48 - apenas um tempo

Stella

Um silêncio extremo permaneceu no Salão de Jantar, e apenas os sons dos talheres eram ouvidos e ecoado pela enorme sala.

Era como se ninguém soubesse o que falar.

— Fiquei sabendo que está mantendo a bruxa no calabouço sem os seu poderes.

Comentou a rainha Elizabeth de Glessia, atraindo as nossas atenções.

O rei Dominic encarou a bruxa por alguns rápidos instantes e respirou fundo, como se estivesse arrependido da sua decisão agora.

— Estou, e fiz isso por motivos maiores.

A rainha Elizabeth riu com ironia enquanto comia a sua refeição.

— Não entendo o porquê de deixar uma criatura tão poderosa viver.

O veneno da rainha Elizabeth acertou em cheio a quem ela mais pretendia atingir.

A Surya.

A garota permaneceu em silêncio, mas eu notei que a mesma estava irrita, pois instantaneamente cerrou o seu maxilar enquanto fingia não ouvir o que foi dito pela rainha glessiana.

— Não há com o que se preocupar, rainha Elizabeth. A bruxa está sob os nossos controles. — o rei Dominc disse com um nítido tom de orgulho em sua voz. — Pedi para que o sacerdote cortelano controlasse os poderes dela, ou seja, inibi-los.

A rainha Elizabeth apenas arqueou as sobrancelhas brevemente, sem se importar com a explicação do rei Dominic e apenas quisesse a morte da bruxa.

— E por falar em sacerdote, onde está o simpático Cedric? — perguntou a rainha Lina de Teslla, atraindo todas as atenções enquanto mudava o rumo do assunto. — O conheci mais cedo, assim que cheguei no Palácio, e ele foi muito receptivo comigo e minha filha. Achei que o encontraria por aqui.

A rainha Mabel de Loockwood respirou fundo, com lamento.

— Ele deveria, mas infelizmente o Cedric está muito sentido com a morte do irmão. — ela explicou. — Que apesar de tudo, ainda era o único irmão dele.

— Sim, eu compreendo. — disse a rainha Lina com empatia. — Espero que ele fique bem.

A rainha Mabel abriu um sorriso simpático e sincero para a mesma.

— Ele ficará, rainha Lina.

O silêncio mais uma vez reinou entre nós, e então levei os meus pensamentos até o sacerdote que deveria estar mais uma vez se lamentando pela morte do seu irmão mais novo. Entretanto, dessa vez mais confuso e talvez mais triste pela ação cruel que o mesmo pretendia executar.

E pensei em visita-lo em sua sala após o jantar dessa noite.

— Zadock Summ, não é? O irmão do sacerdote que morreu em batalha?

Perguntou a rainha Elizabeth com desdém enquanto o seu marido a observava nervoso e os seus filhos, impacientes.

— Sim, rainha Elizabeth.

Respondeu o rei Dominic aparentemente enfadado com as perguntas vazias da rainha glessiana a respeito dos vilões.

— E curiosamente, ele era o noivo da bruxa. Justamente o soldado que foi designado a mata-la queimada nas ruínas... não é interessante?

Ela encarou a bruxa com um sorriso discretamente maléfico por alguns breves segundos, afim de provocar a garota. E dessa vez, a jovem idrêsa havia cerrado os seus punhos para tentar controlar a raiva.

— Acho que todos nós já sabemos dessa história, Majestade.

O príncipe Elias falou em um tom firme, afim de defender a bruxa. E a rainha Elizabeth não se abalou, apenas assentiu com um sorriso em seu rosto enquanto voltava a comer.

Encarei de relance para a família real glessiana, e parecia que todos estavam desconfortáveis a mesa. Como se estivessem sem jeito, ou confusos.

Com exceção da rainha Elizabeth que nitidamente estava irritada e o rei Marcus que estava desconfiado.

— Enfim, rei Dominic, ainda acho muito arriscado o senhor manter a bruxa viva. Ela é muito perigosa.

Comentou mais uma vez a rainha Elizabeth enquanto comia despreocupadamente.

— Querida, por favor...

— Talvez se a queimassem dessa vez, daria certo.

Disparou a rainha de Glessia interrompendo o seu marido enquanto encarava a garota idrêsa com provocação, e com raiva.

