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Pronomes: ele/dele
Darren observava silenciosamente enquanto Ems olhava para a janela dos fundos da própria casa através do vidro do lado do passageiro do De Tomaso Pantera azul escuro do amigo, os nós de seus dedos estavam rubros, as mãos fechadas em punhos, como se não quisesse entrar na casa de dois andares e paredes cinzas. O rapaz de pele negra colocou a mão direita no ombro do amigo, em silêncio, enquanto a outra ainda segurava o volante do veículo. Os olhos verdes lhe alcançaram, ainda no mais puro silêncio.
Ems estava longe de estar com medo, muito mais longe estava do cansaço, havia ajudado o amigo a limpar a casa onde morava sozinho e podia ter feito o mesmo com as casas vizinhas sem o menor problema ou rusga de cansaço. O mais velho sabia exatamente o que o incomodava, porque já havia estado em sua pele, já havia sentido aquele amargor duas vezes, uma quando perdeu a mãe e a outra, quando anos depois perdeu o pai. Lewis não queria entrar, nem mesmo pela janela, porque aquela casa, não era um lar. - Valeu, Ren - Agradeceu repentinamente, surpreendendo o rapaz, que voltou a mão a sua coxa, sabendo bem que o de olhos verdes não se abriria facilmente.
–Sabe que pode contar comigo né? - Indagou, ainda olhando para o amigo de cabelos bagunçados, Lewis sorriu levemente, já erguendo a mão para a maçaneta do carro e assentiu, sem dizer qualquer outra palavra, deixou o veículo e o traficante para trás, não tendo que se esforçar muito para pular até a janela de seu quarto, quase caindo no processo. Darren ainda estava tentando se acostumar com as habilidades que faziam parte de quem Frederick era, mas se admirava ao mesmo tempo pelo moreno conseguir esconder tão bem. O mais velho suspirou quando ao estar dentro do quarto, o amigo meneou a cabeça, avisando que poderia ir embora. Ele se preocupava com Lewis, com a maneira que ele guardava tudo para si, tentando encontrar um alívio, mas como encontrar um alívio se nada te afeta ou te cansa? Era isso que Chasè se perguntava enquanto dava a partida em seu carro e partia para sua casa.
Ele até quis desviar algumas vezes, pois não importava quantos anos passavam, ainda era doloroso ficar sozinho na casa que cresceu, machucava não ouvir o pai lhe dando bronca para que fossem a igreja católica quase na saída da cidade, ou até mesmo o chamando para irem ao Rick's a lanchonete da cidade, que tinha a mesma decoração provavelmente desde os anos oitenta, mas a casa dos Lewis era a poucas quadras da sua, e não havia pra onde fugir, teria que estacionar o De Tomaso em frente a garagem e então desceria do veículo e andaria até a porta, as chaves tilintando no bolso direito de sua calça cinza claro, com algumas queimaduras dos cigarros que havia fumado durante a noite anterior, Darren então entraria em casa e teria que respirar fundo para não chorar.
E quando ele percebeu, era exatamente isso que ele estava fazendo, o ar entrava de uma vez em seu pulmão e saia aos poucos, aos solavancos, ele estava a beira do choro e não havia ninguém ali para lhe consolar.
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Isaac estava deitado em sua cama, com as cobertas indo somente até sua cintura, a cabeça apoiada sobre o braço direito e a mão esquerda sobre a barriga definida, e sinceramente, ele não sentia vontade nenhuma de ir a escola naquela segunda-feira, fazia tanto tempo que ele não via propósito em levantar da cama e ir para a escola, ele já sabia tudo que seria estudado naquele ano, como soube no ano anterior e no antes daquele, há quanto tempo não havia uma grande descoberta ou algo grande e interessante a ser estudado? Porém ao mesmo tempo, ele não conseguia dormir, era incapaz de pregar os olhos por um instante sequer desde a madrugada de sábado, talvez fosse culpa de Lewis, nos últimos dias, tudo era aquele garoto infeliz de olhos verdes e que vivia o provocando sobre aquilo que mais tentava manter escondido.
