco da fechadura e foi bater certeira na narina esquerda de Pirraça; o poltergeist virou de cabeça para cima e fugiu a grande velocidade, xingando.
- Maneiro, professor! - exclamou Dean Thomas admirado.
- Obrigado, Dean - disse o professor tornando a guardar a varinha. - Vamos prosseguir?
Eles recomeçaram a caminhada, a turma olhando o professor com crescente respeito. Quando pararam em frente à porta da sala dos professores, o senhor Lupin abriu-a para os alunos e disse:
- Entrem, por favor.
Sollaria já esteve lá dentro antes, no ano passado, mas as circustâncias eram diferentes. O professor Snape estava sentado em uma cadeira, mas levantou-se assim que viu a quantidade de alunos que acompanhava o professor Lupin.
- Não precisa fechar a porta, Lupin. Estou indo embora. Não quero presenciar isso.
Caminhou por entre os alunos mas, quando chegou à porta, girou nos calcanhares e disse:
- Talvez não tenham te avisado, mas nessa turma temos Neville Longbottom, e ele é um desastre. Não consegue fazer uma simples Poção do Esquecimento. A não ser que a senhorita Granger resolva agir como uma insuportável sabe-tudo e cochichar-lhe as instruções.
Sollaria virou-se para a amiga, que corava fortemente e ofereceu um meio sorriso.
O professor Lupin ergueu as sobrancelhas e disse:
- Que engraçado! Porque eu pretendia chamar Neville para me ajudar na primeira parte da aula. Tenho certeza de que ele vai se sair bem.
Deu um passo à frente, sorrindo para os alunos, mas logo fitando o outro professor.
- Além disso, acho muito bonita a parceria entre os alunos. Devemos incentivá-los, e não desencorajá-los a ajudar um ao outro. Sabe, isso me lembrou bem da minha época de escola... uma grande amiga minha passava horas ajudando um amigo dela a estudar Astronomia, mas por sorte nunca vi ninguém humilhá-lo por precisar de ajuda na matéria. Curioso, não acha?
O professor Snape crispou os lábios, um brilho assassino nos olhos. Sollaria engoliu em seco; ele parecia capaz de arrancar a cabeça de alguém naquele momento.
- Realmente curioso. - E fechou a porta com força.
Um burburinho animado começou assim que Snape saiu, mas o professor Lupin logo conseguiu atrair a atenção da turma para ele novamente.
- Venham até aqui - disse ele, conduzindo a turma até o fundo da sala, onde havia um armário bem grande e velho. Sollaria reconheceu como o armário onde ela, Harry e Rony se esconderam no ano anterior para espiar os professores.
De repente, o armário começou a tremer violentamente, como se algo dentro dele tentasse abrir a porta de dentro para fora.
- Há um bicho-papão aí dentro - explicou o professor, a despeito de os alunos terem se encolhido de susto. - E vocês irão enfrentá-lo hoje.
Todos olharam horrorizados para o professor, como se ele tivesse enlouquecido.
- Bichos-papões gostam de lugares escuros e fechados - informou Lupin, andando pela sala com certa tranquilidade. - Guarda-roupas, o vão embaixo das camas, os armários sob as pias... Eu já encontrei um alojado dentro de um relógio de parede antigo. Este aí se mudou para cá ontem à tarde e perguntei ao diretor se os professores poderiam deixá-lo para eu dar uma aula prática aos meus alunos do terceiro ano.
"Então, a primeira pergunta que devemos nos fazer é, o que é um bicho-papão?"
Hermione levantou a mão, assim como Sollaria. O professor apontou para a grifinória, como se não tivesse visto a sonserina erguer a mão.
- É um transformista - respondeu a morena rapidamente. - É capaz de assumir a forma do que achar que pode nos assustar mais.
- Eu mesmo não poderia ter dado uma definição melhor - disse o professor Lupin, e o rosto de Hermione se iluminou de orgulho. - Então o bicho-papão que está sentado no escuro aí dentro ainda não assumiu forma alguma. Ele ainda não sabe o que pode assustar a pessoa que está do lado de fora. Ninguém sabe qual é a aparência de um bicho-papão quando está sozinho, mas quando eu o deixar sair, ele imediatamente se transformará naquilo que cada um de nós mais teme.
"Isto significa", continuou, preferindo não dar atenção à breve exclamação de terror de Neville, "que temos uma enorme vantagem sobre o bicho- papão para começar. Você já sabe qual é, Harry?"
