A Força do Paciente 0 (Último Capítulo)

Visão de Bruce

Em Waco, achamos um aviso, dizendo que o grupo de sobreviventes estava em Austin, outra cidade do Texas. Todas as vezes que eu tentava imaginar como seria quando chegássemos lá, eu me sentia pesado, como se meu corpo não quisesse chegar aquela cidade por algum motivo. Eu sabia que a minha intuição valia muito, mas por causa dos outros – que tinham esperanças e sonhos – eu não a deixei se sobressair.

Waco não se localizava muito distante do nosso ponto final, por isso continuamos andando, mas quando chegamos em Temple – que era a cidade antes de Austin – vi Adele se aproximando em passos confusos, como se ela estivesse totalmente atordoada. Olhei ao redor, para ver se o caminho que ela vinha fazendo era seguro, e como não vi nenhum tuberculum, comecei a correr em direção a ela. Adele pingava sangue, e eu não conseguia entender o que tinha acontecido.

Quando nos aproximamos dela – no meio do nada – percebi que ela estava sem sua mochila e armas – e até mesmo sem água. Adele caiu de joelhos nos meus pés, e eu a segurei como pude, deixando a minha besta de lado para tentar dar um sustento a ela, que estava claramente atordoada.

Amélia, então, pegou alguns objetos e começou a examinar Adele, para ver se ela estava machucada – e se aquele sangue era dela. Não preciso nem dizer que a primeiro momento achamos que o grupo deles tinha sido atacado por algum grupo de tuberculum. Por conta de todas essas questões, então, decidimos fazer uma pausa.

– Ela não foi mordida. – Amélia explica, assim que termina de examiná-la. Adele estava, claramente, em choque com alguma coisa e por isso resolvi colocá-la para dormir um pouco, e depois eu faria perguntas.

Aquele período de silêncio quase consumiu todos nós. Era horrível ficar se perguntando o que estava acontecendo, sem ter uma resposta imediata. Eu queria saber como Beatriz, Hale e Hany estava com seu bebê, e não podia. Finalmente, depois de um tempo, ela começou a acordar do sono profundo que tinha se introduzido.

– Adele? – a chamo, depois de algumas horas, quando ela já estava melhor e ela me observa, totalmente séria. – O que aconteceu? Foram atacados?

– Cadê minha mãe? – Jonas pergunta, apavorado.

– Bruce... – Adele segura meu braço e eu olho nos olhos dela.

– O que?

– Meu pai foi morto. – ela diz e eu sinto a minha espinha gelar completamente.

Eu não sei se vocês já sentiram o arrepio de uma notícia muito ruim que preferiam que não fosse verdade, mas ele chega, toma conta de você e vai gelando o seu corpo por inteiro. É uma sensação tão ruim, como se o chão desabasse embaixo dos seus pés, e isso é tão devastador que eu torço para que ninguém mais passe.

– O que? – pergunto, depois de alguns segundos de silêncio. Meus olhos, então, se enchem de lágrimas e eu sinto uma tristeza que eu nunca pensei ser capaz de sentir.

8 anos antes

– Fala sério, Bruce. – Hale reclama.

– Mas já tá bom de sal. – insisto e ele nega com a cabeça, largando a sua cerveja no balcão e vindo até mim.

– Quantos estrogonofes você já fez? – encaro ele com uma cara de descrença e Hale vai até o pote de sal, rindo. Ele pega mais um pouco e coloca na panela, me encarando em seguida. – Mais sal. – ele bate uma mão na outra e vai até a sua cerveja, se sentando no banco que tinha de frente para o balcão, em seguida.

– Se você estragar meu prato de mastercheff, eu vou ficar chateadíssimo. – digo a ele, que solta mais uma risada baixa. Aposto que eu divertia Hale com os meus comentários sobre programas antigos que eu era fascinado.

– É, igual eu estraguei os pontos de costura do seu uniforme. – ele rebate e eu reviro brevemente meus olhos, colocando o pano de prato sobre o balcão.

– Mas costurando você é melhor que eu mesmo, me deu uma ajuda boa.

– Cozinhando também. – ele completa e eu o observo, com minha cara descrente de sempre. – Agora deixa tudo no fogo e enquanto isso termina, você faz o arroz.

– Isso, com certeza, vai me ajudar a amar mais o Brasil. – concluo, enquanto pego o pote de arroz.