Contudo, não era exatamente a imagem de Ems que aparecia quando o Brooke tentava fechar os olhos e dormir, ao menos não a imagem do forasteiro sozinho, e sim com outro rapaz, um rapaz de pele jambo, uma mistura perfeita da pele ébano com porcelana, com as mãos, o queixo e o lado esquerdo de seu maxilar manchado pelo tom mais claro de pele, o corpo parecia um tanto diferente, ele era baixo, da mesma altura do amigo e apesar dos braços claramente fortes, ele não parecia fazer esforço algum para manter a forma. Ele já havia visto aquele rapaz antes, sabia disso, mas nunca tivera tempo o suficiente para observá-lo como duas noites antes, e agora que havia o feito, queria saber mais dele.
Queria saber se haviam mais manchas em sua pele, queria saber qual era o sabor de seus lábios e como era ter os olhos dele concentrados em si, queria saber seu nome para que pudesse murmurá-lo no calar da noite ou então para chamá-lo aos gritos do outro lado de uma multidão e ver seu sorriso. Brooke provavelmente continuaria pensando no que queria se não fossem as batidas na porta, tão leves quanto pluma, sabia exatamente quem era. - Tudo bem, Jishin¹? Eu tô conseguindo ouvir seu coração bater do meu quarto. - Explicou sua irmã, Isaac suspirou e isso foi o suficiente para Ethal entrar em seu quarto, sabia que não teria surpresas, afinal era seu irmão gêmeo, o conhecia como ninguém.
O maior se sentou na cama no mesmo momento em que sua irmã se aproximava, ela não precisou dizer nada, apenas se sentou na cama enquanto o irmão se posicionava melhor, os pés agora tocando o chão enquanto ele deixava com que sua cabeça descansasse no ombro esquerdo da maior, ele respirou fundo, uma, duas vezes, o ar inflando seu peito por um instante e depois escapando para fora do seu controle. - Eu estou cansado de esconder, Arashi², eu não aguento mais - Falou finalmente, sua irmã sabia o que ele não suportava mais manter para si, sabia o quanto doía para ele ter de esconder parte de quem era. - É por conta das provocações daquele cachorro molhado não é? - Indagou a mais velha, sua voz mostrava claramente seu descontentamento, o que surpreendeu o rapaz, que levantou a cabeça na mesma hora e olhou dentro dos olhos escuros de Ethal.
–Eu presto atenção em tudo que me fala, Isaac, mesmo quando parece que não - Falou calmamente, revirando os olhos para a expressão surpresa do irmão, que sorriu levemente. - Não é isso...é que, eu acho que...- A moça teve de morder a língua para não apressar o irmão, ele era mais sensível que ela, ele demonstrava mais suas dores e seus temores, algo que ela nunca fora boa em fazer. - Na festa, eu não consegui tirar meus olhos de um rapaz, um amigo dele e tudo que eu queria era chegar nele e simplesmente...
–Beijar ele até ficar sem fôlego - Continuou sem notar repentinamente o tom sonhador em sua voz, olhos verdes invadiam seu pensamento sem que ela realmente desse autorização, enquanto olhos castanhos arrebatavam a mente de seu irmão. - Sim - Murmurou somente, não sabia o quanto queria aquilo até aquele momento, até finalmente ouvir em voz alta o quanto apenas queria ter alguém, não ter que fingir gostar de uma das amigas de Ethal, e sim, simplesmente segurar a mão de um garoto e finalmente poder dizer, que estava feliz. - Só mais algum tempo, Isaac, eu prometo... - Com essa frase, ela apertou a mão do irmão e beijou sua cabeça, sutilmente se levantando. - Vá se arrumar, eu dirijo hoje - Disse calmamente, mas com um sorriso travesso no rosto. Não precisavam estar na escola ainda por pelo menos duas horas, então Ethal tinha algo em mente.
Como a irmã havia pedido, Isaac se levantou e seguiu até o banheiro, onde tomou um banho quente. Desde a primeira vez em que tomou uma forma humana, quase dois séculos antes, adorou como a água, aquela que ele tinha tanto prazer em controlar, deslizava pela pele lisa e quase que totalmente livre de pelos que seu corpo adquiria, ou como a espuma se desmanchava sobre essa mesma tez com tanta sutileza e delicadeza que apenas aumentava sua satisfação em cada banho que tomava. E por mais que fosse prazeroso, tentou não demorar muito, não queria que a irmã desistisse do que fosse que havia planejado para eles fazerem naquelas duas horas que precediam suas obrigatórias atividades sociais.