O professor ignorou o fato de Hermione ter erguido a mão mesmo com ele tendo se dirigido a Harry, olhou para o garoto e ofereceu-lhe um sorriso encorajador.
- Hum... porque somos muitos, ele não vai saber que forma tomar.
- Precisamente - concordou o professor e Hermione baixou a mão, parecendo um pouquinho desapontada. - É sempre melhor estarmos acompanhados quando enfrentamos um bicho-papão. Assim, ele se confunde. No que deverá se transformar, num corpo sem cabeça ou numa lesma carnívora? Uma vez vi um bicho-papão cometer exatamente este erro, tentou assustar duas pessoas e se transformou em meia lesma. O que, nem de longe, pode assustar alguém.
"O feitiço que repele um bicho-papão é simples, mas exige concentração. Vejam, a coisa que realmente acaba com um bicho-papão é o riso. Então o que precisam fazer é forçá-lo a assumir uma forma que vocês achem engraçada. Vamos praticar o feitiço com as varinhas primeiro. Repitam comigo, por favor... riddikulus!"
- Riddikulus! - repetiu a turma.
- Alto e claro, por favor - pediu o professor.
- Riddikulus! - falaram mais alto.
- Esta aula que é ridícula. - Sollaria ouviu a voz arrastada de Draco vinda do fundo da sala, mas imaginou que Lupin não tivesse ouvido.
- Ótimo - aprovou o professor. - Muito bem. Mas receio que esta seja a parte mais fácil. Sabem, a palavra sozinha não basta. E é aqui que você vai entrar, Neville.
O guarda-roupa recomeçou a tremer, embora não tanto quanto Neville, que se dirigiu para o móvel como se estivesse indo para a forca.
- Certo, Neville - disse o professor. - Vamos começar pelo começo: qual, você diria, que é a coisa que pode assustá-lo mais neste mundo?
Os lábios de Neville se mexeram mas não emitiram som algum.
- Não ouvi o que você disse, Neville, me desculpe - disse o professor, parecendo animado.
Neville olhou para os lados meio desesperado, como que suplicando a alguém que o ajudasse, depois disse, num sussurro quase inaudível:
- O professor Snape.
Quase todo mundo riu. Até Neville sorriu como se pedisse desculpas. Lupin, porém, ficou pensativo.
- O professor Snape... hummm... Neville, eu creio que você mora com a sua avó?
- Hum... moro - disse Neville, nervoso. - Mas também não quero que o bicho- papão se transforme na minha avó.
- Não, não, você não entendeu - disse o professor, agora rindo. - Será que você podia nos descrever que tipo de roupas a sua avó normalmente usa?
Neville fez cara de espanto mas disse:
- Bem... sempre o mesmo chapéu. Um bem alto com um urubu empalhado na ponta. E um vestido comprido... verde, normalmente... e às vezes uma raposa.
- E uma bolsa?
- Vermelha e bem grande.
- Certo então - disse o professor. - Você é capaz de imaginar essas roupas com clareza, Neville? Você consegue vê-las mentalmente?
- Consigo - respondeu Neville, hesitante, obviamente imaginando o que viria a seguir.
- Quando o bicho-papão irromper daquele guarda-roupa, Neville, e vir você, ele vai assumir a forma do professor Snape. E você vai erguer a varinha... assim... e gritar "Riddikulus"... e se concentrar com todas as suas forças nas roupas de sua avó. Se tudo correr bem, o professor Bicho-Papão-Snape será forçado a vestir aquele chapéu com o urubu, aquele vestido verde e carregar aquela enorme bolsa vermelha.
Houve uma explosão de risos. O guarda-roupa sacudiu com maior violência.
- Se Neville acertar, o bicho-papão provavelmente vai voltar a atenção para cada um de nós individualmente. Eu gostaria que todos gastassem algum tempo, agora, para pensar na coisa de que têm mais medo e imaginar como poderia fazê-la parecer cômica...
A sala ficou silenciosa, e Sollaria tentou pensar... O que mais a apavorava no mundo?
