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(este capítulo contém cenas quentes, cuidado.)
Visão de Bruce
Eu fiquei um bom tempo me olhando no espelho, depois de acordar misteriosamente como se uma flecha não tivesse atravessado o meu baço – que acredite, depois de ter ele danificado você entende onde fica e pra que serve. Ali eu estava analisando as minhas novas cicatrizes e pensando no motivo pelo qual eu estava tão bem. Não conseguia compreender como eu estava sadio depois de tudo o que passei.
Pelo o que Dylan tinha me dito – e pela reação de Amélia, ao me ver em pé e sem nenhum machucado aberto – eu tinha quase morrido. E isso não me surpreendia, porque "quase morrer" já era um costume na minha vida. Nunca vivi muito tempo sem quase morrer várias vezes e na maioria desses "quase" eu tinha me machucado feio e me recuperado como um personagem de quadrinho genérico.
Lembro-me dos trabalhos pesados que meu pai me obrigava a fazer na nossa fazenda, de descarregar dezenas de sacos de ração, até que eu não aguentasse de exaustão – ele dizia que isso me faria mais homem – e até mesmo a mania que ele tinha de me obrigar a mover os móveis de casa sozinho, quando queria muda-los de lugar. Pra vocês isso pode parecer sádico da parte dele, e realmente era, mas eu não costumava ver dessa forma, porque era menos dolorido não pensar nisso.
Acontece que geralmente ele escolhia um lugar, se encostava no portal de casa, e lá ia eu carregar um armário imenso sozinho para o ponto que ele escolheu, enquanto não só ele, como todos em casa olhavam – e ninguém podia me ajudar. Me lembro de perguntar o motivo pelo qual a minha vida era um castigo constante e ele sempre me dizia que eu faria valer o sofrimento que causaria para nossa família.
E desculpa se eu não quis contar a vocês quem era o meu pai, é que esse tipo de memória me causa um sentimento que eu não sei explicar, mas sei que não gosto. Prefiro maquiar isso e pensar que meu pai era um cara bacana e aleatório – como os pais devem ser. É difícil a gente aceitar que alguém próximo a nós é uma péssima pessoa e que, provavelmente, não vamos apresentar essa pessoa aos nossos filhos por vergonha – mas a minha relação com o meu pai seria exatamente essa, se toda essa tragédia atual não estivesse acontecendo.
De qualquer forma, voltando ao assunto, quando terminei de me vestir, fui andando por aquele hospital – e olhando tudo, detalhadamente. No fim do corredor, um som repetitivo de batidas me chamou atenção, mas pelo som de fundo as batidas altas – que me lembravam sons de tuberculum – eu decidi que não era uma ideia inteligente ir ali. Aquele era um hospital abandonado, e embora meu quarto fosse limpo, o hall de entrada tinha muito sangue seco pelo chão e paredes – e eu preferia não imaginar a loucura que aquele lugar tinha sido dias antes de ser evacuado como o resto do país.
Vocês não devem imaginar o quanto eu me sinto mal por tudo o que estava acontecendo... mas desde que eu tinha acordado eu entendi o quanto eu tinha sido responsável por absolutamente tudo de ruim que tinha se sucedido no meu país e no resto do mundo – e mesmo que eu apenas tenha ficado em silêncio, o meu silêncio tinha custado centenas de vidas humanas. De repente, todas as vezes que eu ouvi alguém me chamando de aberração fez sentido e o peso que eu tentei desfazer, tinha pesado novamente nas minhas costas. Eu sabia que eu não deveria pagar de sobrevivente se isso era a última coisa que eu era, mas para a segurança de Amélia eu precisava – e espero que vocês, juntamente com o Dylan, consigam me perdoar algum dia.
Continuei andando pelo lugar, até chegar na cozinha, e lá me apoiei no portal para observar Dylan, que ria com Amélia. Ela tinha acabado de passar a mão molhada no rosto dele, e eu estava até surpreso de ver aquela cena contrastando com o lugar em que estavam.
– Isso aí não venceu? – pergunto e eles param, me encarando. Eles ainda me olhavam como se eu fosse uma aberração estranha, e eu tentava me acostumar com isso.
