Uma Faísca de Sentimento

– Não perturba muito ele. – Kat pede e eu sorrio, enquanto andamos.

– Ele gosta. Assim não se sente sozinho, não é Bruce? – pergunto a ele, que se vira brevemente, me olhando por alguns segundos com um sorriso tão discreto que Kat sequer percebe.

Eu já conhecia esse sorriso. Ele sempre me olhava assim, quando eu o cutucava, enquanto andávamos. Já fazia 3 dias que eu estava andando com eles, e até que eu gostava de ter companhias – principalmente porque todos eles já sabiam como se comportar.

– Dylan, ficou quanto tempo sem conversar com uma pessoa real? – Amélia pergunta. Estávamos atravessando um campo, pois estávamos indo por um lado mais vazio da cidade. Bruce achou que seria melhor se afastar dos prédios, já que eles reúnem as maiores quantidades de zumbis.

– Da última vez, quando te encontrei, eu estava há 1 ano e meio sem falar com uma pessoa real. – explico e ela parece ficar impressionada.

– E falava com quem? – pergunta.

– Com a Cecil, comigo mesmo, com as minhas paranoias... tinha muitas companhias. – explico e ela ri.

– Aprendeu com as paranoias como ser tão chato quanto é? – Bruce pergunta, enquanto vai andando na frente.

– Não. – respondo a ele. Ele gosta de me cutucar, porque eu apelo fácil. – Eu só sou chato quando alguém me chama atenção, Bruce, parabéns.

– Estava esperando que me desejasse pêsames por isso. – ele rebate, me olhando de rabo de olho, com aquele sorriso discreto dele.

Quando ele vai olhar totalmente pra frente, um zumbi surge, pulando em cima dele e eles caem no chão.

– Bruce... – falo em baixo tom, mas Kat me segura.

– Observa. – ela pede e ele, não atira naquela coisa, ele bate na cabeça dele com a arma, e quando o zumbi sai de cima dele e ele se levanta, Bruce pega um pedaço de madeira qualquer e bate com tanta força na cabeça, que ela se destroça ali mesmo.

Depois de destruir aquela coisa, ele faz sinal de "silêncio" pra mim e continuamos andando. Eu começo a pensar sobre tudo o que ele já me falou sobre si. Ok, eu admito que eu faço perguntas demais, mas espero que entendam que passei 4 anos vendo pessoas comendo umas as outras e queria entender o máximo que desse sobre o que estava acontecendo – agora que eu podia.

– É por isso que não é bom viver sem ele. – Kat conclui, dando dois tapinhas no meu ombro e passando por mim em seguida.

Todos fomos andando juntos por um tempo e quando Amélia me disse estar com fome, peguei um dos enlatados que estava na minha mochila, abri e dei para ela. Bruce viu isso, mas não disse nada. Depois do susto que levamos, ninguém mais conversou enquanto atravessávamos aquele campo aberto com mato alto em algumas partes.

Quando chegamos em um rio, depois de cerca de 40 minutos andando, todos se encararam, porque não sabíamos como atravessar. Bruce usou o seu binóculo para olhar ao redor, e ver se tinha alguma pessoa ou zumbi nos seguindo – e é claro que eu peguei o meu também, para observar com ele.

– Ótimo, não está vindo nada nem ninguém. – ele diz e eu o encaro, depois de terminar a minha observação.

– E daí? – Harry, um dos primos de Bruce pergunta.

– E daí que vamos atravessar. – ele me diz, me entregando sua arma, enquanto olha nos meus olhos e se vira para todos em seguida.

– Como? – pergunto.

– Vou primeiro. – ele explica, respirando fundo. – Vou amarrar essa corda desse e do outro lado, para que possam se equilibrar ao atravessar, quando forem pisar, procurem pedras firmes. Esse lado é raso, mas ali ele começa a ficar mais largo. – ele aponta para outro ponto e nós observamos por alguns segundos, voltando nossas atenções para ele.

– Sabe fazer isso? – pergunto e ele não me responde, apenas olha nos meus olhos enquanto desenrola a corda que estava amarrada na lateral da sua mochila.