Inicialmente, pensou em Você-Sabe-Quem, e em como ele era apavorante. Ou, talvez, em ser usada e controlada novamente - os olhos e a risada fria de Dumbledore ocupavam seus pensamentos, causando-lhe certo arrepio. Seu estômago afundou ao se lembrar de que se a figura do diretor aparecesse no lugar de seu bicho papão, aquilo com certeza levantaria muitas questões, as quais ela não estava preparada para enfrentar no momento. Depois de muito refletir, percebeu que o que mais lhe dava medo era perder aqueles que amava. Sua família significava tudo para ela, e não conseguia se imaginar sem todas aquelas pessoas em sua vida. Mas como poderia fazer aquilo parecer cômico?
- Todos prontos? - A voz do professor lhe trouxe de volta para o mundo real.
Não, não estava tudo bem... Ela ainda não havia decidido como transformar seus medos em algo legal. Como faria aquilo na frente da sala toda?
- Neville, nós vamos recuar - disse Lupin. - Assim você fica com o campo livre, está bem? Vou chamar o próximo a vir para a frente... Todos para trás, agora, de modo que Neville tenha espaço para agitar a varinha...
Todos recuaram, encostaram-se nas paredes, deixando Neville sozinho ao lado do guarda-roupa. Ele parecia pálido e assustado, mas enrolara as mangas das vestes e segurava a varinha em posição.
- Quando eu contar três, Neville - avisou o mais velho, que apontava a própria varinha para o puxador do armário. - Um... dois... três... agora!
Um jorro de faíscas saltou da ponta da varinha do professor e bateu no puxador. O guarda-roupa se abriu com violência. Com o nariz curvo e ameaçador, o professor Snape saiu, os olhos faiscando para Neville.
Neville recuou, de varinha no ar, balbuciando silenciosamente. Snape avançou para ele, apanhando alguma coisa dentro das vestes.
- R... r... riddikulus! - esganiçou-se Neville.
Ouviu-se um ruído que lembrava o estalido de um chicote. Snape tropeçou; usava um vestido longo, enfeitado de rendas e um imenso chapéu de bruxo com um urubu carcomido de traças no alto, e sacudia uma enorme bolsa vermelho vivo.
Houve uma explosão de risos; o bicho-papão parou, confuso, e o professor Lupin gritou:
- Parvati! Avante!
Parvati Patil adiantou-se, com ar decidido. Snape avançou para ela. Ouviu-se outro estalo e onde o bicho-papão estivera havia agora uma múmia com as bandagens sujas de sangue; seu rosto tampado estava virado para Parvati e a múmia começou a andar para a garota muito lentamente, arrastando os pés, erguendo os braços duros...
- Riddikulus! - exclamou Parvati.
Uma bandagem se soltou aos pés da múmia; ela se enredou, caiu de cara no chão e sua cabeça rolou para longe do corpo.
- Seamus - bradou o professor.
Seamus Finnigan passou disparado por Parvati.
Craque! Onde estivera a múmia surgiu uma mulher de cabelos negros que iam até o chão e um rosto esverdeado e esquelético - um espírito agourento. Ela escancarou a boca e um som espectral encheu a sala, um grito longo e choroso que fez arrepiou os pelos do corpo de Sollaria.
- Riddikulus! - bradou Seamus.
O espírito agourento emitiu um som rascante, apertou a garganta com as mãos; sua voz sumiu.
Craque! O espírito agourento se transformou em um rato, que saiu correndo atrás do próprio rabo, em círculos, depois... craque! - transformou-se em uma cascavel, que saiu deslizando e se contorcendo até que - craque! - se transformou em um olho único e sangrento.
Era a vez de Sollaria agora, e, sem parar, o corpo agonizando de cada pessoa que ela amava aparecia para ela. Draco, Hermione, Harry, Rony, Ginny, os gêmeos, Percy, Bill, Charlie, seus pais adotivos... Todos. Enrijeceu a mandíbula, apertando com força a extensão da varinha.
Ver o corpo de todos aqueles que amava era doloroso, uma ideia cruel. Mas ela tinha que manter em mente que aquilo era somente uma lição prática - não era real.
Não era real...
- Riddikulus! - bradou, a voz trêmula.
De repente, Fred - o último que aparecera - levantou-se do chão e disse:
- Era brincadeira, sua bobinha. Não estamos mortos de verdade. Isso é somente o seu bicho-papão tentando amedrontá-la.
Sollaria sorriu.
- Excelente! Rony, você é o próximo!
Rony correu para a frente aos pulos.
Craque!
Muitos alunos gritaram. Uma aranha gigantesca e peluda, com quase dois metros de altura, avançou para Rony, batendo as pinças ameaçadoramente. Por um instante, achou que Rony congelara. Mas...
