VINTE E DOIS
“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte”. Ct 7: 6a.
Angelina pensava que seu coração pulsaria para fora do peito, pois tamanha era sua aflição no momento. Depois de sua dança com o soldado, partiu para refrescar-se com suco de uva, porém, fora abordada por um oficial, que alegou ser enviado pelo Tenente Scott e este desejava encontrá-la. Com nítida confiança, ela deixou-se ser conduzida para a parte externa da casa ao lado leste. Ele a guiou a um local com pouca iluminação, levando-a ficar temerosa, pois a diante não podia avistar-se ninguém, era tudo um breu. Ela resolveu voltar e, ao girar o calcanhar, deparou-se com o grandioso oficial, seu rosto impassível e posição imponente, demonstrava que ele não permitiria nenhuma fuga. Depois de mais uns cinco passos, a voz rouca do homem, pronunciou:
— Aqui está! — E sumiu.
Angelina apertou os olhos, pois estava certa que o homem tinha proferido suas palavras para nada além do que o negrume, contudo, do canto escuro, surgiu o alto e ruivo Gabriel Floyd. O belo homem trajado com sua farda militar, cuja presença soberba poderia encantar qualquer mulher, mas não a Srta. Jones. Os olhos azuis de Angelina perderam todo o brilho quando o viu e suas mãos suaram frio. Ela não queria, contudo seus pés fincaram o chão. Seus pensamentos tornaram-se abundantes sobre a consequência de ser vista sozinha com outro homem no local tão indevido, certamente estava em grande apuro. E ao observar os olhos risonhos de Floyd sabia que não tinha condições de fugir, ele a impediria de qualquer maneira.
“Oh, Senhor, ajude-me! Livrai-me deste laço do passarinheiro!” — Em seu coração suplicou uma breve oração.
— Querida Angelina, não precisa ter medo — a voz imperativa de Floyd ressoou. — Sou eu. Um amigo.
— Não somos amigos, Sr. Floyd — ela declarou com a voz fraca.
— Seríamos se a senhorita permitisse minha aproximação. — Ele caminhou alguns passos para mais perto, e ela galgou para trás.
— Não tenho interesse em sua companhia. — Angelina o encarou.
Ele bufou!
— Srta. Jones, ganharia muito com minha amizade. — Floyd insistiu em aproximar-se, e ela deu mais passos para trás.
A expressão dele tornava-se a cada instante divertida quando cruzava seus olhos com os da Srta. Jones, pois sabia do muito constrangimento que ele causava. Estava certo que a maneira gentil não fora um bom aliado em demonstrar seus interesses com a jovem mulher, então optou por comunicar sua conveniência de modo mais direto.
— Eu... — ela estendeu a palma da mão à frente dele e parou de falar, ouviu passos que pareciam se aproximar cada vez mais.
Oh, céus! Estava perdida para sempre!
Encostou-se na parede, sentindo os batimentos de seu coração acelerarem e suas pernas fraquejaram. O vento gélido da noite tocou em sua pele, causando-lhe um calafrio que mais parecia dentro da alma do que na parte externa.
— Por que me trouxe para este lugar? — ela replicou com a voz tremula.
— Só desejava um pouco mais de sua companhia, Srta. Jones — ele respondeu, querendo tocá-la no rosto, mas não o fez. — No entanto, fui de modo tão rude repelido pela senhorita.
— Angelina! — Era a voz de Scott. — O que faz aqui com este homem?
Era o seu fim!
Ela virou-se e seus olhos abatidos se encontraram com o mar agitado que refletia no olhar de Nathan. Por uns segundos ela nada pronunciou, seus pensamentos caíram em órbita, e quando voltou-se a lucidez, refletiu brevemente sobre como conseguiria entregar uma resposta sensata diante daquela situação alarmante. Gabriel permaneceu em sua postura soberba inalterável.
— Não sabia. — Foi a única resposta que conseguiu formular e baixou a cabeça.
— Uma mulher e um homem a sós? Estão comprometidos! — O timbre de quem falara era desconhecido a Angelina, mas ao ouvir tal pronunciamento seus pés resvalaram-se.
— Ela não pode está comprometida, soldado Robert! — Nathan vociferou.
