P R Ó L O G O
A chuva forte é recebida com gosto.
Ventos espantam o cheiro para longe e a água agressiva limpa seus rastros.
Mas a fêmea está ciente de que as criaturas que lhe perseguem noite adentro podem sentir seu sangue a quilômetros de distância. Bestas agressivas e sanguinárias. Demônios!
E ela estava sangrando demais!
A dor no pé da barriga é agonizante. A dor mais forte que uma mulher pode sentir.
— ME AJUDA! — E também a dor capaz de lhe dar coragem para esmurrar a porta do convento.
Os trovões ocultam seus gritos, tanto quanto ocultam os rosnados. Os relâmpagos ofuscam a sua visão e lhe dão a certeza de que tal tempestade é anormal.
— SOCORRO!
Ela escorrega, ali, na escada. Seu sangue cai como cascata pelos degraus. Ela berra com aquela dor.
Um relâmpago corta o ar. As luzes do poste se apagam e a rua permanece em um breu de escuridão. E um par de olhos vermelhos alaranjados se abrem em completo nada.
— Meu Deus, me ajuda! — Ela chora. — Salve minha f-filha…
Outra contração a faz gritar.
Sua gigantesca barriga mais do que nunca se torna um incômodo. E a criança querendo sair, naquele temporal…
Ela grita.
Mas ninguém lhe escuta.
Não naquela tempestade.
Suas lágrimas são varridas. E mais sangue sai, lavando a escada e se fundindo a poça de água mais próxima. Cada vez mais vermelha.
Ela reza, mas a contratação é cada vez mais presente.
A criança vai nascer!
Seu corpo empurra, e ela se esmurra pela porta, quase sem força. Apenas tapas que nada lhe ajudam.
E então, a dor mais intensa de sua vida! A dor de ter uma cabeça… um corpo humano saindo pela vagina, abrindo espaço e fazendo a mulher berrar tanto, que até sua garganta dói.
A mão segura o bebê, que logo chora e se engasga com a chuva.
Mas não era a mão de sua mãe…
Uma pequena menina rosada, entre as garras negras de uma fera.
E quando a mãe abre os olhos, ofegante e exausta, um focinho cheio de presas rosnava em seu rosto. Os mais intensos e penetrantes olhos vermelhos refletiram sua face de terror.
O demônio veio pessoalmente atrás dela.
Não dá mulher.
Mas dá criança.
A morte sorriu para ela.
Na manhã seguinte, ao abrir a porta do convento, duas freiras e um padre gritam
ao ver o corpo estraçalhado de uma mulher. E em seus braços, uma linda menina dormia.
Depois de 6 dias e 6 noites de tempestade, o sol brilhou, as 06h00 daquela manhã quando a pequena bebê acordou ao ser retirada dos braços de sua assassinada mãe e acolhida pelo convento. Seu choro foi uma melodia a ser apreciada não importava quantos corpos a neblina daquela manhã escondesse.
E da criatura negra que se alimentava de suas presas.
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