- Riddikulus! - berrou Rony, e as pernas da aranha desapareceram; ela ficou rolando pelo chão; Lavender Brown deu um grito agudo e se afastou correndo do caminho da aranha até que ela parou aos pés de Harry. O garoto ergueu a varinha, preparou-se mas...
- Tome! - gritou o professor Lupin de repente, correndo para a frente.
Craque!
A aranha sem pernas sumira. Por um segundo todos olharam assustados para os lados a ver o que aparecera. Então viram um globo branco-prateado pendurado no ar diante de Lupin, e ele disse "Riddikulus" quase descansadamente.
Craque!
- Para a frente, Neville, e acabe com ela! - mandou o professor quando o bicho-papão aterrissou no chão sob a forma de uma barata. Craque! E Snape reapareceu. Desta vez, Neville avançou parecendo decidido.
- Riddikulus! - gritou, e, por uma fração de segundo, seus colegas tiveram uma visão de Snape com seu vestido de rendas antes de Neville soltar uma grande gargalhada e o bicho-papão explodir em milhares de fiapinhos minúsculos de fumaça, e desaparecer.
- Excelente! - exclamou o professor Lupin enquanto a classe aplaudia com entusiasmo. - Excelente, Neville. Muito bem, pessoal... Deixe-me ver... cinco pontos para a Grifinória e para a Sonserina para cada pessoa que enfrentou o bicho-papão... dez para Neville porque ele o enfrentou duas vezes e cinco para Harry e para Hermione.
- Mas eu não fiz nada - protestou Harry.
- Você e Hermione responderam às minhas perguntas corretamente no início da aula, Harry - respondeu Lupin gentilmente. - Muito bem, pessoal, foi uma aula excelente. Dever de casa: por favor leiam o capítulo sobre os bichos-papões e façam um resumo para me entregar... na segunda-feira. E por hoje é só.
Falando agitados, os alunos deixaram a sala dos professores. Sollaria, contudo, estava curiosa sobre o bicho-papão do professor. Por que é que ele tinha medo de globos?
Mas ninguém mais pareceu ter estranhado nada. Na verdade, estavam todos muito distraídos falando sobre as coisas que fizeram na aula.
- Essa foi a melhor aula de Defesa Contra as Artes das Trevas que já tivemos, vocês não acham? - disse Rony excitado quando refaziam o caminho até a sala de aula para apanhar as mochilas.
- Ele parece um bom professor - comentou Hermione em tom de aprovação. - Mas eu gostaria de ter podido enfrentar o bicho-papão...
- O que ele teria sido para você? - perguntou Rony dando risadinhas. - Um dever de casa que só mereceu nota nove?
Sollaria deu um sorrisinho de lado, impressionada com a capacidade do irmão de ser insuportável.
O sino tocou, o que significava que agora ela deveria rumar para a aula de História da Magia.
Hora de fazer as pazes com uma certa doninha albina metida e arrogante, pensou ela enquanto caminhava lentamente em direção à sala do professor Binns, alheia à conversa dos três grifinórios que caminhavam adiante.
Draco já estava sentado na mesma carteira de sempre, parecendo concentrado em um pergaminho. Sollaria aproximou-se e colocou a mochila no chão ao lado da cadeira vazia, observando o que o garoto estava fazendo. Parecia um desenho, mas, quando ela tentou espiar, o loiro pôs as mãos sobre o papel, cobrindo o que quer que fosse que estivesse desenhando.
Ele lançou um olhar fulminante para Sollaria, que meramente deu de ombros e se sentou ao lado dele. Sinceramente, ela não estava muito no clima de brigas. Não depois de tudo pelo que passou, e muito menos depois do que descobriu ao ir ao banheiro do primeiro andar antes do início da aula - mencionaram seu nome... de formas muito cruéis. Não sabia por que ou como alguém podia odiá-la tanto, e quem seria a pessoa por trás daquilo. Ela somente poderia imaginar os motivos e, por alguma razão, pensou que um deles poderia estar parado ao seu lado naquele exato momento.
- Acho que já estava na hora de pararmos com essa idiotice, não acha?
Draco ergueu as sobrancelhas, desviando o olhar do dela.
- Vai parar de tentar me controlar?
- Vai deixar de agir como um idiota? - rebateu cruzando os braços.
O sonserino resmungou algo ininteligível, então pegou a mão dela que estava sobre a mesa e deu um leve aperto.
