Capítulo Dez

Se no início daquela semana os designers do Jornal da Hora estavam completamente cabisbaixos, agora, próximo ao fim da mesma, meus colegas estavam em polvorosa, em um contraste gritante.

E tudo isso por causa do Loiro Bonitão.

Desde nosso fatídico encontro no elevador, não teve um só dia naquela semana que Will não apareceu no 9º andar. As vezes ele aparecia mais de uma vez no mesmo dia. E em todas aquelas visitas, de algum jeito, ele parecia encontrar um momento para olhar pra mim.

E meus companheiros seguiam apropriando-se daquele olhar.

Desta vez, porém, não me deixei enganar.

Aqueles olhares eram para mim.

Cada um deles acompanhado de um leve repuxar de lábios, um quase sorriso, que fazia meu estômago afundar de nervoso e meu olhar desviar envergonhado. E a cada vez que eu me recuperava e voltava a procurá-lo com os olhos, seu sorriso era um pouco maior, como se estivesse muito satisfeito consigo mesmo.

Will cumpriu sua promessa de tentar não me dar tanto trabalho quase que com louvor. Claro que ele ainda me dava muito trabalho. Trocávamos inúmeros e-mails, recheados de anúncios, durante o dia. Mas seus e-mails não mais ultrapassavam aquele precioso tempo limite para recebimento de material, me poupando de todas as horas extras. E também me poupando da possibilidade de talvez trombar com ele no elevador depois do expediente.

Era quase decepcionante.

E também foi o suficiente para que a minha consciência parasse de rotulá-lo como o Babaca do Comercial.

No primeiro dia de trabalho após aquele encontro, foi bem difícil para o meu cérebro assimilar aquelas duas personas como uma só. Ele ainda parecia duas pessoas completamente diferentes pra mim.

Por um lado a figura arrebatadora e inalcançável do Loiro Bonitão. Por outro, aquela intragável e sem noção do Babaca do Comercial.

Foi bem mais fácil quando a figura do Babaca deixou de fazer babaquices. E muito mais simples quando a do Bonitão encaixou seus olhos nos meus com reconhecimento.

E então ele era apenas Will.

▲▲▲

Em momento algum pensei em revelar aos meus colegas de equipe as minhas descobertas. Ou aquele encontro. Não que eu estivesse escondendo de propósito aquelas informações por maldade. Só queria evitar o bombardeio que viria no momento em que abrisse a minha boca. Por isso segui como se nada estivesse acontecendo por fora, enquanto por dentro eu estava surtando.

O surto piorou quando, depois de dias fazendo aparições inesperadas na Redação e levando a Arte à loucura, Will não apareceu naquela sexta-feira.

– Acho que somos obrigados a ir pro boteco pra curar a nossa decepção com cerveja... – ia dizendo Cintia, que não parava de lançar olhares para a Recepção.

– Calma, mulher. – falou Larissa – Ainda dá tempo de ele aparecer.

– Eu acho que mesmo que ele ainda apareça, – disse Edu – devemos ir pro boteco pra discutir primeiro sobre o sumiço e depois essa overdose dele por aqui.

– E eu acho que vocês só estão procurando desculpas pra encher a cara. – falei sorrindo, sem tirar os olhos da minha tela.

– Como se esses desocupados precisassem de desculpa pra beber, Cami. – Paula disse com um sorriso na voz e todo mundo concordou.

– Então está resolvido! – disse Edu – Vou chamar o Rafe!

Algumas das meninas se entreolharam, e de novo senti aquele clima estranho pairar no ambiente, como um Dementador, à menção do namorado de Edu.

– Você vai né, Cami? – Cintia perguntou.

– Ai, gente. – fiz um biquinho de tristeza – Eu adoraria, mas preciso preparar minha mochila pra viagem com a Isa nesse fim de semana.

– Eu quero é saber quando você vai apresentar essa Isa pra gente... – falou Edu, com a cara colada no celular, provavelmente trocando mensagens com o namorado.

– É... – Cintia balançou a cabeça afirmativamente – E que viagem é essa?

Dei uma risadinha, sentindo o coração se aquecer por dentro. Era legal como eles queriam fazer parte da minha vida, como se realmente gostassem de mim e não apenas tivessem que aturar trabalhar comigo todo dia.

– Bom, pelo menos uma vez a cada dois meses, eu e a Isa visitamos esse asilo para velhinhos no interior. – respondo distraidamente, de olho no layout que estou finalizando – A gente leva uns presentes, umas doações, passa o dia com eles conversando e fazendo atividades, essas coisas...

Quando termino de falar, fica um silêncio estranho no departamento. Levanto os olhos do computador e flagro meus colegas olhando pra mim de um jeito estranho.

– Que foi, gente? – pergunto.

– Caramba, Cami. – funga Bianca – Você é muito legal, sabia?

Sinto o rosto esquentar na mesma hora, principalmente quando todos os meus colegas começam a me parabenizar por uma coisa tão banal e que me custa tão pouco. Fico tão constrangida que mal percebo que o único que não diz uma palavra sobre o assunto é Edu, que ainda está com a cara enfiada no celular... e não é a melhor das caras.

– Tudo bem, gente. – Larissa bate palmas e chama a atenção de todos. – Já deu nossa hora, quem é que vai pro boteco?

A comoção toda muda de tom, com alguns inventando desculpas e outros garantindo sua presença. Eu ainda estou prestando atenção no Edu, que não se pronuncia e guarda suas coisas com movimentos mecânicos, quando meu e-mail apita, acusando o recebimento de uma nova mensagem.

