QUATORZE

Nathan observou a postura arrogante e a fala sem decoro da jovem e pôs Angelina para trás de si, indagando:

— Perdão, senhorita?

— A Srta. Jones, não prosseguiu como deveria — a menina respondeu. — Desse modo, cria desordem na coreografia. — Cruzou os braços sobre o peito, esperando ter um pedido de desculpas e assim ser tomada para dançar com seu mais esperado par.

— Então coloque essa falta em minha conta — Nathan declarou, levando a Srta. Brown arregalar os olhos. — Pois, eu não a permiti passar adiante e somente por um motivo: não desejo dançar com ninguém mais. Perdoe-me por atrapalhar o andamento do baile. — Ele fez uma leve reverência, deixando a jovem assombrada por terrível humilhação. — Nos retiramos desse modo e todos podem voltar as suas devidas posições.

Os espectadores ao redor ficaram em completo silêncio por um momento, enquanto Nathan e Angelina saíram do meio deles. A Srta. Brown atraiu todos os olhares com aquele seu espetáculo a parte e a dureza das palavras do Sr. Scott quebrou-lhe o coração. Ansiava isolar-se para sempre num mundo obscuro.

— Scott, como pode ser tão rude nas palavras? — Angelina perguntou assim que ambos se afastaram da multidão.

— Rude? Não acredito nisso! — ele disse.

Angelina parou seu andar e contraiu o cenho, em relação a atitude dele. Nathan, vendo a postura rígida de sua acompanhante, refletiu brevemente e acrescentou uma resposta mais plausível.

— Angelina, permita-me dizer que conheço damas como a Srta. Brown. Elas são mimadas e ousam a achar que o mundo está aos seus pés.

— Na maioria das vezes, ele está realmente — Angelina declarou um pouco sensível.

— Certamente, mas não sou um homem que incentiva esse perfil de caráter. — Scott proferiu calmamente. — Ela necessita de instrução e amadurecimento. Você poderia ensiná-la como ser uma mulher de verdade, mostrando como as boas ações devem testemunhar mais alto do que uma aparência que em breve se dissipará.

Angelina sorriu.

— Ela seria abençoada em tê-la como uma tutora — ele assegurou.

— Sinto-me muitíssima elogiada, contudo, tenho por certo que a Srta. Brown é bem assistida — Angelina replicou, voltando novamente a caminhar e a apreciar os pingos de luzes resplandecentes no firmamento negro.

Os dois deixaram o festejo para trás e seguiram em direção à praia, que se encontrava radiante diante da luz da lua refletida naquele vasto oceano. O vento soprava tocando o cabelo de Angelina, espalhando assim o perfume dele até Nathan, que se achava completamente encantado. A Srta. Jones era a mais pura e delicada das mulheres. Nunca, em toda sua jornada de vida, encontrara alguém como ela, que com seu coração amável cuidava de todos e sempre possuía palavras reconfortantes para dizer. Ela era esculpida em caráter e beleza pelo próprio Criador e a momentânea reflexão de que poderia ser obrigado a se afastar lhe doía a alma.

"...Os militares estão indo de cidades em cidades atrás dos oficiais que sofreram naufrágio. Não demorarão a chegar aqui." — Lembrou-se da conversa de Ian.

"Mas o medo de ter os sonhos desfeitos e as esperanças despedaçadas ainda se fazem presentes" Angelina havia lhe dito.

Nathan olhou para o céu enegrecido e, com pesado coração, orou: "Ó Senhor, se eu partir, ambos sofreremos. Tenha misericórdia de nossas vidas."

Ele suspirou lentamente, querendo afastar a dor da separação, que parecia cada vez mais próxima.

— Está tudo bem, Scott? — Angelina aproximou-se ao vê-lo tão perdido em seus pensamentos.

— Certamente! — Ele balançou a cabeça e sorriu para ela.

— Eu quero agradecer por tudo — declarou e Nathan fixou sua atenção nela. — Acredito que hoje é um dos dias mais felizes da minha vida.

O tenente, ao vislumbrar o olhar luminoso pela alegria e a expressão de afeto, esqueceu-se dos problemas que começavam a lhe atormentar a mente. Ele recebeu as mais gentis e doces palavras de sincera gratidão e nem a preocupação, nem a aflição ou agonia resistiram a tal demonstração de cordialidade.

— Eu que fui agraciado por ter a presença da mais elegante e preciosa mulher ao meu lado. Nunca poderei agradecer a Deus por tamanha benção concedida. — Ele tocou-lhe a mão e Angelina provou em seu corpo um novo sentimento e emoção.

A pintura do céu, o som das ondas mar quebrando nas pedras e a luz do luar tornava aquele momento romântico e totalmente propício a seduzir dois jovens que sentiam uma forte atração um para com o outro, contudo, não podiam se esquecer, que em meio ao panorama cativante também havia os olhos do Criador, contemplando os intentos do coração e das ações dos homens e, diante dessa verdade, os dois se separaram. Nathan conduziu sua acompanhante ao conforto e proteção do lar. Ele então partiu com o coração aflito, procurando em Deus a solução para os seus dilemas, mas uma de suas primeiras providências era não contar a Srta. Jones sobre a aproximação dos militares, até somente encontrar um caminho seguro para os dois.

