SETE
Nathan Scott saiu da água e andou até pela praia, vislumbrando ao longe as duas mulheres que salvaram sua vida. Ao ver a modelagem do rosto de Angelina observou que o nome realmente combinava com ela, parecia — de fato — um anjo. E um dos mais formosos. Há tanto tempo viajando por países, enfrentando noites de frios e dias de sol quente em muitos desertos áridos, que a única beleza que presenciava era a natureza do Criador, mas notou como o Senhor ao formar a mulher depositou nela superioridade de beleza e graça. As mãos cuidadosas da Srta. Jones era como um oásis para ele que há cinco anos trabalhava e nada mais. A voz suave e a delicadeza e bondade de suas palavras o acalentava, certamente nunca achara mulher mais adorável em sua vida. Ela era um achado, escondida num vilarejo isolado do mundo.
— Sr. Scott, a água estava boa? — A Sra. Nagael perguntou assim que ele se aproximou das duas.
— Muitíssimo, senhora! — Ele balançou os cabelos para tirar o excesso de água dos cabelos. — Há tempos não apreciava o mar desta maneira — virou-se novamente para contemplar aquela deleitosa paisagem.
— O senhor não via o mar? — Angelina começou a participar da conversa com sua inocente indagação.
— Eu o via todos os dias, mas não tinha a oportunidade de aproveitá-lo como hoje. — Sorriu para ela e aceitou de bom grado um pano seco, que a jovem direcionou a ele, para se secar.
— As obrigações de um tenente não devem dar espaços para alguma diversão — declarou à senhora.
— Eu ouso concordar e as diversões que são propícias aos militares — ele mirou as duas mulheres —, é melhor nem se mencionar.
A Sra. Nagael já havia ouvido sobre a vida desregrada de muitos militares e quantas de suas mulheres sofriam com a perda dos maridos para uma vida de devassidão. Diante disso, era melhor realmente nada ser dito. Pobre Angelina não conseguiu captar a conversa dos dois, contudo não procurou estender o assunto.
— O senhor melhorou. — afirmou Angelina ao Sr. Scott. — O que pretende fazer agora? Sua família deve está o procurando, e, com certeza, seu regimento também.
Nathan não respondeu imediatamente a serena Angelina, sua mente vagou por uns momentos a fim de encontrar uma resposta adequada.
— Minha família está bem, esteja certa disso. E o meu regimento, em breve, me encontrará. — Aquelas palavras trouxeram certa angústia para a Angelina, mas engoliu em seco seus sentimentos.
— Você precisará de algumas roupas agora que se recuperou — observou Olívia ao perceber as roupas rasgada do homem imponente a sua frente.
— No baú de minha mãe há as roupas de meu falecido pai — Angelina o mediu, fazendo uma rápida inspeção no corpo dele através do seu olhar. — Acredito que servirá. Talvez precise de uns remendos, mas eu posso fazer isso.
— Como agradecer por tamanha bondade, Srta. Jones? — ele a fitou com seus belos olhos.
— Não precisa, Sr. Scott. — Ela sentiu um palpitar no peito ao perceber o olhar dele. — Sua recuperação é meu pagamento.
Nathan concordou com a moça, mas fez um acordo consigo mesmo de auxiliar aquela dama em todas as suas necessidades. Talvez ela precisasse um pouco.
— Então vamos almoçar — disse Olívia ao ver o cessar da conversa entre os dois.
*
O sol ainda brilhava no horizonte quando Angelina procurava a todo custo limpar sua horta para poder plantar novamente. Era certo que se não começasse logo perderia o tempo da colheita e suas economias ficariam em apuros, mas o estrago do temporal deixou suas marcas e os grossos galhos pelo meio do caminho a impediam de dar continuidade em seus serviços.
— Precisa de ajuda? — Angelina saltou para trás ao reconhecer a voz do Sr. Scott.
— Sr. Scott, o que faz aqui? Como descobriu minha residência?