A bruxa levantou da mesa tempestuosamente enquanto atraia a atenção assustada de todos.

— Com licença, Majestade. — ela disse irônica. — Mas por acaso a minha mãe assusta tanto a senhora ao ponto de desejar se livrar dela?

A rainha Elizabeth apenas abriu um sorriso amargo, desprovido de sentimentos.

— Não apenas a mim, minha querida. Mas a todos do Novo Mundo.

— Perdão, Majestade. Mas ninguém aqui a teme mais do que a senhora que não passou um minuto sequer sem falar dela.

O sorriso esnobe da rainha vacilou, mas como um bom membro da realeza a mesma soube muito bem como disfarçar.

— Não se iluda, minha jovem. Ninguém comentou porque eu sou a única que tenho coragem de falar o que todos pensam.

— Por favor, se acalmem. Ou terei que cancelar esse jantar!

Disse o rei Dominic enquanto tentava tranquiliza-las, mas como o previsto as mesmas o ignorou.

— Perdão, Majestade. Mas a única iludida aqui é a senhora. — a bruxa disse firme, mesmo que eu soubesse que ela estava fervilhando por dentro. — Que tem tanto medo do seu marido, cujo o meu pai, sinta-se mexido ao rever a minha mãe depois de tanto tempo.

Arregalei os olhos com a ousadia da garota, e ao olhar de relance a todos da mesa, notei que estavam tão surpresos quanto eu.

E foi o momento em que eu percebi que os nobres podem ser surpreendidos ao ponto de não conseguir sustentar as suas máscaras.

— Cale-se, sua rata! — disparou iradamente a rainha de Glessia enquanto se colocava de pé. — Marcus não é o seu pai! Você é uma indigente asquerosa da Ilha dos exilados!

— Mãe!

Disparou o príncipe Lionel ao repreender a sua própria mãe.

— Chega! — o rei Dominic disparou irritado ao se colocar de pé enquanto atraia as nossas atenções. — Esse tipo de comportamento é inaceitável em meu jantar!

— Peço perdão, Majestade, e a todos. Mas de qualquer forma esse jantar se ruiu para mim. — disse a bruxa ressentida. — Com licença.

Ela saiu às pressas do Salão de Jantar e rapidamente o príncipe Elias se colocou de pé e pôs a segui-la.

Eu também me coloquei de pé, assim como o bárbaro e o príncipe herdeiro de Loockwood. Mas vendo que o seu filho mais velho iria sair, o rei Dominic reagiu.

— Filho, preciso conversar com você em minha sala.

Relutante, ele assentiu e então seguiu em direção ao seu pai. O rei Dominic então se colocou de pé e todos fizeram o mesmo.

— Peço perdão, senhores. Mas devido a uma situação desagradável, teremos que por um fim ao jantar de recepção de hoje à noite. — ele disse com uma postura impecável e um tom firme. — No entanto, agradeço a compreensão de todos e tenham uma boa noite.

Assim que ele se retirou da sala com o seu filho mais velho, todos começaram a sair logo em seguida. Incluindo eu, o bárbaro e a contrabandista.

— Irão atrás da bruxa?

O bárbaro nos questionou.

— Bom, o príncipe já deve está conversando com ela nesse momento, mas eu esperarei. — respondeu a contrabandista. — Vou para o meu quarto e logo depois procurarei pela Surya.

— Tudo bem, tenha uma boa noite, Diana.

Ela sorriu para mim enquanto assentia.

— Tenham uma boa noite também.

Sorrir para ela que logo seguiu o seu caminho para os seus aposentos, deixando-me sozinha com o bárbaro.

Ele me encarou estranhamente nervoso, e isso foi o suficiente para atrair a minha atenção para si.

— Para onde irá agora, leitora?

Pensei em ir para o meu quarto de dormir para descansar desse dia tão exaustivo e de um jantar tão difícil, mas eu ainda pretendia visitar o sacerdote e ver como ele estava lidando com o luto e toda essa situação atual.

— Irei visitar o Cedric, para ver como ele está.

— Entendi. Tudo bem então.

Ele disse ainda nervoso e então assenti, ignorando a estranheza do garoto hariano essa noite.

