VIRGEM
— Qual o nome do senhor? — Pergunta Armando, ligando o gravador. Nas últimas horas, ele havia deixado de lado os papéis e canetas. Havia muita informação a ser processada, e com a ida de Charles pegar uma encomenda não se sabe aonde, deixada por Drake, ele sente que as coisas tendem a piorar.
— Otávio.— Respondeu o homem dos seus sessenta anos.
— Sr. Otávio, há quantos anos o senhor trabalha no zoológico? — Pergunta Armando ao vigia.
— Há mais de vinte anos, e nunca vi uma coisa assim. — O homem fala olhando para os pés. — Não pude fazer nada.— O vigia Sobe a vista para o delegado e continua:— Não sei como ele veio parar aqui. Ninguém viu nada!
— Otávio, — Continua Armando: — Não adianta se culpar, o homem que estamos procurando prender, ele é um profissional experiente, que sabe entrar e sair dos lugares sem ser visto. Não me admiro por nem você ou os guardas patrimoniais não o terem visto.
— Mas, foi horrível! Ver aquele homem ser devorado pela cabeça, foi uma cena que nunca vou esquecer.
Mais uma vez o telefone do delegado do BOPE toca, faz umas duas horas que ele não para de receber ligações.
— Fala Fernando e aí? O que você viu nas filmagens?
— Foi complicado.
— Imagino, mas adiante o assunto.
— Desculpas, mas o senhor não imagina. Achei o filme como foi editado e as coisas vão piorar e muito de ele viu. Ele tem uma neta, acho que se muito, a menina tem doze anos, e foi por isso que eles editaram a fita.
— Não entendi, o cara tem uma neta!
— É mais caro vender a menina num leilão do que usá-la num filme Snuff. Para que matar uma fonte de renda? Essa galera, sequestra as crianças para fazer um primeiro leilão e depois usá-las nas casas de sexo.
— Puta que pariu, a situação está muito pior do que imaginei!
— Delegado, bota pior nisso! Se Drake viu o que vi, espere coisas ainda piores.
— Fernando, obrigado. E assim que terminar, venha para o zoológico.
— Um minuto chefe, meu outro celular está tocando. Fernando falando... Acabei aqui! Meu Deus... Eu só vou avisar ao delegado Armando e sigo para o local. — Lúcio desliga e volta a falar com o Armando:
— Armando, a Central ligou, e múltiplos assassinatos ocorreram no Empresarial Capibaribe Tower. Pediram para nos dirigirmos para lá!
— Vou ligar à Central e dizer que você está trabalhando no caso Carne Fresca, não podendo se ausentar.
— Chefe, mas é o mesmo caso. Drake parece que matou todos!
— Por que você está dizendo isso?
— Lúcio me disse que há uma cabeça pregada na parede, e na sua testa escrito com sangue: Sol.
— Puta merda! Vou para lá agora!
— Amélia, então Drake esteve aqui?
— Sim, delegado. E pelo visto, ele só confia no senhor.
— Imagino, o que ele deixou aqui já dá para adiantar muita coisa. Mas como será que ele conseguiu tudo isso?
— O senhor acha que isso importa? — Amélia encara o delegado ao perguntar.
Charles suspira. Procura o cigarro:
— Posso? — Charles pede permissão com o maço de Free na mão.
— Claro!
— Respondendo sua pergunta: Sim e não. Por que, essas informações não devem valer como provas, pela forma como elas foram conseguidas, mas, servem de base, para acharmos mais provas. Agora temos um norte.
— Fico feliz por isso. — Amélia coloca suas mãos para trás.
— Mas, preciso lhe adiantar que a ordem dada, foi para matarmos Drake. — Charles, fita a morena.
— E o senhor vai fazer o que estão mandando? Se tiver a oportunidade?
— Sinceridade? Acho que não teria nem tempo de sacar a arma. O que tenho visto nesses dias, só se ele for morto pelo acaso.
— Eu não teria coragem de fazer o que ele fez, mas o entendo completamente. — Reflete a garçonete olhando para a mesa.
— Se ele aparecer de novo...
— Ele não vai! — Amélia suspira desapontada.
— Mas, se por uma acaso acontecer, agradeça-o por mim.
— Se isso acontecer, o que não vai... Eu o digo!
O telefone do delegado de Ipojuca toca.
— Charles falando.
— É o Bira!
— O que eu aconteceu Bira? — Charles olha as horas no relógio.
— Henrique foi encontrado morto.
— Meu Deus, como isso aconteceu?
— Chefe, o senhor está sentado?
— Adianta logo essa merda de assunto.
— Henrique era o manda-chuva da Carne Fresca.
— Como é? — Charles grita espantado.
— Isso mesmo. Eu mandei sentar... Ao que parece, ele estava na sede da facção, num prédio no centro do Recife.
— Bira, manda a localização que vou seguir para lá.
— Chefe, o senhor sabe que vamos ser investigados?
— Sei sim! E não estou nem aí, estarmos vivos é uma prova contundente que estamos limpos.