Vestiu uma roupa simples quando saiu do banheiro, uma calça jeans de cor azul clara, que se ajustava perfeitamente a suas pernas torneadas, uma camisa simples azul bebê, gostava dessa cor e por fim colocou um casaco de lã uns tons mais escuros de azul sobre, o tecido era macio e fechado, então ele estava bem protegido do frio, apesar de não se incomodar com a temperatura. Calçou também um all star preto que estava jogado pelo chão de seu quarto. Diferente da irmã, que era um tanto metódica demais, o quarto de Isaac tinha poucas coisas, a cama de mogno com lençóis e cobertores escuros, contrastando com os travesseiros brancos, uma mesa de cabeceira do lado direito da mesma, uma escrivaninha com seu computador para estudos, o banheiro e o closet e era somente isso, não via muito propósito em enfeitar seu quarto quando nunca recebia amigos como Ethal.
O negro suspirou, algum dia talvez, quando achasse que deveria, colocaria um pôster de alguma banda que gostava em alguma das paredes, mas não seria hoje. Se levantou da cama e pegou sua bolsa, era só disso que precisava, afinal, os materiais que fora obrigado a receber estavam guardados em seu armário na escola, conferindo se tinha pegado tudo incluindo seu celular, saiu do quarto e desceu para a sala de estar, onde sua irmã estava, com a bolsa pendurada em seu ombro e os olhos concentrados no celular novo, provavelmente conversando com as garotas da equipe de torcida. - Vamos ou não? - Perguntou o rapaz, dando o melhor tom de alegria a sua voz, na mesma hora, a menor desligou o visor do celular e sorriu, erguendo os olhos castanhos para ele. - Vamos - Disse e lhe abraçou o braço, o puxando para fora dali.
Quando eles viraram para a garagem principal, Isaac sentiu seu coração palpitar um tanto mais depressa que o normal, a garagem no subsolo tinha uma grande variedade de carros, mas nenhum era bom o suficiente para estar ali, não tanto quanto aquele, um Pontiac GTO preto de 1965, ele era sagrado, reservado ao uso de Margareth e somente quem ela achasse merecedor do uso, é claro que os gêmeos, como ela dizia sendo "criaturas sujas", jamais eram concedidos essa permissão.
Naquela manhã, porém, não importava, Ethal queria fazer o irmão sorrir e esquecer um pouco do mundo, por isso não pensou duas vezes em entrar no carro com o mesmo e ligar o rádio em alguma música qualquer, eles ouviam algumas das mesmas bandas, então não era tão difícil encontrar algo que agradasse a ambos os irmãos. Com muito cuidado, Ethal tirou o carro da garagem e seguiu para fora dos portões do terreno dos Brooke, um sorriso iluminando o rosto da moça ao perceber que o irmão gêmeo cantarolava ao som de Larger Than Life do Backstreet Boys, era bom ver o irmão alegre.
Sem pressa ou preocupação, seguiu por um caminho que conhecia tão bem quanto a palma de sua própria mão, normalmente teria comparado esse caminho a como sua mente funcionava, mas nos últimos dias, com a presença de Lewis na cidade, sua mente ficava extremamente confusa. Suspirou, o vento, quente graças a suas habilidades, acertando o rosto de ambos e os relaxando enquanto seguiam para o lago da cidade, longe de tudo e todos, em meio as árvores que ninguém ousava se embrenhar, era o lugar deles, seu único ponto de paz em meio a todo aquele caos, e isso era tudo que precisavam no momento, um pouco de paz.
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Duas horas mais tarde, mais uma vez o carro era estacionado em um lugar que não fosse a garagem da mansão Brooke, Isaac dirigira dessa vez, com todo o cuidado possível e a irmã reclamando que ele dirigia como uma velhinha cega. - Me desculpa se eu quero manter essa relíquia intacta - Rebateu o maior, desligando o carro e saindo do conversível, o qual ele havia ativado o telhado. Ethal revirou os olhos e pendurou a mochila novamente em suas costas, não ligava muito para o carro, por ela, o teria destruído na primeira parede que encontrasse ou até mesmo com o taco de baseball de metal que sabia que estava guardado no armário do treinador do time, mas isso tudo deixou sua mente quando sentiu o cheiro forte e característico que reconheceriam em qualquer lugar.
