Capítulo Dez: O Banheiro da Murta-Que-Geme


NOTAS DA AUTORA

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Após terminarem o jantar daquela noite, para o qual Sollaria decidira se juntar aos irmãos Weasley, Harry e Hermione à mesa da Grifinória, o Trio de Ouro e ela começaram a perambular pelo castelo antes de subirem para a Torre da Grifinória, onde Sollaria passaria a noite até a hora do toque de recolher.

Foi quando passaram pelo corredor do segundo andar onde ocorrera o ataque à Madame Nora que Harry percebera algo que nenhum deles havia notado até o momento, mesmo após dias atravessando aquele local.

- Marcas de fogo! - disse ele, engatinhando para perto da parede. - Aqui... e aqui...

- Harry! Rony! Venham só ver isso aqui! - chamou Hermione perto da janela do corredor.

Sollaria inclinou-se, olhando por cima do ombro da amiga para espiar. Mais de vinte aranhas passavam correndo e brigando para entrar em uma pequena fenda no caixilho superior da janela.

- Que coisa mais estranha!

Harry e Rony correram até as duas.

- Vocês já viram aranhas se comportarem assim? - perguntou Hermione pensativa.

- Não - disse Harry -, e você, Rony? Rony?

Ele olhou por cima do ombro. Rony estava parado bem longe e parecia lutar contra o
impulso de correr.

- Que aconteceu? - perguntou Harry.

Sollaria desviou o olhar para o ruivo e replicou, em um tom displicente:

- Ah, ele não gosta de aranhas.

- Eu nunca soube disso - comentou Hermione, olhando para Rony surpresa. - Você usou
aranhas na aula de Poções um monte de vezes...

- Não me importo quando estão mortas - explicou Rony, que tomava o cuidado de olhar
para todo lado menos para a janela. - Não gosto do jeito como elas andam...

Hermione riu.

- Não tem graça - disse Rony, furioso. - Se precisa mesmo saber, quando eu tinha três
anos, Fred transformou o meu... meu ursinho numa enorme aranha nojenta porque eu quebrei a vassoura de brinquedo dele... Você também detestaria aranhas se estivesse segurando um urso e de repente ele ganhasse um monte de pernas e...

Ele estremeceu, sem terminar a frase.

Hermione continuava obviamente a fazer força para não rir, algo de que Sollaria não gostou; não se gozava da fobia alheia, era o que ela pensava.

Harry talvez tivesse percebido a expressão um pouco fria no rosto de Sollaria, porque decidiu mudar de assunto.

- Vocês se lembram daquela água toda no chão? De onde terá vindo? Alguém a enxugou.

- Estava mais ou menos por aqui - disse Rony, caminhando até a porta do banheiro feminino. - Na altura desta porta.

Ele levou a mão à maçaneta de latão mas, de repente, puxou a mão como se tivesse se queimado.

- Que foi? - perguntou Harry.

- Não posso entrar aí - explicou impaciente. - É o banheiro das garotas.

- Ah, Rony, não vai ter ninguém aí - disse Hermione revirando os olhos. - É o banheiro da Murta-Que-Geme, aquela fantasma chorona que vimos na festa do Nick-Quase-Sem-Cabeça. Venha, vamos dar uma olhada.

E, desconsiderando o grande aviso de INTERDITADO, ela abriu a porta.

Harry e Rony já estavam entrando junto com Hermione quando Sollaria parou à porta, incerta.

- Ei, esperem - murmurou ela antes de entrar. - Pensa bem, Mione... Se nos pegarem aqui, isso vai parecer estranho.

Mas a morena apenas revirou os olhos com impaciência e entrou no banheiro, ignorando Sollaria.

Ela não teve outra alternativa senão segui-los porta adentro.

Era o banheiro mais escuro e mais deprimente em que Sollaria já entrara. O piso estava molhado e refletia a luz fraca dos tocos de vela que brilhavam nos castiçais; as portas de madeira dos boxes estavam descascadas e arranhadas e uma delas se soltara das dobradiças. Havia várias coisas rabiscadas nas paredes, tais como xingamentos e coraçõezinhos.

Hermione se encaminhou para o último boxe, e os outros três seguiram atrás. Ao chegar, disse:

- Olá, Murta, como vai?

A Murta-Que-Geme estava flutuando acima da caixa de descarga do vaso, cutucando uma manchinha no queixo.

- Isto aqui é um banheiro de garotas - disse ela, olhando desconfiada para Rony e Harry. -
Eles não são garotas.

- Não - concordou Hermione. - Só queríamos mostrar a eles como... ah... é bonitinho aqui.

Ela fez um gesto vago indicando o velho espelho sujo e o piso molhado.

Sollaria deu uma tosse forçada.

- Pergunte a ela se viu alguma coisa - pediu Harry disfarçando.

- Que é que você está cochichando? - perguntou Murta, encarando-o.

- Nada - disse Harry depressa. - Queríamos perguntar...

- Eu gostaria que as pessoas parassem de falar às minhas costas! - disse Murta numa voz
engasgada de choro. - Eu tenho sentimentos, sabe, mesmo que esteja morta...

