Essa semana que passou foi deprimente. Muitos faltaram e os que vieram estavam abalados demais tornando as aulas insuportáveis. 

    Os professores não estavam dispostos a ensinar. Nenhum aluno foi autorizado a ir no velório de Chris e a causa da morte dita pela perícia foi overdose. Jhonny e Jennifer também faltaram essa semana, mas eu e Lucy viemos todos os dias. 

    Lucy indaga:

—Se ele estava a ponto de ter uma overdose por que ele viria pro colégio? Não faz sentido. — Apenas concordo com a cabeça, mas ela continua: — Tem alguma coisa mal contada nessa história.

— Ele tinha um inchaço no pescoço, talvez uma artéria tenha se rompido ou algo assim — complemento.

— Talvez um vampiro tenha sugado o pescoço dele, é melhor proteger os seus Bryan! — Lucy ri ao comentar.

    Movo minhas mãos até meu pescoço como se pudesse fazer um escudo e dou uma risada. Ela também se diverte, mas revela que havia dito a primeira parte da frase com seriedade: "Talvez um vampiro tenha sugado o pescoço dele".

— Então você acredita em seres fictícios, Lucy? — pergunto.

Ela move a cabeça concordando e franze as sobrancelhas.

— Você não?— A pergunta dela me faz pensar um pouco...

— Partindo do princípio que são  seres fictícios! Talvez. O que te faz acreditar? — questiono.

— Uma experiência que passei quando criança. — Ela muda a expressão como se estivesse se lembrando dos detalhes.

— Sério? Me conta.

— Estava na fazenda dos meus avós, uns cinco anos atrás, de férias e uma noite ouvi os porcos agitados. Levantei da cama, desci as escadas e caminhei até o chiqueiro. Achei que fosse meu avô que estivesse alimentando-os ou fazendo alguma coisa com eles, mas não era. Quando estava chegando vi um garoto dentro do chiqueiro. Ele tinha os cabelos e os olhos castanhos como o seu e acho era da sua altura, mas fora isso não dava pra ver mais nada, pois estava coberto de lama e sangue. Estava matando os porcos a mordidas e de repente me viu e eu fiquei sem reação. Em seguida ele virou, correu e sumiu por entre as árvores. —  Ela suspira por um momento. — Nunca tinha contado isso pra ninguém, nem mesmo a Jennifer e a Jhonny.

    Me perco em um mar de pensamentos ao ouvir essa história de Lucy. Isso aconteceu a cinco anos atrás, no mesmo ano do assassinato do meu pai. Ela me chama. Escuto sua voz, mas não consigo fazer com que meu cérebro processe a informação de respondê-la. Até que volto a realidade.

— Você está bem?— ela pergunta.

— Sim, sua história apenas me fez lembrar de algo — respondo.

—Mas... E você. Acredita em vampiros?

Apenas respondo que sim mexendo a cabeça.

— O que te faz acreditar? — ela pergunta com um tom de extrema curiosidade.

— Sempre acreditei em seres fictícios. Talvez seja porque gosto muito de ler! — sorrio.

    Única coisa que não conseguimos entender é o porquê de terem matado Chris na sala de aula. Se um vampiro quisesse matá-lo porque não na casa dele ou na rua. Precisamos conversar com nossos amigos sobre isso tudo, porém Lucy acha que eles não acreditarão.

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    Uma semana desde a morte de Chris e parece que o ritmo do colégio volta ao normal, tendo quase todos os alunos presentes. A direção do colégio foi rápida ao encontrar um professor substituto sem nem mesmo termos uma aula vaga.

Scott se apresenta para a turma como novo professor de história. Durante a aula ele fala sobre sua vida, seus planos e pergunta nossos nomes. A mesma apresentação horrível de sempre. Dessa vez não me sinto tão constrangido porque já convivo com os alunos há algum tempo, mesmo não falando com a maioria, mas é bem melhor do que no início do ano.