Quando Bruce termina, ele tira sua mochila e sua camisa. Todos ficam observando-o, enquanto, depois de ter amarrado a corda do nosso lado, travessa aquele rio – que não era fundo nem muito largo naquele ponto, mas parecia ser forte. Ele atravessou com dificuldade e quando chegou do outro lado, percebi que ele estava todo molhado.

Ele voltou para testar as amarrações que tinha feito em galhos grandes que estavam presos nas bordas, e quando chegou, colocou apenas a mochila, ficando sem blusa. Ele contou quantos estavam no grupo, e logo começou a divisão.

– Vamos atravessar em duplas. – ele explica e todos concordam com a cabeça. – Spencer vem comigo, porque tá fraco. Harry, vai com a Hany, porque ela está gravida. Kat vai com Amélia, Mattew, Roddy, Suzana e Rebecca vão sozinhos. Vocês estão saudáveis, podem passar sem ajuda.

– E eu? – pergunto e ele me observa.

– Você tenta não cair na água com essa mochila sua cheia de peso desnecessário. Vai sozinho também. – ele me responde eu mal posso acreditar naquilo.

– Acha que eu sou fraco, Bruce? – questiono e ele se vira devagar pra mim.

– Não pedi sua opinião sobre a divisão, e nem quero discutir sobre suas propriedades, Dylan, só avisei. – ele me responde e eu fico ali, observando-o.

– Quem vai primeiro? – um dos rapazes, que eu ainda não sabia o nome, pergunta.

– Pode ir, Roddy. Cuidado. – ele permite e o rapaz sai, indo primeiro.

– Bruce, se quiser eu posso levar o Spencer. Você tá com seu braço machucado. – Harry comenta, e Bruce olha em seus olhos.

– Só vou precisar de um pra carregar ele. – Bruce responde e Harry confirma com a cabeça, se preparando para atravessar. – Próximo. – Bruce pede e Kat pega Amélia no colo, começando a atravessar com ela.

Vejo ele ficar apreensivo com aquela travessia. Na verdade, ele ficou com todo mundo. Cada pessoa que passava por ali ele ficou observando as cordas para ver se não soltaria. E todas as vezes que alguém quase escorregava das pedras, ele observava a parte mais funda daquele rio – que não estava muito distante –, provavelmente pensando em como salvaria qualquer pessoa que caísse ali.

Com isso, cada um atravessou, e eu acabei ficando por último, observando Bruce atravessar com Spencer. Quando chegou o meu momento, respirei fundo e tentei me convencer que conseguiria – mesmo que a minha mochila me dissesse o contrário, por estar pesada demais. a questão é que eu já tinha passado por coisa muito pior que um riozinho, então não iria desistir dele.

Dei meus primeiros passos dentro da água, e Bruce ficou me observando, apoiando o cotovelo do braço direito no antebraço esquerdo e com o dedão direito no queixo, totalmente tenso. A cada passo que eu dava, eu o observava e quando ele fazia um movimento discreto com a cabeça – me dizendo que eu podia avançar –, eu dava outro passo. Quando estava na metade do caminho, no entanto, a corda arrebentou – porque eu me desequilibrei e o peso da minha mochila não ajudou muito na hora de tentar me equilibrar novamente. Eu até que tentei me segurar com toda a força que tinha nos braços nas pedras que tinham ali, o que não adiantou muito, porque depois de poucos minutos – antes mesmo de Bruce chegar perto de mim –, eu soltei.

– Bruce, não vale a pena. – vejo um dos caras segurar o braço dele, falando isso em alto e claro tom enquanto eu era arrastado pela parte rasa do rio, em direção a parte funda.

Bruce, no entanto, puxou seu braço de volta, soltando-o da mão do rapaz e vindo em minha direção. Não sei o que aconteceu, mas tudo ficou escuro depois de eu sentir uma pancada na cabeça. Minha visão só voltou depois de algum tempo – que eu realmente não sei quando foi. Ao abrir os olhos, depois de expulsar água do meu corpo, vi Bruce por cima de mim, molhado.

