aquele do príncipe II

Acordei com o bater da porta e o barulho de botas batendo firme no chão que se aproximava lentamente de mim.
Era o príncipe.
Eu olhei para o chão, onde o rapaz estranho dormira noite passada, mas ele não estava mais lá. Ainda com os olhos entreabertos eu perguntei ao príncipe onde ele tinha ido, o mesmo me respondeu que fora no moinho abandonado aqui perto para contar aos rapazes que encontrou as garotas e por fim, fez um acordo com Adelaide a respeito da nossa hospedagem aqui.

— O quê?! Mas por que com serviços?! — Perguntei alarmado.

— Eu não acredito! Eu te digo que encontrei as garotas e você se preocupa com alguns afazeres? — Perguntou ele indignado.

— Me perdoe, é só que... Nós temos condições de pagar a nossa própria hospedagem. — Falei com um tom calmo.

— Sim, nós temos. Mas por acaso o senhor esqueceu-se que somos apenas uns simples e humildes Crivelianos de passagem? — Perguntou-me ele com ironia.

— Está bem. Espero que eu não fique encarregado de afazeres complicados. — Falei bufando.

— E como tem tanta certeza a respeito das garotas? — Perguntei.

O príncipe contou que ao conversar com Adelaide a respeito do nosso pagamento, ele a interrogou a respeito de suas ajudantes, também as elogiando em seus serviços. E então, Adelaide na inocência, soltou informações que apagou de uma vez as suas dúvidas a respeito de quem seriam as "garotas Crivelianas".

— Hum. Então as garotas se chamam Jaquelyn e Lessy? — Perguntei e ele assentiu.

— Comumente conhecidas como Jaque e Cherry. — Respondeu ele.

— Adele disse que elas trabalhavam como criadas na corte de Fousvin. — Continuou o mesmo.

— Muito interessante... E curioso. — Falei enquanto refletia e ele assentiu.

— Você acha que algumas delas pode ser a princesa? — Perguntei.

— Bem, Jaque é a filha mais velha de Adele, o que a elimina das nossas suspeitas. — Respondeu ele.

— Mas e se for apenas uma enganação? — Perguntei deixando o príncipe confuso.

— Pode ser... Mas de qualquer forma, é bom analisarmos e tirar as dúvidas no convívio com elas. — Respondeu o mesmo.

— Então... Cherry é a possível princesa? — Perguntei pensativo.

— Embora eu não tenha certeza e nunca a estudei pessoalmente, eu acredito que sim. Ela é a mais suspeita até então. — Respondeu ele.

— Então vamos ficar de olho nessa tal de Cherry. E quando tivemos a certeza, nós agiremos. — Falei e o príncipe assentiu.

— Se bem que ela não inspira nada como alguém da realeza. — Falei e o príncipe concordou.

— Seria um disfarce, ou ela realmente é assim? — Perguntou o príncipe curioso o que me deixou também pensativo.

— É o que temos que descobrir também. — Falei ainda pensativo.

No mesmo instante o rapaz moreno adentrou no quarto nos alarmando e interrompendo para nos avisar que Adelaide nos esperava na cozinha para uma breve reunião. Olhei de relance para o príncipe e ele assentiu. Em seguida acompanhamos o moreno para fora do quarto.
Quando chegamos, Adelaide pediu que esperassemos pois ainda faltava duas garotas, e em especial, eram as nossas suspeitas, mas não demorou muito até que elas chegassem a cozinha.
Uma eu reconheci.
Era a garota linda que havia levado o jantar do rapaz estranho na noite passada.
Não pude deixar de encara-la encantado enquanto ela se aproximava sem jeito juntando-se a nós.

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Jeremias, Tomas e o rapaz estranho foram designados a irem até o Monte Celesto para caçarem. E como eu e o príncipe não sabíamos bem manusear um arco e flecha, fomos designados a acompanhá-los para que pudéssemos aprender algo.
Quando estávamos nos preparando para sair, me surpreendi com a nossa acompanhante. Era a garota linda. Adelaide a mandou para ir conosco até o Monte Celesto para que ela colhesse alguns morangos para o Festival Anual De Crivel.
Tentei alerta-la sobre o perigo de ficar sozinha e sugeri que ficasse sempre próxima a nós, mas me surpreendi quando a mesma tateou com muita segurança alguma coisa perigosa na lateral da sua cintura em sinal de ameaça e aviso.
Logo seguimos o caminho até o Monte Celesto, e apesar do enorme silêncio, não demorou para que chegassemos em nosso destino.
Quando Tomas, Jeremias e o rapaz estranho seguiu o caminho rio acima para caçarem, a menina já estava exercendo a sua função de colher morangos.
Ela não perde tempo.