- Ai, ai, Potter... - Ele a fitou com intensidade e deu um sorrisinho. - Senti falta de você me importunando, sabia? Mesmo que não tenha durado um dia sequer.
Sollaria afastou-se dele, fingindo estar chocada.
- Eu? Importunando você? Humpf! Mais fácil ser ao contrário. Admita, você estava surtando sem poder falar comigo, porque seu orgulho não permitia - brincou ela, cutucando a bochecha do amigo.
Ele pegou a mão dela antes que ela pudesse continuar cutucando seu rosto e deu um sorriso irônico.
- É, é isso mesmo, Potter. Não posso viver sem você.
Ela riu.
- Besta.
O professor deu início ao seu infinito e tedioso monólogo sobre as Bruxas de Salém - ao qual Sollaria se esforçava para prestar atenção, enquanto Draco fazia rápidas anotações na carteira ao lado -, fazendo com que toda a sala mergulhasse em seu torpor habitual. Apenas Malfoy e uns dois alunos da Lufa-Lufa pareciam realmente interessados em acompanhar o professor; Sollaria apoiou-se nos braços e descansou a cabeça na mesa, fechando os olhos por um momento.
Tudo o que vinha em sua mente era o nome dele - Sirius Black.
Sirius Black.
Sirius Black.
Por que aquele nome lhe soava tão familiar aos seus ouvidos e à sua mente, ainda que tão... repugnante? Quem era Sirius Black e o que ele queria indo atrás deles, dos irmãos Potter?
A cabeça de Sollaria latejou devido ao estresse da noite anterior e à noite mal dormida, e ela apertou os olhos, incomodada.
- Está tudo bem? - indagou Draco baixinho, a voz tão automática, fria e sem emoção que Sollaria soube que ele provavelmente não havia tirado os olhos das anotações que fazia.
Ela apenas resmungou, um barulho ininteligível que poderia significar qualquer coisa para aqueles que estivessem ao redor - mas Draco a conhecia bem o suficiente para saber o que cada um de seus gemidos, chiados e resmungos significava.
- E você... quer conversar? - retrucou ele pausadamente.
Sollaria não respondeu; apenas suspirou, espreguiçou-se contra a própria vontade e voltou seu olhar para frente, para o professor.
...Os Julgamentos das Bruxas de Salém foram uma série de audiências e processos contra pessoas acusadas de feitiçaria que ocorreram na Massachusetts colonial trouxa nos anos de 1692 e 1693...
Sollaria começou a rabiscar as datas e pontos importantes do que o professor falava, em uma tentativa de se reconfortar quanto à própria improdutividade.
- "No-Maj" - murmurou Draco ao dar uma espiada nas anotações dela.
- O quê? - replicou ela com rispidez.
- O que você escreveu. "A maior parte do grupo de mulheres caçadas realmente era bruxa, mas ocasionalmente eram encontradas entre elas algumas trouxas levadas por engano." O certo é "No-Majes". "Trouxa" é um termo usado pelos bruxos europeus.
- Ora, tenha santa paciência. - Bufando, Sollaria riscou o termo e escreveu por cima: "No-Majes". - Não vejo como isso pode fazer alguma diferença no meu entendimento.
Malfoy deu de ombros.
- Se cair nos exames, você vai saber.
Após a aula de História da Magia, Sollaria e Draco seguiram preguiçosamente até a sala de McGonagall, cuja porta estava aberta. Os alunos foram entrando, e à medida que cada um ocupava seu lugar, Sollaria percebeu que Harry e Hermione não haviam chegado ainda.
Perguntou a Rony, que estava sentado atrás dela e de Draco, e a resposta do ruivo foi que Harry havia ido ao banheiro e Hermione simplesmente sumira.
Os olhos do Weasley acompanharam Neville Longbottom lentamente enquanto o garoto ocupava a cadeira vaga ao lado dele.
Hermione apareceu, parecendo ofegante, e se sentou à primeira carteira diante da lousa sem direcionar o olhar aos amigos.
- O quê...? - começou Sollaria, mas Rony a interrompeu antes que pudesse finalizar a pergunta.
- Nós brigamos.
Sollaria virou-se para a frente, observando a professora, que anotava algumas coisas na lousa. A turma gradualmente foi ficando mais silenciosa, até que as risadinhas e as conversas foram cessando.
