DEZENOVE
Ian, após muitas reclamações durante toda a viagem de regresso, acomodou a Srta. Brown em seus aposentos. A jovem era birrenta além do que sua paciência podia suportar. Certamente não poderia conviver um minuto a mais diante de sua presença petulante.
— Não pense que fez um grande favor, Sr. Turner — declarou Emily, de braços cruzados, sentada em sua cama. Sua criada pessoal, quando a vira naquele estado, logo providenciou todos os utensílios precisos para cuidar de sua patroa.
— Fiz o que era certo, senhorita. Como vê este ato, cabe somente à sua consciência... — ele ainda falava quando um lacaio chamou seu nome. Após atendê-lo, voltou-se a Srta. Brown, declarando: — Fique bem! — Acenou com a cabeça e partiu.
Após um tempo de prolongado silêncio, a Srta. Brown perguntou a sua criada, que estava concentrada nos cuidados da pequena torção no tornozelo da donzela.
— O que o empregado queria com o Sr. Turner?
— Uma visita chegou para conversar com o Sr. Turner — respondeu a serva, sem tirar os olhos do membro inferior da jovem.
— Visita? Quem poderia querer visitar esse homem sisudo? — questionou, enquanto imagina que só poderia ser algum desafortunado para querer ter alguma amizade com Ian Turner.
— É o Sr. Nathan Scott — a criada declarou, levando o coração da patroa errar uma batida. — Ele chegou logo após a sua volta, senhorita.
— O Sr. Scott? — repetiu mais uma vez para ter certeza de que a criada falava da pessoa certa.
— Sim, senhorita. E, pelo que falaram na feira, ele faz parte das forças armadas de Sua Majestade. É provável ajuntar-se ao regimento que chegou — a serviçal contou um pouco mais.
— O regimento chegou? Quando? Por que não fui informada de tal notícia? — indagou Emily, ficando exasperada.
— Ora, senhorita, o exército entrou em Scarborough Fair ainda cedo. Certamente não soube porque havia saído.
— E o Sr. Scott partirá? — Emily sentiu o peito ser acertado por uma pontada de dor. Apesar de ter se afastado por um tempo de vê-lo, os seus sentimentos ainda existiam. O Sr. Scott ainda era o homem de seus sonhos.
— Parece que sim, senhorita. — A empregada terminou com os cuidados, organizou as coisas numa bandeja prateada. — Eu a deixarei a sós, pois providenciarei sua comida. Volto em breve e não faça esforço — recomendou as devidas precauções e partiu.
Emily tendo ficado sozinha em seu aposento, decidiu que deveria saber quais seriam os motivos que levaram o Sr. Scott a visitar Ian. Em absoluto deveria ser algum assunto importante e — por mais inconveniente que fosse sua postura — descobriria o que falavam. Levantou-se com um pouco de dificuldade e, ainda mancando, desceu as escadas de seu casarão. Parou um pouco, procurando ouvir o som de vozes masculinas, de repente, escutou ruídos vindos da biblioteca. Ela aproximou-se, a passos lentos, e atentando-se a porta entreaberta, contemplou o homem de seus sonhos em pé, com o cotovelo apoiado sobre o console da lareira. A jovem posicionou-se ao lado, a fim de não ser descoberta, e pôs se a escutar com a atenção.
— E o que fará quanto a isso? Sabe que não pode fugir — Era a voz de Ian.
— Não vou fugir, Ian. Só não posso partir sem antes resolver-me. Preciso de sua ajuda — Scott declarava.
— E o que pretende fazer? — o amigo indagou.
— Pretendo-me casar com Angelina, o mais breve possível. E assim ela poderá partir junto comigo — Nathan afirmou sem sombra de dúvida.
Aquelas palavras trouxeram um grande abalo emocional para a Srta. Brown, que escutava tudo do outro lado da porta. Não! Ele não poderia se casar! — ela assegurava para si mesmo.
“Sr. Scott ninguém nunca o amará como eu!” — Emily sussurrava seus sentimentos, enquanto lágrimas desciam de seu rosto.
— Como fará isso? — Emily escutou a pergunta do Sr. Turner.
— No sábado à noite. Ainda hoje me apresentarei ao regimento... — declarou, aproveitando e contando toda sua ideia ao amigo.
A Srta. Brown ouviu atentamente cada passo dos planos de Scott e Ian. Não poderia perder a única oportunidade que teria para finalmente atraí-lo. Necessitava agir com perspicácia e tudo sairia dentro das conformidades para ela estabelecidas. Constando que a conversa finalizara entre os dois, partiu para não ser notada por ambos os cavalheiros.
*
Duas horas mais tarde, O Sr. Joseph Brown achava-se devidamente acomodado em seu escritório pessoal, avaliando o livro de contabilidade de seu comércio quando escutou uma batida suave na porta.
— Pode entrar — ordenou, e a filha entrou.
— Papai, permita-me uma audiência privada por uns instantes? — Emily perguntou, contudo, sabia que não seria negado seu pedido.
— Sem dúvidas! — Ele indicou a cadeira à sua frente, levando Emily acomodava-se confortavelmente.
— Soube que o regimento chegou, papai?
— Certamente! Não a outro assunto em todo o vilarejo.
— Estive pensando que como somos uma família hospitaleira, deveríamos promover um baile em nossa residência para os militares. Não concorda comigo que seria um excelente modo de travar uma nova sociedade e apresentar-lhe nossa mão amiga? — sugeriu a filha.
— De fato, seria uma excelente oportunidade — o Sr. Brown declarou. — E quando seria isso?
— No sábado! — ela afirmou com convicção.
— É depois de amanhã. Não seria tempo adequado para que houvesse uma preparação aprazível — o pai argumentou. — Faremos daqui a cinco dias.