- Murta, ninguém quer aborrecê-la - disse Hermione. - Harry só...

- Ninguém quer me aborrecer! Essa é boa! - uivou Murta. - Minha vida foi uma infelicidade só neste lugar, e agora as pessoas aparecem para estragar a minha morte!

- Nós queríamos perguntar se você viu alguma coisa esquisita ultimamente - intrometeu-se Sollaria depressa. - Porque uma gata foi atacada bem ali na porta de entrada, no Dia das Bruxas. Você viu alguém por aqui naquela noite?

- Eu não estava prestando atenção - respondeu a Murta teatralmente. - Pirraça me aborreceu tanto que entrei aqui e tentei me matar. Depois, é claro, lembrei que já estou... que estou...

- Morta - disse Rony querendo ajudar.

Sollaria deu um chute na canela do garoto. Todos sabiam que o fantasma que habitava naquele banheiro era extremamente sensível, e o ruivo não estava ajudando em nada.

- Fica quieto, seu mané - retrucou Sollaria entredentes, enquanto forçava um sorriso na direção de Murta.

Murta soltou um soluço trágico, subiu no ar, deu uma cambalhota e mergulhou de cabeça no vaso, espalhando água neles e desaparecendo de vista, embora pela direção dos seus soluços abafados, devesse ter ido pousar em algum ponto da curva em U.

Harry e Rony ficaram boquiabertos e Sollaria fez um muxoxo de derrota, mas Hermione de ombros cansada e disse:

- Francamente, vindo da Murta isto foi quase animador... Vamos, vamos embora.

Harry mal fechara a porta, abafando os soluços gargarejantes de Murta, quando uma voz
alta fez os quatro darem um salto.

- RONY!

Percy tinha estacado de repente no alto da escada, a insígnia de monitor reluzindo e uma expressão de absoluto choque no rosto.

- Isto é um banheiro de garotas! Que é que você...? Sollaria! Você... Eu não acredito...

- Só estávamos dando uma olhada - Rony sacudiu os ombros. - Pistas, sabe...

Sollaria lhe deu um cutucão nas costelas.

- Da próxima vez, deixa que eu falo - sibilou ela.

Percy inchou de um jeito que lembrou a mãe deles.

- Sumam... daqui... - disse Percy, caminhando em direção a eles e começando a afugentá-los, agitando os braços. - Vocês não se importam com o que isto parece? Voltarem aqui enquanto todos estão jantando...

Sollaria empalideceu. Era o que ela temia...

- Eu falei a mesma coisa - disse ela baixinho para si mesma.

Percy olhou na direção da Potter, tendo, aparentemente, escutado o que ela dissera.

- Pelo menos ainda lhe resta um pouco de senso, então. Eu esperava mais de você, Sollaria. Você devia tê-los parado, e não os acompanhado!

- Eu tentei, mas...

- Por que não deveríamos estar aqui? - retrucou Rony exaltado, interrompendo a garota. - Olhe aqui, nunca pusemos um dedo naquela gata!

- Foi o que eu disse a Ginny - respondeu Percy com ferocidade -, mas ainda assim ela parece pensar que você vai ser expulso! Nunca a vi tão perturbada, chorando de se acabar... Você poderia pensar nela, todos os alunos de primeiro ano estão agitadíssimos com essa história...

- Você nem se importa com a Ginny - disse Rony, cujas orelhas agora estavam vermelhas. - Você só está preocupado que eu estrague suas chances de se tornar monitor-chefe...

Sollaria arregalou os olhos, percebendo que Rony ultrapassara uma linha invisível de sua relação com o irmão mais velho.

- Cinco pontos a menos para a Grifinória! - disse Percy concisa e autoritariamente, levando a mão à insígnia de monitor. - E espero que isto seja uma lição para vocês! Nada de trabalho de detetive ou vou escrever para a mamãe!

E saiu a passos firmes, a nuca tão vermelha quanto as orelhas de Rony.

Àquela noite, os quatro escolheram poltronas na sala comunal o mais afastado possível de Percy. Rony continuava de muito mau humor e não parava de borrar com a pena o dever de Feitiços que ele fazia (Sollaria estava ajudando-o, mas a cada vez que ele xingava, mais ela perdia a paciência). Quando ele esticou a mão distraidamente para remover os borrões, acabou tacando fogo no pergaminho sem querer. Fumegando quase tanto quanto o seu dever, Rony fechou com estrondo o Livro Padrão de Feitiços, 2ª série. Para a surpresa de Sollaria, Hermione fez o mesmo.

- Mas quem é que pode ser? - perguntou Hermione baixinho, como se estivesse continuando uma conversa já iniciada. - Quem iria querer afugentar todos os abortos e trouxas de Hogwarts?

- Vamos pensar - disse Rony fingindo-se intrigado. - Quem é que conhecemos que acha que os que nascem trouxas são escória?

Ele olhou para Hermione, que retribuiu o olhar sem se convencer. Sollaria olhou de um para outro, já entendendo o que se passava na mente do irmão postiço.

- Se você está pensando no Draco...

- Claro que estou! - exclamou Rony. - Vem cá, a gente só precisa olhar para aquela cara nojenta de rato para saber que é ele...