– E se você não for selecionado para o grupo que acompanhará o BOPE? Não vai ficar decepcionado? – me viro para Hale.

– Como assim?

– Expectativas machucam, Bruce. Ainda mais quando se está em um cenário de muito perigo. Contar com algo que você ainda não tem, ou não aconteceu, é algo que faz as pessoas se afundarem em decepções.

– Tá falando pra eu não esperar que vou?

– Tô falando pra você não contar como se já tivesse sido selecionado. A vida gosta de pregar peça nas nossas expectativas, e tudo pode mudar e um dia para o outro. É mais fácil trabalhar para não ter muita expectativa do que lidar com a frustração de uma esperança quebrada. – ele explica e eu olho para o balcão, pensando no que ele tinha me dito.

– Entendi.

– Embora eu ache que você vai, essa é uma dica pra vida. – observo Hale, que tomava a sua cerveja.

– Vai sentir minha falta quando eu me mudar?

– É claro, peguei você pra criar. – eu sorrio.

– Fala sério. – peço, rindo.

– Tô falando. Antes de mim você era simpático como é agora? – ele questiona e eu penso um pouco.

– Não, pai. – digo, e Hale me observa seriamente, soltando um pequeno sorriso depois.

Hoje

– O Kyle matou ele. – ela responde, começando a chorar em seguida. Ela estava toda suja de terra, suas lágrimas escorriam pelo seu rosto criando um rastro de água no meio daquele rosto sujo.

– Por quê? Adele, fala comigo... – peço e ela me encara por alguns segundos.

– Eles estão vindo, Bruce. – ela diz, com os olhos arregalados.

– Pra onde?

– Eles querem você.

– O que?

– O Kyle quer você vivo ou morto, eles querem você para tentar tirar uma vacina, Bruce, você não pode se entregar a eles... – ela segura meu braço. – Pelo meu pai, Bruce...

– O Kyle que eu conheço não me encontraria nem se eu dormisse na casa dele por 2 meses. – digo, com tom de deboche.

– Você tem um rastreador no seu dedo esquerdo. – Adele conta, rapidamente. Ela ainda estava claramente atordoada, provavelmente por ter andado bastante sozinha e sem água.

– Qual? – pergunto.

– Mindinho.

– Bruce, você tem que arrancar. – Dylan me pede e eu nego com a cabeça.

– Se aquele merda matou o meu pai, o mínimo que eu posso fazer é me vingar. – respondo, olhando brevemente Dylan.

– Ele está com outros soldados, Bruce. – Adele comenta.

– Você contou quantos?

– Mais de 200.

– Todos da SEAL ou de algum outro grupo bem treinado?

– Não sei. Me desculpa. – ela pede, chorando mais.

– Olha pra mim. – peço. – A gente pode não ter um pingo de intimidade, Adele, mas saiba que eu não vou deixar que eles vençam assim.

– Como vamos passar 60 soldados? – Dylan pergunta.

– Qual foi a última cidade cheia de zumbis que encontramos? – pergunto e ele pensa.

– Com um pouco de zumbis foi Austin.

– Então vamos voltar para Dallas. – digo e ele parece não entender.

– Por quê? Lá está cheio dessas coisas, lembra?

– Talvez eu queira fazer um experimento social. – digo e pelo meu olhar Dylan já entende o que eu queria dizer com isso.

– Bruce, é loucura.

– Não tô pedindo pra vocês me acompanharem. – digo, olhando seriamente cada um que estava ali.

– Bruce... – Dylan começa a falar, mas só pelo tom de voz dele, percebo que ele iria tentar mudar a minha ideia.

– Eu perdi o meu pai. – o encaro e meus olhos se enchem de lágrimas, eu, então, começo a controlar, para não chorar. – Eles destruíram a minha vida, fizeram o meu pai de sangue me tratar como um monstro e a única coisa que eu recebi por ser quem sou foi desgraça. Eu fui costurado, cortado, levei tiro, fui empalado, levei flechada, quase morri e matei inúmeras vezes, para agora eles quererem me caçar. Mais do que isso, Dylan, pra você o Hale era só um cientista, e talvez eu devesse estar com raiva dele por ter permitido que eu ficasse na situação que estou hoje, mas pra mim ele é o meu pai. Quando todos me viraram as costas, ele estava ali comigo. E se você vingou a Kat, que você nem conhecia direito, me deixa vingar o meu pai. – termino, sentindo como se eu fosse me desmontar ali mesmo.