— Não! — Emily alterou-se, soando rude. — Perdoe-me, papai. — Ela recuou, moderando a tonalidade da voz. — Mas tem de ser no sábado. Não sabemos por quanto tempo os militares permanecerão entre nós. Em algumas cidades eles perduram no máximo dois dias — retrucou, de modo que sua constatação fosse irrefutável.
— Como prepararemos um baile com uma quantidade de tempo tão diminuto quanto esse?
— Não se preocupe com esta questão. Eu tenho tudo sobre controle — ela declarou. — E será um baile inesquecível. Tenha plena certeza disso. — Emily sorriu, mirando para a estatueta de um casal posto no console da lareira. — Esta é a lista, que eu preparei, de alguns dos convidados que não podem falta a festa. — Ela estendeu para o pai um papel com alguns nomes escritos. A sua função é fazer com quem nem um deles falte. É só isso que lhe peço.
Joseph leu alguns nomes e franziu o cenho sobre alguns dos nomes listados, porém nada indagou. Tudo que desejava era ver sua preciosidade feliz.
— Assim será feito, minha filha!
Emily empinou o nariz e sorriu com nobreza para seu velho pai.
*
Nathan Scott arrumava suas coisas quando escutou a Sra. Nagael pedindo para entrar. Após a morte da Sra. Eva Jones, ele passou a ocupar um quarto nos fundo da moradia de Olívia. Ela achou adequado dessa forma, para que nenhum dos dois entrassem em tentação, pois o tenente outrora residia no celeiro do terreno de Angelina. Era uma decisão sábia por parte da senhora, sabendo da imensa atração que ambos nutriam um pelo outro. Não que houvesse de sua parte sentimentos de reprovação quanto aos dois, pelo contrário, ansiava que pudessem estabelecer uma união, entretanto, não a custa de más interpretações.
— Tenho algo para o senhor, tenente — disse a mulher.
— É somente Nathan, Sra. Nagael. Não é necessária tanta formalidade. — Ele sorriu, notando um embrulho nas mãos dela.
— O senhor é um homem importante, todavia, sua humildade é o que mais lhe valoriza — ela expressou com sinceridade. — Se eu tivesse tido filhos, e neles houvesse a mesma força de caráter que o senhor possui, certamente, seria a mãe mais afortunada — Olívia proferiu, levemente emocionada. — Sua mãe deve ter muitíssimo orgulho do homem que criou.
Scott esboçou um rápido sorriso.
— Quando você ainda estava na caverna, eu tive a ousadia de tomar a sua farda para costurá-la. Sabia que usuária novamente. — A senhora colocou o embrulho na cama. — Agora chegou o momento de usá-la. Seu regimento chegou!
Nathan, surpreso por tal informação, abriu o pacote e viu sua farda totalmente limpa e costurada. O coser era tão perfeito que nem poderia dizer onde os remendos foram feitos.
— Senhora, muito obrigado! — ele expressou.
— Não é preciso cerimônias. — Olívia sorriu e limpou o canto dos olhos, que ardiam com algumas lágrimas querendo descer. — Arrume-se.
Ela deixou-o.
O acampamento militar estava todo armado numa das áreas aplainadas do vilarejo. Muitos soldados e oficiais estavam ocupados em seus serviços quando avistaram, caminhando entre eles novamente o Tenente Nathan Scott. Ele andava em toda sua postura estoica e firme. Muitos homens aproximaram-se — assombrados — para avaliarem verdadeiramente que estavam o vendo novamente. Nem se pode contar os muitos dias que aquele esquadrão tornou-se pesaroso pela morte de tantos e, principalmente, após checarem o desaparecimento do 1º Tenente Scott. Seu lugar fora ocupado pelo 2º Tenente Gabriel Floyd, cuja relação entre os dois homens — sendo de conhecimento geral — nunca ter sido pacífica.
— Oh, céus! Tenente, é o senhor de fato? — Robert, um dos soldados, aproximou-se. — Achávamos que havíamos o perdido para sempre. — O jovem, de apenas 23 anos, havia ingressado ao regimento no ano anterior, e Scott tornou-se um dos seus mentores dentro do esquadrão. Ele, sem se importar com os pensamentos dos demais homens, abraçou-o saudoso. O tenente retribuiu.
Outros homens sentiram-se motivados a receberem Nathan. Por um longo espaço de tempo, houve uma grande conversa e agitação entre os homens, despertando o interesse dos que estavam nas tendas, saindo assim para verem qual o motivo para o alto som de rumores do lado de fora.
— O tenente Scott está vivo! Está vivo! — Um dos soldados gritou a distância, apontando para Nathan, que começara a caminhar em direção ao seu superior.
O capitão contemplou vividamente àquele que já fora seu braço direito. Ninguém mais que o capitão Rudson sofrera pela possível morte de Nathan. Ele era como um filho para o velho homem.
— Capitão! — Nathan bateu continência diante de seu superior, cujos olhos brilhavam de espanto e alegria.
Rudson aproximou-se e, diante de todos o abraçou. Não era desconhecido o sentimento de paternidade que o capitão obtinha por Scott. Ao afastar-se olhou para o Tenente Floyd, que estava ao seu lado o tempo todo, e indagou:
— Não cumprimentará seu irmão de batalhas?
Floyd apenas acenou com a cabeça. Porém, ambos não deram as mãos.
*
Atrasei-me nas postagens, mas estou tentando ser mais rápida.
E o que a Emilly aprontará?
E essa rivalidade entre Floyd e Scott? Angelina ficará no meio dos dois?
Não perca os próximos capítulos, senhoritas. Pretendo voltar o mais breve possível!
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