Ems estava a poucos metros de distância, havia chegado a poucos minutos, vestia uma camisa preta, com uma caveira que parecia envelhecida e o nome de uma de suas bandas favoritas: Metallica, sua calça da mesma cor possuía rasgos nos joelhos e usava um coturno Doc Martin. Em meio a suas tatuagens e a pele pálida, haviam marcas roxas, avermelhadas e escuras que ele não se dava ao trabalho de cobrir, os nós de seus dedos estavam vermelhos e claramente haviam sangrado, mas isso parecia não incomodar o rapaz, que abraçou Hayden e puxou o boné de Justin para cima.
–Que cara é essa? - Perguntou o olhando, o loiro suspirou, mas antes que pudesse responder, Hayden, ao seu lado, o fez. - a mãe botou ele de castigo quando ele voltou pra casa no sábado. - Falou com divertimento, recebendo um olhar irritado do terceiro rapaz. - Ela tirou até meu estoque - Reclamou o menor, Justin não tinha problemas de enfrentar as aulas estando totalmente ébrio, mas o trabalho mais tarde, dentro do hospital da cidade, o deixava um tanto nervoso. - Hey, pode ficar com o meu baseado de emergências, eu pego pra você antes do treino, pode ser? - O mais velho o olhou, surpreso e assentiu, sorrindo em seguida. - Você é foda, Freddy - Afirmou animado, despertando uma risada nos dois outros amigos.
Provavelmente os três rapazes teriam engajado em algum assunto de imediato se Lewis não tivesse sentindo alguém tocar em seu ombro, o fazendo se virar na mesma hora para ver de quem se tratava, quando o fez, Maggie lhe estendia sua jaqueta, enquanto o irmão passava para cumprimentar os outros amigos antes de fazer o mesmo com Ems. - Você veio - Mencionou o mais novo, sorrindo levemente, havia gostado de Maggie, ela era tímida, mas quando falava sobre algo que gostava parecia ser outra pessoa, totalmente a vontade e confiante, Ems havia gostado dela e seria bom ter uma amiga que o entendia quase tanto quanto ele a entenderia.
–Eu falei que iria te devolver a jaqueta - Lembrou a morena, o olhando, os olhos verdes quentes e profundos dele sorrindo com os lábios por um instante ínfimo. - É sua agora - Exclamou repentinamente, surpreendendo a latina. - Você fica muito melhor com ela do que eu de qualquer jeito - Seu tom era tão simples e sincero que a menor sentiu que seu rosto ficou totalmente vermelho, e havia mesmo ficado, despertando um sorriso nos lábios de Ems, que notara suas sardas espalhadas pelo rosto. - parece una pequeña fresa³
Alguns metros de distância dali, entrando na escola, Isaac observou o olhar da irmã para a interação, assim como ele, ele sabia, que ela havia ouvido tudo, inclusive o estranho elogio do rapaz, ele não mencionaria nada, é claro, mas sabia que a irmã não havia gostado nem um pouco daquilo, ainda que jamais fosse admitir.
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O interior da escola estava mais agitado do que esteve nos últimos dias naquela segunda, os resultados das outras equipes e clubes extracurriculares haviam sido colocados no mural principal, e Ems não se surpreendera com isso, tanto ele quanto os amigos seguiram para os seus armários, o de Wyatt era o único mais próximo do seu e eles até mesmo compartilhavam a primeira aula, de história, apesar de não ser o assunto favorito do latino, ele aguentava a aula da senhora Pulling pelo novo amigo.
Além deles, Isaac seguia o mesmo caminho para a sala 256, onde aconteceria a aula, entediado já que ele sabia na íntegra cada uma das questões que seriam retratadas durante os próximos minutos da manhã. Ele foi o primeiro a entrar na sala e se sentar na terceira carteira próxima à janela, observando que aos poucos começava a garoar do lado de fora. Eram em momentos assim que ele se desligava para o mundo, em silêncio, não via muito propósito em prestar a atenção. A sala não demorou a se encher de alunos do segundo ano, muitos conversando com os amigos com quem compartilhavam aquela aula, e logo depois dos alunos, a professora. - Bom dia, classe - Saudou a todos, recebendo algumas respostas um tanto desanimadas.