- Muito bem, classe - adiantou-se a professora. - Vocês, este ano, iniciam o terceiro ano de sua educação em magia, e...
A maçaneta fez um barulho alto, fazendo com que toda a turma e a professora olhassem para a porta, que se abriu, revelando Harry. Ele tinha pó de giz nas vestes e nos cabelos, o que fez com que Sollaria imaginasse que ele havia encontrado Pirraça nos corredores.
- Potter. - As narinas da professora Minerva dilataram-se. - Entre logo e feche essa porta.
O garoto se arrastou até o único lugar vago, ao lado de Hermione.
Quando ele terminou de se organizar, a professora, que tinha os lábios formados em uma linha tão fina que mal se podia vê-los, disse:
- A partir de agora, esses serão seus lugares definitivos até o fim do ano.
Sollaria e Draco trocaram um olhar, ambos erguendo uma sobrancelha cada ao mesmo tempo.
- Bom, isso vai ser interessante.
- Quero até ver - murmurou Sollaria enquanto procurava seu livro de Transfiguração dentro da mochila - quando eu estiver irritada com você.
Draco se virou para ela com o semblante ofendido.
- E por que você já afirma que vai estar irritada comigo?
Sollaria ergueu o canto dos lábios minimamente.
- Você está brincando, não é? Eu sempre fico irritada com você. - Ela folheou distraidamente o livro enquanto procurava a página dez. - Você me tira do sério.
- Estou lisonjeado - comentou ele com a voz fria e arrastada, embora um brilho sorrateiro atravessasse seus olhos acinzentados.
- Não acho que devesse estar - brincou Sollaria. - Mais um pouco, e meus cabelos vão ficar brancos.
Draco abriu a boca para retrucar, mas foi interrompido pela voz áspera da professora McGonagall.
- Senhor Malfoy, senhorita Potter, eu imagino que, para que estejam mais interessados em jogar conversa fora do que prestar atenção ao meu discurso, já tenham total entendimento do assunto. Poderiam por gentileza repetir o que eu estava falando?
Sollaria enrubesceu fortemente, a cabeça baixa. Não iria confrontar a professora quando sabia que estava errada. O joelho de Draco tocou o dela por debaixo da mesa enquanto ele se esticava para ler o que estava escrito na lousa.
- A senhora estava... hum... falando sobre os... hum... ramos da Transfiguração.
Blaise Zabini deu uma tosse forçada, ao passo que a professora encarava Malfoy com reprovação, nem um pouco convencida. Após mais um tempo em silêncio, ela passou os olhos por toda a turma e disse:
- Eu não vou descontar pontos dos senhores hoje por se tratar do primeiro dia de aula, senhor Malfoy. Mas fiquem os dois - e os outros - avisados de que não tolero conversas paralelas em minha aula.
Ótimo, pensou Sollaria com amargura enquanto anotava o tema da aula em seu pergaminho, agora a professora pensa que eu não me importo com as aulas. Como se já não bastasse todo o resto...
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No dia seguinte, durante o café da manhã, o correio-coruja apareceu pontualmente. Antes de ter tempo para colocar sequer uma colher de cereal na boca, Sollaria foi abordada por Draco, que se sentou ao seu lado e perguntou:
- E aí, Florzinha, como você está hoje? Mal conversamos ontem após a aula de McGonagall, e... - Ela fechou a cara, ao passo que o sorriso dele se alargou. - Ah, como eu adoro te irritar. Mas você não me respondeu.
Ela franzindo o cenho.
- Do que você está falando?
- Nos últimos dias, você parecia tão quieta, chateada... E depois que a professora chamou nossa atenção na aula ontem, você se fechou mais.
Sollaria deu de ombros, enfiou sua colher de cereal na boca e mastigou lentamente enquanto Draco aguardava.
- A professora estava certa, não é? Não podemos perder o foco. Mas sobre todo o resto... - ela suspirou -...nós já conversamos a respeito, não? Eu estou bem. Vou ficar bem - corrigiu ela. - Não precisa se preocupar.
Draco piscou várias vezes, mas concordou rapidamente.
- Então... - Draco pareceu sem-graça de repente (o que era muito curioso, já que ele sempre escondia suas emoções e sentimentos em público).
Sollaria deu uma risadinha.
O garoto olhou para o alto, e depois voltou a olhar para ela.
- Eu talvez tenha feito uma coisinha...
Uma coruja deixou um pacote comprido em formato de vassoura diante de Draco, e ele pegou.
