3

Rioston não consegue dormir pensando na moça do restaurante... Alem do que a imagem da borboleta preta pousando nela não para de aparecer-lhe.

A noite é curta.

As luzes dos carros passando na rua, chocam-se no teto escuro de seu quarto, surgindo uma convenção das mais variadas cores... Rioston está deitado com as mãos no peito, pensando sobre toda sua vida até agora.

Quando amanhece, ele tenta fazer tudo que sempre faz, porém colocando um pouco mais de pressa.

Frederico, o escuta falando empolgado sobre a mulher de cabelos pretos, fã de uma banda de rock chamada Queen Of Stone Age... Ele inclusive dar uma carona para Rioston até o restaurante, que decepciona-se, ao constatar que ela ainda não chegou.

Frederico percebe na cara do amigo o desconsolo.

— Não se ache um tolo. Porto de Galinhas é uma cidade itinerante, com muitas chegadas e partidas todos os dias e quase que ao mesmo tempo. — Rioston agradece as palavras amigas, com um aceno positivo com a cabeça.

Ele sai do carro, agradece a carona e entra no restaurante seguindo até sua mesa.

— Bom dia Rioston! — Sheila o cumprimenta empolgada.

— Bom dia Sheila. — A empolgação de Sheila não consegue ser passada adiante.

— Meu Deus, que bom dia mixuruca. — Brinca a garçonete, limpando a mesa em que ele está.

Rioston sorrir para a garçonete.

— Você viu ontem uma moça, usando uma camisa preta, sentada naquela mesa?

— Hum, já está entrando numa normalidade... — Sheila brinca com ele. — Fico feliz que já está voltando à ativa! Ver você assim cabisbaixo, me deixa triste.

Ele responde sorrindo:

— Não é nada disso. É que a achei de uma beleza incomum... Deixa para lá, não importa mais. Ela não vem.

— O fluxo de pessoas diariamente é sem igual, e se lembrar de todo o mundo é complicado. Mas se a ver, procuro saber onde ela está hospedada e te digo.

Sheila deixa Rioston perdido em seus pensamentos e segue até a cozinha.

— A senhora é garçonete, e não enfermeira viu? — Solange brinca com Sheila, assim que ela adentra na cozinha.

— Eita! Não se pode mais ser simpática? E tenho pena de vê-lo assim, sei que está se recuperando... Mas, pensar como ele era lindo... E agora... Coitado.

— Sei... Vai rezando que ofereço. — Solange dá uma tapinha no bumbum de Sheila, para então ir preparar a comida de Rioston.

O dia está com o sol a pino.

Rioston ao levantar a cabeça, ver novamente a borboleta preta voar por entre os clientes e pousar por trás de uma mesa com seis pessoas.

Ele faz um esforço para ver se a moça está ali, onde a borboleta desceu... E sim! Ela se encontra no local.

Rioston abaixa a cabeça envergonhado, a moça de cabelos pretos o pega olhando para ela.

Ela levanta-se e vai até a mesa dele.

— Bom dia. — Rioston fica sem jeito por que as abordagens são feitas por ele, e não pela moça.

— Bom dia.

— Meu nome é Anita Souza.

— Muito prazer Anita. Meu nome é Rioston Ecobravo.

— Sério esse nome? Um dos mais diferente, se não for o mais singular de todos!

Ele sorrir, e puxa a cadeira para ela sentar.

— Você está sendo gentil. O meu nome é no mínimo estranho.

Quem rir agora é a moça de cabelos pretos.

— Você tem um sotaque diferente. — Rioston inicia a conversa com Anita sentada.

— Sou da cidade de Londrina.

— Caramba, veio de longe!

— Sim, mudei-me com meu esposo para cá, ele recebeu uma proposta para o Estaleiro em SUAPE. — Rioston procura não demonstrar sua cara de decepção por ela ser casada.

— E estão gostando? — Anita abaixa a cabeça. Rioston, percebe que talvez não estejam mais juntos.

"Ops! Mancada!" — São as frases que vem na sua cabeça.

— O casal que estava ontem com você, são seus amigo? — Procurando rapidamente mudar de assunto, Rioston a pergunta ainda sem jeito.

— Ontem? Casal? — Anita franze o cenho.

— Sim, eles estavam sentados com você.

— Sim! Quero dizer não... Eu estou sozinha aqui em Porto de Galinhas. O que você faz da vida?

— Atualmente, estou sem trabalhar. — Rioston, aponta para sua perna esquerda. — Há uns dois anos meu carro capotou. — Ele mostra suas cicatrizes pelos braços. — Eu estou vivo por um milagre, se posso chamar assim.

— Havia mais alguém com você no carro?

— Sim, uma amiga. Ela morreu na hora. — Rioston responde, desconcertado com o rumo da conversa.

— Posso saber como aconteceu?

Ele abaixa a cabeça e engole a saliva.

— Pütz. Desculpe-me pela minha falta de educação ao fazer essa pergunta. — Anita lamenta-se.

— Eu estava lendo uma mensagem de texto no celular, e não vi o cachorro. Veruska gritou, no susto tentei desviar e o carro capotou três vezes.

— Meu Deus. — Anita, mexe-se na cadeira incomodada com a história de Rioston.