Franzo o cenho em confusão, imaginando de forma ingênua quem poderia ser àquela hora, quando o nome do remetente salta na tela e faz meu coração perder algumas batidas dentro do peito.

Estava bom demais pra ser verdade.

▲▲▲

Eu sei que não devo levar como uma ofensa pessoal o fato dele me enviar um anúncio em cima da hora em plena sexta-feira. Mas não consigo evitar me sentir um pouco decepcionada.

E idiota por me sentir decepcionada.

Afinal de contas nos vimos uma vez no elevador e trocamos alguns olhares amigáveis, não é como se tivéssemos nos tornado melhores amigos e ele fosse evitar a todo custo ferrar com a minha vida depois do expediente. Ou cumprir uma promessa que me fez.

Ranjo os dentes para os meus pensamentos e me concentro em terminar o trabalho. Isabela vai passar na minha casa por volta das 21h para pegar à mim e aos meus filhos felinos, que serão deixados aos cuidados do pessoal da ONG durante aquele fim de semana. Então preciso me apressar, pois ainda não arrumei nem a minha mochila e nem a dos gatos.

Quando finalizo tudo e recebo o sinal verde da gráfica, começo a juntar minhas coisas apressada, mal registrando o barulho do elevador ecoando pelo departamento silencioso.

No momento em que estou desligando meu computador, minha bolsa, que balança precariamente sobre os joelhos, escorrega e vai parar embaixo da mesa. Xingo baixinho, tentando alcançá-la com os pés, sem sair do meu lugar. Quando não tenho sucesso nessa empreitada, me abaixo, ainda sentada, e alcanço sua alça com os dedos, puxando-a de volta para o meu colo.

– Desculpa te fazer ficar até mais tarde hoje. – diz uma voz à minha frente.

Levo um baita susto, batendo a cabeça na mesa, enquanto tento levantar os olhos e, quando encaro a figura à minha frente, quase caio da cadeira.

Will, com os cotovelos apoiados despreocupadamente na baia em frente à minha mesa, o corpo inclinado na minha direção e o cabelo cor de ouro apontando suas ondas em todas as direções, me observa de forma cautelosa.

Ele parece ter dispensado o terno e a gravata hoje, e sua camisa branca está com as mangas arregaçadas e os primeiros botões abertos. Absorvo sua figura com avidez, tendo consciência dos meus lábios entreabertos em surpresa e choque, o coração bem próximo de declarar falência.

Quando vejo seu sorriso cheio de estrelas se abrir e os olhos brilharem de encontro aos meus, meu estômago despenca e vai parar em algum lugar próximo aos meus pés.

É bem aí que percebo que estou perdida.

E acho que ele também sabe que estou perdida.

– Te assustei? – pergunta com riso na voz.

– Imagina. – digo, tentando me recompor e parecer zangada – Fora o quase ataque cardíaco, talvez eu também tenha ganhado uma concussão.

Então esfrego a cabeça teatralmente para enfatizar minha última afirmação.

– Desculpe. – mas ele não parece lamentar.

– O que está fazendo aqui? – pergunto e desvio o olhar, verificando minha mesa pra ver se esqueci alguma coisa, mesmo sabendo que já está tudo dentro da bolsa.

– Passei pra me desculpar formalmente por quebrar minha promessa. – ele diz – O dia hoje foi corrido e só consegui fechar esse cliente na última hora.

– Uhm. – faço, tentando disfarçar o calor de satisfação por ele se lembrar.

– E também passei pra dar um oi. – Will continua – Não quis deixar a mercê do destino e do elevador desta vez.

Tiro os olhos da mesa neste momento e o encaro. Will sorri amarelo, parecendo quase envergonhado pela afirmação, e eu não consigo refrear meus próprios lábios, que se repuxam pra cima instantaneamente, esboçando um pequeno sorriso.

– Bem. – digo, limpando a garganta e desistindo de procurar por objetos na mesa – Desculpas aceitas.

Me levanto, colocando a bolsa no ombro e ele se desencosta da baia, os olhos acompanhando meus movimentos.

– Que bom. – diz, o sorriso amarelo dando lugar a um de alívio – Ia ser uma viagem de elevador bem constrangedora se você não perdoasse essa falha terrível.

– Ia ser uma viagem bem curta também, talvez não fosse tão constrangedora assim. – rebato, enquanto ele me acompanha em direção à saída.

– Olha, você se surpreenderia com quanta coisa constrangedora pode acontecer em uma viagem de elevador... – ele solta, mordendo os lábios para segurar o riso. Obviamente ele se refere à primeira vez em que nos encontramos.

E eu desejo mais uma vez que aquele meteoro acerte a minha cabeça.

Eaí, meu povo?

Como estão nessa quarta-feira?

Sabem que estou pensando seriamente em mudar o dia de postagem dos capítulos? Tudo por que estou aparecendo por aqui sempre depois do horário... o que vocês acham de mudarmos a publicação dos capítulos para as sextas-feiras?

Fora isso, o que acharam desse capítulo? Dessa nova relação da Cami com o Will? E do mistério por trás desse namoro do Edu?

Me deixem saber a opinião de vocês! E pra isso comentem bastante, deixem uma estrelinha pra mim e compartilhem a história com seus amigos... se vcs estiverem gostando, claro!

Beeeijos, e até semana que vem!

Pam Oliveira

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