Ele parecia estar de joelhos, pingava a água do rio, que saia de seus cabelos e caia no meu peito. E vi que ele respirou aliviado ao me ver acordar, e até, por alguns segundos, passou a mão no meu rosto, com delicadeza, mas logo a tirou, quando as pessoas começaram a se aproximar para me ver. Por estar de dia, conseguia vê-lo perfeitamente – e foi uma das melhores coisas que eu vi em anos.

– Agora não te devo mais nenhuma. – ele sorri e eu sorrio de volta.

– Não pedi um favor. – respondo, mordendo meu lábio inferior. – Ainda me deve uma. – concluo, o sorriso dele se alarga mais e ele concorda com a cabeça.

– Como se sente? – Kat me pergunta, assim que chega próxima de mim e eu dou de ombros.

– Quase afogado. Parece que tem água no meu corpo todo. – ela sorri com a minha explicação.

– E tem. Mas que bom que ele conseguiu te reanimar, porque todos nós já estávamos conformados com a sua morte, ainda bem que Bruce não desistiu. – ela explica e eu encaro ele, que estava próximo de mim, me observando.

– Tem alguma chance de eu conseguir ser carregado pelos próximos metros? – pergunto a Bruce, que nega com a cabeça, rindo.

– Não. Não sou tão gentil assim. – ele responde, umedecendo seus lábios com a língua. – Foi um bom exercício nadar pra te ajudar.

– Entendi. – me sento, olhando ao redor e vendo a minha bolsa e minha besta próximas de mim.

Elas estavam molhadas, mas estavam ali. Não conseguia acreditar que além dele me salvar, ele não tinha deixado minhas coisas irem embora. Mais uma vez, fiquei agradecido por Bruce não ter desistido de mim – e nem das minhas coisas que ele tanto julga serem desnecessárias.

– Vamos, temos que continuar. – o mesmo cara que queria, me deixar diz.

– Vamos continuar quando eu falar. – Bruce rebate, se levantando.

– Como é? Está se achando o nosso dono por acaso? – rapaz questiona Bruce, que se aproxima dele de forma intimidadora.

– E você conseguiria sobreviver sem eu, Mattew? – Bruce pergunta a ele, mantendo suas mãos para trás.

– É claro. – o rapaz responde a Bruce.

– É claro? – Bruce se aproxima mais dele.

– É. – o rapaz reforça e Bruce sorri.

– Nem parece o babaca que me mandou áudio chorando quando eu saí de casa pra servir. – Bruce comenta, próximo ao ouvido do rapaz.

– Bruce... – Mattew tenta responder, mas é interrompido.

– Se aquieta aí, porque eu sei o bebê chorão que você é. E vê se aprende: um bom líder não deixa ninguém da equipe pra morrer. É por isso que eu falo o que você faz e você só obedece. Se estiver achando ruim, pode ir embora. Não sou seu dono, só quero te manter vivo, mas se não quiser, foda-se. – Bruce passa por ele, esbarrando de proposito no rapaz. – Vamos descansar aqui, já que é campo aberto e temos água por perto, o que não acontece todos os dias. – todo mundo começa a desfazer suas mochilas, para se instalar no local.

Depois daquele dia cansativo de caminhada, finalmente estávamos parando. Na área que estávamos percorrendo não esbarrávamos com as aglomerações de zumbis do centro da cidade, o que era ótimo, afinal o nosso grupo era grande e a chance de alguém fazer barulho era grande como o grupo. Isso me deixava meio aflito, mas depois do que Bruce fez por mim, eu entendi que ele faria de tudo para proteger a todos.

Depois de observar todos se instalando, vi Bruce se afastando, indo em direção ao rio e fui atrás. Queria agradecer a ele pelo o que tinha feito. Ao me aproximar, vi que ele pegava água do rio para beber e quando me viu, ele me observou por poucos segundos, se concentrando em sua ação novamente.

– Obrigado, Bruce. – agradeço a ele, que continua pegando água.

– Pelo o que?

– Por ter me ajudado.

– Não precisa agradecer. – ele se levanta, ficando na minha frente. – Faria isso por qualquer pessoa que está aqui. – ele responde, passando por mim.

– Não sente falta de casa?

– Que papo é esse agora? – ele para de andar, me encarando.

