31 - Cristina Stevens

— Não é como se você estivesse no ensino fundamental — Dolores diz

— Mesmo assim tem um curativo no meio da minha cara.

— Cristina, seu nariz está ótimo. Precisamos de você para...

— Para matar a Charlie?

— Pelo menos para ficarmos juntas.

— Você e a Patricia não estavam falando sério, não é? Assassinato é muito pra mim.

— Precisamos pensar com mais cuidado, mas eu não estava brincando.

Mudo de assunto e termino de arrumar a mochila de Isabel, deixo o café pronto para quando mamãe acordar.

— Não precisava passar por aqui para irmos. — Saímos juntas da minha casa, Isabel vai na frente puxando sua mochila de rodinhas, dando mais espaço para eu e minha amiga psicótica falarmos de assassinato. 

— Na verdade, eu não queria ir sozinha. 

— Está com medo da Charlie?

Dolores não me responde. Me limito a observar os chaveiros de unicórnios pularem na mochila da minha irmãzinha enquanto ela corre segurando um galho e fingindo lançar feitiços nas coisas. Ela era a coisa que eu mais amava, se algum dia fosse capaz de matar alguém seria por ela. 

Chegamos na escola, abaixo a cabeça imaginando que todos estão olhando para o curativo no meu nariz. Eu não estava no ensino fundamental, mas aquilo me incomodava. De repente percebo que o centro das atenções na verdade era Isabel.

O que está havendo? 

Vou até Isabel e vejo se tem algo errado, ela não parece se dar conta das risadas e dos olhares que jogam para ela. Não sei o que pode ter causado essa reação, mas ela é exagerada e inconveniente. Isabel é uma criança.

— Avada Kedavra! — Corre até uma amiguinha e aponta o galho para ela.

— Não posso brincar com você, meu irmão disse que sua mãe é uma vagabunda bêbada e que você é um aborto.  

Isabel dá um passo para trás, não entendendo o significado daquelas palavras.

— O QUE SIGNIFICA ISSO? — pergunto a menina que falou aquelas coisas, pronta para descobrir quem é seu irmão e porque falou uma coisa daquelas.

-— Cristina... — Patrícia põe a mão no meu ombro, antes que eu faça alguma besteira com a criança de boca suja. 

— Tem um vídeo de uns 30 segundos dá sua mãe, ela está bêbada e falando algumas coisas de você e da Isabel, principalmente dela — Dolores diz enquanto assiste o vídeo no celular de Patrícia. 

— Como?

Vejo 10 segundos e me afasto. Isabel olha confusa para os amigos, alguns alunos passam por ela a chamando de coisas como "aborto" e "bastarda".

— Charlie — Dolores diz.

Sim, era Charlie. Ela disse que ia fazer, e fez. Procuro ela com os olhos e vou em sua direção. Patricia diz alguma coisa atrás de mim, mas não escuto. Estava tudo bem ela mexer comigo, estava tudo bem ela quebrar meu nariz. Mas com a minha irmã ela não ia mexer, muito menos com a minha mãe.

— Vou te mostrar quem é o aborto.

Tento empurrar ela, mas logo sou impedida por seus "seguranças". O máximo que consigo é derramar o suco que estava segurando na sua farda. 

— EI!

— O que você fez? 

— Eu não fiz nada, Cristina. Quem chamou a Isabel daquelas coisas foi sua própria mãe. 

— Ela é uma criança...

— Diga a Edith que ela será a próxima. 

O sinal indicando o inicio das aulas toca, Charlie sorri para mim e segue o fluxo de alunos. Quando ela some de vista, seja lá quem estava me segurando me solta. Dolores vem até mim.

— Não adianta, eu já tentei fazer isso.

Fico calada, olhando os poucos alunos que restam entrarem em suas salas.

— Você está bem?

A voz de Dolores parece distante, posso sentir toda a raiva dentro de mim. As palavras ditas a minha irmã ecoam na minha cabeça. Vejo que ela está um pouco mais a frente no colo de Patricía, chorando e provavelmente se perguntando o que eram aquelas palavras feias que tinha escutado

— Charlie tem que morrer — digo.

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