Amanda Pulling, como muitos outros de Brookeville, havia nascido e crescido naquela cidade pequena perdida em meio a costa leste dos Estados Unidos, ela era uma mulher pequena, mas muito enérgica aos seus cinquenta e cinco anos de idade, os cabelos loiros escuros quase sempre amarrados davam a visão perfeita de seu rosto marcado por rugas sutis causadas pelo seu sorriso e os olhos castanhos escuros. Isaac havia estudado com ela na sua "vida" anterior, e ela sempre fora assim, ele gostava dela, de seu estado de espírito alegre.
No momento ela explicava sobre o estado de Nova York, onde se localizava a cidade, sobre as imigrações e tudo o mais, do outro lado da sala, ao contrário da maioria, Lewis prestava absoluta atenção ao que era falado, era uma ótima maneira de se distrair para ele, levando em conta as dores que sentia em seu corpo, seu pai havia pegado pesado com ele como punição pelo sumiço no sábado e por ter desrespeitado suas ordens de operação na sexta-feira.
–E como uma parte importante, uma das migrações que aconteceram foi a da família Brooke há duzentos e oitenta e nove anos atrás para este exato ponto em que nós estamos e é sobre isso que quero que falem no trabalho de vocês - Explicou a mulher calmamente, com seu costumeiro tom alegre. - Eu os colocarei em duplas e vocês terão até sexta-feira a noite para me mandar uma redação sobre a história da cidade e o quão importante para vocês é saber sobre as origens do lugar onde vivem, a melhor redação será lida pela prefeita na comemoração de domingo.
Quando percebeu que todos haviam entendido, a mulher seguiu até sua mesa, onde havia anotado os nomes das duplas que seriam feitas para aquele trabalho, começando a citar cada par de nomes com calma. - Wyatt Morales com Kayla Paige - Ems olhou para o amigo, que procurava a tal garota, Kayla se tratava de uma garota alta de cabelos negros, com provavelmente um e oitenta e um jeito meio recluso, sempre lendo algum livro de mistério como Sherlock Holmes ou o Grande Gatsby, ela não era tímida, apenas preferia os livros no lugar das conversas da escola. A atenção do anômalo apenas retornou a professora quando ouviu seu nome. - Emily Lewis fará com Isaac Brooke. - No mesmo momento em que seu nome saiu da boca da loira, ele levantou a mão.
–Professora, eu prefiro fazer esse trabalho sozinho, eu poderia? - Perguntou, os olhos castanhos se concentrando na imagem de 1,55m de altura de Amanda. - Me desculpa, senhor Brooke, mas você sabe as minhas regras. - o Brooke teve de se controlar para não revirar os olhos, ele conhecia bem a regra de Amanda Pulling, que seus alunos deveriam fazer os trabalhos em dupla sempre com pessoas diferentes, para "construir uma rede de relações mais ampla, entendendo as diferenças de cada um".
Ems não mencionou nada, pois faria o exato mesmo pedido do colega. Sua vida inteira, apesar de ter amigos sempre ao seu lado, preferira fazer as coisas como foi ensinado, sozinho. Tinha seu próprio ritmo e se conhecia, não queria ter que mudar isso ao trabalhar com outra pessoa, mas se não havia realmente uma opção, ele tentaria, ao menos daquela vez. O sinal não demorou a tocar, os liberando para a próxima aula.
O dia correu como qualquer outro, cada aula transcorrendo lentamente para o desagrado dos estudantes. E de longe, Isaac não podia deixar de observar Lewis toda vez que passava por ele e por seus amigos nos corredores e quando os viu no horário do almoço, em que sua irmã surpreendentemente se juntou a ele, ele achava tão curioso, que mesmo com todas as feridas, que lentamente cicatrizavam em seu corpo, o rapaz de olhos verdes e corpo tatuado parecia não se deixar abalar, sabia exatamente como agir, quando sorrir, quando brincar e quando ficar em silêncio, como se aquilo fosse uma mera atuação, o papel de sua vida.