— Não deixa de ser verdade, mas, mesmo assim sofreremos uma auditoria interna.
— Bira, quem não deve, não teme! Estou indo para o local, manda a localização.
— Enviando Charles.
Amélia entende que o assunto voltou a ser Drake pelo telefone.
— Olha, se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar ou basta ligar.
Amélia agradece ao delegado. O acompanha até a porta e a fecha assim que o delegado de Ipojuca sai.
Ela senta no seu sofá e chora, não somente por medo, mas não gosta de está envolvida nessas cruzetas da vida. Uma hora, alguém pode achar que ela ajudou Drake, e aí, virão atrás dela.
Amélia segue para o quarto, tentar dormir.
Drake chega ofegante na boate Virgin, que fica localizada numa entrada à esquerda, no quilômetro quatorze, na estrada de Aldeia.
Na verdade, é uma boate para os figurões do Brasil, e dependendo da Carne Fresca, como eles chamam as virgens, vem homens e mulheres de todos os lugares.
A Virgin, é uma chácara com mais de meio hectare. A casa tem dois lugares, quarenta cômodos, e no meio um palco.
Há um corredor, como das famosas fashions weeks, onde as moças e os rapazes desfilam e na plateia, cada "comprador" tem um light pulse, um dispositivo do tamanho de um chaveiro de carro com um botão, para acionar quando desejar, informando que cobriu a oferta de compra no leilão.
Drake vai andando pela escuridão das matas, e começa a escutar gritos. Depois disparos e mais gritos.
Ele corre.
Acha estranho a entrada da boate está vazia e entra.
Seu coração acelera.
Sobe, quase saltando pelas escadas. Sua neta está presa em algum lugar e ele precisa salvá-la.
Ele sabe que nunca se perdoará se algo acontecer com ela.
Drake jura para si mesmo, que ele enfiará uma estaca no próprio coração, caso tenha acontecido alguma coisa com sua criança.
Drake chuta a porta da entrada, e o que ver, inicialmente gela seu coração já frio:
Sua neta no chão.
A menina está lavada de sangue, parecendo aqueles gárgulas das marquises de igrejas, debruçada sobre o corpo de um gordo rico e careca, vestido um smoking preto, bebendo o sangue do homem.
Ela desgruda do pescoço e depois solta o corpo, que estala no chão.
Drake ajoelha-se com as mãos sobre suas coxas, em posição de rezar.
Para então, olhar em volta, e somente vê morte e caos. Dezenas de pessoas mortas. O seu DNA, pulou uma geração.
A menina é igual a ele.
Ela fica imóvel no outro lado da sala, olhando para o homem que está ajoelhado emocionado.
Drake sabe, que a transformação dela foi precoce. Talvez, ela fosse mudar quando completasse seus quinze anos, mas, ele sabe que um nível de estresse e sofrimento prolongado, e com grande proporções, pode antecipar o despertar da progênie hereditária de criaturas iguais a eles.
Os olho do avô marejam.
A menina lembra Morgana.
Ela também tem um cabelo longo e escuro, igual a mãe. Seu rostinho é redondo, com o queixo pequeno, barroca e olhos arredondados.
A criança abre um sorriso para o avô, seus dentes tingidos de sangue dos outros, mostram que o sente como parente.
A menina anda na direção de Drake.
Ele levanta-se.
Sem esperar, a criança corre e abraça ao corpo do avô. Ele chora compulsivamente abraçado à sua neta. Depois, se abaixa e começa a limpar o sangue no rosto da menina, e a enche com mais beijos.
— Minha filha, você é linda igual sua mãe.
— Você conheceu minha mãe?
Drake chora ainda mais emocionado e a abraça novamente. Depois ele a afasta segurando pelos ombros e diz:
— Sim, minha princesa. Sou seu avô. Pai da sua mãe.
— Avô? O que é avô?
Drake sorri, lembrando-se de quando Morgana era pequena.
— Qual o seu nome?
— Pandora.
Drake novamente sorri.
Pandora, no idioma romeno, significa: "Todos os presentes.", ou quem sabe Morgana soubesse no seu íntimo, que sua filha herdaria o mesmo gene do seu pai, e deu um nome baseando-se na mitologia grega, onde Pandora foi a primeira mulher, mortal, criada por Zeus para punir a humanidade pelo roubo, do segredo do fogo, feito por Prometeu.
O deus do Olimpo, entregou um frasco a Pandora contendo todos os males e disse-lhe para não abri-lo.
Porém a menina abriu a famosa Caixa de Pandora que liberou todo o mal sobre a humanidade.
Drake, olha para a criança, sua caixa de Pandora.
Morgana sabia que ela era a única mortal que poderia liberar todo o mal que seu pai é, sobre seus algozes.
— Lindo nome. Sua mãe escolheu bem Pandora. Você é filha de sua mãe, e sua mãe é minha filha.
— Então é isso que significa avô?
— Não, meu amor... Isso significa família. Somos família.— Drake a coloca em seus braços e sai da casa sem olhar para trás.
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