Capítulo Cinco: A Conversa na Torre de Astronomia


NOTAS DA AUTORA

↯ Por favor, não se esqueça de deixar seu voto e seu comentário! 🌻

________

Depois de uma tarde ignorando Draco, havia dado de cara com ele assim que entrou no Salão Comunal após voltar da sala de Snape, onde passou as últimas duas horas e meia praticando Legilimência ininterruptamente.

- Sollaria. - A voz arrastada de Draco Malfoy soou fria aos seus ouvidos. Ela considerou dar meia-volta. - Estive esperando pela oportunidade de conversar com você a tarde toda, e depois no jantar, você sumiu... Onde esteve? Passa do horário de recolher, e...

- Fala logo, Draco - interrompeu ela, dando um suspiro cansado. - Estou exausta, sério.

Ele se levantou do sofá e olhou ao redor antes de se aproximar dela. O salão comunal já estava vazio àquela altura, mas, mesmo assim, ele murmurou:

- Por que é que você está me evitando assim? Por que você...

- Você não pode estar falando sério - Ela deu um passo para trás.

- Eu...

- Você estava provocando Harry, Draco! Você sabe o que eu penso desse tipo de atitude sua.

- Eu não estava ofendendo você!

- Harry é o meu irmão! E não importa se não fosse. Não vê que essa sua atitude é desnecessária, feia e baixa?

Ele não respondeu de imediato.

- Eu tenho uma reputação a manter.

Ela riu com escárnio.

- Sabe, às vezes eu tenho pena de você, Draco.

- O que quer dizer com isso? - Ele se adiantou, os olhos cintilando em desafio.

Ela cruzou os braços.

- Eu pensei que você poderia mudar, que poderia ser melhor do que isso, mas... Mas você ainda faz isso quando pensa que eu não vejo. Ainda faz e fala coisas ruins dos outros, apenas porque pensa ser melhor do que eles.

Draco apertou os lábios em uma linha quase inexistente.

- Ah, é sobre isso! - Ele ergueu as mãos teatralmente. - É claro que é. Devia ter imaginado. Você deve se achar perfeita para apontar o dedo na minha cara, não é? Mas deixa eu te dizer uma coisa: às vezes, você é uma chata! Chata e controladora! Por que é que você vive tentando me fazer mudar, hein? Eu não fico tentando fazer você parar de andar com seus irmãos! Eu não fico corrigindo o seu jeito de falar, de se vestir ou de andar, embora pareça com o de uma pobretona caipira!

Sollaria sentiu-se como se tivesse sido esbofeteada na face. Como se Draco tivesse enfiado a mão em seu peito e arrancado seu coração.

- E-Eu... Eu não fico tentando te fazer mudar, Draco. Eu só queria que você enxergasse que a forma como age às vezes ofende os outros. Eu gosto de você do jeito que você é - ela abaixou os olhos, evitando o olhar do amigo para que ele não visse como seus olhos estavam carregados de lágrimas -, mas as coisas que você faz e fala às vezes... Às vezes machuca. - Ela o fitou, e ela soube que ele entendera o que havia feito. - Como agora.

Ela deu meia-volta e saiu da sala comunal, andando depressa caso Draco tentasse ir atrás dela.

Ouviu a voz do garoto chamar por seu nome, mas ela não se virou nenhuma vez.

Como ele poderia não enxergar que as provocações, os comentários não eram aceitáveis? Que eram ofensivos? Culpava os pais dele por ensiná-lo a ser daquela forma, mas sabia que ele já não era um bebê, e poderia muito bem decidir como agir por conta própria - e ele se recusava a melhorar, mesmo que por ela.

Ela se sentiu muito pequena de repente. Como se ele fosse fazer alguma coisa por ela. Quem ela era? Não era nada, não era ninguém. E ele... Ele era Draco Malfoy, herdeiro de uma grande fortuna e de um dos mais antigos sobrenomes de todo o mundo bruxo. Ele podia fazer o que quiser, e seria desculpado por isso. Danem-se as consequências... Talvez ele pensasse assim. E talvez ela devesse parar de pensar no que poderia acontecer, já que nem mesmo ele se importava. Mas de uma coisa ela sabia: se ele continuasse agindo daquela forma, o Universo não seria gentil com ele.

Pensou aonde poderia ir; a Torre da Grifinória parecia um bom lugar - poderia ficar lá com os irmãos até o horário da aula de Astronomia -, mas decidiu que precisava de um tempo sozinha, então rumou em direção à torre mais alta do castelo (a de Astronomia), e lá entrou.

A noite estava realmente muito bonita, apesar de extremamente quente. As estrelas brilhavam forte no céu, e a escuridão permitia que Sollaria as observasse com mais clareza. Pena que ela era péssima para identificá-las.

No silêncio da noite, ela era capaz de sentir a magia fluindo em suas veias. De ouvir os animais na Floresta Proibida, e de perceber a mudança. Ela não sabia do quê, exatamente, mas ela era capaz de sentir. As coisas ali lhe pareciam diferentes, no alto da Torre de Astronomia. Era um bom lugar para se estar.