No final do dia, antes de seguirem para o treino de natação, ele observou o moreno ser acompanhado por um de seus amigos até seu armário e entregar o que havia prometido a ele, com um sorriso sincero e uma advertência caridosa. E Isaac teve de concluir, que talvez, no fundo, Frederick não fosse tão ruim quanto pensava.
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Horas mais tarde, com extremo cuidado, Isaac estacionou o Pontiac na garagem principal da mansão Brooke, Ethal estava cochilando ao seu lado, era muito difícil sua gêmea estar cansada, para falar a verdade, era quase impossível, mas levando em conta que ele mesmo não havia pregado os olhos em momento nenhum, não era surpresa que ela também não tivesse. Raramente acontecia que kitsunes nascessem em pares, mas quando aconteciam, como eles, a ligação entre eles sempre seria quase simbiótica, um entendia o outro de uma maneira que ninguém mais o fazia, e eles sempre, protegeriam o irmão.
–Ethal - Ele chamou baixinho, cautelosamente enquanto sua mão direita tocava o ombro coberto por um casaco leve de sua irmã, ela resmungou igualmente em um volume baixo e logo abriu os olhos, um tanto entorpecida ainda pelas endorfinas que seu cérebro haviam liberado durante o sono. - Chegamos em casa - Explicou o rapaz, sua voz não mais que um murmúrio como anteriormente e ela apenas assentiu antes que ambos desembarcassem do carro. A moça se espreguiçava enquanto seguiam para dentro da mansão, as mochilas penduradas nos ombros e os olhos pesados pelo cansaço.
O vento frio soprou para dentro da casa quando eles entraram, mas nem todo o frio do lado de fora se comparava ao olhar frio de Margareth, a sua expressão de desgosto para com eles. - Vocês conhecem as regras dessa casa - Afirmou, o tom da mais nova era indiferente, mas os dois kitsunes sabiam o quão venenosas podiam ser suas palavras, quase tanto quanto suas ações. Isaac abriu a boca para dizer que a culpa era sua e que ele havia dirigido o carro até o lago e a escola, mas Ethal lhe apertou o pulso e começou a proferir palavras que logo se arrependeria de deixar chegar aos ouvidos de Margareth Brooke. - Fui eu que peguei o carro.
Silêncio, foi o que receberam em resposta, seguido de um mero gesto da prefeita para que a kitsune de aparência jovem se aproximar dela e só então uma frase, um comando. - Vá para o seu quarto, garoto - Foi a única coisa que ela disse a Isaac antes de agarrar o braço da menor, Isaac sentiu seu olhar e o encontrou, os olhos castanhos dela diziam para o irmão que não devia se preocupar com ela, quantas vezes ela havia o olhado dessa maneira? Ele tentava tanto se lembrar de quantas vezes sua irmã sofrera em seu lugar e quantas dores ela aguentou para que ele seguisse intacto. Ele esperou a imagem da irmã sumir para então subir as escadas. Sairia pela janela se fosse possível, mas não ficaria ali para presenciar o que sabia que aconteceria.
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As habilidades de qualquer criatura são diferentes, possuem efeitos e objetivos completamente diferentes, o que para um pode ser uma arma, para outro pode ser uma habilidade que o possibilita ajudar os outros. Para Isaac, naquele momento, ela servia como um ponto de fuga, como uma extensão de seu ser, capaz de acalmar seus nervos, mesmo àquela distância, ele podia ainda sentir as dores, podia sentir o sofrimento de Ethal e queria tanto voltar para a mansão e tirá-la dali, mas não conseguiria, a água do lago que envolvia seus pés servia então para afastar as dores e seus ímpetos de tentar ser um herói que sabia que não era.
Sua atenção se dispersou somente quando ouviu o som de um galho e de pés contra folhas caídas ao chão, ainda que o outono não tivesse chegado ainda. Ele se virou com o total de sua agilidade, os olhos brilhando em um tom azul forte, brilhante e ofuscante quando as pequenas lâminas de água passaram por pouco pelo corpo de pele alva e repleto de desenhos de Lewis, que desviou por pouco de ser cortado como as árvores que o rodeavam. - Porra, você é rápido mesmo - Afirmou o de olhos verdes, pulando de volta ao solo, já que havia pulado para uma das árvores mais próximas, em seus lábios havia um sorriso pequeno e leve, com um leve tom de deboche, diferente de mais cedo vestia um casaco para se proteger da brisa fria da noite. - O que você quer, Lewis - Os olhos do kitsune continuavam a brilhar, ameaçadores e prontos para um novo ataque.
