19

— Hora da escola! — O pequenino Jordan pula na cama do casal os acordando.

— Jordan! Você vai acordar sua mãe! — O menino abraça o pai e pula de novo sobre Anita.

— Eu quero voltar a dormir... A noite foi longa. — Avisa Anita abraçando o pequenino rapaz de cinco ano.

— Vamos mãe, acorda. Hoje quem vai me levar na escola é a senhora.

— Nada disso! Hoje é quarta-feira. O dia de seu pai te levar e pegar na escola.

— Meu amor, não acredito que você não vai levar o Jordan na escola. — Sérgio fala como quem está surpreso com a resposta da mulher.

— Não vou não! — Ela sorrir e continua: — Hoje é seu dia.

— Jordan, a mulher que amamos está muito insensível hoje. Vamos nos arrumar garotão, ela acordou com o pé esquerdo.

— Por Deus Sérgio, quanto drama! — Anita gargalha por baixo dos lençóis. — Como estou de férias... Façamos assim, você o leva e eu o pego.

Sérgio coloca a mão direita na boca, como quem se surpreende com a boa vontade.

Ele se abaixa e beija Anita que continua deitada.

— Eu te amo. — Anita suspira e o abraça.

Quando os dois saem, ela vai até a sala e liga a TV.

As férias começaram há quatro dias. São cinco anos sem férias, desde que Jordan nasceu ela não havia parado em casa.

Anita olha para a lavanderia. Porém, rapidamente ela volta sua atenção para TV.

O programa não a capta. Ela não está nem aí para o que está sendo falado.

Na mente dela, só vem a lavanderia.

O único lugar da casa que não sai da vista dela. E isso a faz suar as mãos.

Anita se senta com os pés por baixo das pernas e muda de canal.

Nada lhe chama atenção. Um canal após o outro vai sendo deixado para trás.

Não há nada que lhe faça tirar o foco da área de serviço.

Anita pega o telefone:

— Alô. — Fala uma voz apressada de quem parou de fazer alguma coisa para atender o telefone.

— Giovana, bom dia!

Anita! E as férias? Já se entediou? — Ela comenta com uma voz sorridente e solicita.

— Não! Hoje é meu quarto dia em casa. Você está fazendo o que?

Eu estou arrumando a casa. Parei para atender o telefone.

— Por que não para o que está fazendo e vem aqui pra casa?

Giovana gargalha.

Por que tenho muito serviço e não estou de férias! Vamos fazer assim... Quando terminar eu dou uma chegadinha aí! Combinado?

— Combinadíssimo.

Anita desliga o telefone, se levanta e vai até a cozinha. Coloca gelo e água no copo e volta para sala.

Ela bebe água e mexe o copo.

Os gelos tilintam, e o barulho deles acendem sua memória eufórica. Aquele gatilho que a faz associar o barulho do gelo mexido na água à uma dose de uísque.

Ela termina a água, mas a sede continua. Anita volta a ir na cozinha, passando novamente pela lavanderia.

Com o copo na mão, ela está parada em frente ao cesto com roupa suja. Seus olhos estão fixos.

Na verdade, ela não sabe como e quanto tempo está parada ali, olhando no lugar que está por trás do cesto.

Ela afasta o cesto com roupa suja e puxa uma madeira que está solta do móvel na madeira da pia.

A aliança no dedo anular sinaliza que bateu em vidro. Anita puxa o que já está grudado a sua mão.

A garrafa de Vodka faz seus olhos fecharem dizendo não, porém suas mãos abrem-na, dizendo sim.

O cheiro parece destravar uma parte do seu cérebro que estava adormecida.

Por cinco anos aquela garrafa está ali. Há cinco anos, escondida ali, desde que ela soube que estava grávida.

Ela a vencia essa luta todos os dias...até hoje.

Como quem está no deserto, Anita bebe a vodka sem usar o copo... direto na garrafa.

Ela sorve a bebida com toda voracidade e ferocidade de quem está com sede.