- Não é nada demais, sabe... É que... Você sabe... Eu não queria te ver triste daquele jeito. Fiquei preocupado, e...
- Fala logo, Malfoy - mandou Sollaria com impaciência, rindo das trapalhadas do amigo.
- Eu comprei uma vassoura pra você - disse ele depressa, dando um sorriso amarelo. - Considere como um presente de "melhoras", se quiser. Tcha-nam! - Seu sorriso diminuiu e, de repente, ele pareceu um pouco apreensivo. - Mas, pela sua cara, talvez tenha sido uma péssima ideia...
Os olhos de Sollaria estavam arregalados, e ela estava sem fala.
Ele era louco?
- Por favor, aceite. Eu devia ter imaginado que você se fecharia e diria que estava tudo bem e ignoraria por completo todas as minhas tentativas de te animar. Talvez eu não devesse ter comprado uma Fire...
Antes que ele pudesse sequer completar a frase, Sollaria começou a rasgar os papéis que envolviam a vassoura e, quando viu o nome gravado no cabo... Soltou um arquejo e virou-se para o amigo, o coração martelando no peito.
-...bolt.
De repente, talvez não seja uma grande idiotice... Mas ele não precisa saber disso.
- Malfoy... Você ficou doido? - Deu um tapa na nuca do garoto quando a realidade a atingiu.
- Ai!
- O que deu em você? É uma Firebolt, pelas barbas brancas e macias de Merlin!
- Eu fiquei mal de te ver tão triste! E, de qualquer forma, eu quis te dar a vassoura.
Sollaria olhou da vassoura para o amigo, e de novo para a vassoura.
- M-Malfoy... Eu não posso aceitar. É muito dinheiro.
- E eu sou bilionário. - Deu de ombros.
Sollaria amarrou a cara.
- Que foi? É verdade. Se você não aceitar, vou jogar fora. Não tenho o que fazer com ela. Não jogo no Time e nem quero, e eu mal fico em casa. Criaria teias de aranha nela se a deixasse lá.
- Mesmo assim - suspirou ela -, é muito dinheiro investido em mim. Quer dizer, eu sou só a sua amiga. Não é como se fôssemos-
- Se esse é seu jeito de declarar sua paixonite por mim e pedir indiretamente que eu te peça em namoro, é um péssimo plano... para uma sonserina.
Ele recebeu outro tapa.
- Deixa de ser idiota. - Mas dessa vez ela exibia um sorrisinho. - Eu ia dizer que não somos nem mesmo familiares. Gastar tanto dinheiro assim comigo?
De repente, Sollaria foi surpreendida pelas mãos de Draco chacoalhando seus ombros.
- Qual é a parte de "eu sou muito rico e esse dinheiro não faz falta no meu cofre pessoal porque meu pai abastece ele com o triplo todo mês e de qualquer forma eu gosto de você e queria te presentear" você não entendeu?
Sollaria sorriu.
- Tudo bem, então. - Deu um suspiro de derrota. - Eu aceito. Obrigada, Draco, por me comprar a vassoura mais incrível do mundo. - Beijou-lhe a bochecha, e Draco retribuiu com um sorriso, parecendo aliviado. - Mas espero que saiba que apenas a sua companhia já me basta, entendeu? - Ela passou os braços pelos ombros dele. - Você é o suficiente.
Ou talvez não totalmente, pensou ela divertida. Afinal, é uma Firebolt. Mas não vem ao caso agora.
- Entendido.
Quando Sollaria voltou sua atenção ao café, finalmente reparou no que acontecia ao redor - muitas pessoas olhavam diretamente para os dois e para a vassoura aberta sobre a mesa, uma autêntica Firebolt. Os colegas da Sonserina mais próximos cochichavam e algumas garotas a fuzilavam com os olhos. Ninguém na Escola toda jamais havia visto a Firebolt na vida real, e, quando a Potter levantou-se para guardar a vassoura no dormitório, uma aglomeração se formou ao seu redor.