— Enfim... tenha uma boa noite, Kiran.

Virei-me para o mesmo, mas ele chamou a minha atenção antes que eu desse o primeiro passo em direção a sala do sacerdote. E quando eu voltei a encara-lo, o mesmo estava ainda mais nervoso.

— Eu posso conversar com você antes, Stella?

— Claro que sim.

— Mas... pode ser em um outro lugar?

Franzi o cenho para o mesmo, estranhando a sugestão do hariano.

— Onde pretende me levar, bárbaro?

Ele sorriu mais aliviado dessa vez.

— Não se preocupe, leitora. Só iremos até o jardim.

Abrir um sorriso para ele.

— Tudo bem, então vamos.

Animado, o bárbaro assentiu e logo seguimos para fora do Palácio de Gusmant, em direção do fantástico e enorme jardim.

O céu já estava totalmente escurecido quando saímos do Palácio, e um vento gelado percorreu pelo meu corpo assim que abriram as portas. Mas eu disfarcei, já que era o meu primeiro contato com o vento gélido assim que eu sair de um Palácio quentinho.

Caminhei com o bárbaro no mais completo silêncio até chegarmos a um banco do jardim real e nos acomodarmos, mas quanto mais os segundos passavam em quietude, mais o meu nervosismo aumentava.

E pelo visto, eu não era a única a sentir desse jeito.

O jardim real era escuro pela noite por não ter iluminação em todos os lugares, mas hoje era noite de lua cheia, e tudo estava um pouco mais claro. Me permitindo ver com clareza o rosto do hariano.

Respirei fundo para acalmar o meu nervosismo que apenas aumentava pelo suspense que o bárbaro fazia, e então o encarei curiosa.

— Sobre o que você quer conversar, Kiran?

Ele me encarou sério e então respirou fundo.

— Stella, eu não irei te enrolar. Eu te chamei aqui pois eu quero abrir o meu coração para você.

Arregalei os olhos de surpresa com a revelação do hariano.

— C-como assim você quer abrir o seu coração?

— Eu quero te dizer tudo o que eu sinto por você, Stella. Desde o dia em que eu coloquei os meus olhos em você. — ele disse em um desespero disfarçado enquanto me encarava fixamente. — Na noite em que eu invadi o Palácio com a contrabandista e te vi perto do balaústre do castelo, sozinha.

Paralisei por alguns instantes e voltei a noite fatídica antes de partir pelo Novo Mundo em busca da bruxa, para conter a guerra. E me lembrei do momento em que eu sair do Palácio sobrecarregada de afazeres e pensamentos sobre o meu mundo real, quando ouvir barulho nos arbustos.

E hoje eu descobrir que era realmente alguém, era o bárbaro e a contrabandista.

Quando voltei a mim, me deparei com o hariano me encarando com expectativas e nervosismo. E então notei que deveria falar alguma coisa, embora eu não soubesse o quê.

— Kiran, eu...

— Eu te amo, Stella. E posso jurar que nunca sentir isso por mais ninguém antes. — ele disse me encarando fixamente, deixando-me hipnotizada por seu olhar. — Você mexeu tanto comigo que hoje eu sou uma pessoa melhor, graças a você. Eu nem me reconheço mais.

Paralisei enquanto o mesmo se declarava, tanto que não notei quando ele estava se aproximando muito de mim. E não evitei que me beijasse.

Pensei em me afastar, mas o bárbaro me beijava com tanta vontade e ao mesmo tempo tanta delicadeza que me deixava imóvel, surpresa.

Eu não conseguia me afastar, mas dessa vez era eu quem não pretendia.

Ele era cauteloso em manter as suas mãos firmes em minha nuca, e a sensação delicada de beija-ló me deixava ainda mais hipnotizada pelo bárbaro. No entanto, eu me afastei quando sentir as mãos deles segurando a minha cintura e puxando para si, na intenção de me afundar ainda mais em seus sentimentos calorosos.

— Perdão, Stella. Eu...

— Tudo bem, Kiran. É que eu só fiquei surpresa. — expliquei o interrompendo enquanto me recompunha. — Eu nem sei o que dizer sobre tudo isso que você me disse.

