...Nos Veremos De Novo...

    Estamos todos na casa de Jonny. Já se passaram umas duas horas desde que minha mãe veio comigo pra cá e por enquanto Scott não apareceu. Ficamos conversando sobre vários assuntos e nos revezando pra vigiar pela brecha da cortina, atento a qualquer movimentação estranha na rua. Em um determinado momento Jhonny vai até o quarto da mãe dele dar uma olhada e, enquanto isso, vejo minha mãe se aproximando de Lucy. Paro pra prestar atenção no assunto entre elas. Escuto minha mãe pedir desculpas e explicar o porquê de ter estado tanto com "um pé atrás". Explica que achava perigoso. Fico um pouco aliviado por vê-las dialogando, parece que a barreira que se encontrava entre ambas começa a se quebrar.

    Jhonny me chama na cozinha enquanto pega dois saches de sangue que havia escondido.

— Aceita?

    Agradeço e pego um.

— Scott havia me dito que você é veloz. — Diz enquanto bebo um pouco.

— Não tenho do que reclamar, é um bom talento! E o seu, já descobriu? — questiono.

— Ainda não, nada de diferente. Será que é normal demorar um pouco a descobrir? — Sua voz demonstra preocupação.

— Não sei muita coisa sobre esses talentos. Fui até o laboratório clandestino do meu pai na esperança de encontrar explicações, mas não encontrei nada relevante. — Me aproximo da janela e abro uma brecha para espiar. — Talvez seja normal não descobrir de imediato.

— Com você foi assim ou você descobriu rápido?

— Pra ser sincero, eu não lembro direito. Na verdade, antes de ser transformado eu já era um pouco veloz. — Jhonny semisserra os olhos. — Scott não disse nada sobre isso com você?

— Sobre o que? — Meu amigo está completamente perdido.

— Ele estava analisando Lucy pra ver qual talento poderia desenvolver, apesar de não ter tido resultados. Não fez o mesmo com você?

— Não. Acredito que nem teve tempo, já que me transformou pouco tempo depois de eu ter feito quinze anos.

— Então não se preocupa. Uma hora acontece alguma coisa! — Tento animá-lo um pouco.

— Espero! — diz de maneira não muito animadora.

    Olho seriamente pra Jhonny. Quero mudar de assunto, mas o receio me impede um pouco. Tento pronunciar algumas palavras, entretanto me engasgo em minha pronúncia. Respiro um pouco e tomo coragem.

— Jhonny, preciso conversar sobre algo com você — minha voz falha um pouco.

    O recém transformado me encara como se perguntasse qual é o assunto.

— Sobre aquela noite na biblioteca — continuo.

— Não, Bryan. Tudo bem. O que passou, passou.. — intervém ele.

— Preciso falar. Isso tem me atordoado muito. — Percebo que consente. — Quero que você saiba que isso me deixou muito mal. Foi muito difícil pra mim, mas não havia mais nada que poderia ser feito. Foi pra me proteger — não consigo segurar as lágrimas.

— Scott queria me por contra você quando me transformou. Contou que não matou Jennifer de uma maneira que deixaria qualquer um doido se estivesse em meu lugar. De imediato eu queria te matar, confesso! Contudo, refresquei um pouco a mente e pensei melhor sobre o assunto. Analisei as possibilidades, as explicações, se não era invenção dele e mesmo não achando nada contundente que pudesse te defender, tentei me tranquilizar. Fingi pra Scott que estava com um ódio mortal de você pra que ele pensasse que eu estava do seu lado. E depois de muito refletir, cheguei a conclusão de que a única explicação seria você ter feito isso pra se proteger de alguma maneira.

— Sim. Jennifer viu quando nos defendi de Scott, ela viu quem eu realmente era. Na hora fiquei desesperado. Lembrei de tudo que aconteceu com meu pai, quando descobriram que ele era um vampiro, e tomei uma atitude drástica. Não conseguiria fazer a maldade de sugar seu sangue e por isso a golpeei.

    Meu amigo mantém a cabeça baixa, com o olhar focado no piso.

— O que aconteceu com seu pai?

— O mataram e tentaram mantar a minha mãe e a mim quando descobriram o que ele e minha mãe realmente eram.

— Sinto muito!

— Me desculpa, Jhonny. Sei que você gostava muito dela, mas não poderia ter evitado. Tive medo.

— Não posso negar que desde que soube tento abster e imaginar que isso realmente não aconteceu. Porém ficar com raiva de você não trará ela de volta. Pensar isso foi o que me tranquilizou.

    Fico aliviado. Aliviado por que guardar isso dentro de mim estava me fazendo mal. Apesar de minha mãe saber sobre esse assunto, estava escondendo de Jhonny e ainda escondo de Lucy, que são os principais envolvidos nisso. E, apesar de saber que Lucy também precisa estar ciente, prefiro continuar omitindo.

    Jhonny oferece um sachê de sangue a minha mãe que nesse momento está prestes a cochilar. Em um sofá em frente ao que minha mãe está, Lucy dorme profundamente.

    Não se passa muito tempo após minha mãe e Lucy dormirem quando ouço um barulho aqui em frente a casa.

— É ele — falo pro meu amigo.

— Eu sei. Não tem como confundir sua presença com nenhuma outra.

— Pode deixar comigo — digo enquanto ando em direção a porta.

— Não, Bryan. O que você vai fazer? — Percebo que ele vem atrás de mim enquanto pergunta.

    Abro a porta e vejo Scott no quintal.

— Falta de tempo vir até aqui! — ironizo.

— Então você está do lado dele. — Nosso ex professor encara Jhonny.

— Eu nunca estaria do seu lado — meu amigo retruca.

— Nenhum de nós cometeria a loucura de estar do seu lado — complemento.

— Tive sorte antigamente por seus pais não pensarem assim. — Zomba de mim enquanto fala.

    Não entendo o porquê de Scott ter falado isso sobre meus pais até que lembro de quando minha mãe me contou sobre a transformação deles.

    "Acordei em um quarto e seu pai estava ao meu lado. Não fazia ideia de onde estava e percebi que seu pai não era mais o mesmo... Ele se aproximou e me explicou tudo que havia acontecido. Disse que tinha passado com Scott os três dias que eu estava desacordada."
Meu pai havia passado três dias com Scott. E depois disso Scott desapareceu? Pouco provável. Percebo que minha mãe omitiu parte da história e me enfureço por isso.

— Qual o envolvimento que meus pais tiveram com você? — Eu não deveria lhe dar assunto, mas a curiosidade me domina.

— Eles eram... Como você diz mesmo? Meus capangas? — Continua com o tom de zombamento.

    Imagino um envolvimento entre meus pais e Scott. Imagino esse monstro dando ordens e ambos obedecendo.

— Não acredita nele, Bryan — diz minha mãe enquanto se aproxima pelas minhas costas.

— Sai de perto de mim — digo me debatendo para tirar suas mãos de meus ombros.

— Não tenho mais nada pra fazer aqui por enquanto. Nos veremos de novo! — Scott diz enquanto intercala olhares, ora pra mim, ora pra Jhonny e ora pra porta, pois sabe que Lucy está lá dentro. — Nos veremos de novo! — Repete essas palavras antes de sumir na neblina.

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