– Tudo bem, vem aqui... – ele me puxa, olhando nos meus olhos, e eu, relutantemente, o abraço.

Desde que conheci o Dylan, acredito que o melhor lugar do mundo é onde você se sente amado de verdade. E não importa se é uma pessoa ou a sua cama com o colchão na forma do seu corpo. O melhor lugar do mundo é aquele que, quando você está nele, você sente como se estivesse em paz.

Ficamos naquele abraço por um tempo, enquanto eu, de olhos fechados pensava em Hale – e as minhas lágrimas escoriam silenciosamente pelo meu rosto. Pra mim foi dolorido demais pensar no sorriso dele, nas brincadeiras e até mesmo nas broncas e brigas que já tivemos juntos. Isso, porque mesmo quando saí da casa dele, ele nunca me deixou sozinho. Aos domingos ele aparecia lá em casa para fazermos um almoço, ou quando íamos para alguma missão, Hale era aquele que tentava me descontrair, para que eu não ficasse totalmente tenso o tempo inteiro.

Mesmo que eu não dissesse sempre a Hale a importância que ele tinha na minha vida, acredito que eu soube, pelo menos, demonstrar. Quando ele teve toda a questão com Jean, eu estive ao lado dele em quase todos os dias de recuperação. E quando eu era obrigado a executar alguma missão, ao chegar, o quarto dele era o primeiro lugar que eu ia. Eu poderia ficar por horas aqui dizendo o quanto Hale me moldou como homem, mas mesmo assim não chegaria nem em 5% de tudo o que vivemos, então, o que importa nesse momento é que depois de me abraçar, Dylan segurou o meu rosto e limpou as lágrimas dele.

– Você não vai sozinho. – ele diz.

– Espera... – tento fazer com que ele desista.

– Não vai, Bruce. É como você acabou de dizer... se eu vinguei a Kat, que nem conhecia direito, é claro que eu vou vingar o Hale, porque ele era seu pai. – ele explica. – Ele moldou uma parte significativa do homem que eu amo hoje, não teria outra forma de agradecer a ele.

– Qual é o plano? – Adele pergunta, respirando fundo.

– É, qual é o plano? – Amélia reforça e eu nego com a cabeça, olhando pra ela.

– Você não vai. – respondo.

– Isso é ridículo. – ela resmunga.

– Não, não é. Eu quero você segura, Amélia.

– E onde mais seria, se não ao lado do meu irmão que sempre me protegeu?

– Bom, eu também vou. – Jonas comenta.

– Sua mãe vai ficar puta. – digo e ele sorri.

– É. E vai ser incrível. – ele ressalta.

– Não entendo por que vocês... – começo a falar, mas Amélia me interrompe.

– Todos aqui temos motivos para fazer isso. Eles fizeram experimentos com você, te modificaram e viram por anos você ser perseguido sem que fizessem algo para evitar isso. Agora mataram o Hale, que foi o único que se sensibilizou por você.

– Vocês vão me explicar o que aconteceu? – Adele pergunta.

– Basicamente? Aparentemente o seu pai e outras pessoas implantaram o vírus que tá matando o mundo no meu irmão, mas por algum motivo esse vírus não mata ele e ele não infecta outras pessoas. Nele, esse vírus faz exatamente a função para qual ele foi desenvolvido, que é, justamente, melhorar a saúde das pessoas. – Amélia responde e Adele me encara. Eu, então, apenas confirmo com a cabeça.

– E por que ele mata as outras pessoas? – Adele pergunta Amélia, e elas começam a falar de mim como se eu não estivesse ali.

– É isso que eu ainda não sei. Minha esperança era conversar com o Hale por horas para poder entender o motivo do meu irmão estar vivo e extremamente saudável, mas pelo visto todas as nossas respostas se foram com ele.

– Eu só... – começo a falar, interrompendo aquela conversa das duas. – Não sei o que aconteceu, mas me sinto como se fosse imbatível. Acho que por algum motivo esse vírus, quando foi solto, foi usado com um proposito diferente do qual ele foi desenvolvido.

– Acho que entendi. – Adele conclui. – E acho que não era só o meu pai, da minha família, que estava envolvido com isso.