— Não era pra está aqui conversando com você. Eu não estava usando o cinto de segurança... Fui arremessado para fora do carro, quebrando o pescoço da minha amiga, com o impacto do meu corpo.

Uma lágrima escorre do olho esquerdo do rapaz, que está usando óculos escuro.

— Desculpas novamente, Fui mesmo sem noção ao fazer essa pergunta.

— Tudo bem... Você não é a primeira pessoa a me perguntar, e também não será a última.

— Eu abandonei minha família. — Anita dispara sua história a queima roupa, para não deixá-lo sem jeito.

Rioston, mexe a cabeça para trás, surpreso.

— Traição? — Ele faz a pergunta, quase soletrando.

— Não! De jeito nenhum!

— Digo, não dá sua parte... A traição, se é que me entende.

— Eu surtei e fui embora! — Anita suspira ao terminar a frase.

— Surtou? Como assim? — Rioston aproxima-se colocando os braços sobre a mesa.

— Isso mesmo que você ouviu. Deu a louca, pirei. — A moça que usa a camisa da banda inglesa, continua falando com sua cabeça abaixada... É a vez dos olhos dela, caírem lágrimas. — Foi um desentendimento muito sério, pesado... E preferir deixá-los. — Anita, limpa seus olhos com o lado externo da mão.

Rioston tira seus óculos escuros, em solidariedade ao que escutou. Anita continua:

— Eu sai de casa. — A moça grita. — Fugi. Não aguentava mais o olhar dele pra mim! — Rioston fica atônito e sem jeito com as pessoas a sua volta, que olham para ele enquanto não sabe o que fazer para que Anita pare de chorar.

— Anita, você não voltou a conversar com seu marido desde então? Nem procurou pelo seu filho?

— Não. E isso está me consumindo. — Rioston recebe os olhos tristes de Anita, dentro do dele e fala:

—Em certas noites, também sinto uma dor no peito tão grande pelo que aconteceu com Veruska, que peço para morrer. Eu sinto duas mãos, segurando meu pescoço e impedindo-me de respirar.

O silêncio levanta-se sobre a mesa, igual um muro que é erguido.

Anita encosta-se na cadeira e diz:

— Mas, qualquer dia desses, vou criar coragem e bater na porta da nossa casa e dizer tudo o que sinto.

— Não sou a melhor pessoa para aconselhar, mas você já deveria ter feito isso.

Novo silêncio na mesa. Anita, faz uns trejeitou na boca e diz:

— E se ele não me receber? E se jogar na minha cara o fato de os ter deixado sem dizer nada?

— Você vai escutar o que ele tem a dizer, pedir perdão e falar o que está sentindo.

— Você fala assim, até parece que é fácil. Você fuma?

— Não.

— Que pena, eu quero fumar!

— Sabe Anita, eu desejo todos os dias ter essa oportunidade de falar para Veruska, tudo o que meu coração tem a dizer. Mas sei que isso nunca acontecerá. Não nessa vida.

— Você acredita em vida após a morte?

— Sim. Eu hoje acredito. Mas nem sempre tive essa crença.

— Ateu?

— Sim. E não acreditava que havia alguém do outro lado da vida me esperando. — Pausa para respirar e Rioston continua: — Fui mandado de volta.

— Então você morreu?

— Bem, os médicos disseram que foi uma Experiência Quase Morte. Mas, a verdade é que estive fora do meu corpo e ao mesmo tempo me via jogado na grama. Depois, entrei numa correnteza, morri e voltei.

— Muito bizarro.

Rioston fica mais tranquilo ao perceber que Anita parou de chorar, e as pessoas deixaram de olhar para ele.

— Anita eu posso ir com você até sua casa, e te ajudar a conversar com seu esposo.

— Você está falando sério?

— Sim! Lógico que estou! Vocês moram aonde?

— Na Avenida Conselheiro Aguiar, próximo ao bairro do Pina.

— Sim, conheço. Amanhã vamos até lá e vou te ajudar a se livrar desse seu peso.

— Não sei. Eu acho que não é uma boa ideia. Não quero surtar novamente.

— Eu quando cheguei no outro lado, me disseram que voltaria à essa vida para ajudar as pessoas... Agora posso ver que talvez seja a chance de entender esse meu novo momento. Quem sabe não seja isso? Eu te ajudo e você me ajuda.

— Eu vou pensar. Se eu topar fazer essa ideia maluca, amanhã estarei aqui nesse mesmo horário. — Anita, levanta-se e abraça Rioston. — Mas, já adianto que você não existe.

O rapaz sorrir sem jeito.

Ele observa Anita indo embora, e começa a pensar que talvez não tenha sido realmente uma boa ideia, viajar com uma pessoa estranha.

Sheila, interrompe os pensamentos de Rioston limpando a garganta.

— Seu almoço. Demorou mais chegou.

— Obrigado, pelo menos eu conversei com a moça de ontem. O nome dela é Anita.

— Estou vendo, que sua euforia está a mil.

— Ela é casada. Mas poderei ajudá-la numa questão pessoal.

Sheila coloca a canja sobre a mesa, as torradas no lado esquerdo dele e volta até o balcão para pegar o suco de laranja com mamão.

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