20

— Jordan está morto! Meu filho morreu atropelado naquele dia! E você vem aqui querendo fazer-me sofrer? O que você ganha com isso? Vamos seu merda responda!

Sérgio solta Rioston, que cai na poltrona. Porém não impede dele despencar no chão sem ar.

O homem percebe que o rapaz realmente não está bem, e que não está fingindo.

O rosto de Rioston está com um tom amarelo. Pálido. O sangue parece não existir no corpo dele.

Ele puxa o ar, igual a um peixe fora d'água.

Rioston permanece caído no chão, sofrendo com a descoberta da morte de Jordan e por ter que dar a notícia para Anita, que com certeza lhe trará mais dor.

— Dolores! Socorro! O rapaz não está bem! — Grita Sérgio para sua governanta, que vem correndo ao encontro deles.

Rioston ainda está no chão quando diz:

— Não por favor pare. Eu vou ficar bem. Desculpas, eu não sabia que vocês haviam perdido seu filho... Anita nunca me contou sobre essa tragédia.

Sérgio afasta-se de Rioston. Dolores surpreende-se ao ouvir o nome de Anita.

— Perdão, por favor me perdoe... — Rioston volta a pedir perdão. O rapaz está transtornado com a morte do filho de Anita e Sérgio. E para piorar, ele não sabe o que vai falar quando encontrá-la.

Rioston, tenta levantar-se com o apoio da perna esquerda. A bengala foi parar uns dois metros dele, com a queda.

Sérgio continua o olhando horrorizado, e depois fala algo com Dolores e abaixa-se para pegar a bengala.

— Meu rapaz, a minha esposa que estamos falando todo esse tempo é Anita? — Ele percebe que voz de Sérgio está estranhamente mais controlada.

Rioston balança positivamente a cabeça... Toma coragem e continua:

— Ela não está mais internada por causa do surto psicótico, e agora já sei que foi devido esse trauma. — Rioston olha para Sérgio. — Eu encontrei Anita há uma semana em Porto de Galinhas. Perdida e sem se lembrar de muita coisa.

Dolores, chega com a água gelada e mais alguma coisa, que Rioston não percebe, mas é entregue ao patrão.

— Sérgio não sou louco, e por favor não chame a polícia. Meus pais não suportariam mais isso.— Sérgio anui positivamente com a cabeça. — Ela está lá embaixo, esperando no carro para falar com você.

— E o que ela tem para me dizer, depois de todos esses anos?

— Ela quer te pedir perdão, por ter abandonado, — Rioston pensa no que vai falar e continua: — a casa. Ela te ama... Meu Deus, quando ela souber que Jordan está morto. Por isso Anita nunca se lembra de nada! — Rioston fala consigo mesmo e volta a fitar Sérgio. — Ela pensa que o filho ainda está vivo.

— Rioston, como você me achou mesmo? — Sérgio o ajuda a se levantar. Os dois sentam novamente nas cadeiras.

— Anita levou-me até a casa de vocês na Avenida Conselheiro Aguiar, e um senhor que mora na casa ao lado, disse que você não morava mais lá, e trabalhava na Coca-Cola.

— E depois vocês foram parar na empresa que trabalho?

— Sim. E quando chegarmos lá, eu disse que estava com um recado da sua esposa, e foi aí que o vigilante disse seu endereço.

— O vigilante.— Sérgio repete insatisfeito com a quebra de segurança.

— Por favor não o demita. Ele apenas quiz ajudar. — Implora Rioston.

— Você sabe que casei novamente?

— Sim! E Anita também sabe?

— Sabe? E o que ela achou dessa novidade?

— Ela reagiu igual a toda mulher, que ama o marido. Mas, realmente ela está preocupada, com o menino.

— Rioston você sabe que eu e a Manuella estamos nos separando? — Manuella é a atual esposa de Sérgio e com ela tem um filho. O que está na foto da sala.

— Não! Desculpa sorriso rápido, é por que pelo menos agora tenho a certeza que você vai ouvir o que Anita tem a dizer.

Dolores entra no recinto e entrega  um envelope pardo, gamenho A4, já o outro é um papel feito de linho com uns quinze centímetros de comprimento e dez centímetros de altura, igual uma carta.

— O que é isso?

— Por favor abra e leia. — Sérgio pede com Dolores parada aí seu lado.