– Só quero saber.

– Sinto.

– Eu também. – respiro fundo, me lembrando da minha família. – Fico me lembrando de como era jogar videogame com os meus amigos que provavelmente estão mortos agora. – ele volta, andando em minha direção.

– Todas as vezes que eu saia para um treinamento extremo em algum lugar do mundo, eu sempre preferia os lugares mais desconfortáveis. Os que realmente podiam me matar.

– Por quê? É loucura. – rebato e ele sorri, negando com a cabeça.

– Não. É porque a sensação de chegar na minha casa confortável, sabendo que eu não tinha falhado, era a melhor que eu podia experimentar. Eu acabei ficando viciado em abraçar a minha irmã sempre que eu chegava de um lugar extremo e ser grato por poder fazer aquilo. Era a forma que eu tinha achado de encontrar a felicidade na solidão. Você só dá valor ao conforto quando experimenta o desconforto, Dylan. E eu aprendi isso da pior forma possível. – explica melhor.

– Eu dava valor demais no meu conforto. – ele sorri.

– É claro que dava. – responde, se aproximando mais de mim e ficando em silêncio por um tempo. Observo Bruce por alguns segundos, enquanto ele estava ali, até que ele quebrou o silêncio. – Posso te perguntar uma coisa?

– Claro. Te perguntei tantas...

– Já beijou alguém depois de tudo isso? – fico envergonhado pela forma direta dele de me perguntar isso, e quase me engasgo com essa pergunta.

– Por que tá me perguntando isso?

– Dá pra só responder? – ele pede, olhando nos meus olhos e eu concordo com a cabeça.

– Não. Tenho medo de me apaixonar e a pessoa me esfaquear em seguida. – ele sorri mais uma vez.

– Acho que a Hany ficou meio curiosa sobre você.

– O que?

– É. Quando eu estava tentando te reanimar e ela achou que eu não ia conseguir, ficou bem aflita. – comenta e eu fico ali, pensando no que ele tinha dito.

– Você me reanimou?

– É, tive que fazer respiração boca a boca, perdão. – ele explica, com aquele sorriso discreto dele.

– Você tirou o meu BV? – pergunto, fingindo estar bravo e ele começa a rir sem parar.

– É, sinto muito, sei que talvez esteja se sentindo invadido. – ele entra na minha brincadeira e eu dou um empurrão de leve nele.

– Muito. – ele ri ainda mais, junto comigo. – Mas o obrigado. Espero que a minha boca tenha sido macia e gostosa pra você.

– Não curto necrofilia, valeu. – rimos juntos ainda mais. A gargalhada de Bruce era muito gostosa de ouvir.

– Você é muito idiota, Bruce. E sobre a Hany... ela não faz o meu tipo.

– É?

– É.

– E qual o seu tipo?

– O tipo masculino, talvez. – falo, envergonhado, enquanto ele olha nos meus olhos, seriamente. – Isso é bem constrangedor...

– É. – ele responde, devagar. – É sim. – ele sai dali, andando em direção ao nosso grupo, e eu fecho meus olhos por alguns segundos, me sentando em uma das pedras grandes da margem do rio, em seguida.

Fico ali por algum tempo, calado, sozinho, enquanto todo mundo conversava. Em certo ponto vi que Kat foi limpar os machucados do braço de Bruce, e fiquei ali, observando aquilo. Eles conversavam sobre algo e ele riu, me olhando em seguida, enquanto tomava a sua cachaça para esquecer a dor.

Eu, então, voltei a observar o descer da água no rio. Minha cabeça estava um caos completo. Ver Bruce tão perto de mim, me olhando com aquele olhar de apreensão e me tocando com aquele carinho, me deixou totalmente confuso. Meu coração tinha batido mais forte por ele naquele momento, mas é claro que eu não ia me atrever a dizer nada para o machão que Bruce era. Tinha medo até de ele me bater... como o mundo não tem mais lei, é mais fácil exterminar minorias.

– Vai ficar aí sozinho até quando? – ouço a voz de Bruce e me viro, vendo-o se aproximar. Em suas mãos ele tinha uma tigela e eu não entendi muito bem o que aquilo significava.

