Capítulo II ⏳
Quando voltamos para casa fui direto para o quarto me trocar. Estava na hora de fugir do sol e aproveitar a piscina. Coloquei o biquíni e vesti um short leve, sem me incomodar em pegar uma blusa. Passei protetor em cada centímetro de pele, encontrei meus óculos escuros e uma toalha e desci as escadas. Três cabeças se viraram para me olhar.
– Vai dar um mergulho, Cielo? – Sam perguntou, sorrindo. Ele ainda estava mexendo no som com Stevie. Josh havia se juntado a eles.
– Acho que não vou me mover daquela sombra bem ali. – falei olhando para o quintal, através das janelas nos fundos na cozinha. Dava pra ver uma parte da piscina, onde um guarda-sol gigante deixava na sombra.
– Em um minuto eu vou até lá jogar você na água. – Sam prometeu, estava com a cabeça enfiada atrás da TV.
– Você pode tentar. – respondi. Lancei um olhar para Josh e ele sorriu de volta.
Passei pela cozinha pela primeira vez, notando que estava equipada com o básico, mas tudo parece novo e de última geração. Atravessei a porta de correr e senti meus pés descalços queimarem no chão de concreto. Me apressei em chegar até a sombra prometida. Tirei o short, deixando ele junto com a toalha sobre uma espreguiçadeira ao lado e sentei na borda, com a água até o meio das canelas.
A área externa era bem grande. Tinha a piscina, talvez uns dez metros, e além um pequeno espaço verde. Atrás de mim estava o deck com churrasqueira e uma mesa de madeira clara e pesada, trabalhada a mão. Pelo tamanho eu diria que facilmente dez pessoas sentariam ali, talvez mais. Havia também um mini bar, também de madeira, em contraste com as luzes e o letreiro colorido, por enquanto desligados. Junto ao deck haviam duas portas, que imaginei serem banheiros. Era uma ótima casa, com uma ótima vista e não tão longe do centro. Imaginei quanto havia saído o aluguel. Eu não desembolsei muito, o que significava que o valor havia sido dividido entre muita gente. Aquilo ali estaria lotado em poucas horas. Pensando nisso, resolvi mergulhar e aproveitar a água enquanto estava limpa e sem ameaças. Depois de ver o vídeo de uma garota que pegou uma bactéria em uma piscina de Las Vegas, fiquei com um leve trauma.
Entrei na água devagar, me perguntando como poderia estar fria tendo estado debaixo daquele sol escaldante o dia todo, mas logo acostumei. Mergulhei a cabeça e me impulsionei para a frente, lembrando das aulas de natação que fiz na infância. Saí do outro lado da piscina, apoiei os braços na borda e coloquei o queixo sobre as mãos. Os vizinhos estavam dando uma festa com karaokê. O homem que estava com o microfone era péssimo, mas parecia se sentir um verdadeiro Ed Sheeran. Autoconfiança é a chave, amigos.
Ouvi alguém se aproximar e olhei por cima do ombro. Era Sam. Mergulhei outra vez e voltei para a sombra.
– Droga, você já está molhada. – ele reclamou, sentando ao meu lado.
– Estou sempre um passo à frente, Tye.
– É, está mesmo. Por isso você tem uma empresa.
Eu movia meus pés lentamente na água, a sensação era boa.
– E a gravadora? – lembrei.
– Ainda estamos pagando tanta coisa que não posso considerar algo próprio. – ele riu.
Sam tinha uma cara de garoto que deixava as mulheres loucas, eu bem lembrava. Olhos azuis divertidos, sorriso fácil, uma dobrinha no queixo. O cabelo escuro estava mais longo do que eu lembrava, na altura do maxilar.
– Conseguiram vencer o aparelho de som?
– Não, por algum motivo o home theater não está reconhecendo o notebook. – ele deu de ombros.
– Aposto que Stevie e Josh conseguem.
– Stevie talvez, Josh foi pintar as unhas.
Olhei para saber se ele estava brincando, mas parecia estar falando sério.
– Aliás, você e o Josh, hein. – Sam abriu um sorriso provocador e empurrou meu ombro com o seu.
– O quê?
– Eu sinto o cheiro dos hormônios de vocês.
Passei a mão no cabelo molhado, colocando para trás.
