2|Olhos esverdeados

Ela é o oxigênio e estou morrendo para respirar.

Noah Urrea

Eu faço uma careta de dor quando acordo, e tento me levantar. Minha cabeça dói, e eu fecho os olhos.
Imagens da noite de ontem invadem minha mente de uma só vez.

Uma perseguição, tiros, cinco homens contra mim, uma luta, muita dor e então olhos esverdeados. Perturbadoramente esverdeados.

Por algum motivo a lembrança de quem são os olhos esverdeados não está voltando, e eu solto um grunhido de frustração.

A porta do meu escritório é aberta e fechada em seguida, com uma rapidez que me é familiar.

A figura alta do meu irmão me observa hesitante.

- O que você fez? -Eu pergunto, mal humorado.

-O-oquê? Eu não fiz nada.

Eu ergo as sobrancelhas de forma cética.

-Tem certeza? Por que essa é a mesma cara que você faz toda vez que apronta alguma coisa.

Josh bufa.

- Desse jeito parece que eu sou uma criança...

- E não é?

Ele me olha irritado e eu seguro um sorriso. Eu e minha irmã somos os únicos que conseguem irritar Josh e cada vez que acontece é mais divertida que a anterior.

- Eu tenho vinte e três anos. Vinte e três!

Seus olhos azuis claros faíscam em minha direção ao mesmo tempo que eu ouço uma gritaria la fora.

Vozes e barulhos de coisas quebrando. Eu franzo o cenho para meu irmão mais novo.

- Josh, o que esta acontecendo?

Devagar, ele se senta na poltrona em frente ao sofá em que estou. Meu escritório é grande, elegante, masculino e um dos meus lugares favoritos no mundo. Aqui, as coisas são exatamente do jeito que devem ser, nada acontece contra minha vontade e tudo é perfeitamente organizado. Não existem lembranças particularmente marcantes, mas essa é a magia do lugar. Sem lembranças.

Josh inclina o corpo para frente e junta as mãos.

-Ontem a noite você decidiu perseguir os Rossi sozinho. Era uma cilada, e eles conseguiram te acertar. Mas foi só um aviso. Anthony está querendo brincar com você. - Eu assinto. Disso eu me lembro. -Bom, quando você estava machucado, uma garota te encontrou. Ela hum... - Mais gritos ecoam do lado de fora e eu ignoro, me concentrando nas palavras do meu irmão. - Ela foi quem me ligou. E ela me ajudou a te colocar no carro. E ela meio que está aqui... -Sua voz vai diminuindo e eu o olho confuso.

Eu nego com a cabeça.

- Ela veio no carro. Com nós dois.

Eu me reclino no sofá, estralando os dedos.

- Ela veio porque ela quis? -Ele assente. -E você não impediu? -Ele nega com a cabeça. -Certo. Não quero nem saber o porquê disso. Imagino que você queira brincar um pouco com ela e

Josh me interrompe, parecendo assustado.

- Não não não. Eu não quero brincar com ela, por  favor nunca mais diga isso. Nunca.

Eu luto para conter o sorriso em meu rosto.

- Ela é feia? -Pergunto interessado.

Ele nega veemente.

- Ela é uma das mulheres mais bonitas que já vi.

Eu bufo.

- Por que Josh não chega logo ao ponto e me diz o que quer dizer?

- Ta legal.

-Josh, vou perguntar uma vez. Quem é ela?

Ele morde o lábio inferior e se levanta, começando a andar em círculos. Ele está nervoso.

- Bom, não sabemos. Ela não quer dizer nada, e já que ela foi quem te salvou, eu dei a ordem para não encostarem um dedo nela. Mas ela se recusa a dizer absolutamente qualquer coisa e -Um grito la fora- E ela é meio assustadora, para falar a verdade. -Ao meu erguer de sobrancelhas, ele continua -Você tinha que ver, Noah,ela comandou os nossos homens como se fosse a chefe deles. Ela gritou um milhão de instruções, e xingou cada um deles de todos os nomes possíveis porque eles não estavam, nas palavras dela, "fazendo as coisas direito". Ela parece uma general do exército. Assustadora.

Eu me levanto, ignorando a dor em meu abdômen.

- Então deixa eu ver se entendi: vocês deixaram uma desconhecida entrar aqui, ela viu tudo,mandou em vocês e ainda está ilesa?

Josh parece prestes a discordar, mas a minha porta é aberta com um estrondo.

Uma figura baixa de cabelos longos e loiros entra tempestuosamente.

Ela primeiro olha para o sofá, depois para Josh, e por fim para mim. Seus olhos esverdeados  encontram os meus e as lembranças da noite anterior voltam.

Ela segurando um canivete.Ela não  desviando o olhar do meu nem por um secundo.Sua voz,suave e deliciosa em meio a toda dor que eu estava sentindo.Suas mãos em minha cabeça.

Suas mãos em minha coxa.

Sinto um desconforto entre as pernas e ajeito a calça discretamente, voltando para a realidade.

- Você deve ser a moça de ontem. -Eu digo baixinho, escondendo um sorriso que ameaça alcançar meu rosto.

Ela dá alguns passos em minha direção parecendo determinada.

- Você lembra então. Bom, Noah,-Meu nome em seus lábios soa como um insulto, e eu sinto a vontade de sorrir denovo. -Sinto te informar que sua equipe é composta por um bando de cabeças de vento!

Dessa vez eu não consigo segurar o sorriso. Ela pisca, parecendo atordoada, e dá um passo para trás.