Sollaria nunca havia se sentido tão popular como se sentira naquele momento - não por motivos banais como aquele -, ou melhor, sua vassoura era muito popular. Os olhares de inveja e cobiça dos garotos eram um incômodo com o qual ela não estava acostumada, afinal, jamais tivera nada que incitasse tal sentimento em alguém. As garotas que se aproximavam - as que não estavam interessadas na vassoura -, em sua maioria, tinham expressões azedas no rosto (até o fim do dia, boatos de que Draco e Sollaria estavam namorando surgiram nos corredores e uma garota jurou que viu Sollaria ameaçar uma corvina quando descobriu que esta estava interessada no Malfoy). De qualquer maneira, todos pareciam querer tocar no objeto, segurar por alguns segundos, e ela até deixou, mas, depois, começou a se sentir sufocada. Por sorte, Draco a conhecia bem; pegou sua mão e a tirou do meio da muvuca bem rápido.
- Obrigada de novo - agradeceu Sollaria ofegante, assim que saíram do Salão Principal. Draco a puxava gentilmente em direção às masmorras. - Eu já estava me sentindo um pouco desconfortável no meio de tanta gente.
O garoto sorriu, como se soubesse de algo que ela não sabia. Quando se sentaram juntos na sala de aula de Poções dez minutos depois, Sollaria sentia que seu coração poderia explodir de amor e gratidão e felicidade.
Como era sortuda por ter um amigo tão especial como Draco Malfoy! Draco Malfoy... Se alguém a abordasse exatamente dois anos antes e a dissesse que aquele garoto seria seu melhor amigo no futuro, ela riria e diria que a pessoa enlouquecera. Mas lá estava ela... Ao lado dele, de Draco, cuja amizade lhe era tão importante, essencial...
Ela o amava, mas tinha ciência de que não precisava dizer aquilo a ele mais uma vez, pois ele sabia.
E ela também sabia que ele a amava de volta, do jeitinho dele.
Os pensamentos de Sollaria foram interrompidos por um pedaço mal rasgado de pergaminho que surgiu em cima de sua carteira.
A letra apressada de Rony estava gravada no papel:
É verdade aquela história de Firebolt? Malfoy deu uma pra você?
Sollaria procurou o olhar do irmão postiço pela sala e acenou discretamente em afirmação. Ele ficou boquiaberto, mas logo voltou a escrever em outro pedaço de pergaminho. A sonserina decidiu prestar atenção ao que o professor agora falava, algo sobre a Poção do Esquecimento.
Contudo, logo outro pergaminho surgiu em cima de seus livros.
Você não está de namorinho com esse idiota, está? Todo mundo está falando disso agora. Você é muito nova para namorar, e irmã nenhuma minha vai ficar se engraçando pra cima de meninos idiotas feito o Malfoy, espero que esteja claro e-
Pareceu que fora interrompido e, quando Sollaria viu a letra miúda e caprichada de Hermione logo embaixo, imaginou que a morena puxara o papel das mãos do ruivo.
O Rony é um idiota e está com inveja. Não leve a sério as besteiras que ele fala. Se você e Malfoy se gostam e estão felizes, então eu estou feliz por você, Sollar-
Mais embaixo, havia uma letra preguiçosa escrita em letras garrafais desajeitadas. A letra de Harry.
Quanta baboseira, Hermione. E quem se importa com o idiota do Malfoy? É uma F-I-R-E-B-O-L-T. Posso dar uma voltinha nela um dia desses, Sollaria?
Sollaria deu uma risadinha. Draco pareceu curioso, e se inclinou para ler o que estava escrito. Sem pensar, sem ao menos lembrar que havia uma menção embaraçosa a um hipotético namoro entre os dois e a um boato de que tinham (era mentira, óbvio!) sentimentos um pelo outro, a ruiva simplesmente entregou o papelzinho para ele mesmo ler, enquanto ainda ria da breve conversa. Havia inocentemente entregado o bilhete porque achara engraçado, mas esquecera-se de que estava conversando com Draco Malfoy, e ele conseguiria fazer de tudo para deixá-la constrangida se quisesse.
Ele deu uma risada fria e baixa.
- Então - sussurrou ele no ouvido de Sollaria, causando-lhe uma estranha sensação no estômago -, eu sou um idiota, você gosta de mim e essa é a confissão de seus sentimentos? - Ele devolveu o papelzinho para ela. - Ah, por favor, Sollaria. Honestamente... você é melhor do que isso, não precisava encenar essa conversinha.
Sollaria nem se deu o trabalho de olhar para ele, porque sabia que, se o encarasse, ou ficaria vermelha que nem um pimentão, ou começaria a rir sem parar.
- Só nos seus sonhos, Malfoy.
E não se dirigiu ao melhor amigo pelo resto da aula.
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