– Sente é?
– Qual é, Cielo.
Virei a cabeça de lado, para olhá-lo de frente.
– Ele falou alguma coisa?
– Rá! Eu sabia! – ele gritou, batendo as mãos uma vez.
– Sam!
– Ele não falou nada, mas nem precisa, ele fica secando você.
Sorri discretamente.
– Ele é legal. E bonito.
– Espere só para vê-lo com as unhas feitas.
Eu ri.
– Qual é essa das unhas? Ele é punk ou quê?
Josh tinha o cabelo longo, acima do ombro, mas não vi sinal de delineador, correntes ou couro nele.
– Nah, ele só curte esmalte.
– Não segue os padrões de merda da sociedade machista. - Ponto extra comigo, Josh.
– Ele é um cara legal, do tipo parceiro, sabe? Eu sei que posso contar com ele pra qualquer coisa. - Sam continuou, falando sobre o amigo.
Lancei um olhar para a casa, me perguntando onde ele estaria.
– Onde se conheceram?
– Em um show de uma banda pequena. Stevie encontrou ele no bar, depois nos apresentou.
– E Stevie?
– Holly é amiga da Alex, Alex é namorada do Stevie. Em algum momento todo mundo saiu junto.
– Holly sua namorada que eu nunca ouvi falar?
Sam deu um tapa na própria testa.
– Eu não contei pra você.
– Nop.
– Foi mal, Cielo, acho que esqueci.
– Tudo bem, nossas vidas são uma loucura. Sinto falta de sair com você toda quinta, depois da aula do sr. Locke para beber cerveja ruim.
– Eu também sinto falta de levar você bêbada pro seu quarto.
Dei um tapa em seu ombro.
– Isso nunca aconteceu!
Ficamos o resto da tarde ali, conversando e descobrindo o que havíamos perdido da vida do outro naqueles meses. Ao fundo o karaokê continuava a todo vapor. Sam era o tipo de pessoa que nunca deixava o assunto morrer, estava sempre fazendo novas perguntas ou contanto histórias engraçadas. Gostaria de sair mais vezes com ele, mas sabia que era impossível. Minha agenda quase nunca tinha uma folga.
– Ele deixou você em paz? – Sam perguntou, enquanto o sol desaparecia no céu, o tom desconfortável. Eu sabia de quem ele estava falando, claro que sabia.
– Às vezes ele ainda manda mensagens, no número da empresa, o único que não pude trocar.
– Que filho da puta.
– A mãe dele é razoavelmente aceitável. Parece que o escrotismo foi herdado do pai.
Sam balançou a cabeça, desgostoso.
– Por que não denuncia esse cretino? Isso é importunação, não é?
– É complicado. A família dele é cheia de advogados, então ele sabe bem até onde pode ir.
– Nunca gostei dele.
– Eu sei.
Eu nem conseguia lembrar bem o por quê eu cheguei a gostar. Mas não queria pensar naquilo, não queria pensar nem no nome dele.
– E a Holly? – perguntei para mudar de assunto.
Sam abriu um sorriso bobo, me dando a certeza que estava apaixonado.
– Ela é incrível. Você vai conhecer daqui a pouco.
– Melhor eu ir me arrumar, então. Não quero causar má impressão para a futura senhora Tye.
Levantei e, aproveitando a distração, empurrei suas costas, jogando ele na água. Sam foi até o fundo, então subiu cuspindo água. Eu o observei rindo enquanto me secava e vestia o short.
– Vai ter revanche! - ele prometeu, tirando a água da cara.
– Sempre um passo à frente, nunca esqueça, Samuel.
Entrei pela cozinha e encontrei apenas Stevie na sala, estava falando no celular então passei direto para as escadas. Lá em cima, parei no meio da sala-cinema, reparando que as cortinas atrás das poltronas foram puxadas. Quando passei por ali mais cedo, achei que fosse uma janela apenas, mas agora via que era a passagem para uma varanda, onde estava Josh. Desviei o caminho e fui para lá.
– Gostei das unhas. – falei, apoiando o fim das costas no parapeito. Josh estava inclinado, descansando os cotovelos ali, os antebraços e as mãos no ar.
Ele sorriu de lado.
– Valeu.