– Não. Pelo o que eu vi, o mercado tinha uma parte, no estoque, que tinham muitos alimentos novos, então parece que eu usei coisa vencida no aniversário da Amélia atoa. – Dylan me responde, sorrindo pra Amélia, que encara ele como se não acreditasse no que estava ouvindo e eu sorrio.
– Mas não foi fechado há 4 anos?
– A cidade de forma geral sim, mas esse hospital foi há cerca de 2 anos e precisavam de um lugar para manter. Eu ia pegar a mesma massa que tinha usado no bolo da Amélia, porque não estava tão passada, mas achamos uma dispensa que mandava comida para esse hospital. – Dylan comenta e eu fico impressionado com a destreza... e orgulhoso.
– Entendi. – é tudo o que eu digo, saindo dali.
Não queria fazer muitas perguntas a eles, como, por exemplo, porque aquele hospital não tinha fechado com o resto do país, porque eles já estavam me tratando estranho demais para eu querer que tratassem ainda mais. Era péssimo acordar como se eu não soubesse de nada, porque eu não queria incomodar e ficar perguntando – mesmo que eu estivesse totalmente confuso e curioso.
Fui, então, andando até uma das janelas de entrada do hospital e vi a rua, que estava vazia – embora tivesse uma parte da pista marcada com muito sangue, que provavelmente estava há dias ali. Fiquei olhando aquela vista de cidade abandonada pela vida por algum tempo, até ouvir alguém se aproximando, e quando olhei, vi Jonas ali, forçando uma cara positiva, como se pedisse autorização para se aproximar – e eu não seria o cara que mandaria aquele garoto vazar dali, então ele se aproximou.
– Por que ficou? – pergunto a ele, assim que ele para do meu lado.
– Porque o Hale me pediu.
– Entendi.
– Ele quis a todo custo esperar alguns dias pra ir, Bruce. Queria ter certeza que você ficaria bem sem ele. – encaro Jonas.
– E ele disse o que eu sou? – pergunto e ele claramente fica confuso. Aquele tinha sido um teste para saber se Hale tinha aberto demais a boca, mas claramente eu fiz merda.
– O que?
– Parece que não. Isso é ótimo. – concluo.
– Como assim?
– Como assim o que?
– O que você é? – Jonas pergunta.
– Eu? – me faço de desentendido, encarando-o e esperando que ele tivesse coragem de me perguntar de novo, mas é claro que por causa do meu olhar intimidador ele pareceu se ligar que eu não queria conversar sobre isso.
– É... – Jonas respira fundo. – a Amélia sentiu sua falta.
– É claro que sentiu. – digo e nos olhamos. Eu então, respiro fundo. – Eu também senti falta da realidade. – concluo.
– Qual é a última coisa de que se lembra?
– Dor, muita dor. A última coisa lúcida que eu me lembro é olhar pra baixo e ver uma flecha enfiada na minha barriga. E depois disso eu vi tudo começar a ficar turvo, algumas visões rápidas de momentos, vi o Dylan comigo, depois o Hale, eles estavam queimando, estavam sendo devorados... depois eu sonhei que alguém dizia "bem-vindo ao inferno" e eu me lembro da voz de um dos meus colegas, Kyle, me dizendo que se eu morresse seria um alívio pra ele. – conto. Tudo o que eu vi foi confuso demais para que eu tentasse explicar de verdade a alguém.
– Tinha muitos problemas com esse Kyle? – Jonas me dá corda e eu agarro. Eu gostava de falar sobre o Kyle porque o nosso ódio mútuo nos fez crescer bastante.
– Muitos. – sorrio. – Uma vez ele e eu caímos em uma briga que eu bati tanto nele que ele esqueceu o próprio nome por algumas horas. Isso no começo, claro, porque eu tive que pagar uma penitência de ficar 2 dias de joelhos no meio do pátio onde treinávamos. E aí, na primeira noite, choveu muito... na segunda nevou um pouco. E isso tudo sem comer, bebendo água da chuva...
– Você poderia ter morrido.
– É, escuto isso com frequência. – respondo. – Depois eu entendi que isso tudo foi além de uma penitência.
– Eu... – observo ele, que parece ficar um tanto quanto intimidado com o meu olhar. – Fiquei impressionado com a forma como o Dylan te ama e faz de tudo por você.