Em poucos minutos, a garrafa está seca. Anita corre até a bolsa, pega o dinheiro e vai até o supermercado mais próximo.

Na volta para casa, ela trás seis garrafas, e começa o que havia parado.

Anita ainda volta mais duas vezes no supermercado. Uma garrafa seguida de outra vai sendo tombada.

Uma fileira de vidro vai ficando perto do sofá. Ela desaba na cama. Um lado seu a acusa, o outro diz que ela merecia... E estava precisando.

O que ela começa a pensar, é como vai falar para Sérgio que passou o dia bebendo.

"Ele vai entender... Senão, ele não me ama." — Pensa a mulher com a mente anuviara pelo álcool.

O telefone toca uma, duas, três e na quarta vez, o som dele a desperta.

Alô? Anita? Sou eu Janete... ligamos para o senhor Sérgio para avisar que o Jordan larga mais cedo hoje.Ele disse que é você quem vem buscá-lo.

— Isso... Mesmo. — Janete percebe algo difunda voz da mãe de Jordan e preocupada pergunta:

Anita, você está bem? — Pergunta a diretora, amiga do casal.

— Sim... É uma dor de cabeça que não quer passar.

— Olha, então não precisa se preocupar, eu vou leva-lo tudo bem?

— Sim... Poderia não falar para o Sérgio... Que não... Você sabe.

Claro. Sem problemas. Quando terminar a aula eu o levo.— Conforme o prometido, Janete passa na casa de Anita. Ela escuta a companhia tocar varias vezes e levanta-se, para logo cair no chão.

— Sua mãe já está abrindo a porta. — A Diretora fala para o menino. Eles estão parados na frente do muro da casa.

O barulho intenso dos carros cruzando a Avenida Conselheiro Aguiar deixa-a enervada.

Anita vem tropeçando, a cabeça zonza não a deixa seguir de imediato.

Ela está totalmente embriagada e pega um óculos escuro para abrir o portão e não demonstrar que está bêbada.

— Janete!

— Anita, você está bem? — Ela vê a mãe de Jordan usando óculos escuros, quando abre o portão.

— Sim... Estou, apenas com muita enxaqueca. — Anita fala de dentro do terraço. — Vem meu amor! Mamãe não vai sair no sol.

Janete coloca o menino para dentro e fecha a pequena grade de ferro.

Os dois entram.

Para o menino não ver as garrafas vazias e faça perguntas, Anita as juntas com muita dificuldade, colocado-as em quatro sacos plásticos pretos.

Ela os carrega e deixa ao lado do portão.

— Fique aí! — Ordena Anita para Jordan que está no terraço. — O Sol está cozinhando a cabeça. — A grade que dá acesso à rua está aberta.

Ela pega os dois primeiros sacos e joga na lixeira na frente do muro da casa. Os veículos buzinam com medo que ela ande de costas, no sentido dos carros.

— Porra! Vão buzinar na puta que pariu! — Grita a mulher que tropeça na própria passada.

Ela entra e Jordan continua lá, parado no terraço. Ela abaixa-se para pegar os últimos dois sacos com garrafas.

Ao trocar a passada, cai no chão. Ela com os olhos fechados, o chão parece está brincando com ela, girando igual um peão.

Jordan escuta um carro buzinar na entrada do portão. Ele corre para o portão:

— Papai! — Grita o menino cheio de felicidade.

O menino passa pela mãe que está caída no chão, e sai pelo portão que está aberto.

Anita incandescida pelo sol do meio dia, antes de perder os sentidos escuta...

Os freios de um carro que procura desesperadamente evitar inutilmente um atropelamento.

Dois pares de sapatos são arremessados às alturas.

Os estrondosos sons de aços que se contorcem numa colisão em massa, somente são abafados pelos:

Gritos e mais gritos.

Uma explosão de gritos desesperados vindos da Avenida Conselheiro Aguiar, demonstram quão horrível é a cena com a criança.

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