14 - rumo à conquista

Zarya

Desde o momento em que eu sair da minha antiga casa, após uma conversa com a minha família. Eu estava mais decidida do que nunca a continuar com o meu plano de conquistar o Novo Mundo.

Mesmo que elas não mostrassem interesse em seguir comigo e com o Zadock daquele momento, eu sabia que pensariam melhor a respeito.

— Eu falei que era melhor seguirmos apenas eu e você.

Era a única coisa que o meu noivo resmungava a cada segundo, e já estava esgotando a minha paciência.

— Mas elas irão aceitar. Não entende que foi um choque para a minha filha saber de toda a verdade?
O meu noivo revirou os olhos.

— Sua filha é uma garota muito impetulante!

— Ela é apenas uma adolescente, Zadock! — disparei irritada em defesa da minha filha. — Uma adolescente que foi enganada a vida toda. Eu não esperaria uma atitude diferente.

O meu noivo respirou fundo, ignorando a minha brusca mudança de humor. E continuou o seu caminho em silêncio ao meu lado.

Estávamos planejando ir para o reino mais sombrio do Novo Mundo, rumo à conquista. Ou melhor, mais um degrau para a vitória final.

Por sorte não foi difícil encontrar um barco que seguisse em direção à Harian da Liberdade. Inclusive, eu e o Zadock tivemos até que escolher a dedo entre duas tripulações que iriam para o mesmo destino.

Os bárbaros podem ser agressivos, mas são bons em fazer negócios.

O capitão aceitou nos trazer consigo depois de oferecemos uma boa recompensa em dinheiro, e após muita relutância para tentarmos convence-lo.

Desde o início, o mesmo nos encarava de uma forma desconfiada pela nossa aparência. E mesmo que os nossos rostos estivessem escondidos por capuzes, o senhor líder da tripulação ainda estava inseguro com a nossa presença em seu barco. Mas não nos importamos.

A viagem até Harian não foi longa e tampouco cansativa. Eu e o Zadock passamos a maior parte do nosso tempo de espera planejando encontrar o líder dos bárbaros para uma conversa importante, sobre a contribuição do mesmo na jornada para conquistar o Novo Mundo. Igual a antiga guerra, quando os bárbaros foram essenciais na destruição de uma era.

Ainda faltam três Mundo Mágicos que precisam serem abertos, e Granth o Mundo Brutal de Harian, está entre eles. Embora os portais mágico de Firen e Ocewa já estejam abertos, a guerra ainda não começou de fato. As criaturas do Mundo Flamejante e do Mundo das Ondas não tem a permissão mágica de mim ou do meu noivo para habitar normalmente esse Novo Mundo.

Por enquanto.

No entanto, algumas criaturas mágicas ainda podem ser vistos em qualquer parte de Idrysia ou no reino de Glessia, e algumas podem causar estragos sem a nossa dominância — por isso devemos correr em nosso dever.

Nunca conheci o antigo reino de Luisegan, mas sempre soube de relatos sobre seu grande poder econômico e grandiosa beleza territorial. Mas depois da guerra da destruição e a queda do reino, a antiga Luisegan se resume em extrema pobreza.

Apenas caminhando pelas ruas principais, notei algumas construções que refletiam o antigo reino monárquico. Embora grande parte das construções foram nitidamente destruídas e reconstruídas de uma forma sombria, grosseira e sem vida.

Eu e o Zadock éramos nitidamente estrangeiros, e ninguém além dos piratas chegam tão perto do temível reino dos bárbaros. Fato que foi essencial para atrair a atenção curiosa dos moradores locais.

— Vamos atrás desse líder e sair desse reino logo. Não estou gostando nada dessas pessoas me encarando.

— Apenas continue firme, meu bem. Nosso intuíto nesse momento é unicamente encontrar o líder dos bárbaros e propor um acordo.

Meu noivo franziu o cenho em confusão pela parte do plano que eu ainda não havia contado ao mesmo.

— Acordo?

— Vou propor que lutem ao nosso lado.

Zadock revirou os olhos incrédulo e impaciente.

— Zarya, por que você não entende que não precisamos de mais ninguém?! — ele disparou irritado. — Achei que fôssemos ameaçar o líder para que ele e o seu povo fossem os nossos escravos, afim de servir as nossas necessidades.

— Mas precisamos de aliados, Zadock.

Ele soltou uma gargalhada controlada, nitidamente irônica.

— Para quê melhor aliado do que uma criatura mágica?

— Você não entende mesmo, não é? — perguntei tranquilamente saboreando cada palavra. — As criaturas mágicas não são aliadas, elas são soldados. Uma ferramenta essencial para uma guerra.

O semblante do meu noivo se tornou mais sereno, como se estivesse compreendendo o meu raciocínio.

— Tudo bem, mas para quê vamos precisar dos bárbaros como aliados ao invés de servos?

Abrir um sorriso orgulhoso ao me sentir no topo da pirâmide do poder, e da sabedoria.

— Todo rei precisa do seu séquito de homens leais, querido. E precisaremos do nosso.