– Por quê? – pergunto.

– Porque quando a minha mãe foi se separar dele, ela começou a pegar vários papéis pra jogar fora. E vários desses papéis estavam assinados pelo meu pai e pelo meu avô.

– Como sabe que era mesmo o seu avô?

– Porque o nome do meu avô era Kwang-hee Hale e adivinha, era o mesmo nome da assinatura. – ela conclui.

– Sua família veio pra que por quê? – Dylan pergunta.

– Meu avô era casado com uma americana. Minha mãe me disse que ele, na Coreia, era um dos melhores geneticistas do país, mas vieram embora porque a minha avó conseguiu um emprego próxima da família, depois de anos de casados. Aqui, por causa do currículo dele, ele entrou para equipe de pesquisa americana, em genética. E depois dele o meu pai foi no mesmo caminho. Acho que os dois trabalharam juntos, e depois o meu avô passou o trabalho para o meu pai, mas eu nunca soube nada sobre como o meu avô morreu ou afins. – ela explica.

– Por que eles passariam isso de pai pra filho? – questiono e ela dá de ombros.

– Não sei, mas naqueles papéis tinham muitas notas em coreano que eu não soube ler, porque eu fui alfabetizada em inglês, mas posso jurar que li algo sobre gene T.

– Se o vírus tiver mutado e de vírus, pra você, ele passou a ser um gene? Isso explica o motivo pelo qual ele é tão resistente em você e, consequentemente, faz com que você seja também. – Amélia explica.

– Isso é possível?

– Não sei, nunca estudei isso. mas se aconteceu com você, é possível sim. – ela diz. – Qual é, só tenho 11 anos, não é possível que vou ter que fazer todo o trabalho difícil da investigação.

– Acho que nunca vamos saber realmente o que aconteceu exatamente. – Dylan conclui.

– Mas Bruce... – Adele segura o meu braço.

– O que?

– Diversas vezes eu vi os meus pais discutirem, quando eles se encontravam pessoalmente... e a minha mãe sempre dizia que não entendia o fascínio do meu pai por você. Ele sempre disse que sentia como se você fosse o filho dele. Ele disse que, quando te conheceu, soube que mesmo sendo difícil, você era uma pessoa incrível. E se ele realmente te estudou desde que você era criança, ele realmente desenvolveu um apego com você.

– Tá falando isso porque acha que ele te abandonou por mim?

– Ele não me "abandonou" e nem foi por você que ele se ausentou de casa. Eu sei de muita coisa que eu preferi não falar para não causar dor, Bruce. E mesmo que a minha mãe tenha tentado sim me dizer que o meu pai era a pior pessoa do mundo, talvez porque ela se magoou, eu nunca pensei isso. Eu sempre soube que o meu pai era um herói e merecia respeito. – Adele abre os braços e eu a abraço.

Eu sempre pensei que a minha "reconciliação" com ela viria algum dia. Isso, porque eu já ouvi coisas péssimas de Adele, mas a questão é: quem nunca disse algo péssimo para outra pessoa? Ela era nova, eu também, ela queria que o seu pai pudesse ficar ao seu lado como ele ficava do meu e tudo bem, sabe? Sempre acreditei que uma hora ela passaria a entender tudo o que aconteceu, e foi o que ocorreu naquele momento.

Depois de alguns minutos, pegamos nossas coisas e começamos a ir em direção a Dallas. E antes que me perguntem, eu não tinha a mínima esperança de sair vivo disso, mas eu tinha que tentar. Não tirei o rastreador no meu dedo, porque eu queria mesmo ser encontrado. Eu não ia dificultar para Kyle, mas quando ele me encontrasse iria querer que eu tivesse feito isso, porque ele pode ser ótimo em seguir um rastreador em um mapa, mas eu sou melhor em arrebentar ele na porrada.

Passamos dias voltando até Dallas. As horas de dormir se tornaram horas de pesadelo, porque não queríamos que eles conseguissem nos alcançar antes de chegarmos lá – e quando eles percebessem que estávamos dando a volta, é claro que eles iriam começar a acelerar mais para nos alcançar. Adele me disse que quando ela fugiu, eles ainda estavam se organizando para sair de lá – então isso significava que tínhamos um tempo a mais.