*

Emily não dormiu a noite inteira e boa parte dela chorou. Levantou-se com os olhos inchados, a cabeça latejando, sem conseguir trocar uma palavra com sua criada e não possuía apetite. O Sr. Joseph Brown ficou preocupado com aparência deplorável da filha durante o café da manhã, e os dois visitantes também foram tomados pelo assombro ao vê-la tão afetada por algum mau sentimento, porém, ninguém ousou manifestar qualquer palavra de consolo, pois foram igualmente ignorados. Sua sensibilidade era aterradora!

Ao fim do desjejum, ela caminhou pelos arbustos floridos nos fundos de sua residência, perambulando pelas trilhas e recordando-se dos seus sonhos floridos e suaves acerca do Tenente Scott. Todavia, ao lembrar-se da dura resposta dele deixou-se ser dominada mais uma vez pela dor da humilhação. A tarde passou-se em igual entrega aos sentimentos.

Os dias se passaram e todas as suas atividades eram regadas pela tristeza. A melodia que seus dedos dedilhavam sobre as teclas do piano era formada pelas notas baixas, provocando um som dramático e sombrio à composição musical, refletindo com exatidão o estado das suas emoções. Passava horas inteiras diante do instrumento de cauda, tocando, cantando e chorando alternadamente, até que seu coração ficou tão sobrecarregado que não poderia mais receber nenhuma tristeza, e com essa dose de sofrimento alimentou-se durante uma semana inteira.

Era fim de tarde, quando Emily fora encontrada lamentando na sala principal pelo Sr. Turner. Ele ao vê-la naquela condição não sentiu compaixão, certamente, poderia ser considerado um homem sem empatia, contudo, não se condoía por isso.

— Srta. Brown, por que chora? — Ele se atreveu a se aproximar da princesa do lar.

— Perdoe-me, Sr. Turner, mas meu sofrimento não deve lhe importar. — Ela limpou o canto dos olhos com um lenço de algodão.

— Não me importo! — a voz grave dele, levou-a a mirá-lo estarrecida por tamanha falta de compaixão.

— Como pode dizer tal coisa? Onde está seu amor ao próximo, ou mesmo condolências aos que estão triste? — ela indagou com os olhos arregalados.

— Estão com quem realmente merece, senhorita — ele respondeu, fazendo-a tremer por tão grande petulância.

— Percebo como seu baixo nível de educação, torna-o o mais completo dos desfavorecidos em termos de simpatia e trato afetivo com os demais da sua espécie — Emily retrucou com as bochechas vermelhas de raiva.

O Sr. Turner não pode deixar de rir.

— Creio ser o contrário, Srta. Brown — ele replicou. — Meu contato com os mais desfavorecidos, na verdade, me faz perceber que seus problemas são insignificantes diante de tantos problemas realmente importantes no mundo.

Emily não aguentou o confronto e levantou-se num salto do sofá. Quem aquele homem achava que era para afrontá-la daquele modo? E logo dentro de sua própria casa?

— Não pedi sua opinião, Sr. Turner — Emily declarou com a voz entrecortada. — Portanto, pelo amor que tem a sua vida, deixei-me em paz! — desferiu e saiu da presença dele a passos duros e rápidos.

Ian Turner soltou uma risada e seguiu o caminho para biblioteca.

Tarde da noite, Emily fora visitada em seus aposentos pelo Sr. Joseph Brown. O homem comovido pela desestrutura emocional da filha, a aconchegou em seus braços e desejava protegê-la de todo e qualquer mal. Emily ainda sentia-se abalada, profundamente abandonada por todos os acontecimentos e ainda carregava uma irritação por conta do Sr. Turner, o homem mais desagradável que conheceu.

— Por que tanto sofrimento, minha filha? — perguntou o pai, enquanto lhe acariciava os cabelos.

— Nada poderá fazer, papai — ela respondeu, enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

O genitor ponderou sobre os últimos acontecimentos e a reação da filha, então declarou:

— Não me negue a verdade, Emily Brown — a jovem levantou a cabeça e o fitou. — Está apaixonada?

Ela prendeu os lábios e as lágrimas novamente se amontoaram no canto dos olhos.

— Todo esse sofrimento é por causa de um coração partido? — O pai indagou, porém a menina o abraçou em vez de respondê-lo.

— Emily Brown!

O tom repreensivo do homem a fez dizer:

— Ele é especial, papai! — Ela olhou para as próprias mãos.

— Permita-me saber de quem se refere?

— O Sr. Scott — contou-lhe a verdade. — No entanto, nada disso serve, pois seus olhos e afeições não estão inclinados sobre mim — disse a última palavra com a voz embargada e deixou-se ser conduzida pelas intensas emoções.

O pai não podia mais suportar ver sua preciosidade naquele estado de lamurio e obscuridade. Ele a tomou nos braços mais uma vez e pronunciou:

— Não chore mais, filha. Seu pai vai cuidar deste assunto. 

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