Zadock fez cara de nojo ao ouvir a minha comparação das nossas vidas com os nobres da realeza.

— Não preciso de ninguém me paparicando com falsidade.

— Com isso não há com o que se preocupar. Tenho certeza de que os harianos jamais farão uma coisa dessas.

Ele ficou mais tranquilo com a minha garantia, mas manteve a sua cara de desdém com a minha ideia de propor um acordo que trarão os bárbaros de Harian para o nosso lado nessa nova guerra.

— Além do mais, eles aceitarão com maior facilidade se soubermos convencê-los e não aborrecê-los com ameaças.

Meu noivo deu de ombros, sem se importar com os bárbaros.

— Tanto faz. Mas acho uma perca de tempo.

— Será útil para nós, meu querido. Você verá.

Zadock respirou fundo enquanto me encarava fixamente.

— Então vamos atrás do líder bárbaro.


Precisei questionar alguns harianos para finalmente poder encontrar a localização do seu líder, que estava exatamente onde eu já desconfiava.

No antigo Palácio de Louis.

Eu não fazia ideia de como era a estrutura do antigo castelo luisano, mas com certeza não deve ser nada parecido com essa construção barbara.

O novo Palácio era feito de materiais rochosos e incrivelmente escuro, o tornando sombria. Não era nitidamente um castelo, mas sim uma torre simples e alta. Ao chegar perto o suficiente, notei que as paredes pareciam ser erguidas com pedras pretas e lisas, igual uma ônix. Talvez fosse uma forma dos bárbaros homenagear o mundo Brutal de Granth e o seu deus Harian.

Fiquei estranhamente encantada com a estrutura da sede do reino — simples, mas ainda sim poderoso e temível.

Todas as características que eu mais admirava em uma pessoa. Pois eram sinônimos de força.

O que mais me deixou surpresa, é que não haviam muitos harianos de guarda na torre do líder. Ou pelas ruas mais famosas do reino. Era como se não precisassem de segurança, ou simplesmente a proteção dependesse de cada um por si — incluindo o próprio líder.

Dois homens arrepiantes e altos nos pararam na entrada da torre do líder, perguntamos apenas quem éramos e o que desejávamos. E sem enrolação, eu fui direta ao dar apenas os nossos primeiros nomes enquanto prometia uma proposta ao líder. Os bárbaros se entreolharam confusos, mas nos permitiu a passagem. Guiando-nos para o encontro com o líder.

A torre por dentro era exatamente como estava revestida por fora. Com pedras escuras. Haviam poucos detalhes em decoração, mas as poucas que tinham eram de arrepiar.

Nas paredes, os mais diversos tipos de machados estavam pendurados como enfeites. E ossos de todas as partes do corpo humano e animal, estavam grudados na parede de forma organizada como se fossem tijolos.

Como se fosse um material de construção.

Não fazia ideia do que significavam todos aqueles ossos, mas era arrepiar. Tentei ignorar o meu desconforto enquanto seguia os bárbaros, mas o Zadock mantinha o seu rosto inexpressivo como se tudo fosse algo comum.

Quando chegamos em um comprido corredor, notei que havia uma porta enorme no fim dele, e sugeri que fosse alguma sala importante ou até mesmo o próprio aposento do líder.

— Esperem aqui! — ordenou um dos bárbaros com um tom austero, nos fazendo parar. — Eu irei entrar para comunicar ao Supremo que desejam vê-lo.

Assenti de cabeça erguida, mesmo atrás do capuz eu não demonstrei medo. Os bárbaros podem ser temíveis e crueis, mas eu sei do que eu sou capaz.

Esperamos por alguns minutos até o guarda bárbaro voltar. E em seguida permitiu a nossa entrada com um simples aceno com a cabeça, abrindo espaço para que adentrassemos.

Pela decoração, notei que esse não era seu aposento, mas sim uma sala de reuniões. E fiquei feliz pela adequação do momento.

Eu nunca tinha visto um bárbaro pessoalmente, apenas pelas rasas descrições das pessoas. Mas ao pisar em Harian, notei a vasta diversidade física — provavelmente por alguns dos harianos serem na verdade luisanos que não quiseram sair de suas terras após a queda de Luisegan.

No entanto, a aparência brutal dos dois homens que vigiavam a entrada da torre é praticamente como eu imaginava.

Homens altos, robustos e selvagens que usam roupas escuras, rasgadas e sujas. Eles também sempre andam armados com correntes, machados e até adagas enquanto se ornamentam com ossos de animais e exibem cicatrizes. Tudo com muito detalhe e grosseiria.

Ao se aproximar de uma longa mesa com cadeiras vazias, vizualizei apenas uma da ponta que estava virada de costas para nós.

É ele, o líder supremo dos bárbaros selvagens de Harian.

— A que devo a honra da visita, senhores?

Ele perguntou com a sua voz grave e firme, ainda de costas para nós.

— Com licença, senhor. Viemos propor um acordo.

— Sim, isso já me foi passado por um dos meus homens. — ele disse seco. — Mas o que seria tão importante ao ponto de fazer dois estrangeiros pisar em solo hariano?