Mas a questão é que esse tempo, eventualmente, acabou. E eu percebi isso quando fui para a elevação, na entrada da cidade de Dallas, e vi vários carros vindo na direção dela. Pelo menos tinha dado tempo suficiente de chegarmos na entrada da cidade, o que já era o começo. Amélia, Adele e Jonas, no entanto, se esconderam em partes específicas do campo aberto, para garantir que Kyle não me desse um tiro no peito antes da nossa conversa.

Eu vi que ele disse algo para o homem que estava no carro com ele, provavelmente se perguntando onde estavam os outros do meu grupo. Eu estava sem minha mochila ou minha besta, observava eles se aproximando pelo baixo relevo, próximo a divisa dos estados, enquanto eu estava na parte de cima, e, atrás de mim, estavam aquelas centenas de tuberculum em um silêncio absoluto.

– Bruce Scott, o governo dos Estados Unidos ordena que você se entregue para pesquisas em prol da salvação da humanidade. – Kyle fala, em um megafone, a metros de distância e eu olho para trás, vendo que nenhum tuberculum se moveu com aquele som.

Na verdade, desde que eu fui mordido e dei um grito ali, eles não se moviam mais em posição de ataque. Eu realmente não sabia se meu plano daria certo, e por isso o meu coração estava acelerado – mas essa incerteza não me faria desistir.

– Que isso, Kyle, tá falando como homem por que se você ainda é o moleque chorão que eu dava surra quase todo dia? – respondo e os homens com ele começam a rir.

– Tá resistindo por que, Bruce? Tá surpreso de me ver, meu amor? – ele pergunta, sorrindo.

– É claro que não, Kyle, eu sei do meu rastreador. – o sorriso que antes estava no rosto dele, começa a murchar. – O que foi? Você acha mesmo que iria me encontrar de outra forma? Kyle, você é tão incompetente que não consegue nem achar a sua dignidade, quem dirá eu...

– Legal. Vem logo.

– Não. Não vou. Eu não vou e você vai vazar, vai me esquecer. – digo a Kyle, que começa a rir.

– É mesmo?

– É. E você deveria estar grato por eu não estar indo aí, te matar, agora mesmo.

– Me matar por quê? Porque eu esfolei o Hale? – o "humor ácido" com que eu estava tratando Kyle some ao ouvir aquela frase e eu começo a sentir o meu coração bater mais rápido.

– Você o que? – questiono e Kyle olha para os lados, observando seus colegas.

– Se a Adele te contou sobre o rastreador, eu esperava que ela tivesse te contado quem foi o herói que fez o querido Dr. Hale, traidor de estado, cair no chão cuspindo sangue. – ele responde, me olhando em seguida. – Aposto que ele tá no inferno agora, com o pai dele e sua família. – eu, então, encho meus pulmões de ar e em seguida o solto em um grito, com o grito mais alto que eu pude soltar, enquanto Kyle começa a rir com seus colegas. – É isso que o grande Bruce Scott faz quando está bravinho? – confirmo com a cabeça, ouvindo o som dos zumbis correndo em minha direção.

Os outros soldados, então, começam a se encarar enquanto a terra começa a tremer, e em questão de segundo os zumbis começam a passar por mim, aos montes, correndo em direção a eles. O tiroteio então começa, e eu grito outras vezes. Na minha cabeça eu dizia que eu queria Kyle pra mim e que não era para que ninguém tocasse nele, mas não sei se eles estavam me entendendo – afinal eu não tinha prática com essa coisa de conversar com eles.

O que importa é que começou uma gritaria, tiro e muita gente sendo devorada ali – consequentemente, um rio de sangue começou a ser formado naquele campo aberto. Os soldados começaram a ser caçados e estraçalhados por cada tuberculum que estava naquela parte, e com os gritos deles, ainda mais zumbis apareciam para devorar aquelas pessoas. Eu, então, fui andando no meio daquela gritaria até Kyle, que começava a correr para longe.

Quando me vi novamente, estávamos correndo sem parar. Adele pegou um dos carros que estavam abandonados – porque os soldados estavam mortos – e começou a nos seguir, com Dylan, Amélia e Jonas. Kyle, então, começou a atirar como podia para trás, enquanto não parava de correr e eu continuei no foco de alcançá-lo. Naquele momento, então, um grupo de ladrões aparece e começa a observar o que estava acontecendo. Com os gritos de Kyle, eles se unem a ele e começam a atirar nos zumbis e na minha direção, mas eu não paro, até que e escutei um grito me chamar e só aí parei instantaneamente.