–Eu venho em paz, sério - Falou calmamente, não havia mentira em sua voz ou em seus olhos, o Brooke sabia disso, e pode notar que na verdade, pela a primeira vez desde que conhecera Frederick - ou qualquer que fosse o nome que queria ser chamado naquele dia - ele parecia cansado, mesmo que seu tom ainda fosse debochado e que seu sorriso ainda fosse desdenhoso, ele não parecia realmente capaz de lhe fazer algum dano naquele instante, não que alguma vez tivesse mostrado querer fazer isso. O mais velho deixou seus olhos voltarem aos costumeiros castanhos e se voltarem para a lua, que estava em seu quarto minguante ainda, o que o mais novo entendeu como um convite implícito para sentar-se e observar melhor o colega de escola.
–Posso senti-lo me observando, cachorro molhado - Afirmou o maior com deboche. - Eu sei, kiken - Rebateu no mesmo tom, ganhando do capitão da equipe de natação, uma risada anasalada pelo termo e então sua atenção, Isaac o olhou. - O que está fazendo aqui, Lewis? - Interrogou o kitsune ao rapaz, que sentou-se em posição de lótus, segurando os próprios tornozelos. - Estou fugindo - Disse simplesmente, não tinha porque mentir, as batidas do seu coração estavam aceleradas, no dia anterior havia voltado a treinar, era a desculpa mais utilizada de seu pai para puni-lo por alguma desobediência, mesmo que estas fossem raras. - E você, do que foge, Brooke? - A pergunta atingiu profundamente o rapaz, que voltou a desviar seu olhar, agora para a água, que aos poucos se iluminava do mesmo azul que seus olhos haviam feito.
–Para que eu diria isso a você? - Indagou, sem tirar seus olhos do lago calmo, que simplesmente seguia seu próprio fluxo, um que o Umi entendia perfeitamente. O silêncio se fez por alguns bons momentos antes de o maior ouvir um leve farfalhar de roupas e então ouvir novamente a voz de seu acompanhante naquela noite. - Porque eu nasci para guardar segredos. - A frase veio acompanhada de um gesto, em seu antebraço direito, em meio a diversas tatuagens, havia um pedaço de pele limpo, uma marca que parecia uma cicatriz, duas ondas que se entrelaçavam e se fechavam em si mesmas, com dois losangos por cima dela, as linhas eram finas, mas eram perceptíveis. - Se você quiser, isso ficará somente aqui, apenas diga que quer me contar um segredo e ele jamais deixará meus lábios.
O olhar castanho do outro seguiu para o rosto pálido de Lewis, que o olhava com total atenção, a espera de uma frase, uma simples reação a sua proposta. - Por quê você faria isso por mim? Nós nem somos amigos - Isaac pensou em voz alta, o olhando, tentando entender as intenções do anômalo com aquilo. - Eu não preciso ser seu amigo para saber que você precisa desabafar, todo mundo precisa em algum momento, Brooke e se você não quer que ninguém mais saiba, eu guardarei seu segredo. - Deu de ombros, era o mínimo que podia fazer. Havia percebido que mesmo quando estava cercado de pessoas, Isaac parecia tão solitário, que talvez no fim da noite, só precisasse de alguém para ouvi-lo.
–Eu quero te contar um segredo - Ao ouvir aquela frase, sem permissão de si mesmo, os olhos do mais novo se iluminaram rapidamente em um tom rosado, tão rápido quanto um raio no céu. - Teu segredo será mantido - Sua resposta foi um mero sussurro, que parecia ter vindo de seu peito, quase como um rosnado e o rapaz manteve o braço onde estava, estendido ao olhar do outro ser sobrenatural. - Do que foge, Isaac? - O rapaz sorriu, era a primeira vez que o lupino usava seu primeiro nome em uma conversa, e ali naquele instante não havia deboche algum, apenas uma genuína curiosidade, e talvez, apenas talvez, um tanto de preocupação da parte do menor. - Do inferno que acontece em casa, das minhas fraquezas, acho que até de mim mesmo.
