03 - Edith Nash
— Você está bem, Patrícia?
Ela passou por mim sem responder, e foi até seu lugar isolado perto dos alunos do fundamental.
O que patrícia me contou é muito difícil de esquecer. Mesmo que esteja proibido falar sobre o assunto na escola eu tento conversar com ela sobre isso as vezes, tento fazer com que retome as acusações. Mas desde o dia em que o diretor "resolveu esse mal entendido" ela me ignora, como se acreditasse nas palavras dele.
Pelo menos o bullying que ela sofria diminuiu nos últimos dias. Até Charlie e as amigas pararam de persegui-la depois das acusações, mas isso parece algo que vai durar bem pouco.
O sinal para a próxima aula tocou, e comecei a recolher os trabalhos de inglês assim que todos os alunos voltaram para a sala.
Dolores Frank, sentou na primeira carteira da primeira fileira, ninguém nunca sentava lá, porque ficava próximo a mesa do professor. Procurei por Cristina por todos os lados, e pelo jeito estranho que Dolores olhava para os outros, imaginei que ela tivesse matado Cristina no banheiro.
E a culpa seria minha.
— Bom dia Dolores, seja bem vinda, espero que tenha feito boa viagem. Você sabe onde está a Cristina?
— Acho que foi embora, vi quando veio buscar sua mochila na sala.
Aquela foi a primeira vez que Dolores Frank me tratou com educação.
— Tudo bem — respondi, arrumando os trabalhos em ordem alfabética para entregar ao professor.
— Posso falar com você sobre uma coisa Edith?
— Claro, é sobre os deveres que você atrasou?
— Não, não é sobre isso, é um pouco mais complicado.....
— Pode falar.
— Pode ser na hora da saída?
Olhei pra ela desconfiada, devia ser uma coisa realmente bem importante para ela não se importar em ser vista comigo.
— Tudo bem — respondi — mas tenho que chegar em casa logo.
Fui até o professor entregar os trabalhos, que por sinal estavam horríveis. A maioria nem era digitado, e os digitados na verdade eram copiados e colados.
— Acho que temos alguns problemas com os trabalhos, professor.
Ele jogou os papeis de qualquer jeito na mesa, tirando todos da ordem alfabética.
Eu tinha acabado de organizar.
— Os trabalhos estão ótimos — disse entediado.
— Não, professor.
Peguei um dos trabalhos da mesa, para mostrá-lo.
— Veja este, foi escrito a mão em uma folha de caderno. E os digitados foram todos copiados da Wikipédia.
— Aham, senta lá Edith.
— O senhor pode me reservar os últimos 15 minutos da aula? Gostaria de dar dicas aos alunos de como....
— Edith...
Dolores me puxou pelo colarinho da blusa, praticamente me arrastando até sua cadeira.
— Você está querendo que joguem bolinhas de papel em você, ou o quê?
— Como assim?
— Ninguém liga para os trabalhos Edith, eles vão ter raiva de você.
— Eu só quero ajudar, imagine o que aconteceria se eles entregassem trabalhos como esses na universidade...
— A maioria deles nem vai entrar em uma universidade, Edith. Agora deixe de besteira e vá pro seu lugar.
Obedeci Dolores e voltei para minha carteira no fundo da sala. Mas eu não acreditava nela, sabia que até garotas como Layla e Helena, que sempre tiravam as piores notas da sala, tinham sim, chances de entrar em uma universidade.
Ninguém falou comigo pelo resto da aula. Quando o sinal tocou, os alunos sairam apressados da sala, sem se incomodar em perguntar se o professor passaria atividade de casa.
Comecei a inspecionar as carteiras uma por uma, como faço todos os dias para certificar de que ninguém esqueceu nada. Dolores estava me esperando na porta.
— O que está fazendo Edith?
— Estou vendo se alguém esqueceu algum objeto pessoal.
— Você não tem que fazer isso.
— Eu devolvi dois cadernos, um celular e um pacote de absorventes semana passada. - Disse orgulhosa
— Quero dizer que esse não é seu trabalho. O representante de sala não precisa fazer essas coisas, se eles esquecerem as coisas, problema deles.
— Faço para ajudar.
— Ok. Já terminou? — perguntou impaciente.
— Já, hoje ninguém esqueceu nada.
Andei lado a lado com Dolores até o portão do colégio.
— Sobre o que quer falar? — perguntei antes de saírmos.
Deve ser algo sobre Charlie e Daniel.
— O que aconteceu com a Parker?
— O QUE? — perguntei alarmada.
— O que aconteceu com a Patrícia Parker?
— Desculpe Dolores, mas esse assunto foi proibido aqui na escola.
— Tudo bem, nós falamos aqui fora — disse no momento que atravessamos o portão.
— Não posso falar sobre isso.
Apressei o passo, minha casa não ficava tão longe da escola, com sorte conseguiria me livrar de Dolores...
Ela puxou minha mochila, anrrancando ela das minhas costas.
— DOLORES DEVOLVE!
— Vou devolver quando me contar o que aconteceu com Patrícia.
— ISSO É MUITO INFANTIL DA SUA PARTE!
Tentei pegar a mochila, mas Dolores segurou ela no alto, minha altura não coperava para que eu pudesse pegá-la e correr.
— MEUS REMÉDIOS ESTÃO AÍ DENTRO — disse na esperança de que tivesse pena de mim.
— Só me diga o que aconteceu. Como aluna da escola eu tenho direito de saber o que acontece com meus colegas de classe.
Ela colocou minha mochila na frente do corpo e seguiu até a calçada do outro lado da rua, esperando que eu a seguisse.
Senti um pequeno choque na parte de trás da cabeça, e um espasmo no braço esquerdo.
Mas não era hora para aquilo, na verdade seria humilhante se acontecesse. Eu precisava resolver meu problema como uma pessoa normal.
Segurei meu braço e fui até Dolores.
— Quero que devolva as minhas coisas e me deixe ir embora. Se não me der minha mochila agora vou correr até em casa e chamar a policía.
Ela revirou os olhos e pediu mais uma vez, como se estivesse falando algo óbvio para uma criança de 5 anos.
— Edith, só me diga agora o que aconteceu com a Patrícia, e eu te deixo em paz
— DOLORES, POR FAVOR....
O assunto de Patrícia era delicado, e a única pessoa em quem ela tinha realmente confiado para contar sua história foi em mim. Eu não podia contar aquilo para uma garota como Dolores, que provavelmente ficaria amiga do monstro chamado Charlie em alguns dias.
Ela só tinha pego minha mochila, o que podia fazer contra mim? Me bater?
Senti um pequeno choque percorrer minha cabeça novamente, dessa vez na testa, um pouco acima dos olhos.
Agora não.
Hoje não.
— DEVOLVE!
Talvez meu grito e minha atitude tenham sido infantis, mas naquele momento eu só queria que ela morresse. Queria poder pegar minha mochila e correr de lá, antes que acontecesse. Antes que minha doença horrível me fizesse passar uma tremenda vergonha me transformando em alguém fraco, que precisa de ajuda.
Mais uma vez.
Puxei a minha mochila das suas mãos com toda a força que tinha. Essa é a última coisa de que me lembro claramente.
Minha visão ficou turva de repente
— EDITH!
Ouvi Dolores gritar.
Quando minha consciência recobrou, ainda estava tendo a convulsão, agora mais leve.
Sentia uma dor muito forte na cabeça, e estava deitada na enfermaria da escola, enquanto Julie, a enfermeira que não aguentava mais ver minha cara por lá me olhava com raiva, segurando minha mochila e conversando com alguém no celular.
Minha mãe.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top