- Draco, o Herdeiro de Slytherin? - disse Hermione cética.

- Ele não tem cara de rato! - sibilou Sollaria em defesa do amigo.

- Olha só a família dele - disse Harry, fechando o livro dele também, sem dar atenção a Sollaria. - Todos foram da Sonserina; ele está sempre se gabando disso. Podiam muito bem ser descendentes de Slytherin. O pai dele decididamente é bem malvado.

- Eles poderiam ter guardado a chave para a Câmara Secreta durante séculos! - disse Rony. - Passando-a de pai para filho...

- Bem - disse Hermione, cautelosa -, suponhamos que seja possível...

- Gente, não. - Sollaria bateu com o punho na mesa. - É impossível! Draco estava comigo na sala comunal quando aconteceu, como ele poderia ter...

- Mas como vamos provar isso? - atravessou Harry, desanimado.

- Talvez haja um jeito - disse Hermione pausadamente, baixando a voz ainda mais e lançando um breve olhar a Percy do outro lado da sala. - Claro que seria difícil. E perigoso, muito perigoso. Estaríamos desrespeitando umas cinquenta normas da escola, acho...

- Se, dentro de mais ou menos um mês, você tiver vontade de explicar, você nos avisa, não é? - disse Rony, irritado.

- Muito bem - disse Hermione friamente. - O que precisamos é entrar na sala comunal da Sonserina e fazer umas perguntas a Draco, sem ele perceber que somos nós.

- Mas isto é impossível! - exclamou Harry enquanto Rony dava risada.

- Não, não é - disse Hermione. - Só precisaríamos de um pouco de Poção Polissuco.

- Não! Não, não e não! - interferiu Sollaria. - Isso é um absurdo! Por que é que vocês não me ouvem, hein?

- Que é isso? - indagaram Rony e Harry juntos, ignorando Sollaria mais uma vez.

- Snape mencionou essa poção na aula há umas semanas... - começou Sollaria.

- Você acha que não temos nada melhor a fazer na aula de Poções do que prestar atenção a Snape? - resmungou Rony.

- Ela transforma você em outra pessoa. Pense só nisso! Poderíamos nos transformar em alunos da Sonserina. Ninguém saberia que somos nós. Draco nos contaria qualquer coisa. Provavelmente anda se gabando disso na sala comunal da Sonserina neste instante! Se ao menos pudéssemos ouvi-lo...

- Essa história de Polissuco me parece meio suspeita - disse Rony, franzindo a testa. - E se a gente acabasse parecendo três alunos da Sonserina para sempre?

- Sai depois de algum tempo - disse Hermione, fazendo um gesto de impaciência. - Mas conseguir arranjar a receita vai ser muito difícil. Snape falou que estava em um livro chamado Poções Muy Potentes e vai ver está na Seção Reservada da biblioteca.

- Eu acho que vocês estão perdendo a noção do ridículo. Primeiro, Draco não é o herdeiro de Slytherin. Vocês se esqueceram de que a escola inteira pensa que eu e Harry somos os herdeiros?

Hermione fechou a cara.

- Ah, sim, aquele apelido ridículo...

Por alguma razão, aquilo aborrecera Sollaria.

Ela cruzou os braços e empinou o nariz.

- Você diz isso porque não é chamada de "Princesa da Grifinória".

- Isso não vem ao caso! - Harry fez um gesto de impaciência com a mão. - Precisamos provar que Malfoy é o herdeiro da Sonserina antes que ele resolva atacar mais alguém!

Sollaria sentiu vontade de chacoalhá-los pelos ombros.

- Vocês não estão me ouvindo! Isso é uma grande perda de tempo, gente. Draco não estava no segundo andar na hora do ataque, por que vocês insistem tanto em pensar que ele é o Herdeiro?

- Ele não precisava estar presente se o que atacou a gata foi o monstro que o Herdeiro controla - apontou Hermione com tom sagaz.

- É mais fácil Crabbe e Goyle terem algo a ver com isso, sendo maus como são, do que Draco, e, ainda assim, é uma ideia ridícula de se pensar! Alunos do segundo ano abrindo a Câmara Secreta... Onde já se viu?

- Crabbe e Goyle fazem o tipo mesmo - comentou Hermione, meio distraída.

- Mais um motivo para usarmos a Poção - comentou Rony em tom de urgência, sendo apoiado por Harry.

Sollaria soltou um gemido de frustração e levantou-se.

- Aonde é que você está indo? - indagou Harry.

- É, você não terminou de me ajudar com o dever de Feitiços! - lembrou-a Rony, levantando-se depressa.

- Vocês já me encheram a paciência com essas ideias malucas. Estou cansada de falar, falar e falar e não ser ouvida. Você que se vire com seu dever de Feitiços a partir de agora. Ouvi dizer que a nota máxima entre os alunos da Corvinal foi setenta porcento! Quero ver você conseguir média nessa porcaria sem a minha ajuda.

E, com um último olhar na direção de Hermione, Sollaria colocou a mochila nos ombros e saiu apressada da Sala Comunal da Grifinória.

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