04 - Dolores Frank

Cheguei no colégio novamente correndo aquela manhã, mas dessa vez não estava fugindo das pesadas nuvens de chuva que cobriam Stacy Hills, estava preocupada com Edith.

Eu tinha sido irresponsável, por ter roubado suas coisas, e tentado fazer com que falasse sobre Patrícia a força. Era óbvio, que ela ficaria nervosa e teria um surto, isso sempre acontecia. Mas tudo que passava pela minha cabeça era me vingar de Charlie, a ponto de esquecer que estava lidando com uma menina doente.

Não conseguia tirar da cabeça a imagem dela se debatendo no chão e do sangue escorrendo de sua cabeça, tudo por minha culpa.

Procurei Edith por todos os lugares que minha vista alcançava, mas ela não estava em lugar nenhum. Talvez em poucos minutos eu estivesse na sala do diretor, lidando com pais furiosos de uma pobre menina a quem eu tinha covardemente "quase matado" e com uma possível detenção.

Cristina estava sentada em um dos bancos do pátio, observando Kay que conversava com "minhas amigas".

Sentei ao lado dela.

— Você viu Edith?

— Não.

— Aconteceu uma coisa, acho que eu...

Mas nesse momento as meninas bateram palmas e soltaram gritinhos, do outro lado do pátio vinha uma garota loira, segurando na mão de...

Meu Deus, ela era linda.

Charlie. Só podia ser Charlie.

Daniel me olhou.

Me levantei rápido do banco, pronta para matar os dois. Ele desviou o olhar rápido e falou alguma coisa com Helena, que batia fotos dos dois.

— Dolores, não faça nada - Cristina disse, mas sem demonstrar preoucupação.

Ela ainda observava Kay em uma espécie de transe.

— Se você fizer um escândalo agora vai ficar como a ex-namorada maluca.

— Não é da sua conta.

Não tinha me importado com o conselho de Cristina, eu ainda pretendia matar os dois. Mesmo que Daniel e o bando de vacas que um dia ousei chamar de amigas me segurassem, se eu fosse rápida conseguiria dar pelo menos um tapa naquela vadia.

Cristina se levantou e seguiu até a sala, quando Charlie e Kay se abraçaram.

Joguei minha mochila no banco, me preparando para correr e atacar os dois. A única pessoa do grupo que ainda me olhava era Mary, mas como era sonsa, só perceberia alguma coisa quando eu estivesse a meio metro de Charlie.

Não eu não podia, Cristina tinha razão. Isso era louco, era irracional.

Um professor se aproximou do grupo falando alguma coisa. Minha chance tinha passado.

Daniel saiu do grupo.

Ele estava vindo falar comigo? Ia ter a cara de pau? Será que não tinha medo que eu tivesse por exemplo, uma faca no bolso da calça?

— Não quero que se aproxime de Charlie, nem que faça nada com ela.

Mas quando ele chegou perto de mim, toda a minha raiva cedeu. Lembrei de todas as coisas que passamos juntos, de todas as vezes que confiei nele. Meus olhos se encheram de lágrimas.

A culpa era dela.

— Por que fez isso?

Ele não respondeu. Atrás dele, Charlie me observava com um olhar de satisfação por cima do ombro do professor.

— POR QUE FEZ ISSO, SEU CANALHA?

Dei dois tapas consecutivos no rosto dele, com toda a minha força. Eu não estava pensando. Antes de dar o terceiro ele segurou meu pulso com força, me fazendo gritar.

Um pequeno circulo de alunos do fundamental começava a se formar ao nosso redor.

— QUER SABER PORQUE EU FIZ ISSO? PORQUE VOCÊ É UMA DESCONTROLADA QUE SÓ SABE AGIR POR IMPULSO, SEM NUNCA SE PREOCUPAR COM OS OUTROS. VOCÊ SÓ LIGA PRA VOCÊ.

Eu queria chorar, queria gritar, queria chamar ele de todas as coisas horríveis que me vinham a minha cabeça. Mas os gritos ficaram presos na minha garganta, ele soltou meu pulso com violência. Não parecia o mesmo garoto doce que tinha me beijado duas semanas atrás, antes da viajem.

— Amor, não. — Charlie apareceu de repente, tocando o ombro dele. - Por favor vamos embora.

Mas ela não estava preocupada, ela estava sorrindo.

— Eu vou matar você — foi a única coisa que consegui dizer, em meio a raiva e a todas as coisas que estava sentindo.

— Não diga besteiras, sua louca. — disse Layla.

Com um simples gesto de mão, Daniel afastou todos os alunos do ensino fundamental do nosso redor.

— Eu vou matar você — repeti.

— Não dê atenção para essa maluca. - Layla empurrou os dois desesperada para que saissem dali.

Ela me conhecia, sabia que se me dessem uma arma naquele momento eu atiraria em Charlie. Ou talvez atirasse em todos eles. Como aconteceu no massacre de Columbine.

O sinal para o início das aulas tocou e em segundos eu estava sozinha no pátio, ainda parada; com uma mistura terrível dos piores sentimentos tomando conta de mim. Sem saber pra onde ir, sem saber o que fazer.

— Ei moça! Está na hora da sua aula.

Era Richard, o porteiro. Aproveitei que ele tinha saído do seu posto no portão e corri para lá.

— EI GAROTA, VOLTE AQUI!

Mas ele era velho, não podia me alcançar.

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