– O que tá fazendo?
Ele fez um gesto com a cabeça, apontando para a frente. Me virei e perdi o fôlego. A vista dava para o mar, o céu estava laranja, a água brilhando o reflexo.
– É tão bonito. – falei.
– É lindo.
Virei para o lado e vi que ele me olhava. Com aquela luz os olhos dele ficavam ainda mais claros e eu pude perceber um pouco de verde ali. De repente perdi totalmente o interesse no pôr do sol.
– Eu estava pensando. – ele continuou, ainda me olhando.
– Ah é? Em quê?
– Em várias coisas. Em você.
Senti algo se mover na minha barriga, de um jeito que há muito não acontecia.
– Por que estava pensando em mim?
– Essa é uma boa pergunta.
– Deixa eu adivinhar, porque eu sou diferente? – brinquei.
– Não, não é isso. – ele ainda estava sério, me olhando como se fosse achar a resposta no meu rosto.
– Então eu sou igual a todo mundo?
– Você é você.
Me inclinei também, imitando sua pose, meu ombro tocando o dele. Olhei lá para baixo e vi meu carro. Ergui a cabeça e ele continuava me olhando.
– Você está me deixando sem graça. – falei, colocando um cacho para trás da orelha. Detestava meu cabelo preso assim, mas era algo que eu sempre fazia quando estava nervosa.
Josh ergueu uma mão e pegou o cacho, voltando ele para o lugar. A ponta dos seus dedos tocaram de leve minha bochecha. Meus lábios se separaram e minha respiração mudou. O rosto dele estava muito perto. Merda, ele é tão lindo.
Esperei que ele se movesse, acho que ansiei era uma palavra melhor, mas ele pareceu ficar ali uma eternidade, estudando meus olhos. Foda-se, pensei. Movi minha cabeça e apertei seu lábio inferior entre os meus. Foi como começar um incêndio. As mãos dele seguraram meu rosto, eram enormes. As minhas apertaram sua blusa nos lados da cintura, puxando seu corpo para o meu. Josh se moveu, me prendendo entre o parapeito e seu corpo. Ele era alto, então precisou se dobrar um pouco. Não gostei do espaço entre a gente. Coloquei as mãos no parapeito e tomei impulso, sentando ali. Puxei-o para perto outra vez e ele se encaixou entre minhas pernas.
– Você vai cair. – ele falou, a testa grudada na minha, meus olhos na boca dele.
– Não vou.
Os braços dele ficaram ao meu redor, me apertando contra seu peito. Segurei seu rosto, os dedos se perdendo entre seu cabelo solto e voltamos a nos beijar. A ponta de sua língua pediu passagem e eu cedi, sentindo meu ventre se apertar ao sentir ele em minha boca.
Uma buzina soou lá embaixo e eu quase caí, por sorte Josh me segurou e puxou para o chão. Nos olhamos por um segundo, assustados, depois olhamos para baixo. Dois carros estavam parados atrás do meu. Umas dez pessoas, incluindo Stevie e Sam, nos olhava lá de baixo.
– Arranjem um quarto! – um cara que eu não conhecia gritou, a cabeça para fora de um dos carros. Ele que havia buzinado.
– Oh, merda. – minha pele escura sempre disfarçou muito bem quando eu corava, mas tive certeza que todo mundo lá embaixo conseguia ver o sangue pulsar em minha cara.
Josh riu e acenou para as pessoas que ainda nos olhavam.
– Ei, Cielo! Desça aqui, quero te apresentar às meninas! – Sam gritou lá de baixo.
Josh segurou levemente meu braço e fomos para dentro.
– Acho melhor eu ir lá. – falei rindo, quando estávamos na sala-cinema. A mão dele escorregou pelo meu braço e terminou em minha mão, a apertando na sua.
– Nos vemos mais tarde na festa?
– Talvez eu passe por lá, não tenho certeza. Meu hotel fica um pouco longe.
Ele sorriu.
– Eu posso passar para buscar você, fica no meu caminho.
– Não, pode deixar. Eu dou um jeito.
– Ok, então. Você sabe como chegar? Desça as escadas e vire a direita.
– Vou usar o GPS.
– Ótimo.
Lancei um último sorriso para ele antes de soltar nossas mãos e sair.
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