Ao me virar, vi que Adele estava de joelhos no chão, com alguma pessoa apoiada em seu colo – que eu não conseguia ver, porque ela estava de costas pra mim. Eu, então, corri desesperadamente para ver quem era e quando cheguei, vi Amélia ali. Meus olhos, então, se encheram de lágrimas mais uma vez. Dylan e Jonas estavam ali, cada um de um lado dela, enquanto ela tentava respirar a todo custo. Eles tinham conseguido atingir o abdômen de Amélia naqueles tiros sem foco.

Eu, então, me abaixei diante dela e ela segurou a minha mão. Os olhos de Amélia estavam lacrimejando e ela tentava falar alguma coisa.

– Amélia... – tento falar, mas não consigo. Eu não sabia se ela tinha sido atingida por uma bala de Kyle ou dos ladrões, mas sabia que mataria todos, de qualquer forma.

– Bruce, eu te amo tanto... – ela diz, devagar, e piscando devagar também.

– Irmã...

– Obrigado por ter acreditado em mim, por ter sido o meu melhor irmão mais velho.

– Por favor... a gente vai ajudar você.

– Não, Bruce. Acabou.

– Eu não te protegi, não é? Eu deveria ter... – pergunto e ela passa a mão pelo meu rosto, descendo até meu braço e segurando-o.

– Protegeu sim. Bruce, você me protegeu de tudo e todos, me protegeu até de mim mesma. E eu sou eternamente grata por ter conhecido você e por ter o orgulho de te chamar de irmão. – fecho meus olhos, permitindo que lágrimas desçam pelo meu rosto.

– Me desculpa. – digo, quase não conseguindo.

– Você é incrível e eu te amo demais. – ela diz, respirando com dificuldade.

– Eu também te amo. – respondo ela, que solta um sorrisinho curto. Eu, então, dou um beijo na testa de Amélia, que, aos poucos, solta meu braço.

Quando percebo que ela se foi, começo a chorar muito, deitado sobre seu corpo. Não conseguia acreditar que eu tinha permitido com que aquilo pudesse ter acontecido e, automaticamente, começo a lembrar dos meus momentos com Amélia.

Eu, então, a puxo pra mim e fico chamando-a por um tempo, lembrando de quando íamos ver jogos de baseball e ela sempre pedia sorvete de flocos para comer enquanto assistia. Lembrei, também, de todas as vezes que a gente ficava rindo enquanto víamos vídeos na internet e das nossas danças estranhas.

Era difícil deixá-la, mas eu sabia que era necessário. Queria me convencer a ficar, mas cada vez mais o meu ódio por quem quer que tenha feito aquilo aumentava – mas é claro que a tristeza ainda me prendia a ela naquele momento. Eu fiquei ali por um tempo, até ouvir alguém gritar:

– Vamos sair daqui!

Levantei, então, meu rosto e vi que os ladrões, juntamente com Kyle, estavam verificando quem estava morto e vivo por ali – de longe, claro, em cima do carro deles, já que eles não iriam chegar perto de nenhum zumbi. Eu, então, me levantei devagar, limpei as lágrimas do meu rosto e percebi a minha visão meio turva. Ouvi Dylan me chamar várias vezes, mas comecei a andar com toda a força que o meu ódio me permitia ter em direção aos carros.

Quando eles perceberam que eu estava me aproximando, eles começaram a acelerar os carros, mas era tarde demais. A velocidade de aceleração dos carros naquele momento era menor do que o embalo que eu estava com as pernas. Então, eu pulei em cima dos carros e um dos caras eu peguei, bati a cabeça com tudo no volante, destroçando a cabeça dele ali. O outro, eu peguei a arma e dei vários tiros de perto, esfolando a cara dele ali e assim sucessivamente. Quando desci do carro para matar os que já tinham descido, peguei, segurei a cabeça de um deles e bati ela várias vezes na porta do carro, até o cara cair, aparentemente, sem vida no chão.

Por causa da violência do meu ato, a porta do carro ficou toda ensanguentada e amassada pra dentro, mas eu não ligava, só queria vingança. Já com o último dos ladrões, ele tentava correr para longe e esse aí eu segui, até segurar os dois braços e puxá-los para trás. Com isso, eu encostei o braço direito no esquerdo, por trás – e não preciso nem dizer que, com isso, eu quebrei muita coisa dentro dele. Por último, quando terminei com todos, encarei Kyle, que segurava uma 12, me observando.

