10 - Patrícia Parker
Esperei por alguns minutos, mas Charlie não veio.
— Com licença, se Charlotte me procurar pode dizer a ela que tive que ir embora?
Em resposta a mulher apagou um cigarro na minha bolsa.
Encarei ela por alguns segundos antes de sair, não queria procurar confusão.
— Patty? — Charlie me chamou.
Seria estranho se eu saísse correndo?
— Já estou de saída, não posso esperar.
Charlie levanta as chaves do carro e as balança na minha frente.
— Já estou indo, sua boba.
Sigo ela, com um pouco de mau gosto. Mas talvez eu estivesse ficando paranóica.
— Não sabia que você tinha carteira.
— E não tenho.
Será que esse era meu mau pressentimento? Íamos morrer ou ficar em estado vegetativo depois de um acidente de carro? Antes de conseguir falar, Charlie me empurra para dentro do carro. Um homem de uns 30 anos esperava no banco de trás.
Quando ela disse, amigo, eu esperava encontrar alguém da nossa idade.
— Seja gentil com ela, Bruno.
- Olá, princesa. - O homem sorri para mim.
Charlie coloca o cinto e dá a partida.
O cheiro de álcool e drogas que emana dele me deixam desconfortáveis, tanto quanto a forma com que me olha. Digo o endereço da minha casa a Charlie, com a voz meio desesperada.
— Aceita uma garrafa?
— Não.
Charlie recebe a garrafa da mão dele e bebe.
— Ei! Você está dirigindo!
— Se fizer a coisa certa a sua vida toda, então terá vivido errado. - Charlie sorri.
— Que caminho é esse? Minha casa não fica pra cá.
— Ela não parece bêbada, Charlotte.
— Do que estão falando? Para onde estamos indo?
— Calma, Patty
— Quero descer! - quase grito.
O que estava acontecendo? Quem exatamente era ele e para onde estávamos indo?
Deus, eu tinha sido burra o suficiente para confiar em Charlie.
— Não quero problemas, Charlotte. — O homem a olha com desprezo
O carro para. A essa altura, não presto mais atenção no que estou dizendo. Algo entre "eu te imploro" e "tenha misericórdia".
— Boa noite. — Charlie joga as chaves do carro para ele e sai.
— O QUE ESTÁ FAZENDO? CHARLIE ME DEIXE SAIR.
Tento abrir a porta, mas ela está trancada.
— SOCORRO!
O homem aproxima seu rosto do meu pescoço, sinto em seu hálito quente, uma mistura de cerveja e vômito, a centímetros do meu rosto.
— POR FAVOR, NÃO FAÇA NADA COMIGO!
— Não se preocupe, quando acabar vou te dar um dinheiro para o táxi. A cerveja não vai te deixar lembrar de nada.
— CHARLIE, O QUE ESTÁ FAZENDO? QUE TIPO DE BRINCADEIRA É ESSA?
O homem começa a tocar meu rosto, abro minha bolsa e pego a primeira coisa que encontro, meu celular. Atinjo ele com toda a força na cabeça, o que não pareceu ter muito efeito. Suas gargalhadas ecoam no carro trancado.
— Você é engraçada, criança. Eu poderia te deixar desacordada, mas não seria divertido.
— POR FAVOR, NÃO FAÇA NADA COMIGO. NÃO ME MACHUQUE — Choro.
Pela primeira vez, desde que tudo começou; ele olha nos meus olhos e não para o meu corpo.
— O quanto você bebeu?
Ele acha que você está bêbada. Acha que pode fazer o que bem entender porque você não vai lembrar de nada.
— Não bebi nada.
Recebo um tapa furioso na cara, em poucos segundo estou apanhando os óculos com o gosto metálico do sangue na boca. Talvez tenha sido o choque, mas parei de chorar.
— CHARLOTTE, EU ACABO COM VOCÊ. — Tira a chave do carro do bolso e dá partida.
— POR FAVOR... — Retomo o choro.
— SAIA! — Abre a porta com violência e me empurra. Caio na pista.
Por sorte, o carro estava em baixa velocidade. Olho para os dois lados da rua vazia, o rosto ainda no chão. Todas as lojas estavam fechadas, ninguém andava por ali. Rastejo até o meio fio, segurando minha bolsa com força. Tenho medo de que o carro volte, mas ao mesmo tempo tudo que consigo fazer é chorar. Minhas pernas tremem demais para conseguir correr.
Quanto tempo passou? Onde estou?
Tento ligar o celular para pedir ajuda. Aparentemente, a pancada tinha afetado mais o aparelho do que a cabeça do homem que tinha acabado de tentar me violentar.
Deus, por favor me ajude a chegar em casa.
Ando por um longo tempo, até encontrar uma mulher fechando o que parecia ser a última loja aberta aquela hora da noite.
— Com licença, pode me ajudar? Preciso fazer uma ligação.
Ela me olha de cima a baixo, como se visse uma espécie de monstro.
— Não tenho celular.
Não a culpo, minha aparência deve estar horrível.
— Onde posso encontrar um táxi, moça? A rua está deserta, tenho que voltar para casa.
— Siga direto e dobre na primeira rua a esquerda.
— Obrigada.
— Ei, moça!
Me viro para ela.
— Não é por nada, mas eu acho que você tem pais em algum lugar que se importam com você. Não seja uma idiota.
Ela tinha razão.
Segui o caminho que ela indicou até a civilização. O terceiro táxi que chamei parou para mim.
— Para onde? — uma mulher morena de cara emburrada pergunta, digo meu endereço a ela.
— Tem água no banco de trás, se quiser.
— Não, obrigada.
Tudo parece um sonho, a medida que me aproximo de casa reconheço as lojas, as casas dos vizinhos, a escola. Agradeço pela visão de cada um. Procuro o dinheiro na bolsa antes de pararmos, minhas mãos ainda tremem.
— É tudo que eu tenho. — Entrego uma nota e algumas moedas a mulher, sei que não tenho a capacidade de contar.
— Tenha uma boa noite. — O táxi para em frente a minha casa.
Quando entro, tudo ainda parece um sonho. Como se eu não conhecesse meus próprios móveis.
Só me jogo na cama e deixam as lágrimas virem.
Tenho que pedir ajuda a alguém.
Pego o telefone e disco o número da minha mãe. Desligado. Não preciso ligar para o meu pai para saber que o dele também está desligado.
Olho para o porta-retrato com a foto deles, ambos em seus uniformes de piloto e aeromoça. Provavelmente estão a quilômetros do chão, em algum fuso horário diferente, sem imaginarem o que aconteceu comigo.
Quem chamar? A polícia?
Mas eu não tinha provas concretas para eles.
Esperar meus pais?
Eles podiam demorar dias para voltar.
Não, eu precisava da ajuda de um adulto. E rápido
Quem?
Algum professor, ou o próprio diretor. Tudo aconteceu por causa de uma festa promovida por um dos alunos.
Mas como eu conseguiria falar disso com um deles? Eu precisava da ajuda de alguém.
Edith Nash, a representante de classe.
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