– Estava pensando. Acho que não deveria ter te falado aquilo, então tem como esquecer? – peço e ele sorri, se sentando ao meu lado e me oferecendo a tigela.

– Come. Você quase morreu hoje. – ele pede, me estendendo a mão que segurava a tigela.

– Tudo ficou preto. – olho para ele, pegando a tigela. – Tudo. E aí, do nada eu senti uma vontade imensa de vomitar e depois de colocar aquela água pra fora eu vi você, diante de mim. Desculpa pelo susto. – ele ri e eu rio também.

– Cala a boca... – ele pede e eu como um pouco. – Eu sei qual é a sensação de quase morrer, Dylan. Eu sei o que você sentiu. E eu não desejo pra ninguém. – ele diz, sério, olhando o curso do rio que estava diante de nós. A claridade já estava quase que totalmente tomada pela escuridão e o som da água correndo era como música para os meus ouvidos naquele momento.

– Eu também não. Pelo menos não vou mais morrer BV. – ele ri com a minha piadinha.

– É. De nada.

– Você já namorou alguém? – pergunto a ele, que respira fundo.

– Estava demorando pra começar.

– Por favor, é a última.

– Jura?

– Não. – ele sorri. – Minha curiosidade não é linear, ela pode voltar.

– Ok. Nunca namorei. – ele responde, de uma vez e eu como mais um pouco.

– Por quê?

– Porque eu nunca me apaixonei. – é tudo o que ele diz e eu fico impressionado.

– Tá brincando...

– Não. – ele responde, me cortando. – Todos os meus encontros por aí foram pontuais. Sempre foi desejo pela pessoa ou desejo de acabar com meu estresse. Nada mais que isso.

– Mas você deveria fazer sucesso. – ele ri.

– Não. Geralmente as pessoas têm medo de mim, ninguém quer conhecer por completo um monstro como eu...

– A Amélia não tem medo de você. – ele me olha por alguns segundos.

– A Amélia é a pessoa que menos deve ter. Porque é pra ela que eu tô vivo agora.

– Qual é a sua fixação com ela?

Ele pensa por um tempo, enquanto eu como. Parecia que Bruce estava viajando nas suas questões pessoais, quando ele finalmente me respondeu dizendo:

– Quando a Amélia nasceu, minha mãe chorou muito. Ela me disse que ela não iria sobreviver por muito tempo e eu jurei que ia. – pela primeira vez eu vejo os olhos de Bruce marejarem. Eu tinha conseguido achar um ponto fraco naquele que aparentemente tinha sido criado para não ter nenhum. – Se a Amélia morrer, minha competência com a minha mãe morre também. Ela e o meu pai sabiam dos planos do governo desde o princípio, me prepararam em conjunto com ele para sobreviver e fazer com que a minha irmã também sobrevivesse, já o Den...

– Quando foi a última vez que você recebeu um abraço, Bruce? – pergunto, percebendo que aquele assunto conseguia afetá-lo de uma forma que ele não queria.

– O que?

– De uma pessoa que não fosse a Amélia.

– Acho que no meu aniversario de 6 anos, do meu pai. – eu, então, me levanto, deixando minha tigela de lado e o puxo. – Tá fazendo o que? – puxo ele pra mim e o prendo em um abraço.

No começo, sinto os músculos de Bruce quase que totalmente rígidos. Ele ficou assim por alguns segundos até finalmente relaxar e eu sentir ele repousar sua cabeça nos meus ombros. Bruce passou seus braços pelas minhas costas e me envolveu dentro deles, enquanto eu passava a minha mão pela parte de trás da cabeça dele, até a nuca, sentindo seu cabelo que estava em um corte baixo, espetando a minha mão.

– Muito obrigado por ter me salvo, Bruce. Eu não estava pronto pra morrer. – o solto devagar, olhando em seus olhos.

– E nem eu pra voltar pro silêncio que era antes de você chegar. – ele responde, e por um milésimo de segundos até sinto o seu olhar pra mim mudar, mas é claro que rapidamente caio na real e percebo que talvez eu estivesse imaginando coisas que não existem. 


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