– É?
– Sim. Não só eu como o Hale também. O Dylan fez de tudo por você, Bruce. Ele nunca duvidou que você fosse acordar. Ele foi atencioso quando precisou, foi corajoso quando teve que ser... – Dylan aparece na porta da cozinha e assobia, chamando nossa atenção e nos chamando com a mão em seguida. – Se você tem alguma dúvida que ele é o cara certo, Bruce, te aconselho humildemente que repense isso, porque se ele não fosse não estaria aqui. – Jonas termina, saindo na frente.
Eu fico observando Dylan ali, na porta, por alguns segundos e depois disso sigo Jonas, indo até a cozinha. Quando chegamos lá, tudo estava arrumado em uma festinha simples, onde batemos palmas e cantamos parabéns para ele.
– Faz um pedido! – Dylan pede, se aproximando de mim e eu o puxo, encaixando-o na minha frente.
– Quero que a gente chegue no acampamento de sobreviventes a salvo. – Jonas pede, de olhos fechados, assoprando as velas em seguida e nós batemos palmas para ele. Achei diplomático, admito, mas esse pedido não me surpreendeu em nada e se ele queria ganhar pontos comigo, não conseguiu.
Admito, também, no entanto, que aquele tinha sido um momento leve, mas na mesma frequência e sinceridade eu também tenho que dizer que eu queria sair daquele lugar logo. Não aguentava mais ficar preso ali, como se eu estivesse em um cárcere de privado, mas eles fizeram votação e escolheram esperar um dia – apenas para ter certeza que eu estava bem.
E, consequentemente, eu acabei aproveitando esse dia para tentar recuperar a minha agilidade – que claramente não voltaria com um dia de tentativa, mas eu estava disposto a tentar. Com isso, enquanto eles comiam na cozinha, eu ficava no hall, pulando no balcão e pulando para o chão – para tentar alcançar minha altura de pulo comum –, correndo pelo hospital, subindo e descendo as escadas – fui até o 5° andar do prédio, voltando até o hall de entrada e refazendo esse percurso várias vezes –, entre outros exercícios para tentar voltar com a forma física que eu tinha, antes de passar semanas em uma cama com a morte cheirando meu cangote.
Quando chegou o horário de dormir – onde todo mundo começou a se arrumar para isso e para o dia seguinte, já que iríamos voltar à nossa rotina de seguir uma rota – eu fui tomar meu banho, e quando saí do banheiro, só com a toalha presa na cintura, vi Dylan ali. Ele estava sentado na minha cama e já tinha tomado seu banho.
– O que foi? – pergunto a ele, que me encara por alguns segundos.
– Nada. Só queria saber se posso dormir aqui. – ele pergunta e eu sorrio.
– É claro que pode, ué. – respondo, indo até as minhas roupas, que estavam sobre uma das macas do quarto. Quando me aproximo da cama para pegar a minha roupa, no entanto, ouço o som da trava da porta do quarto, e antes mesmo que eu me vire, sinto o corpo de Dylan atrás de mim. – Dylan...
– Não fala nada não... – ele pede e eu fico em silêncio instantaneamente, sentindo sua mão, que passava pelo meu quadril e, com as pontas dos dedos, Dylan foi deslizando seu toque pelas entradas em v do meu abdômen.
Quando chegou na toalha, ele desceu sua mão devagar por cima dela, descendo pelas minhas coxas, mas sem tocar no meu membro. A todo momento eu fiquei tentando manter meu autocontrole com ele, porque eu me conhecia o suficiente para saber que não era todo mundo que conseguia lidar com quem eu era quando o assunto era cama. E como Dylan tinha uma importância pra mim, muito maior do que qualquer outra pessoa com quem eu transei – e eu sabia que ele era virgem –, eu tentava a todo custo não sair do controle.
Essa minha força de vontade em manter meu controle, no entanto, não funcionou por muito tempo, porque enquanto Dylan passava, devagar, a palma das mãos nas minhas coxas, ele fazia questão de respirar próximo a minha pele, e dar mordidas leves pelas minhas costas. Chegou um momento, então, que eu me virei de frente para Dylan e o beijei.