– Bruce, eu não queria que ninguém atingisse ela. – ele diz, como se pedisse por misericórdia. Kyle sabia da importância de Amélia na minha vida, e eu não duvidava que ele não quisesse machucá-la, mas o fato é que ele e os colegas de última hora dele tinham a matado e eu não o deixaria sair dali.

– É?

– Eu tenho família, você sabe.

– Bom pra sua filha que eu te mate e ela não tenha que crescer com um exemplo de bosta como você. – rebato e ele pisca várias vezes, perplexo.

– Por favor... não faz eu atirar em você. – ele pede, e logo um grupo de tuberculum se aproxima de mim, parando ao meu redor.

Kyle pareceu ficar impressionado de ver aquilo. Por mais que eu tivesse gritado, mandando que eles atacassem cada um dos caras que queriam me pegar, ele não tinha entendido o quão organizados eles eram quando o assunto era eu.

Olhei ao redor, e pedi, com um curto grunhido para que o que estava ao meu lado me mordesse. Quando ele fez, eu encarei Kyle e fui correndo até ele, que me deu um tiro de 12 Na barriga, mas assim que esse tiro me tocou, o meu corpo já se regenerou – e eu entendi que realmente, o vírus T em contato com o meu corpo potencializava a minha capacidade de me regenerar. Ao chegar bem perto dele, eu puxei a arma de sua mão e dei uma coronhada em sua cara.

Peguei, então, a mão que Kyle usava para puxar o gatilho e segurei com força, sentindo cada um dos dedos dele quebrando com aquele simpático "aperto de mãos". O grito dele me fez sentir uma felicidade momentânea tão boa que eu não consegui parar. Depois da mão, quebrei cada membro do corpo de Kyle, até deixá-lo ali, todo mole na minha frente.

– Você matou a minha família, por que acha que eu teria piedade de você? – pergunto.

– Porque você é melhor que eu. – ele responde.

– É. – sorrio. – Eu não vou matar você.

– É sério?

– Claro, aliás, quando chegar no inferno, faz um favor pra mim e manda o Brown tomar no cu. Diz pra ele que ele foi o pior superior que eu tive na vida. – me afasto dele, deixando-o todo quebrado ali no chão.

Assim que eu paro diante dos tuberculum que estavam ali, eu fico parado e solto um curto grunhido para eles, que começam a correr em direção a Kyle. Não demorou muito até que seus gritos fossem afogados por um mar de sons daquelas coisas comendo. Até que enfim aquele inferno tinha acabado.

Me afastei em passos pesados daquele lugar onde Kyle estava sendo devorado. Senti como se tivesse o triplo do meu peso nas minhas costas, como se eu estivesse totalmente destroçado daquela situação. Assim que me aproximei do meu grupo, então, Adele me chamou.

– Bruce... – ela começa a falar, esperando que eu pare para ouvir, mas eu não paro.

– A partir de hoje eu vou caçar todos os ladrões ou qualquer pessoa que se acha lei nessa porra de país de merda. – passo por eles.

– Eu vou com você. – Dylan diz e eu me viro, parando de andar.

– E a gente? – Jonas pergunta e eu dou de ombros.

– Você tem que achar a sua mãe, e eu aposto que a Adele vai te ajudar com isso. Quem queria te matar já está morto. – digo, olhando pra ela, que confirma com a cabeça.

– Tá bom. – ela diz, e eu me preparo para continuar andando. – Bruce... – ela me chama e eu paro de andar, me virando pra ela novamente. – Não perde quem você é.

– Nem você. – digo, dando as costas mais uma vez.

– Ei... – Dylan me chama, quando já estávamos mais afastados de Adele e de Jonas, e eu o encaro. Ele, então, me abraça, mas eu não reajo aquele toque. – Você não está sozinho, Bruce, nem eu.

– É claro que não. – respondo e ele me olha nos olhos. – Não adianta sobreviver a tudo e continuar sozinho. Pelo menos, mesmo depois de tudo, eu ainda tenho você. – digo e Dylan confirma com a cabeça.

– E vamos dar um jeito.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top