- Senhorita, fiquei sabendo que você comandou meus homens de maneira muito eficiente. Alguma experiência com isso?

Ela parece entender o que estou fazendo, mas entra no jogo mesmo assim.

- Na verdade sim, tenho alguma experiência nessa área. Mas estou aqui para ver como você está. -Ela da um passo em minha direção, e abaixa um pouco o olhar para meu peito descoberto. Posso ver seus dedos flexionando, um dilema em sua cabeça. Ela ia me tocar? Ela queria me tocar?

Meu coração acelera em expectativa. Como seria sentir seu toque diretamente em minha pele?

Mas então me lembro de Josh.

- Josh, saia. -Eu ordeno em voz baixa, sem deixar o olhar da mulher em minha frente. Ela não tinha absolutamente nada de assustadora. Era pequena, parecia extremamente frágil e seu cheiro de baunilha e morangos exalava algum tipo de inocência.

Mas então ela aperta os olhos em minha direção e eu entendo o que Josh quis dizer.

Mesmo sendo trinta centímetros menor que eu, a mulher tem um olhar e uma postura de um gigante. Eu tiro o chapéu para ela.

São poucas as pessoas que seriam capazes de me fazer sentir pequeno.

- Você está melhor? -Ela pergunta, baixinho.

- Como se chama?

A mulher inclina a cabeça para o lado, e os cabelos caem junto, deixando seu pescoço a mostra e sinto a vontade de deixar marcas ali.

- Uma mulher fez seu curativo. Mas já fazem mais de seis horas e talvez seja hora de trocar e...

- Como se chama? -Eu pergunto, a interrompendo. Não queria ter que fazer isso, já que a voz dela soa como uma música erótica a cada palavra que diz, mas eu preciso saber o nome da mulher que virou minha casa e meus homens de cabeça para baixo.

- Você parece estar bem. Agora que podemos conversar, tenho algumas perguntas para te fazer.

Meus lábios se erguem contra minha vontade.

Ela tinha perguntas? A mulher invadiu meu carro, minha casa, minha ordem. E tudo isso sem revelar nem o próprio nome.

Mas é claro que ela teria perguntas.

- Eu também. Por que não jogamos um jogo? Eu faço uma pergunta, você responde. Depois você me faz uma e eu respondo. Três perguntas. Mas não podemos comentar sobre as respostas.

Ela passa a língua pelos lábios, um gesto involuntário, e minha pele queima pela vontade de senti-la em mim.

Jesus, quanto tempo faz que não durmo com alguém?

Pareço um adolescente cheio de hormônios.

- Tudo bem. Eu começo. -Eu ergo as sobrancelhas. É claro que ela iria começar, é claro. -Por que a senha do seu celular é "Plutão"?

Eu pisco.

- Você só tem três perguntas, tem certeza que quer gastar uma delas desse jeito?

A mulher me lança um olhar condescendente.

- Isso não foi uma resposta.

-Plutão é o planeta que ninguém lembra, que as vezes nem é considerado na categoria. Mas ele ainda esta lá. E não importa que não exista um único ser que acredite que ele é um planeta, ele vai continuar lá. O que os outros pensam não influenciam na sua existência.

Eu falo sem realmente me importar se isso era demais. Nunca imaginei uma pergunta dessas, então não tive tempo de preparar uma resposta padrão. A mulher dos olhos esverdeados me pegou desprevenido.

- Minha vez. Por que não disse nada sobre você para ninguém daqui?

A resposta dela pode cessar muitas dúvidas. Minha pergunta foi calculada perfeitamente.

- Porque não quero que ninguém que faça parte da máfia saiba qualquer coisa sobre mim.

Eu dou um passo em sua direção, e ela recua para trás.

Então ela sabe sobre nós. Interessante.

- O que o chefe da maior máfia italiana fez para quase morto?

Eu escondo minha surpresa rapidamente. Ela sabe quem nós somos. E o quão perigosos nós somos.

- Fui estúpido e impaciente e quis fazer as coisas sozinho. Por que você não foi embora ainda?

Ela parece se irritar com minha resposta evasiva e dá outro passo para trás. Mais um, e ela vai bater na parede. Perfeito.

- Não fui embora porque não deixaram eu ir. -Ela responde na mesma moeda e eu escondo a frustração. A mulher é inteligente. -Você vai mandar me matarem? -Ela pergunta em um sussurro.

Eu dou dois passos para frente e ela bate as costas na parede.

- Não sei ainda. Talvez. -Minha voz sai calma e fria. -Qual o seu nome?

Ela levanta os olhos para mim, sem hesitar. Mesmo não encostando meu corpo no dela, posso sentir seu calor atravessar minha pele. Meu membro duro dói a cada minuto a mais que passo com essa mulher em meu escritório, mas eu ainda não estou
preparado para tomar uma decisão sobre ela.

-Si!-Ela diz simples.

Eu aperto os olhos em sua direção.

-Esse não é seu nome.

Ela engole em seco, mas responde.

-Sina Deinert.Meu nome é Sina Deinert!

Eu fecho os olhos e respiro fundo. Eu a encurralei na parede com a intenção de intimida-la, mas agora seu cheiro invade minhas narinas, minha cabeça, meu corpo. E é torturosamente bom. Preciso de todo meu autocontrole para não abaixar a cabeça e provar sua pele.

- Acho que você não deveria ter vindo, Sina!

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Até o próximo capítulo🦋

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