Encostei nossas bocas com força, enquanto segurava Dylan pelo pescoço com uma mão e com a outra, eu o puxava pra mim pelo quadril, enquanto andávamos de costas até uma das paredes daquele quarto. Ao encostarmos nela, eu o prensei contra a parede, enquanto descia meus beijos pelo seu corpo.
Certo momento, eu percebi que ele estava tão excitado, que começou a descer sua mão, mas eu não queria isso, por isso, entrelacei nossos dedos e prendi a sua mão acima de seu corpo, com força, contra a parede, para continuar beijando seu corpo. E eu sentia a forma como ele respondia a cada toque meu, mesmo sem dizer uma palavra sequer.
Quando eu tocava Dylan de uma forma que ele gostava, ele respirava fundo, tenso, e depois relaxava com aquela carinha positiva. E sempre que ele ficava tenso de alguma forma, mas relaxava com um toque meu, seus músculos pareciam se entregar em minhas mãos. E isso se repetiu por todo aquele momento gostoso entre nós.
Fiz questão de conhecer bem o corpo de Dylan antes de continuar com qualquer coisa que fosse, e mesmo que eu tenha essa mania de controle, por muitas vezes eu cedi aos toques dele, deixei que ele me conhecesse – e ele me conheceu muito bem, já que, depois de um tempo, ele começou a passar a mão pelo meu membro, por cima da toalha.
E eu sei que você é fofoqueiro o suficiente para querer saber todos os detalhes depois disso, mas eu não faço o feitio do tipo de pessoa que conta algo assim. Imagine como se fosse seu melhor amigo te contando a primeira vez com o namorado... aposto que o desconforto com isso seria maior do que você pode descrever, então eu prefiro manter isso entre Dylan e eu – embora eu saiba que ele, provavelmente, vai querer contar tudo o que aconteceu.
No dia seguinte, ao acordarmos, nós dois estávamos nus ainda. Uma observação é que eu dormi segurando Dylan junto ao meu corpo o tempo inteiro. Ele dormia na minha frente, e um dos meus braços estava segurando-o pela cintura. O outro estava sendo utilizado como travesseiro por ele e isso não me incomodava – como eu sei que incomoda algumas pessoas, porque com o passar do tempo o braço fica dormente e tal. O que importa é que, naquela manhã, eu fiquei observando-o por trás.
Se me perguntassem há alguns meses o que é amar alguém de forma romântica eu não saberia dizer, mas naquele momento eu sabia. E não apenas pelo sexo que tínhamos feito, porque eu tinha certeza antes mesmo de fazermos, mas sim por conta de quem ele era. Eu observava Dylan como se ele fosse alguém que eu não conseguiria alcançar, e sequer imaginar que eu me relacionaria, mas estava acontecendo.
Quando ele acordou, ele se virou de frente pra mim e ficou me olhando, passando a mão pelo eu rosto, sem dizer nada. Ele passou os dedos pelas minhas sobrancelhas, pelas minhas bochechas, tocou cada uma das minhas pintas, desceu as mãos pelo pescoço e peito, até a minha barriga, e me virou de costas na maca. Dylan, então, se deitou sobre o meu corpo, e eu o envolvi com meus braços, enquanto ele parecia ouvir meu coração.
Nenhuma palavra foi dita no tempo que ficamos ali. Nenhum beijo na boca foi concretizado naquele período da manhã. Ele ficou apenas ouvindo o meu coração, e depois disso se sentou sobre a minha virilha, passando a mão pelo meu peito e barriga, apontando cada uma das pintas que eu tinha pelo meu corpo, sentindo cada uma das cicatrizes... Dylan passou a mão por cada gomo da minha barriga – que estavam quase perdidos depois desses dias deitado e sem exercício – e, novamente, pelas minhas entradas em v.
Temo dizer que ele me mapeou por completo naquela manhã e temo mais ainda em dizer que foi uma das melhores coisas que eu vi. Ele contou minhas pintas, minhas cicatrizes, e, depois disso, ele me olhou profundamente nos olhos, se inclinando até mim e me puxando para que eu me sentasse na maca. Dylan, então, colocou cada uma de suas mãos em um lado do meu rosto e me deu um beijo singelo na testa.