Parece que ele causou uma boa impressão na turma. Eu, particularmente, não gostei dele. Ele tem um tom sombrio na voz, é tão óbvio que usa lentes que seus olhos parecem falsos e sua pele é pálida como se não pegasse sol. Mesmo morando nessa parte tropical do país.

    Lucy e eu tentamos conversar com nosso casal de amigos sobre o inchaço no pescoço de Chris e ambos dizem não ter visto. Lucy conta sobre a experiência que teve na fazenda dos avós, mas Jennifer não acredita e Jhonny não fala nada apesar de vermos que ele também não acredita. Tentamos convencê-los em vão até o momento que Scott nos interrompe, e exige que nos calemos.

    Somente duas turmas têm aula com esse novo professor, mesmo assim ele tem estado bastante no colégio. Todos os dias o vemos passeando por esses corredores. Ele também está substituindo professores quando faltam, o que é muito estranho por que antes era raro termos uma aula vaga e agora parece que temos uma por dia. Sendo assim, estamos tendo aula com Scott quase que diariamente.

    Recentemente três alunos aqui do colégio desapareceram. Têm cartazes espalhados por todos os postes da cidade e os respectivos familiares buscando qualquer tipo de pista. Um deles era da minha turma, Denny e, pelo que eu via, não era próximo a nenhum outro aluno. É muito estranho esses desaparecimentos e essas faltas dos professores de repente, logo depois de Scott aparecer aqui no colégio. Tenho certeza que ele tem total ligação com isso tudo. Meu medo é que outros alunos desapareçam, porque sei que se for mesmo Scott o responsável por esses sumiços, eles nunca mais aparecerão.

    Nas aulas Scott me encara e olha estranhamente para Lucy sem disfarçar, porém tenho a impressão de que só eu percebo esses olhares e tenho medo de Lucy ser a próxima da lista dele. Não deixarei que isso aconteça. Estava relutando um pouco em falar com Lucy sobre o que penso a respeito de Scott, mas acredito que já passou da hora de falar sobre.

    Chamo Lucy para conversar e parece que ela já havia tirado suas conclusões também, mas por algum motivo não havia tomado iniciativa de falar comigo ainda. Para muitos, vampiro é apenas uma lenda, contudo, para alguém que presenciou algo assim como Lucy havia presenciado, sabe que é real. Entramos em consenso ao analisar os fatos sobre Scott.

Ele tem a pele extremamente pálida;
Ele usa lentes, provavelmente para disfarçar seus olhos vermelhos;
Fatos estranhos têm acontecido, como desaparecimentos de alunos e a ausência de alguns professores constantemente;
Ele tem a face extremamente sombria;
E por último a certeza que eu tenho só em olhar para ele.

    Caminho com Lucy até a secretaria, preciso saber com a diretora de onde ela conheceu Scott e ver o diploma dele. Preciso saber se ele era professor antes de ser transformado ou se de alguma maneira, sem diploma, ele deu um jeito de estar aqui no colégio. Mas, o que um vampiro faria aqui no colégio? Tem que ter uma razão além de se alimentar de alunos indefesos!

    Chegamos na secretaria e Lucy espera do lado de fora vigiando caso Scott decida aparecer, enquanto eu entro para falar com a diretora Karla. Ela é bastante simpática. Pergunto como conheceu Scott e, segundo ela, foi por indicação.

— Um amigo dele veio até o colégio uma noite indicá-lo quando soube que havia uma vaga — diz.

    Pergunto quem o indicou, mas ela não sabe seu nome. Só sabe que é novo, que tem uns dezenove ou vinte anos e é ruivo. Peço pra ver o diploma dele mas não tenho autorização. Karla faz alguns questionamentos, quer saber o motivo dessas perguntas, mas digo que minha mãe queria informações sobre o novo professor porque era o único que não conhecia. Soa até engraçado porque minha mãe não conhece nenhum professor, mas tive que inventar uma desculpa, afinal não posso me passar por maluco alegando estar investigando um vampiro!