— Mas, senhor, nós vimos os dois juntos e sozinhos! — o rapaz insistiu, apontando para os dois.
— Não — A fala de Scott fora mais enfática. — Ela foi trazida por outro oficial. Eu os vi enquanto caminhava rumo à biblioteca para falar com Ian. Passaram pela vidraça que ficava no fim do corredor. Então voltei e vim procurá-la. — Nathan puxou Angelina para mais perto de si e declarou convictamente: — Não pode comprometer-se com ninguém, pois ela já o fez comigo. A Srta. Angelina Jones é minha noiva!
Angelina arregalou os olhos e levantou a cabeça abruptamente, mirando Scott. Ele a fitou com tamanha firmeza que ela não ousou duvidar de nenhuma palavra dele. O espírito da Srta. Jones tornou-se solene com tamanha alegria que lhe saltou no coração, enchendo-se de todas as luzes de felicidade, emoção tal que nunca vivenciara antes, exprimiu sua emoção deixando algumas lágrimas molharem seu rosto.
— Então, se alguma palavra, por mínima que seja, fira a honra de minha noiva, eu cobrarei. — Nathan encarou os dois homens com um olhar penetrante.
— Nada será dito, senhor! — Robert pronunciou.
Gabriel Floyd teve de engolir sua presunção. Certamente não imaginava que a relação de Nathan e a Srta. Jones era tão séria. Seu orgulho fora violentamente ferido. Sabia que poderia ter sérios problemas no regimento com a presença de Scott, perdendo o posto de ser o braço direito do Capitão. Tão logo seu desejo inflamou-o para conquistar a dama ruiva, seus sonhos egoístas de ser um futuro general, o despertou para dar um passo para trás. Assim não teria tamanha consequência, por uma única noite. Ele ergueu o queixo, soltou o ar e assentiu de maneira quase imperceptível e passou por entre Scott e Robert com grosseria.
Nathan respirou fundo, soube pelo olhar de Floyd que o caso deu-se por encerrado, dedicando sua atenção ao estado de Angelina.
— Está tudo bem?
— Um oficial, que não sei o nome, disse-me que você me chamava. Não duvidei. — Ela apertou os lábios e entrelaçou os dedos.
— Eu sei quem foi. É amigo do tenente Floyd.
— Senhorita, a partir de agora não confie em todos os oficiais. Temos uns peçonhentos! — O soldado Robert a aconselhou, intrometendo-se no assunto. Ela assentiu. — E permita-me dar os parabéns pelo noivado. — Ele a reverenciou.
— Scott, precisamos conversar sobre... — Quis Angelina entender porque ele fizera aquela afirmação.
Com um movimento de cabeça, Nathan dispensou o soldado. Ele então permitindo-se tal ação, envolveu as mãos gélidas de Angelina e declarou:
— Sim, eu sei. — Em seguida, olhou com ternura na profundeza dos olhos azuis dela. — Tenho muito o que lhe dizer, mas aqui não é momento oportuno para as devidas declarações. — Scott, sem desviar os olhos de sua amada, pôs a mão dela na curva de seu braço. — Por favor, confie em mim. Amanhã após a mensagem do reverendo, falarei tudo.
Ela sorriu, aceitando a condição. Ambos voltaram para o salão.
*
No domingo a noite todo o vilarejo encontrava-se reunido na praça principal, pois o reverendo conduzia um culto de ações de graças e oraria pelo exército de Sua Majestade que partiria na manhã do outro dia. Muitos jovens homens foram recrutados e seguiriam junto com o regimento. Angelina achava-se assentada junto da Sra. Nagael num dos bancos espalhados pela praça e ouvia o que o reverendo falava.