E eu, definitivamente, não sei o que dizer sobre isso, porque eu nunca em toda a minha vida me senti tão amado como me senti naquele momento. Nunca senti o meu peito apertar de tanto amor por uma pessoa. Foi, definitivamente, uma das melhores sensações que eu já tive o prazer de conhecer e torço para que todos em algum momento da vida possam sentir, porque parece limpar o peito de toda sensação ruim.
Daí em diante, começamos o nosso dia. Eu me vesti, Dylan também, e após isso, saímos do quarto. Ao chegarmos na cozinha, Amélia e Jonas conversavam sem parar. E quanto entramos, fui direto no lanche que tinha sobre a mesa.
– Dylan, explicou pro Bruce a rota pro Texas essa noite? – Amélia pergunta.
– O que? Não era nova Orleans? – questiono, encarando-a.
– Ué? Não conversaram? Fizeram o que para não conversarem? – ela me pergunta de volta.
– Nada, é que eu estava cansado demais. – digo.
– Sei. Também, depois de ficar pulando pra cima e pra baixo ontem, como não fica? O Jean mentiu, pra variar... – Amélia explica, comendo um pedaço do bolo da festa.
– Falar nele, cadê? – pergunto, passando meus olhos sobre cada um naquela cozinha.
– O que? – Dylan rebate minha pergunta.
– Ele.
– O Dylan o rasgou no meio. – Amélia explica e eu fico de boca aberta, totalmente surpreso.
– É sério? – pergunto, encarando Dylan, que dá de ombros.
– Claro, o cara te espetou igual carne de churrasco, Bruce, pelo amor de Deus, se toca. – Amélia responde.
– Tá, e aí? – peço que ela continue, afinal, não tinha tempo para pensar muito no desfecho de Jean.
– E aí que ele estava mentindo. O Hale contou que em nova Orleans está, na verdade, o acampamento dos ladrões. Ele ia vender a gente, provavelmente. Mas aí achou algo de mais valor, que era o bebê da Hany.
– E cadê ela? O bebê nasceu? Nasceu bem?
– Sim, meu tio fez o parto. – Jonas responde e Bruce confirma com a cabeça.
– É, então nasceu bem mesmo. Mas e aí? Agora vamos para o Texas? – pergunto. Vocês já devem ter percebido que eu falhei miseravelmente na minha tentativa de não fazer muitas perguntas.
– Claro. É lá que está o grupo de sobreviventes de verdade. – Amélia explica e eu confirmo com a cabeça.
– Entendi. Estão prontos?
– Mas já? – Amélia pergunta.
– Claro. Já cansei dessa porra de lugar. – respondo e ela desce do balcão da cozinha, indo em direção à porta.
– Mal acordou e já tá fazendo bagunça. – ela reclama e eu sorrio.
Jonas, então, a segue, e quando eles saem eu vou direto em Dylan, beijá-lo mais.
– Bruce... – ele começa a falar, provavelmente para se explicar sobre Jean, mas eu sinceramente não queria saber. Se eu fosse ficar pensando que Dylan tinha matado o pai da minha afilhada, eu iria ficar louco. E a minha maior estratégia para não enlouquecer era, de fato, não ficar remoendo questões que me machucavam.
– Aproveita, porque eu sou diferente quando o assunto é sobrevivência. – respondo e ele sorri, me beijando mais e desistindo de falar.
Tomamos café, terminamos de pegar nossas coisas e arrumamos nossas bagagens. Cada um de nós colocou um óculo de visão noturna preso no pescoço, uma besta na mão e eu aproveitei o coldre que Hale tinha me deixado – e uma pistola – para prender pelo menos uma arma de fogo na minha perna – para caso encontrássemos uma cidade com ladrões.
Todos nós vestíamos roupas pretas, e estávamos com botas, para garantir que pregos ou qualquer tipo de ferro não entrasse em nossos pés enquanto andávamos por destroços. Quando tudo estava perfeito para continuarmos, Dylan abriu a porta do hospital – e pela primeira vez em semanas eu senti, mais uma vez, o vento do mundo exterior tocar meu rosto. E acho que de tanto eu viver no meio do mato, sentindo isso, eu tinha esquecido o quanto era bom.
Começamos, então, a nossa jornada rumo ao Texas, a pé, claro.
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