— Por favor, chame-me apenas de Scott — pediu. — E eu a segui, essa é a verdade. Não quero mais ficar isolado naquela caverna.
Angelina expeliu o ar de seus pulmões e reconheceu a solidão do tenente.
— Realmente ficar isolado ali não é bom, mas as pessoas não o conhecem — disse ela, mas parou ao pensar como poderia prosseguir com aquele assunto. — Como explicarei sua presença diante do vilarejo? Certamente, levantará muitos questionamentos.
Nathan conhecia bem povoado como aqueles em que Angelina habitava. Qualquer indício de algo novo despertava a pequena sociedade e muitos murmúrios passavam na boca das mulheres. Era uma tristeza toda aquela situação.
— Entendo, Srta. Jones — Nathan proferiu.
— Acho que posso dizer que é um conhecido distante que veio nos visitar — Angelina pensava alto sobre as ideias que passeavam sobre sua mente.
— Isso não seria mentir? — inquiriu ele, o que a fez se sentir mal.
— Sim! — declarou arrasada. — Perdoe-me por considerar tamanho pecado. Que horrível de minha parte.
— Não se culpe, senhorita, mas acho que podemos não dizer nada. E se alguém perguntar dizemos a verdade. Ela é sempre melhor do que pegar atalhos — Nathan disse com segurança. — E, não se preocupe, não permitirei que ninguém ofenda a sua honra. — As palavras dele foram pronunciadas com um grave tão ressoante que ela não ousou duvidar.
Ele terminou sua conversa, examinando em seguida a situação do lugar, sem demora segurou com destreza um dos grossos troncos que estava situado no meio do plantio. Angelina ficou pasma ao analisar a força facilitadora do homem para lidar com um problema que para ela era quase impossível, comparando com sua pouca musculatura braçal. Nathan com o tronco sobre os ombros, perguntou:
— Onde deseja que ponha este pedaço de madeira?
— Ali! — Ela apontou para uma casinha pequena atrás de algumas árvores. Ao ver a agilidade de Nathan, Angelina disse: — Tenho por certo que fiz um bom serviço em sua recuperação — o tom de sua voz demostrava graça e leveza.
— É claro, Srta. Jones! Posso afirmar que nunca fui tão bem cuidado em toda minha vida — Nathan respondeu com sinceridade e as bochechas da donzela tomaram uma tonalidade avermelhada.
— Eu preparei uma limonada para o senhor — Angelina não esperou a concordância do homem, pois logo se retirou.
Ela ainda misturava o limão na água quando escutou alguém bater na porta.
— Srta. Jones, trouxe seus pães — disse o pequeno Jack, ajudante do padeiro. Ele distribuía os pães frescos ao pôr do sol para os moradores da vila.
— Obrigada, Jack. — Angelina sorriu para o menino e lhe entregou algumas moedas como pagamento.
— Até amanhã! — O jovem acenou e partiu para continuar suas entregas.
O cheiro dos pães era apetitoso. Angelina preparou a mesa, limpou as mãos e seguiu até seu quintal para chamar Nathan. Ela aproximou-se e por alguns minutos apenas o observou em seu trabalho braçal, admirou de como o local estava praticamente livre de todos aqueles entulhos.
— Acredito que amanhã posso cortar esses galhos e fazer toras para ser usado como lenha — Nathan manifestou sua ideia ao andar para perto de Angelina. — A senhorita aprova?
— É claro! — ela exprimiu um casto sorriso. — O inverno está chegando e quanto mais lenha melhor.
— Certo que sim! — concordou o tenente.
— Espero que esteja com fome, preparei algo para comer — Angelina umedeceu os lábios e sorriu.
— Eu estou faminto! — Ela suspirou contente pela informação recebida. Com gentileza, ele abriu espaço e a jovem seguiu a frente dele.
O tenente apreciou a vista da pequena casa, era tudo muito limpo e organizado. Angelina o serviu com limonada e pão amanteigado, pôs a disposição também leite e frutas. O homem fartou-se com aquele pequeno banquete preparado. Para quem há tanto tempo comia apenas feijão gelado e água, aquilo era um paraíso.