- Aquela é Aquila. - Uma voz soou levemente esganiçada atrás dela. - E aquela é Cygnus. É o nome do meu avô materno.

Ela se virou, apenas para encontrar a figura de Draco Malfoy parada diante dela, a alguns metros de distância.

- Você me encontrou.

- Imaginei que viria até aqui.

Ela ergueu uma das sobrancelhas.

- Tá, eu a segui.

Sollaria revirou os olhos.

- Apenas porque - ele suspirou - eu me importo com você, tá bom? Eu admito que eu ajo como um idiota às vezes...

- Às vezes?

Ele não respondeu.

-...E que isso te magoa, mas... Mas esse é o meu jeito, Sol, e eu não acho que eu posso ser outra pessoa apenas porque você quer que eu seja. - Ele se aproximou dela na beirada e colocou a mão dele sobre a dela. - Se você gosta de mim como eu sou, se quer continuar sendo minha amiga, eu gostaria de que prometesse que não vai tentar me mudar. Que vai me aceitar como eu sou. Do jeito que eu sou. Porque é muito ruim saber que alguém gosta de você pelo que você poderia ser, e não pelo que você é. Já imaginou ser forçada a ser alguém que você não é, simplesmente porque alguém deseja que assim seja?

Aquilo foi como se uma faca tivesse atravessado o seu estômago.

Sim, ela imaginava. Porque ela sabia. Ela sabia exatamente como era ser forçada a ser alguém que você não é, por tanto tempo que você nem ao menos faz ideia de como era antes de tudo.

Não fazia ideia de que poderia estar tentando fazer o mesmo, ainda que de forma inconsciente, com outra pessoa.

E ela se odiou por isso.

Afastou a mão da dele, porque se sentia suja demais naquele momento para permitir que alguém chegasse perto dela. Tudo... Absolutamente tudo que ela odiava... Quem ela pensava que era? Quem ela pensava que era para tentar...

- Me desculpe, Draco - sussurrou ela, a voz embargada. A garganta dela se fechou, e ela tentou de toda forma controlar a repentina vontade de chorar. - Eu não... Eu não sabia que você se sentia assim. É só que... É só que você sempre se abre comigo de uma forma tão diferente como age quando há outros por perto, e eu... Eu sei que esse é você. Eu queria que as outras pessoas também soubessem disso. De como você é muito mais do que você mostra a elas. De que você não é nada como o garoto que você parece ser quando eles estão por perto.

Draco encolheu os ombros.

- Eu já te expliquei, Sollaria. Eu tenho respeito por você, e por isso eu tento não expressar muito as minhas opiniões que eu sei que você não gosta. E... E eu tenho uma imagem a manter. Eu sou um Malfoy, e eu devo agir como tal. As pessoas precisam me respeitar, de uma forma ou de outra. Seja por medo, ódio ou amor. Eu fui criado assim, e eu nasci especificamente para isso. Você precisa entender que eu não vou agir como ajo com você na frente das pessoas, não mesmo. Jamais mostraria meu coração a mais ninguém.

Sollaria não conseguia imaginar como deveria ser ter nascido com um propósito tão frio e calculista como aquele e, mais uma vez, ela sentiu pena do melhor amigo.

Sentiu o coração transbordar de amor e carinho e todas as coisas boas que existiam no mundo - ele jamais mostraria o coração a mais ninguém. Como Draco poderia depositar tanta confiança nela, ao mesmo tempo que não confiava em absolutamente ninguém?

- Eu... Eu te amo, Draco. - Apesar da escuridão, ela o fitou nos olhos com o máximo de sinceridade que conseguiu reunir. O sentimento que ela gostaria de transmitir ao amigo era de amor, puro e verdadeiro, e de honestidade. Tocou-lhe a mão, e esperava que ele pudesse sentir a pureza de seus sentimentos. - Eu te amo sincera e profundamente. Gostaria de que soubesse disso.

Mesmo sem poder enxergá-lo direito, Sollaria sabia que Draco estava sorrindo.

- E-Eu...

Sollaria apertou a mão do amigo com empatia.

- Você não precisa dizer, Draco. Eu sei.

E ela de fato sabia.

Amar não era difícil para Sollaria. Dizer que amava, muito menos. Ela era um poço transbordante de amor e pureza e carinho, e isso era tudo o que ela tinha para oferecer. Havia sido criada em um lar cheio de risadas e abraços e atenção, então não tinha dificuldade nenhuma em expressar seus sentimentos. Mas conseguia imaginar agora, depois de conhecer Lucius Malfoy no outro dia na Floreios e Borrões, que talvez na casa de Draco as coisas fossem diferentes.

Sollaria era paciente. Ela podia esperar, e não se importava se ele nunca conseguisse dizer aquelas palavras, porque ela conseguia sentir que o que Draco sentia era sincero e, o mais importante, recíproco.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top