32 - Edith Nash
— Até logo, Edith — Dolores se despede.
No meio de toda essa confusão que de algum jeito me envolvi, acabei não percebendo que talvez tivesse feito amigas. Amigas que de alguma forma queriam me envolver em um assassinato, mas ainda assim amigas. Será que essa amizade ia continuar depois que tudo acabasse? E se elas levassem esse plano a diante, será que eu participaria?
Bom, acredito que minhas participações em planos não são muito necessárias.
Eu não queria matar a Charlotte, claro, ela tinha quase me matado na festa, fora as outras coisas que fez. Mas eu não sou o tipo de pessoa que leva as coisas ao extremo, como Dolores. Ela podia morrer de causas naturais, por mim estava bom. Seria hipocrisia dizer que considero a vida dela preciosa.
— Mãe?
Assim que entro na sala encontro meus pais sentados no sofá com um semblante estranho. Minha mãe tinha claramente chorado.
— O que aconteceu?
Papai simplesmente aponta para o notebook aberto na mesinha de centro, no mesmo instante fico sem ar. Tinha sido através de um vídeo que Charlie tinha atingido Cristina. Agora era minha vez, a próxima seria Dolores.
Só podia ser isso.
Era um vídeo, um vídeo da festa.
Alguns poucos segundos, apenas o suficiente para perceber que estou tendo uma convulsão.
Tudo tinha ido por água abaixo, meus pais nunca confiariam em mim novamente. Eu menti e os enganei. Esperava que eles não descobrissem, esperava conquistar minha independência aos poucos depois de ter ido para a festa. Mas agora tudo estava perdido...
— Por que nos enganou, Edith? Você falou que tudo tinha corrido bem — Meu pai fala calmamente.
— Também consigo ver que tem bebidas nessa festa. Também tinham drogas? Você usou alguma coisa? — Diferente do meu pai, mamãe não se preocupa em manter a voz calma o que me revela toda sua decepção.
Queria me explicar, talvez me ajoelhar no chão e pedir perdão, talvez até ter uma convulsão. Eu não tinha a confiança das minhas amigas, não tinha a minha própria confiança e agora tinha perdido a dos meus pais. A epilepsia tinha me tirado tudo e Charlie tinha ajudado.
— Não usei nada — é tudo que consigo dizer.
— É essa Dolores não é? Ela veio aqui conversar com o seu pai e está manipulando você?
Nesse momento meu pai se levanta, não tenho certeza se ele está chorando, em minha vida o vi chorar poucas vezes.
— Edith, por que escondeu esse incidente da festa de nós?
Decido falar a verdade.
— Caso soubessem que tive uma convulsão, perderiam a confiança e não me deixariam jamais sair sozinha novamente.
— Por isso disse que não teria bebidas na festa?
— Eu não sabia, e não bebi.
— Pois muito bem, Edith, se você quer ser adulta, se que ser independente, agora você é. Eu não me importo, pode sair para onde quiser na hora que quiser! — Simplesmente passou pela porta e saiu para a rua.
Aquelas palavras me doeram, doeram mais do que se ela tivesse gritado. Na verdade eu queria que ele fizesse isso. Queria que gritasse comigo e me colocasse de castigo. Era o que ele fazia. Quando eu tinha sete anos e entrei no pula pula da festinha da escola. Ele gritou, me colocou de castigo no quarto e depois me fez prometer que nunca mais ia entrar sozinha nesses brinquedos lotados, eu não era como as outras crianças. Eu podia me machucar. Eu obedeci. Isso se repetiu muitas vezes, até que eu tivesse permissão apenas para ir a escola e ficar em casa lendo e jogando vídeo game, até que a vontade de ter uma vida diferente fosse substituída pelo medo de ter uma convulsão.
Esperei a vida toda para ouvir que estava livre, e se tornaram as piores palavras que meu pai já me disse.
Ele falava sério, se eu decidisse sair de casa amanhã e morar no meio da rua ele não diria uma palavra, apesar da tristeza que sentiria. Ele era um homem de palavra.
Olho para mamãe esperando alguma frase, fosse de conforto ou de acusação. Seguindo o exemplo do meu pai ela sai para outro cômodo, me deixando sozinha na sala.
— Edith?
Muito tempo tinha se passado, eu continuo no mesmo lugar. Sentada no chão na frente do computador. Não tinha me movido, não tinha chorado.
— Edith!?
— O que foi? — Olho para meu irmãozinho.
— Quem é Charlie?
— Onde você ouviu esse nome?
— Mamãe estava falando com o pai sobre a festa da Charlie, antes de você chegar.
— Charlie... Charlie é uma pessoa que vai morrer.
É assim que se revela ao seu irmão de quatro anos que você é uma assassina.
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