...Surpresa...
Vejo Scott se aproximando com alguém ao seu lado. Demora algum tempo pra que eu reconheça quem o acompanha. Não por desconhecê-lo definitivamente, e sim por não entender o real motivo de sua presença. Quando não consigo mais me convencer que não pode ser outra pessoa além dele, me frusto. Imagino como Lucy se sentiria ao vê-lo, provavelmente piraria.
— O que faz aqui? Por que está com Scott? — pergunto com o pior tom de voz possível. Não sei se meu tom de voz demonstra raiva por Scott, frustração por ver quem está com ele e consequentemente a dúvida por não saber o porquê da companhia, ou medo de que algo ruim aconteça.
— O que faz comigo? Fala como se eu fosse a pior pessoa do mundo! — Scott responde sarcasticamente.
— Se não é a pior, é uma delas! — respondo no mesmo nível.
Ao ouvir a resposta, me encara.
— Posso ser uma delas assim como você, pois nunca matei alguém que tivesse qualquer vínculo afetivo com algum amigo meu — diz ainda me encarando.
Suas palavras são piores do que as pancadas de Dave em meu rosto. Fico sem capacidade alguma de falar. Olho pra minha mãe e ela apenas me olha de volta, sei que está com uma capacidade argumentativa tão escassa quanto a minha. Fito Jhonny e vejo que sua mal expressão continua a mesma desde quando chegou. Scott provavelmente já havia falado pra ele o que aconteceu naquela noite na biblioteca, mas fez questão de jogar na minha cara perante sua companhia.
Meu amigo, ou melhor, ex amigo me encara. Imaginei que ele tomaria alguma atitude ou falaria alguma coisa, porém continua parado me encarando.
— Pode ir — diz Scott.
Me preparo pra me defender quando Jhonny se move, mas ele passa direto por minha mãe e eu, e sobe as escadas. Ordeno que minha mãe vá atrás pra que ele não faça nada com Lucy.
—Por que você transformou Jhonny? — pergunto a Scott.
— Há muito tempo você não vê seu amigo. Assim como sua namoradinha, o garoto tem um talento.
Depois que completou quinze anos eu não o vi. Se tivesse visto, saberia.
— Lucy não era o meu único objetivo naquela escola. Havia uma outra menina, mas depois de estudá-la, vi que não valeria a pena. Fui adiando as coisas com Lucy porque não tinha certeza de qual poderia ser o talento dela e depois de tanto tempo a estudando sem respostas decidi ver no que daria. Por isso decidi pegá-la hoje.
— E por que não a transformou até agora? — pergunto.
— Por que queria te deixar desesperado, fazer você vir até aqui pra transformá-la na sua frente. Fazer você vir pra ficar mais interessante. Não teria graça transformá-la naquele barzinho onde vocês estavam. — Ele faz uma pausa. —Já imaginou meus dentes no pescoço dela?
— Você é um monstro!
Percebo que Scott se prepara pra me atacar, por isso decido atacar primeiro. Na tentativa sou golpeado e paro no chão. Scott joga alguma coisa em mim, que quebra em vários pedaços com o impacto sem nem ao menos me dar tempo de saber o que me atingiu. Levanto, dou um salto e paro atrás de seu corpo. Nossas costas se encontram, enquanto puxo sua cabeça por cima dos meus ombros. Ele consegue se livrar de meu movimento, saltando por cima de mim e me golpeando nas pernas. Paro no chão novamente e outra coisa é jogada em cima de mim. Dessa vez noto que é a televisão.
Escuto barulhos no andar de cima. Me enfureço quando percebo que minha mãe está em confronto com Jhonny. Queria defendê-la, mas não tem como sem antes acabar com Scott primeiro. Meu rival pega um impulso e acerta um soco em meu tórax, me arremessando pra fora da casa, através da janela.
Ainda no chão, olho para o lado e vejo um machado grande e afiado. Me arrasto rapidamente para pegá-lo e levanto num impulso jogando o machado sem mirar, esperando acertar o pescoço de Scott. Não acerto onde planejei, contudo arranco seu braço direito. Vejo que ele apoia a mão esquerda sobre o ombro direito percebendo a ausência do membro superior. Analiso seu braço no chão, imóvel. Ele me encara como nunca antes e se abaixa. Imagino que vai pegar o machado e tentar me matar, porém, pelo contrário, pega apenas seu braço.
Escuto quando grita com Jhonny ordenando que o mesmo desça para que saiam. Obedecendo seu chamado, desce a escada de forma veloz e quando vê o que eu fiz com Scott me encara. Antes de sumirem, percebo seus olhares fulminantes à mim.
Subo rápido pra ver se minha mãe está bem. A encontro no chão e parece que está recuperando as forças. A ajudo a levantar e tento acordar Lucy de todo o jeito, entretanto ela não acorda. Seguro a loira em meus braços e, juntamente com minha mãe, a levo pra minha casa. Coloco Lucy na cama e passo a noite observando enquanto dorme.
Quando está quase amanhecendo Lucy acorda. Mal a deixo levantar, pois dou um abraço super apertado nela. Estava com muito medo de perdê-la.
Explico a Lucy tudo o que aconteceu. Conto sobre Jhonny e, como imaginei, ela fica decepcionadíssima. Estou muito mal também com o que aconteceu, com o caminho que Jhonny resolveu seguir, mas Lucy com certeza está pior que eu, pois ela o conhece a muito mais tempo. É melhor a gente ir até a casa de Jhonny ver se os pais deles estão bem, deve estão muito preocupados com o sumiço do filho. Não vamos poder falar nada pra eles, mas é melhor dar um apoio
Lucy diz que vai explicar a seus avós que tivemos um imprevisto na saída que fizemos e por isso passamos a noite na rua. Ela se despede muito abalada por saber sobre Jhonny e peço que volte antes do por do sol pra irmos até a casa de nosso amigo
Exatamente no momento em que eu havia pedido, Lucy bate na porta da minha casa. Ao entrar, diz que precisa falar comigo.
— Bryan, estive pensando o dia todo em algo.
— E no que seria? — não suspeito de nenhuma resposta.
— Eu...
— Posso falar algo primeiro? — A interrompo.
— É... Pode sim — diz com uma certa dúvida.
— Lucy, eu tenho pensado muito em você constantemente e ontem quando abri os olhos e percebi que eu estava sozinho e que Scott havia te pego, enlouqueci. Não consigo me imaginar sem você e não consigo me imaginar também como seria viver com você, por sermos muito diferentes — olho diretamente em seus olhos.
— Então! Era exatamente sobre isso que queria falar — diz com um sorrisinho sem graça no rosto, fazendo covinhas surgirem em suas bochechas.
— Antes, posso te fazer uma pergunta?
— Pode.
— Fica comigo? Não posso mais viver sem você. — Travo um pouco mais consigo falar.
— Sim. Não sabe como fico feliz com esse pedido! — diz com as bochechas avermelhadas.
Suspiro aliviado quando Lucy me abraça forte e um beijo suave sela nossa união.
— Então... O que você queria falar?
— Complementando o que você havia dito, não poderíamos ficar juntos assim, ou melhor, não comigo assim. — Ela abaixa a cabeça, pressuponho que esteja com medo de ver minha reação.
Fui pego de surpresa com o que disse. Não sei o que falar, pois é muito complicado imaginar transformá-la. É difícil imaginá-la sem a humanidade que é sua melhor virtude.
— É melhor pensarmos nisso mais pra frente.
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