— Vou trazer as roupas para que as experimentes. Se precisar de ajuste posso fazer amanhã — Angelina levantou-se da mesa e subiu as escadas, deixando-o sozinho.
Ao entrar no quarto da mãe, a mulher estava com a cabeça baixa. A filha aproximou-se e disse:
— Mamãe, eu sei que ainda a tirarei desse quarto e a senhora poderá sentir o vento do mar mais uma vez em seus cabelos — exprimiu seu desejo e beijou o topo da cabeça da senhora, após foi até o baú retirar as antigas roupas do pai.
Ao rever as peças do seu falecido genitor, uma sombra de saudade percorreu por seu coração. Como era bom o tempo em que tinha as duas pessoas mais importantes da sua vida. Todavia, recolheu toda a sua saudade e desceu para ver Scott.
— Aqui estão! — Ela colocou sobre a mesa uns pares de roupas, meias e até gravatas.
— Obrigado, Srta. Jones!
— Chame-me de Angelina — pediu a jovem, se encaminhando para a beira do fogão.
— Como quiser, Angelina — ele soltou uma risada ao falar o nome dela.
Nathan ergueu-se e direcionou-se até a porta, avistou o estupendo pôr do sol. As cores arroxeadas e alaranjadas faziam uma perfeita combinação no céu, o cenário era de tirar o fôlego.
— Veja como está o céu? — ele a convidou a se aproximar e contemplar a beleza que se formava no firmamento.
— Queria que mamãe pudesse contemplar isso! — Angelina soltou sua vontade enquanto apreciava a majestade do céu.
— E onde ela está? É só chamar para ver! — Nathan pronunciou, mas ao dizer aquilo verificou como o semblante de Angelina mudou.
— Ela não pode... — a voz embargou e não passou despercebido pelo homem.
— Permiti-me perguntar o porquê da impossibilidade? — O tenente pediu, com sinceridade, uma explicação.
Angelina o fitou e com poucas palavras contou o ocorrido, descrevendo a situação na qual se encontrava.
— Sinto muito, Angelina!
— Eu agradeço a consideração, Scott. — Ela desviou sua atenção e começou a recolher as coisas de cima da mesa.
— Mas acho que podemos fazer algo — as palavras dele a fez mirá-lo com os olhos semicerrados. — Eu posso carregá-la e levá-la a beira da praia. O que acha?
O brilho de emoção nos olhos de Angelina foi marcante para Nathan. Ao lhe faltar palavras nos lábios, ela apenas concordou com a ideia. Sem demora, levou-o até o andar de cima, mostrando-lhe a mãe. A mente dela, por um momento, a acusou de estar sendo imprudente por mostrar a sua casa e família para aquele homem, mas ignorou tudo isso diante da possibilidade de poder tirar Eva do quarto depois de anos isolada.
O tenente não se abalou ao ver a mulher tão debilitada em cima da cama. Seus muitos anos de profissão o fizera presenciar, praticamente, toda espécie de doença que atacam os homens debaixo do sol. E aquela era só mais uma dentre tantas. Apoiou a Sra. Jones sobre seus fortes braços e desceu com ela, Angelina pegou uma cadeira na cozinha e seguiu no encalço dele.
Eles chegaram à praia e Nathan acomodou Eva Jones no assento preparado pela filha. Angelina ergueu a cabeça da mãe e lhe disse:
— Olhe o mar, mamãe! Olhe o céu feito pelo nosso Deus! Quão gracioso são os seus feitos! — ela exclamava, com lágrimas nos olhos, ao ver a benção do Senhor sobre sua vida naquele dia. — Como gostaria de poder ver mais uma vez sua empolgação ao contemplar tudo isso.
Nathan, ao lado, vislumbrou a face corada de Angelina enquanto a jovem expressava seus sentimentos e presenciou também um grande milagre: Eva Jones sorriu.
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