Todos os dias eu o servia com uma fatia de bolo diferente, todas elas bem decotadas com o meu amor e chocolate, mas nenhuma delas fora amada por ele. Todos os dias ele comia e desaparecia só voltando à noite. Eu sempre pensava que era o trabalho, um trabalho muito complicado que o impedia de chegar mais cedo, mas não era isso.
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A pele dele era quente como o forno dos meus bolos, o seu beijo igual ao açúcar usado neles, os seus dedos igual a algodão.
Eu sentia que tínhamos todos os ingredientes, mas faltava um, o seu amor.
Mas eu não sou uma fatia de bolo para tu usares e descartares.
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Um dia chegou até a mim uma carta enquanto tu te encontravas longe, e foi aí que descobri que não existia trabalho nenhum, que tudo fora uma doce ilusão com cheiro de baunilha.
Todo o que eu conseguia imaginar era no teu gosto de creme de manteiga na boca de outra mulher.
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Então no dia a seguir eu te segui, eu sabia que os meus sentidos estavam a ser enchidos com calorias vazias e que a cada passo sentia que estava perdendo algo.
E vi o que mais temia, vi como não era nada para ti e como estava a ser usada, como se eu fosse um pedaço de bolo descartado por um melhor.
E foi nesse momento que eu te vi a ir embora com a cobertura do meu coração, mas eu a irei pegar de novo, irei voltar a ter o que é meu e tu irás perder aquele pedaço de céu que eu te dei ontem.
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Voltei para casa e preparei o bolo para amanhã, eu sentia que este agora teria todos os ingredientes necessários, um novo bolo recheado com dor e traição. Sentia que assim nunca mais te perderia para outra fatia, pois se eu sou uma fatia de bolo tu és um pedaço de carne para mim, o meu pedaço de carne.
Coloquei o ingrediente especial, o meu amor nele, eu sabia que nunca mais poderia ouvir a tua voz ou ver a cor dos teus olhos, mas assim saberia que dormirias eternamente comigo.
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O dia seguinte chegou e da mesma forma, eu te servi o bolo e esperei. Em pouco tempo eu vi o teu sufoco e o teu sofrimento, o mesmo sofrimento que eu senti. A mesma dor e eu vivi.
Sem pensar eu chego perto do seu ouvido e sussurro "eu não sou uma fatia de bolo" e afastei-me enquanto via o teu sofrimento a diminuir, ao contrário do meu que ainda estava lá, mas havia maneira de o eliminar. Cortar a carne podre que estragou o meu pedaço de carne.
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Enquanto via o debater daquela mulher e ao fim de espetar a primeira facada a única coisa que eu pensava era:
- porque é que quiseste perder aquele pedaço de céu que eu te dei?