— Tudo bem, por enquanto eu só preciso que você me escute. — disse o ele, e em seguida assenti para o mesmo e continuei encarando o jovem bárbaro vulnerável a minha frente. — Eu entendo que você esteja surpresa com a minha revelação, ainda mais porque tem uma outra pessoa envolvida nessa história. Mas eu não paro de pensar em você, e gostaria que soubesse sobre os meus sentimentos que estavam me matando.

Mais uma vez fui invadida por uma onda de surpresa, e então franzi o meu cenho para o bárbaro.

— O que você quer dizer com outra pessoa envolvida?

— O príncipe herdeiro, Stella. Ele também está apaixonado por você.

Arregalei os olhos mais uma vez, incrédula com o que estava sendo me revelado essa noite.

Dois lindos personagens da minha história favorita estavam estranhamente apaixonados por mim, será que tudo isso é real?

Sempre achei o bárbaro lindo, e já tive a minha fase apaixonada por ele mesmo sendo apenas um personagem. Mas o herdeiro sempre me deixava na dúvida, ou melhor, ele me deixava confusa.

— E-eu realmente estou surpresa.

O bárbaro franziu o cenho para mim.

— Posso te fazer uma pergunta, Stella?

— Claro.

— Nunca percebeu os meus sentimentos por você?

Parei para refletir, mas a verdade é que eu sempre notei o interesse dele e do príncipe. Ainda mais sabendo que os dois não se suportavam, pois haviam muitos sinais que eles deixavam explícitos, que eu sempre imaginei.

Embora estivesse tentando acreditar que era apenas uma mera impressão minha.

— Acho que sim, mas... eu não sabia que isso seria possível. Tipo, personagens de um livro se apaixonar por leitoras.

— Isso geralmente não acontece porque nenhuma leitora ou leitor já entrou em uma história antes, assim como você.

Abrir um sorriso sem jeito para o bárbaro que também sorriu de volta.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, o suficiente para nos deixar ainda mais nervosos. No entanto, o bárbaro se apressou que quebrá-lo.

— Bem, agora que te contei sobre o que eu sinto, preciso que me responda. — ele me encarou fixamente mais uma vez. — Aceita se casar comigo?

Embora eu não estivesse bebendo nenhum líquido, me engasguei mesmo assim. A saliva e a incredulidade da pergunta do bárbaro haviam me feito tossir.

O hariano estava preocupado, mas se aproximou de mim na intenção de me acalmar enquanto a crise de tosse persistia.

— Você está bem?

Ele me perguntou quando eu estava melhor, e então o encarei.

— Estou, eu acho.

— Se assustou com o meu pedido?

— Um pouco. É que não estamos acostumado a isso no meu mundo. — expliquei. — Nós primeiro namoramos a pessoa, depois noivamos e por fim casamos.

O bárbaro franziu o cenho em confusão para para mim.

— E para que esperar tanto quando se acaso se amam?

— Geralmente fazemos isso para conhecermos melhor a pessoa. — respondi. — Alguns chegam até a não se casarem.

— Que coisa mais estranha. — ele comentou. — Mas se você quiser fazer dessa forma, eu aceito. Tudo por você.

Paralisei mais uma vez, e respirei fundo sem saber ao certo o que fazer nessa situação sem machucar o bárbaro.

— Olha Kiran... você me falou isso tão de repente, acho que eu preciso pensar. — falei temendo fazer o hariano sofrer. — Apenas um tempo.

Ele abaixou a cabeça e assentiu com tristeza.

— Tudo bem, eu espero, Stella. — ele respondeu. — Mas pense com carinho, pois os meus sentimentos por você são maiores do que possa imaginar.

Encarei o mesmo fixamente, antes de assenti e me colocar de pé.

— Tudo bem, agora eu irei para o meu quarto. Estou cansada.

Ele abriu um sorriso e se lavantou, ficando ao meu lado.

— Quer que eu te acompanhe?

— Obrigada, Kiran. Mas eu prefiro ir sozinha.

O mesmo assentiu e então se pôs a sentar novamente.

— Tenha uma boa noite, Stella.

— Igualmente, Kiran.

Sem mais uma palavra, eu me afastei do mesmo enquanto seguia desesperadamente para dentro do Palácio.

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