Angelina, por uns instantes, desviou a atenção do pastor e atentou-se a Nathan, que se encontrava em pé, numa posição ereta, ao lado dos outros militares, e então o olhar de ambos se encontraram. O sentimento de saudade rasgou dentro dela. Havia lutado durante todo o dia para repousar a alma em algum consolo, porém, nenhum pensamento bom conseguiu guiar suas emoções. Ela apenas rendeu-se ao choro, pois ele partiria. Todavia um súbito de felicidade se estendia sobre ela ao lembrar-se das palavras proferidas por Nathan: “É minha noiva”. Oh! Quão grande deleite experimentou o seu coração ao ter a confirmação do amor por parte dele. Tão longo se alegrara, os terríveis pensamentos da partida lhe abatia novamente. E no decorrer de todo aquele dia Scott passou no acampamento dos militares, não obtendo tempo para que a tão esperada conversa acontecesse. Ela respirou fundo e dedicou-se a atividade de preparar a torta de ameixa para o culto. Orou ao Senhor para lhe acalmar a alma aflita, mas nada teve além do silêncio.
“A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” — o reverendo declarou, e houve um profundo silêncio por parte da multidão.
— Entendam que o favor do Senhor sobre você e a amizade dEle é mais valiosa do que qualquer coisa. Podemos perder tanto, mas Ele sempre permanecerá. E é na nossa fraqueza e sofrimento que vamos sendo moldados e é nela que reconhecemos mais o poder do Altíssimo sobre nós.
As palavras do reverendo eram trazidas até Angelina como que pelo vento, que lhe balançavam o cabelo e roçava sua pele, cochichando em seus ouvidos o consolo que procurou todo o dia. Seu coração descansou na sabedoria profunda do Criador. Ele conduziu Scott até ela; Ele alinhou o coração de ambos; Ele mesmo permitia que Nathan fosse; Ele também poderia trazê-lo novamente.
A pregação finalizou e a mesa farta de alimentos fora liberada. Os habitantes da vila comiam e bebiam alegremente. Os instrumentos foram afinados e uma música iniciou-se chamando muitos jovens para dançar. Aproveitando com alegria a oportunidade de estarem mais um dia com a sua família, pois para alguns essa era a última vez que sorriam, abraçavam e olhavam firmemente um para o outro. Ao longe, Angelina avistou Floyd que a olhou rapidamente, contudo seguiu para outro lugar. Enquanto comia quietamente num lugar mais sossegado, a voz firme e amável de Nathan ressoou:
— Poderia vir comigo? — Ele estendeu a mão e a conduziu por uma pequena trilha, chegando a praia. A distância ainda permitia que o som da música pudesse ser ouvido.
O casal virou-se para a bela paisagem do mar e da lua que pareciam se encontrar, refletindo a mesma situação de ambos, tão perto e tão longe. Nathan envolveu as mãos pequenas e finas de Angelina sob as suas firmes e quentes. Ele ansiou por aquele momento em que poderia declarar todos os seus sentimentos. Passou todo o domingo pensando em como poderia comunicar toda sua estima a fim de mostrar a profundidade de seus afetos. Ele desejava poder ficar, dar-lhe uma vida boa, construir uma família, no entanto, não poderia. Não agora. E ainda que lhe doesse ir, também lhe consolava a confiança de que servir sua nação era parte daquilo que Deus lhe concedeu como homem. Sua real promessa para Angelina era que eles descansassem na provisão e cuidado do Soberano.
— Angelina Jones, a mulher mais amável, gentil e bondosa que conheci — declarou com tamanho sentimento que ela não pôde segurar as lágrimas. — Minha mãe ensinou-me que uma mulher virtuosa estaria sempre escondida debaixo das asas do Salvador. Você realmente estava escondida neste lugar, mas, de modo que nunca imaginei, te encontrei.
— Nathan...
— Deixe-me falar — ele a interrompeu, ela assentiu. — Este tempo em que convivemos me fez criar um sentimento muito profundo por você, Angelina.
Ela fechou os olhos rapidamente.
— Eu amo você. — Ele tocou o dorso de sua mão sobre as bochechas dela. — Nunca poderei esquecê-la. Você é a mulher que eu desejo para ter sempre ao meu lado.
Angelina sorriu e sua emoção tornou-se evidente em cada expressão de sua face. Tais palavras professadas não poderia requerer uma recuperação tão imediata de seus ânimos. Não! Isso requereria uma longa pausa de reflexão para permitir-se sentir todos os deleites de sentimentos, no entanto, como o tempo não era a seu favor, restringiu-se a respirar fundo para conseguir expressar-se:
— Eu também o amo. — Sua voz carregada de carinho, despertou em Nathan a vontade de abraça-la, e assim o fez.