Encarei o Zadock de relance e então respirei fundo enquanto dava um passo cauteloso à frente.

— Somos habitantes das ruínas de Cortelbrack e viemos aqui propor que lutem ao nosso lado em uma nova guerra apocalíptica.

O som agudo da cadeira sendo movida com o movimento do corpo do líder ao se colocar de pé, ecoou pela sala. E no mesmo instante ele virou-se para nós.

— Interessante. Poderiam se apresentarem para mim?

Dei mais um passo a frente enquanto o meu noivo fazia o mesmo, e quando estavámos perto da mesa abaixei o meu capuz para mostrar o meu rosto. Incentivando o Zadock a fazer o mesmo.

Eu deveria me apresentar o mais rápido possível, mas a imagem do líder hariano me intrigou.

Ele não tinha nada haver com o seu povo bárbaro, e tampouco as suas vestes refletiam o que era. O líder usava uma calça marrom tradicional e uma camisa branca simples, assim como qualquer outra pessoa de um reino monárquico.

O Supremo aparentava ter apenas trinta anos com o seu físico jovem. Ele tinha cabelos preto, ondulados e cheio. Seu rosto definido era pálido, igual a sua pele enquanto os seus olhos eram negros como a noite.

O líder deveria ser um antigo morador de Luisegan antes da guerra da destruição.

— Sou Zarya Idrys, de Claire. — falei com orgulho da minha cidade de nascimento. Antes de olhar para o meu parceiro. — E esse é o meu noivo, Zadock Summ. Um dos últimos sobreviventes do antigo reino de Cortelbrack.

O líder nos encarou em silêncio, nos observando com concentração por alguns segundos. E finalmente, abriu um sorriso satisfeito.

— Um feiticeiro e uma bruxa juntos... — o líder disse enquanto se divertia com a situação. — Última vez que eu vi uma dupla dessas foi o fim do mundo. Literalmente.

— E foi devido ao fim de um mundo que outro nasceu.

O líder me encarou com um sorriso irônico.

— Exatamente. Pena que nem todos sairam satisfeitos nessa história.

— É por isso que estamos aqui. Para propor que se juntem a nós nessa nova revolução.

Ele me encarou sério, mesmo que a sua expressão estivesse brincalhona.

— E por que nós?

— Porque temos algo em comum.

— Temos?

Assenti fazendo o mesmo abrir um sorriso sombrio.

— Pois bem, o que seria?

— Somos aqueles que foram injustiçados após a guerra da destruição, e pelos mesmos grupos de privilegiados.

— A realeza! — falamos em uníssono, compartilhando do mesmo sentimento de raiva. Coisa que me deixou satisfeita.

O líder abriu um sorriso maléfico para mim.

— Está certo, bruxa. Qual é a proposta, afinal?

Sorrindo satisfeita, eu encarei o Zadock que me olhava curioso. Já que o mesmo também não sabia qual seria a proposta que eu planejava fazer.

— Se você aceitar se juntar a nós, serão os nossos aliados. Ou seja, tudo o que conquistarmos será conquista de vocês também. Especialmente os privilégios.

— Muito tentador. Mas quem garante que dê certo? — ele perguntou curioso. — Da última vez que uma guerra dessa magnetude ocorreu... Levou embora os criadores e todas as suas criaturas mágica. Foi um fracasso!

Eu estava pronta para debater com o mesmo, mas o Zadock se colocou em minha frente.

— A diferença é que dessa vez tem apenas a Zarya, sua mãe e sua filha de bruxas vivas. Não tem ninguém para intervir.

— E quem pode garantir que não existam bruxas espalhadas secretamente por aí, feiticeiro?

O meu noivo murchou sob o olhar penetrante do líder, mas não vacilou.

— Não podemos garantir, senhor. Mas temos certeza de que estamos prontos para o que vier contra nós.

Ele abriu um sorriso desafiador.

— E se não aceitarmos a proposta?

— Lutará contra nós, igual aos porcos da nobreza!

Disparei com impaciência enquanto uma gargalhada forte e demoníaca ecoava a grande sala de reuniões do Supremo.

— Tenho que admitir, bruxa. Vocês sabem negociar.

Dei de ombros, não era uma novidade para mim.

— E o que desejam de mim ou dos meus homens?

— Lealdade e força.

O líder abriu um sorriso maléfico e bateu a palma da mão na mesa, fazendo-a tremer.

Ele caminhou de forma ameaçadora em minha direção, e em nenhum momento eu vacilei.

Nenhum hariano seria pareo para os meus poderes.

O Supremo estendeu a mão para mim enquanto me encarava com o seu irônico sorriso de sempre.

— Está feito, bruxa. Lutaremos ao seu favor.

Abrir um sorriso satisfeito, pegando em sua mão para selar uma nova aliança.

— E agora, o que faremos?

— Não precisam se preocuparem, por hora. — disse decidida enquanto sentia a vitória cada vez mais perto. — Informaremos quando for a hora certa de agir!

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