— O que você acha dela? — Perguntou-me o príncipe e eu parei por um momento sem saber o que responder.

— Como assim? — Perguntei tentando esconder o meu nervosismo.

— Você acha que ela é a princesa? —  Perguntou o príncipe em voz baixa e na mesma hora uma onda de alívio circulou em meu coração.

Eu sinceramente não havia pensado nessa possibilidade. Sempre me perdia em meus pensamentos quando olhava para ela, e me distraia na minha real tarefa, que era estuda-la e analisá-la.

— Eu... Não sei. — Respondi e então ele apenas me encarou sério. Logo o mesmo pegou uma cesta.

— Para onde você vai? — Perguntei confuso.

— Investiga-la. — Respondeu ele adentrando nos morangais e então fiz o mesmo.

Inicialmente, a garota havia estranhado a nossa presença, mas a explicação do príncipe fora o suficiente para saciar a sua dúvida. Pelo menos, era o perceptível.
Por incrível que pareça, a companhia de dois "estranhos" rapazes não a assustou e nem a deixou sem jeito. Ela conversava naturalmente e suas ações e expressões eram visivelmente plenas.
Quando ela perguntou os nossos nomes, eu não soube o que dizer e quando o príncipe respondeu: "Dean". Eu me toquei que não sabia o seu verdadeiro nome e nem ele o meu, apesar de termos passado tempos juntos em uma causa. Porém esse se tornou um dos menores problemas depois que eu ouvir um "Cherry" sair em resposta do lábio da garota.
Era ela.
Ela era a principal suspeita de ser a princesa fugitiva. Ou talvez quem sabe, a própria princesa.
Tentei ao máximo forçar naturalidade depois da revelação, agindo tranquilamente, até que os rapazes chegaram da caçada e ocorreu uns minutos de distração com o garoto Tom e o rapaz estranho. Cherry acabou entrando na brincadeira do rapaz e acabou descobrindo o nome dele, Dric, mas olhei para o meu lado e vi que alguém não gostou muito dessa aproximação, o príncipe Dean que os encaravam com um olhar mortal que apenas eu percebi. Mas durou pouco, pois logo o Jeremias nos apressou para voltarmos e então nos preparamos para voltar a Crivel.
A volta fora bem mais divertida do que a ida. Embora eu ainda estivesse perplexo com a revelação da garota, eu pude disfarçar muito bem a minha surpresa, mas não esqueci da reação do príncipe quando presenciou a conversa da Cherry e do Dric. Eu sorri e me aproximei do mesmo que se mantinha um pouco calado.

— O que foi aquilo, ciúmes? — Perguntei não escondendo o meu sorriso e logo atrai a atenção do príncipe.

— Aquilo o quê? — Respondeu ele tentando fingir de desentendido.

— "Cherry, já pegou as suas cestas?" — Falei tentando imitar o tom do mesmo deixando Dean sem jeito.

— Ah, isso... Bem, eu só quis saber se ela já tinha pegado as cestas. — Disse Dean tentando disfarçar o nervosismo e ele é péssimo nisso.

— Ah, jura? Certeza que não sabia que ela não tinha pegado as cestas? — Perguntei ironicamente deixando o mesmo irritado.

— Aish, deixe de falar asneiras. Continue no plano. — Respondeu o príncipe Dean seguindo a viajem e eu fiz o mesmo não deixando de segurar o meu sorriso.

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Nós havíamos chegado pouco antes do sol se pôr. Adelaide já estava preparando o jantar quando adentramos na cozinha.

— Desculpa a demora, mãe. — Disse Jeremias colocando os peixes e o cervo em cima de uma grande mesa de madeira.

— Vocês não demoraram. Foram até rápidos. — Falou ela virando-se para nós ver e sua expressão tornou-se surpresa ao ver nosso "resultado".