Puxando-a para mais perto, abraçando-a fortemente. O coração de ambos dançava em harmonia no ritmo da paz, alegria e nervosismo. O vento passeava por eles, como se os envolvessem com laços de amor. Era a beleza de dois corações que se encontraram.
— Irá partir! — ela exclamou com a voz embargada. Aquela dor ainda estava ali.
— Eu vou. — Eles se afastaram. Nathan segurou mais uma vez a mão de Angelina e disse: — Antes eu não tinha porque querer voltar. Não havia ninguém esperando minha volta. — Ele apertou mais forte a mão dela. — Mas eu desejo que se torne minha noiva e então eu terei para quem retornar. Eu juntarei todas as minhas economias e construiremos, se o Senhor permitir, o nosso lar. — Ele ajoelhou-se sobre a areia e com todo o amor do seu coração, pediu: — Angelina Jones, aceita casar-se comigo?
O corpo de Angelina estremeceu diante de tamanha emoção. Enfim, o pedido era oficial. E com a voz carregada se estima, respondeu:
— Eu aceito!
— Promete esperar minha volta?
— Eu prometo. — Lágrimas molharam as bochechas dela.
Ele beijou suas mãos e levantou-se. Nathan tirou de dentro do bolso uma corrente de ouro com uma chapa redonda como pingente, nela estava gravado “Deus não se esquece” o escrito era pequeno.
— Quando saí de casa para servir o exército minha mãe me deu essa medalha. Ela não tinha mais nada. Quando os dias foram maus, eu lia isso — ele contou. — Agora entrego a você. Como prova de que um dia estivemos aqui. — Ele olhou para o céu negro e estrelado. — Ele também esteve aqui.
Angelina lagrimou mais.
— Não tenho anel para lhe dar, mas esta medalha é o símbolo do nosso compromisso. — Ele tirou algo mais do bolso. — Consegui um breve tempo para escrever. — Estendeu para ela uma carta. — Leia depois.
Ela segurou a medalha e a carta com toda a sua força. Nathan se aproximou e beijou-lhe a testa, Angelina fechou os olhos. Ele aproveitando o momento, pronunciou:
— Diante de Ti, Senhor, firmamos este compromisso. Nada temos além da esperança do Seu Poder que pode unir-nos novamente. Agradecemos pelo tempo que tivemos e concede-nos a graça para este novo período. Em Cristo, amém!
*
A luz do novo dia nasceu, trazendo brilho por cada canto escurecido do vilarejo. Angelina despertou rapidamente e preparou tudo que havia planejado. Apressou os passos e seguiu para o local em que a multidão se reunia. A vila estava alvoroçada. Angelina podia ver as faces avermelhadas de tantas mulheres, pois choravam ao se despedir de seus noivos, amigos, esposos, irmãos... Ela procurou com afinco seu noivo quando enfim o avistou. Nathan conversava rapidamente com o Sr. Turner. Ela aproximou-se e ele ao notá-la abriu um largo sorriso.
— Desejo falar-lhe rapidamente — ela disse.
Ian afastou-se, permitindo-os uma breve conversa.
— Você me deu algo para sempre lembrar-me de nosso compromisso. Quero também dar-lhe algo. — Ela sacou de uma pequena trouxinha um livro. — Esse é o livro de poesia que li para você ainda na caverna. Lembra-se?
Ele assentiu.
— É o meu preferido. Escrevi algo aí para você.
Nathan sorriu e tomou o livro para si.
— Também fiz uma torta de pêssegos para sua viagem. — Ela lhe entregou a trouxinha de pano. — Vou orar todos os dias para que essa batalhe acabe. Estarei aqui para quando voltar. — A emoção de Angelina transpareceu em sua face ruborizada, Nathan lhe acariciou o rosto.
Eles ouviram um trompete ressoar. Era a hora de preparar a marcha. A vila se enfileirou para assistir a marcha dos soldados saindo do vilarejo. Angelina tentava segurar as emoções quando avistou Scott, e a distância ela leu nos lábios dele a declaração: “Eu amo você”. Ele partiu.
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