Como um filhotinho curioso, Ems inclinou a cabeça para a esquerda, tendo uma visão melhor do rosto do rapaz, que soltou uma risada leve, já sentindo seus olhos arderem com as lágrimas que desejavam escapar de seus olhos. - Margareth pode parecer uma mulher doce para o mundo, mas as coisas que ela faz...eu não acho que conseguiria descrever - O brilho compreensivo nos olhos esmeralda do outro lhe disse que não precisava lhe dar os detalhes se não quisesse, mas ela ainda assim o fez, explicando até onde conseguia alguns dos castigos que havia sofrido nas mãos da mulher e de seus empregados, contou sobre como se sentia sobre si e sua própria sexualidade, mantendo para si que seu objeto de desejo era o amigo daquele a ouvi-lo, falou também sobre o que a irmã havia feito naquela manhã para melhorar seu humor.
–E agora Ethal está lá, sofrendo no meu lugar, e eu fui fraco demais para me impor a Margareth...de novo - Seu suspiro era trêmulo, vacilante e as lágrimas começaram a finalmente escorrer por suas bochechas, enquanto ele tentava insistentemente secá-las. - Ethal faz muito isso? - Perguntou o mais novo, o tom ainda curioso e leve, o mais velho assentiu, olhando para os próprios pés dentro da água que brilhava. - Ela é muito mais forte do que parece, é mais forte do que eu, mas ela não é indestrutível e acho que ela me defender algum dia pode acabar com ela - Expressar seu medo de perder a irmã pareceu tirar um grande peso do peito, ele sabia que não havia muito a se fazer para com que sua irmã parasse, mas também não podia lhe dizer aquilo que lhe assombrava.
Com o silêncio, como se soubesse que era tudo aquilo a ser falado, os losangos brilharam da mesma cor que os olhos de Ems fizeram antes, como se a pele tivesse sido queimada antes de voltar ao normal e só então o mais novo recolheu o braço, voltando a colocar sua blusa. - Você tem medo pela sua irmã e isso é compreensível, Isaac, ela é sua família, é tudo que você tem, ela é forte, mas você, pelo que vejo, é a base entre vocês dois, apenas tente não se perder no seu medo, de qualquer coisa, e acredito que vocês passarão por isso - O lupino sorriu para a raposa, que apenas assentiu, absorvendo cada palavra do outro, talvez ele estivesse certo, mas só saberia se colocasse aquilo a prova.
Gotas de chuva começaram a cair a sua volta, mas os dois continuavam secos, graças as habilidades do Brooke. - Obrigado, Lewis - Agradeceu o rapaz, se levantando juntamente com o outro, a chuva lentamente se tornando mais forte a volta deles, enquanto eles continuavam inalterados, o outro apenas meneou a cabeça em resposta e quando as gotas finalmente tocaram os corpos de ambos, eles souberam que era a hora de partir, porque apesar de o cansaço dificilmente tomar seus corpos, eles tinham obrigações no dia seguinte e precisavam que suas mentes estivessem suficientemente limpas para enfrentá-las.
Enquanto a raposa terminava de calçar seus sapatos, ele ouviu o barulho das folhas que ainda estavam nas árvores bater umas contra as outras e olhou para cima, não se surpreendendo nem um pouco ao ver Ems ali, que sorriu para ele. - Até amanhã, Brooke - Ouviu, efêmero e de maneira travessa, o que lhe despertou um sorriso enquanto colocava as mãos nos bolsos da calça que vestia. - Até amanhã, Ems...
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Notas Finais:
Eu tô pegando um mal costume tão grande de postar as coisas de madrugada, mas eu não podia me importar menos com isso, tô adorando as ideias que me surgem nesse horário.
A construção dessa amizade dos dois para mim é um dos momentos mais humanos desse livro e eu simplesmente amo essa nuance, e espero que estejam gostando tanto quanto eu
Beijos, JF.
Glossário:
Jishin¹ - Significa Maremoto em Japonês 地震 é o kanji dessa palavra
Arashi² - Significa Tempestade também em Japonês 嵐 é o kanji
Parece una pequeña fresa³ - Parece um pequeno morango - O apelido se dá pelas sardas no rosto da Maggie e também quis colocar um pouco das origens latinas do Lewis
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