— Vocês de fato me surpreenderam. — Disse ela.

— Estão liberados por hoje. — Continuou a mesma virando-se e continuando o seu trabalho no preparo das refeições.

Tomas e Jeremias assentiram em agradecimento e logo saíram.

— Você não quer ajuda para preparar a comida, Adele? — Perguntou Cherry se aproximando da mesma.

— Eu estou bem, Cherry. Vai descansar. — Respondeu Adelaide com um sorriso orgulhoso.

— Qualquer coisa eu tenho as minhas assistentes a disposição. — Disse a mesma.

— Mas...

— Você se saiu bem hoje, Cherry. Descanse um pouco e se prepare para o jantar. — Disse Adelaide a interrompendo e então Cherry assentiu um pouco relutante, seguindo o seu caminho em direção ao seu quarto.

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Estávamos todos acomodados à mesa quando Adelaide chegou juntamente com a garota ruiva e a castanha, trazendo o jantar.
Cherry estava de frente a mim, com seus cabelos livres e seus trajes mais simples que de costume. Era incrível como ela se tornava linda com os mínimos detalhes.
Seria possível que Cherry pudesse ser realmente a princesa audaciosa que fugira em pleno dia do duelo pela sua mão?
Esse era a pergunta que fazia a minha têmpora pulsar de preocupação e curiosidade desde que eu descobrira que ela é a principal suspeita.
Ao meu lado esquerdo estava Dean, e a garota de cabelos castanhos posicionou-se no meu lado direito e enquanto Jeremias ditava os agradecimentos, eu senti que a garota do meu lado me olhava sem parar.
Quando Jeremias finalizou seu agradecimento com um caloroso "amém", a sala de jantar ecoou com vozes que repetiam essa mesma palavra.

— Agora podem se servirem. — Disse Adelaide com um sorriso e todos a obedeceram, se servindo um pouco de cada prato da mesma.

Era incrível os dons culinários da Adelaide. Não existia uma comida que não tivesse um gosto único e especial. Era como se ela o preparasse com todo o cuidado e amor.
Depois de comermos e da chuva de elogios que Adelaide recebeu de todos nós, conversamos tranquilamente sobre a vida, até que Jaquelyn anunciou o seu cansaço e educadamente se retirou da mesa, se despendido de nós. Logo em seguida Cherry e a garota de cabelos castanhos fizera a mesma coisa e também se retiraram.
Minutos depois, eu segui os passos das meninas e me pôs a sair.
Chegando em meu quarto, me dirigi até a minha cama, quando fui surpreendido por uma sombra. Discretamente ergui a minha espada e quando avancei até essa sombra parei imediatamente ao me deparar com a garota de cabelos castanhos que se assustou ao me ver.

— Pelos deuses, menina. Você me assustou. — Falei aliviado enquanto embainhava a minha espada de volta.

— Me perdoe, eu...  Eu não quis assusta-lo. Eu só vim deixar alguns cobertores limpos para vocês. — Disse ela.

— Ah, obrigado. — Falei e ela me lançou um sorriso.

— Me chamo Jenna, mas conhecida por Jen. — Disse ela atraindo o meu olhar desconfiado e no mesmo instante, eu sabia o que ela queria.

— E eu sou o Luck. — Falei e no mesmo instante ela sorriu satisfeita.

— Boa noite, Luck. Qualquer coisa, você pode me chamar. — Disse ela e então eu assenti, em seguida ouço a porta bater confirmando a saída da mesma.

Perguei os cobertores que estavam em cima da minha cama e os encaminhei até o armário. Logo vi um papel caído no chão ao lado da minha cama. Eu me apressei em pegar e abrir para lê-lo.

"Caro belo rapaz. Imagino que já saiba que as noites em Crivel costumam a serem frias, por isso lhe trouxe esses cobertores extras. Espero que se agasalhe bem e tenha uma bela noite de sono.
Até amanhã, Jenna."

Guardei o bilhete em meu bolso assim que acabei de ler. Em seguida abri o armário e peguei um cobertor.
Me aconcheguei na cama enquanto me envolvia no lençol, e antes que o sono me visitasse. Lancei um sorriso espontaneamente ao lembrar-me do bilhete, nunca ninguém se importou tanto comigo.

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