Meu Amor,
Eu não sei por onde começar. Não sei para onde ir ou o que fazer.
Eu choro com o ar entalado em minha garganta. A minha dor é infernal... É sufocante.
A dor de ser uma assassina me consome.
Meu Deus... As minhas lágrimas queimam meu rosto, e juntas com as lembranças do nosso filho, rasgam minha pele.
Eu não suporto ser amada por você assim.
Sei que a sua dor está insuportável, seus olhos parecem de vidro, parados no infinito e isso faz com que a minha alma queime ainda mais.
São trinta dias que estou num inferno.
A minha cabeça parece que vai explodir.
Eu me sinto sozinha, e algo trava minha alma.
Escuto vozes.
As mesmas que me levaram a beber no dia que matei nosso filho.
Ao mesmo tempo, a minha vontade é dar um fim na minha vida! Eu sou fraca! Sempre fui uma mulher fraca!
Embora, você sempre me diga que sou uma guerreira, uma lutadora mas a verdade é que não sou! Eu... Não sou.
Você agora é meu único amor, e dói eu não poder voltar no tempo.
Nunca vou poder voltar ao dia que matei nosso filho.
Por mais que as pessoas digam que foi uma fatalidade... Mas sabemos que não foi!
Eu matei Jordan, quando comecei a beber naquela manhã.
Eu o matei quando fui inventar de jogar o lixo fora, como se isso fosse esconder minha ressaca e meu hálito.
Eu matei nosso filho e não mereço viver.
Eu te amo e me perdoe, só mais essa vez.
Um dia, quem sabe e se os céus permitirem eu te encontro novamente.
Mas, não consigo viver nesse inferno no qual estou. Como disse sou fraca.

Anita

Rioston termina de ler a carta com seus olhos pegados pelas lágrimas. Ele chora ruidosamente e junta as duas mãos segurando a carta.

— Não Anita... Por favor, você não fez isso. — Ele chora ao perceber que o papel ainda guardava as marcas das lágrimas da amiga.

Ele abraça-se a carta.

— Meu Deus por que? Eu sinto sua dor minha amiga... Eu a sinto como se fosse minha dor.

Depois Rioston, com as mãos trêmulas, ler o que parece ser um convite:

" Amados irmãos,
O esposo e familiares da nossa irmã Anita Malcon, desejam convidar a todos para sua missa de Sétimo dia que será realizada na Igreja Católica de Madalena."

Rioston sorrir com carinho ao ver a foto da amiga.

— É essa a mulher que você afirma está lá embaixo me esperando, para pedir perdão? — Sérgio senta-se na poltrona e se encosta cruzando as pernas.

Rioston suspira e fala para Sérgio e Dolores:

— Ela ama essa blusa. — Sérgio franze o cenho. — Eu achava estranho Anita sempre está usando a mesma camisa da banda "Queens of The Stone Age". — É a vez de Rioston olhar para Sérgio que o vê sorrindo. — Desculpe-me o sorriso é de felicidade. — Sérgio fita o rapaz chorar, sorrir e alisar a foto de Anita. — Eu não entendia até agora o que essa blusa significa para você.

— E o que a camisa significa pra mim? Ela te falou alguma coisa?

Rioston olha para Sérgio com uma lágrima cruzando seu rosto:

— Não para você, ela está me falando agora... — Rioston olha para o vazio ao lado de Sérgio. — Essa camisa que ela está usando, foi um presente seu antes de vocês irem para o show da banda.

— Você não acha que vou acreditar nessa sua loucura.

— Sérgio Anita está ao seu lado, e diz que sente muito por tudo que ela o fez passar.

— Pare! Se não vou chamar a polícia ou a ambulância para levá-lo.

Dolores está com os dois braços arrepiados e toca no ombro de Sérgio, para ele escutar.

— Ela não está aqui para justificar nada, apenas para dizer que não sinta-se culpado pelo que aconteceu e que cada vez que você a amou, ela sempre se sentiu a mulher mais sortuda do mundo. — Sérgio tenta não se emocionar. — E que nunca deveria ter lhe abandonado e deixado você sozinho. — Sérgio desaba em choro. Rioston se preocupa por que nunca havia imaginado que um ser humano pudesse guardar tanta água dentro do corpo. — Ela pede para você ser feliz, e nunca deixa de ser esse homem maravilhoso que ela conhece.

— Pare... Por favor... Anita eu te amo. — Sérgio joga-se no chão e agarra-se as pernas de Rioston. — Eu tenho todos esses anos sofrido com sua ausência. Você nem me deu a chance de se despedir! Meu Deus como isso dói... — Rioston não consegue novamente segurar o choro, e o homem continua:— Eu acordo durante as noites sentindo seu cheiro ou escutando seu sorriso debochado. — O muco nasal desce como um cachoeira. — Você sabe que nunca te culpei pelo acidente com nosso Jordan!

— Sérgio, — Rioston o segura pelos ombros e diz: — Anita está dizendo que te ama e agradece pelo perdão, ela está muito emocionada. — Rioston para de falar e olha para o lado de Sérgio . — Ela pede para não se culpar por nada... e tudo que você prometeu na cama antes do Jordan nascer, você cumpriu.

— E o que foi que prometi para você?

— "O meu coração é seu, igual o ouro é pra cor amarela. Os meus dias são os teus dias, e minhas noites são para velar sua alma."

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